Ponto de Vista da Alora— O que foi? — Perguntei, ao ver sua mandíbula se contrair e as mãos continuarem cerradas sobre as coxas.Ele não respondeu com palavras, apenas balançou a cabeça. Ele não mentiria para mim, mas esconder a verdade, não dava no mesmo?Estar com ele dentro do carro, com o motor desligado, estava começando a desafiar meu autocontrole. Precisei abaixar o vidro da minha janela. O cheiro dele só ficava mais forte sem o ar circulando. Eu já não sabia se podia confiar em mim mesma diante do vínculo de companheirismo... Aquele vínculo já tinha me confundido uma vez.— Você sabe para onde ela foi?— Não. E mesmo se soubesse, não contaria. — O tom dele veio com uma amargura que eu não estava acostumada a receber do Hector.— Por quê?— Eu não posso deixar que ela volte pro Than.— Eu nunca faria isso... Eu não trairia sua confiança.— Você não teria escolha... O Than tem algum tipo de poder sobre você. — Senti o gosto amargo nas palavras dele. Um sorriso frio se formou nos
Ponto de Vista do Hector— Hector... Só me leve de volta!— Alora... — Tentei implorar que ela me deixasse terminar, mas ela simplesmente se fechou para mim. Virou o corpo na direção da porta, cruzou as pernas, até as pernas dela pareciam querer ficar o mais longe possível de mim.— Se é isso que você quer... — Rosnei entre os dentes. Eu até podia contar o monstro que ele era, mas ela nunca acreditaria.Ela tinha sido manipulada por ele desde tão nova, estava tão presa ao controle dele que naquele momento eu entendia o que Kaia quis dizer, que a gente nunca teve chance de verdade.A viagem de volta para a Matilha Deserto de Âmbar foi silenciosa. Ela se recusou a trocar qualquer palavra comigo. Na cabeça dela, já era como se tivesse sido marcada por ele. Ela nunca enxergaria quem ele realmente era, só via o que queria ver, com aqueles olhos cheios de ilusão.Assim que chegamos no portão da matilha, Than já estava esperando com seus guerreiros. Fiquei me perguntando quanto tempo mais el
— Então marca ela e deixa eu e a Kaia em paz, porra....Eu nunca conseguiria rejeitar a Alora. Não era algo que eu tinha em mim. Ela teria que me rejeitar, ou ser marcada pelo Than, para que o vínculo de companheirismo entre a gente fosse quebrado. Eu era forte de muitas formas, mas não quando se tratava dela.O vínculo de companheirismo podia ser cruel. Mesmo naquele momento, ainda me dava esperança de que ela fosse me escolher. Que não deixaria ele marcar ela. Sempre lutando até o fim.Se eu tivesse saído daquele carro para encará-lo, eu teria o matado.Eu era o lobo mais forte, disso nunca houve dúvida. Afinal, eu era o primogênito.Voltando para a Matilha Fantasma das Trevas, me surpreendi ao ver o Beta Ezra e o Riley do lado de fora da casa do alfa, como se estivessem me esperando.Quando desci do carro e caminhei na direção deles, percebi que o Riley estava inquieto, se mexendo sem parar.— Alfa, me desculpa. Minha irmã nunca deveria ter...— Não, eu agradeço pelo que ela me con
Ponto de vista da AloraEu andava de um lado pro outro no chão macio e acarpetado do quarto, provavelmente já deixando marcas de tanto repetir o mesmo caminho. O que estava demorando tanto pro Than voltar?Foi então que ouvi gritos lá embaixo, Than discutindo com os próprios pais, mandando eles saírem da casa dele. Não consegui evitar e fui até a porta, abri só um pouco para escutar melhor. Ouvi a Medea tentando retrucar, insistindo em ficar na casa e se recusando a sair com o Alfa Damon.Me afastei depressa quando ouvi os passos pesados do Than subindo as escadas, e me preparei pro que viria. Eu tinha causado aquilo, eu sabia. Era minha culpa ele estar tão furioso. Eu não devia ter saído com o Hector daquele jeito, mas eu precisava... Eu precisava ouvir com meus próprios ouvidos e não através das palavras de outra pessoa.— O que você tinha na cabeça?! — Ele rugiu assim que abriu a porta do nosso quarto, batendo com força ao fechá-la atrás de si. — Ele podia ter te marcado, e eu não i
Ponto de Vista da Alora— Isso é uma loucura, vamos ser pegas. — Freya já estava tentando desistir do nosso acordo, seu corpo balançando nas pontas dos pés. Seus dedos também estavam inquietos, querendo apertar os botões do elevador para voltar para baixo.— Não vamos ser pegas. Só preciso que você distraia o médico de algum jeito e aí eu consigo entrar escondida. Cinco minutos no máximo.— Cinco minutos... Isso é muito tempo.— Bem, vou ser o mais rápida possível.— Vou me meter numa encrenca... — Ela se curvou, segurando o estômago, parecendo que ia começar a vomitar no chão do elevador.— Somente se a gente for pega, e não vamos ser pegas. Achei que você fosse uma Beta?— Eu sou uma Beta mesma!O elevador parou com um estrondo, e as portas se abriram, revelando o andar movimentado do hospital.O escritório do meu médico era naquele andar e eu precisava olhar meus registros médicos. Tinha que ter alguma coisa sobre onde eu nasci.— Não me faça me arrepender disso... — A voz de Freya
Naquele momento estávamos de volta à casa dela. Fui informada pela conexão mental do médico que Freya desmaiou no hospital, mas se recusou a receber atendimento médico.Eu o tranquilizei, dizendo que iria verificar como ela estava, o que naquele momento serviu como meu álibi.— Você encontrou o que queria?— Não... É como se eu tivesse sido desejada e, puff... apareci na porta dos meus pais. Um bebê pronto para ser adotado e chamado de "deles".— Isso é tão ruim assim? Por que desenterrar um passado que quer permanecer escondido? Talvez haja uma razão para isso...Talvez ela estivesse certa. Mas algo dentro de mim ainda queria saber qual era o vínculo entre Kaia e eu.Hector disse ele mesmo, gêmeas separadas ao nascer.Se aquilo fosse verdade, talvez ela soubesse algo mais. Será que ela foi criada pelos pais e saiu de casa quando se casou com Than, ou foi adotada?Uma órfã...Passos rápidos do lado de fora se aproximam da porta da frente de Freya antes de ela se abrir com Beta Zane no
Ponto de vista do HectorEu tinha ampliado minha busca até o Alfa Jude. Precisava da ajuda dele para investigar informações que vinham de muito antes de eu ter fundado a matilha, há quatro anos. Sim, eu tinha inteligência, sim, eu tinha registros... Mas nada comparado ao que o Alfa Jude guardava, décadas, talvez séculos, de nomes de alfas e detalhes sobre suas matilhas.Eu sabia que estava forçando a barra, mas que outra escolha eu tinha?Aceitar meu destino com Alora e ficar esperando o vínculo de companheirismo simplesmente desaparecer? Esperar que ela fosse marcada por Than?Não. Eu precisava me manter ocupado, e precisava encontrar a Kaia antes dele.Não entendia aquela obsessão dele por encontrar ela. Ele dizia que era por causa da Alora e negava qualquer outro motivo. Mas eu sabia que ele estava procurando a Kaia. Os rastreadores dele já foram vistos vasculhando as fronteiras das matilhas da aliança. Se eu quisesse, bastava dar uma ordem e eles seriam atacados.A culpa dele estar
Ponto de Vista da KaiaSe eu estendesse minha audição o suficiente, conseguia ouvir as vozes dos humanos no iate branco ali perto. As risadas deles viajavam com a brisa do oceano.Eles estavam ancorados, se preparando para mergulhar nas águas cristalinas que naquele momento eu chamava de lar.Aquele era o meu lugar favorito: o topo das falésias. Me lembrava da Matilha Águas Claras, da matilha onde cresci.Nunca conheci minha mãe. Ela morreu quando eu nasci. Mas, crescendo na matilha dela, eu sempre senti que estava perto dela.Até o dia do ataque... E meu pai me mandou embora.Fiquei sozinha depois daquilo, tentando me manter escondida até conseguir encontrar meu pai de novo. Foi então que Than me encontrou. Achei que minha vida finalmente ia melhorar depois de encontrar meu companheiro... Mas como eu estava enganada.Na verdade, troquei uma vida solitária e segura por uma vida perigosa dentro de uma matilha. Nem toda matilha era como a da minha mãe... Naquele momento eu sabia daquilo.