O avô de Sílvia não estava se sentindo bem. Ele olhava para ela com os olhos semiabertos e demorou um bom tempo até conseguir montar uma segunda frase. O diretor, que observava a cena à distância, sussurrou para Sílvia:- Desde que seu avô acordou, tem chamado seu nome incessantemente.Sílvia ajeitou o cobertor sobre o avô e falou com doçura:- Descanse agora, amanhã poderemos conversar sobre tudo.Contudo, o avô segurou sua mão com firmeza, se recusando a soltá-la. Lágrimas emergiram dos cantos de seus olhos enquanto ele, se esforçando para sorrir, disse:- Sílvia, você enfrentou muitas injustiças.Sua voz era lenta, cada palavra um esforço para clareza.Sílvia permaneceu em silêncio, incerta sobre o que dizer.A mão do avô, ainda conectada ao soro, tentou alcançar a cabeça de Sílvia, mas, sem forças, caiu antes de completar o gesto.Já era onze da noite e os corredores do hospital estavam quietos e vazios.Sílvia permaneceu um momento no corredor antes de deixar o setor de interna
Sílvia parou por um momento e, logo em seguida, levantou a perna para entrar.Quando Marcos ouviu a voz de Dora, ele já tinha voltado seu olhar.Seus olhos escuros se fixaram em Sílvia, e, após um momento, com um tom de voz carregado de ironia, soltou uma risada com deboche:- Vindo só agora?Sílvia hesitou, baixou os cílios e falou suavemente:- Desculpe, foi culpa minha, um assunto urgente me atrasou.Seu tom era tranquilo e sua atitude, sincera, porém Marcos não se deixou convencer.Ele soltou um riso frio, e, em seu olhar indiferente e sem emoção, transpareceu um vislumbre de desprezo ao dizer:- Você sempre tem emergências, não é? Na última vez foi sua mãe, e agora, quem é? Seu pai?Sílvia manteve os lábios apertados, sem responder.Após um breve silêncio, falou novamente com uma voz suave:- Quando o diretor chega?Marcos a olhou, com uma voz calma:- Você está bem informada.Mas, independentemente do que Marcos dissesse, ele ainda levou Sílvia consigo quando João chegou.João, a
Sílvia parou na porta por um momento, esperando até que os sons das conversas vindas de dentro parassem antes de entrar. Logo ao entrar, notou marcas de água ao lado da xícara, provavelmente feitas por João durante um acesso de raiva. Hesitou brevemente antes de baixar os olhos e, com voz suave, disse:- Presidente, estes são os valores de mercado do Grupo LH nos últimos três meses.João a observou, seu rosto inexpressivo, e perguntou com calma:- Como foi sua viagem à Cidade C desta vez?Mantendo um tom neutro, Sílvia respondeu:- Não foi ruim.- Soube que ainda estão precisando de pessoas na Cidade C? - João manteve seu olhar fixo nela enquanto falava.Ela sentiu um sobressalto interior, e seus cílios tremeram levemente. Sempre achou que João seria mais fácil de lidar do que Isabel. Exceto por sua insatisfação inicial com Marcos por levá-la para casa, ele parecia mais receptivo. Mesmo quando Marcos insistiu em levá-la para a empresa contra a feroz oposição de Isabel, João se lim
Henrique olhava para Sílvia com preocupação, seu tom era suave:- Você pode me contar se algo está errado?Sílvia forçou um sorriso:- Você passou o dia todo aqui sem sequer jantar, não é? Me deixe convidá-lo.Ela claramente não queria falar muito sobre seu avô com Henrique, que a olhou nos olhos profundamente por um momento e não insistiu mais.Ele mudou de assunto, perguntando a Sílvia:- Você se dá bem com Enrico?Sílvia respondeu:- Ele é bastante agradável.- Você deve ser a primeira pessoa a dizer isso. - Henrique soltou uma risada. Pensando na personalidade de Enrico, ele disse. - Talvez porque vocês tenham personalidades semelhantes.Sílvia não achou que tivesse algo em comum com Enrico, pensou que era apenas um tópico que Henrique trouxera à conversa, então ela apenas continuou o diálogo por mais alguns instantes.Não havia muitos bons restaurantes perto do hospital, e como era hora do jantar, estava bastante cheio, principalmente com pacientes do hospital ou seus familiares.
Sílvia disse:- Chegamos.Marcos, porém, não se mexeu. Devido ao álcool que havia bebido, sua voz estava um pouco rouca:- Está tão ansiosa para encontrar Henrique?Seu tom era muito leve, quase sem emoção.Sílvia hesitou por um momento:- Foi Jorge quem te disse?Além de Jorge, provavelmente não havia mais ninguém que prestasse tanta atenção nela.- Parece que você está realmente interessada em Henrique. - A luz do estacionamento subterrâneo era fraca, e ainda mais escura dentro do carro.A cegueira noturna de Sílvia se tornou evidente nesse momento. Ela podia ver vagamente a direção de Marcos, mas não conseguia discernir a expressão em seu rosto.Ela ouviu Marcos clicar a língua levemente, antes de dizer indiferentemente:- Sílvia, a família Pinheiro, que valoriza muito a educação, não considera mulheres que não são puras.Sílvia ficou confusa por um momento antes de perceber que ele estava se referindo ao fato de ela já ter tido relações sexuais com outra pessoa.Ela fechou os olho
No entanto, Sílvia subestimou Juliana.Durante o intervalo do almoço, ela reapareceu na porta do escritório, segurando um caderno em suas mãos.Seus olhos ainda estavam vermelhos, claramente por ter chorado.Ela se posicionou diante de Sílvia, com uma voz nasalada e abafada:- Sílvia, me desculpe, eu não deveria ter falado daquela maneira mais cedo.Sílvia arqueou as sobrancelhas enquanto olhava para Juliana, que ostentava uma expressão sincera:- Isso não se repetirá, eu apenas queria compreender as preferências do diretor, para prevenir futuros equívocos.Não havia falhas em suas palavras, e a atitude era adequada, especialmente considerando que era hora do almoço e a maioria das pessoas ainda estava pelo escritório, deixando Sílvia sem muito o que contestar.Ela assentiu, conduzindo Juliana até o terraço externo.Juliana escutava com atenção, e Sílvia não se sentia tão perturbada por dentro.O que mais poderia ser dito?Afinal, se tratavam apenas das preferências dos pais de Marcos,
Juliana empalideceu instantaneamente ao olhar fixamente para Isabel. Desde o meio-dia, quando encontrou Isabel, ela havia interagido pouco com Juliana, que imaginou que Isabel estivesse apenas sendo reservada, mas não esperava que ela se tornasse repentinamente hostil. Contudo, com Sílvia ainda presente, Juliana não queria passar vergonha diante dela. Forçou um sorriso, tentando manifestar alguma felicidade:- Eu só queria ajudar.Isabel, contudo, parecia ignorar o desânimo nos olhos de Juliana, mantendo o queixo erguido e um olhar sarcástico, avaliando Juliana como se fosse um objeto qualquer. Juliana se sentiu intimidada sob seu olhar, mas se esforçou para se manter firme, aceitando a avaliação de Isabel. O sorriso em seu rosto quase desapareceu quando ela chamou, com voz baixa:- Isabel...- Isabel? - Isabel ecoou o modo como Juliana a chamou, depois pegou o papel que Juliana segurava, zombando. - Típico de alguém de uma família humilde, sem a menor noção.O desprezo na voz de
Ela era animada e tinha Jorge para acompanhá-la, então, naturalmente, se integrou facilmente. Sílvia ficou parada ao lado por um tempo, sem ter o que fazer, então foi para trás da churrasqueira e pegou algumas espetadas já preparadas para assar. Sílvia quase não comia churrasco e raramente cozinhava, então seu controle do fogo não era muito preciso. Foi só quando um cheiro de queimado se espalhou que ela percebeu que tinha queimado o churrasco. Jorge veio pegar alguma coisa bem na hora e sentiu o cheiro, franzindo a testa:- Que cheiro é esse?Sílvia, sem expressão alguma, colocou a comida queimada no prato e estava prestes a jogá-la fora, mas Jorge a viu com olhos atentos. Ele disse, de forma um tanto exagerada:- Sílvia, você é desastrada? Como conseguiu queimar isso?Sílvia parou com o prato na mão e olhou para Jorge, sem vontade de dizer mais nada. Jorge tinha uma expressão de desprezo no rosto. Ele havia sido repreendido por Sílvia à tarde e não tinha conseguido responder,