As questões com Isabelly, os problemas com o avô, o trabalho e também Marcos e Juliana, realmente eram muitas as coisas pressionando Sílvia a ponto de quase colapsar.Mas agora, ela nem mesmo tinha o direito de enlouquecer.Completamente sozinha; se caísse, quem estaria lá para ajudá-la a se levantar?Ninguém.Absolutamente ninguém.Ela só tinha a si mesma.Os dedos finos de Sílvia seguravam o volante enquanto, do outro lado da linha, se ouvia a voz indiferente e fria do homem:- Sílvia, você não acha que está sendo ridícula?Seu peito parecia ter sido preenchido com um balde de água do mar, dolorosamente inchado.No segundo seguinte, a fria transmissão eletrônica trouxe as palavras sem emoção de Marcos novamente:- Você tem cinco minutos para subir. - Após dizer isso, a ligação terminou completamente, deixando apenas um tom de ocupado.Sílvia baixou os olhos para a caixa ao seu lado, onde o crucifixo dado por seu avô se encontrava no topo.Havia também uma etiqueta com a escrita de se
Sílvia se apressou em chegar ao hospital, onde o Dr. Murilo e alguns outros professores do departamento já a esperavam no escritório.- Você chegou. - Disse o Dr. Murilo, tomando a iniciativa. - Quanto à cirurgia do seu avô, gostaríamos de lhe fazer uma pergunta.Sílvia olhou para ele, percebendo sua expressão preocupada. Apesar de ter se preparado mentalmente para qualquer notícia ao chegar, não conseguiu evitar a ansiedade. Sua expressão ficou séria.- Me diga. - Respondeu ela.- O hospital tem um plano, relacionado a estudos de pesquisa. O paciente anterior não pôde participar, e, após revisarmos os dados, acreditamos que a condição do seu avô se enquadra neste plano de pesquisa. Gostaríamos de saber a sua opinião.Sílvia franziu a testa levemente.- Que tipo de estudo de pesquisa?- Se trata de gravar a cirurgia para usá-la como material de estudo. - Explicou o Dr. Murilo. - Claro, só filmaremos a área cirúrgica, sem incluir o rosto do paciente ou partes privadas. Mas isso também
Jorge ouviu que havia uma ligação e, sem dizer mais nada, se despediu e voltou.Marcos então pressionou o botão para atender.O outro lado estava muito silencioso, e após um momento, a voz de Sílvia soou, perguntando:- Onde você está?Marcos soltou um riso de desprezo.- Isso importa para você?Sílvia ainda estava no hospital. Ela acabara de visitar seu avô e também conversara com ele sobre a cirurgia, à qual ele concordara.Ela havia saído para fazer essa ligação.Sílvia não acredita em coincidências, por isso, não pensou que fosse apenas sorte, e também percebeu algo.Ou seja, Felipe não é médico do hospital municipal. Mesmo que precisassem gravar imagens, não faria sentido chamá-lo especificamente.Afinal, o hospital municipal é renomado na Cidade J, não é como se faltassem médicos disponíveis.A única pessoa em quem ela pensou foi Marcos.E ela o tinha procurado à tarde, e a questão da cirurgia à noite já estava resolvida...Sílvia disse:- Quero falar com você sobre a cirurgia
Nos dois dias seguintes, Sílvia manteve uma rotina frenética, dividindo seu tempo entre o hospital, o norte da cidade e a mansão.Enrico e seu grupo estavam igualmente ocupados com suas tarefas. Sílvia soube por Yuri que a comunicação com a Oficina dos Sonhos estava tensa, sobretudo porque a empresa não parava com sua busca por departamentos específicos.Sílvia queria ajudar, mas Enrico e os demais, cientes de que ela estava assoberbada com questões relativas ao seu avô, não permitiram sua participação.Íris a consolou:- Não se preocupe, Síl, é apenas um contratempo. O chefe, com certeza, dará um jeito.Sílvia, reconhecendo sua limitada capacidade de ajuda, não insistiu.Ela não havia mais contactado Marcos, não por falta de desejo, mas por não saber o que dizer.Foi somente quando o Dr. Murilo a convocou ao hospital que Sílvia solicitou o reparo do encanamento no norte da cidade.O antigo bairro, com sua infraestrutura precária e atual escassez de moradores, havia visto o serviço de
Isabelly, desesperada, se lançou para proteger Bianca, envolvendo ela em seus braços, enquanto o chute de Yago acertava seu braço com força.Com a voz rouca, Isabelly soltou um grito agudo, o que apenas intensificou as maldições ferozes de Yago.- Você é um inútil! Como ousa voltar sem cumprir o que ordenei? Mandei você arranjar centenas de milhares com aquele bastardo, e falhou? Fale! Queria que eu fosse morto por aquelas pessoas? - Enquanto vociferava, ele se levantou, tirou o cinto da cintura das calças e açoitou as costas de Isabelly!O som do golpe era alto e nítido, acompanhado pelo incessante xingar e insultar do homem.- Eu te digo, se você me faz infeliz, não espere felicidade para si. Vou até vender minha filha para o exterior, para que seja esposa de alguém. Acredite se quiser!Isabelly, abraçando Bianca, apenas chorava, até que, finalmente, Yago, exausto, desabou sentado na cadeira, irritado, coçando o rosto.Ele chutou Isabelly com o pé, com uma voz sombriamente aterroriza
A cirurgia do avô estava agendada para a manhã de sexta-feira.Sílvia chegou ao hospital na calada da noite, sem conseguir pegar no sono, e decidiu ir diretamente ao hospital para ficar ao lado de seu avô.Felipe havia alertado ela repetidas vezes para não criar expectativas de 100% em relação à cirurgia, mencionando que a condição de saúde do avô era bastante delicada e que o risco seria maior do que o usual.Sílvia estava ciente disso, mas tinha plena consciência de que seu avô preferiria não passar o restante de seus dias em um estado de confusão. Por isso, preferiu a cirurgia.Ao chegar ao quarto, viu que seu avô ainda descansava, por isso Sílvia não quis incomodá-lo e esperou do lado de fora.Às seis da manhã, o avô finalmente acordou, com a cirurgia programada para ser a primeira do dia.Devido à anestesia, ele estava em jejum desde a noite anterior. Com expressão serena, Sílvia umedeceu um cotonete com água e passou suavemente nos lábios de seu avô.Os olhos do avô, turvos e c
Sílvia acabara de chegar à área de espera da cirurgia quando recebeu uma ligação de Henrique, cujo tom era de urgência.- Síl, estou em viagem de negócios e só agora soube que meu avô está sendo operado hoje. Como estão as coisas?Sílvia, que nos últimos dias estivera tão ocupada que mal tinha conversado com Henrique, se lembroudisso e respondeu.- Não há problema algum.- Não se preocupe tanto, o avô é uma pessoa de sorte, com certeza ficará bem.Sílvia agradeceu e então ficou em silêncio.Após um breve momento, Henrique suspirou, com um tom de auto-reprovação.- Desculpe, Síl, parece que sempre que você está com problemas, eu não estou por perto.Sílvia, segurando o telefone, disse:- É algo que eu mesmo deveria resolver.- Parece que sou um amigo muito incompetente. - Henrique sorriu amargamente, pois recentemente tinha assumido muitas responsabilidades familiares e passava a maior parte do tempo viajando a trabalho.Sílvia não sabia como confortá-lo, apenas disse:- Não se preocupe
As visitas na UTI são sempre à tarde e, como o avô acabou de ser operado, para evitar infecções, ele não pode receber visitas por enquanto.Sílvia cuidou de toda a burocracia necessária e, depois, não tinha mais o que fazer.Ela planejava passar mais uma noite no hospital, mas, para sua surpresa, Bruna apareceu no final da tarde.Mesmo indo ao hospital, Bruna ainda usava seus saltos altíssimos, dizendo que, sendo baixinha, parecia mais imponente dessa forma.Assim que chegou, Bruna, franzindo a testa, olhou para Sílvia:- Por que você está com essa cara tão cansada? Não é à toa que Enrico disse para eu vir te levar para jantar.Sílvia ouviu de várias pessoas que parecia cansada, mas ela mesma não tinha prestado muita atenção. Tocou o queixo e disse em voz baixa:- Estou bem.- Bem o quê? Você está acabada. - Bruna balançou a cabeça. - Você não jantou ainda, né?Sem jantar, Sílvia não tinha comido nada o dia todo, preocupada com a cirurgia do avô, ela simplesmente não tinha apetite.-