Naquele momento estávamos de volta à casa dela. Fui informada pela conexão mental do médico que Freya desmaiou no hospital, mas se recusou a receber atendimento médico.Eu o tranquilizei, dizendo que iria verificar como ela estava, o que naquele momento serviu como meu álibi.— Você encontrou o que queria?— Não... É como se eu tivesse sido desejada e, puff... apareci na porta dos meus pais. Um bebê pronto para ser adotado e chamado de "deles".— Isso é tão ruim assim? Por que desenterrar um passado que quer permanecer escondido? Talvez haja uma razão para isso...Talvez ela estivesse certa. Mas algo dentro de mim ainda queria saber qual era o vínculo entre Kaia e eu.Hector disse ele mesmo, gêmeas separadas ao nascer.Se aquilo fosse verdade, talvez ela soubesse algo mais. Será que ela foi criada pelos pais e saiu de casa quando se casou com Than, ou foi adotada?Uma órfã...Passos rápidos do lado de fora se aproximam da porta da frente de Freya antes de ela se abrir com Beta Zane no
Ponto de vista do HectorEu tinha ampliado minha busca até o Alfa Jude. Precisava da ajuda dele para investigar informações que vinham de muito antes de eu ter fundado a matilha, há quatro anos. Sim, eu tinha inteligência, sim, eu tinha registros... Mas nada comparado ao que o Alfa Jude guardava, décadas, talvez séculos, de nomes de alfas e detalhes sobre suas matilhas.Eu sabia que estava forçando a barra, mas que outra escolha eu tinha?Aceitar meu destino com Alora e ficar esperando o vínculo de companheirismo simplesmente desaparecer? Esperar que ela fosse marcada por Than?Não. Eu precisava me manter ocupado, e precisava encontrar a Kaia antes dele.Não entendia aquela obsessão dele por encontrar ela. Ele dizia que era por causa da Alora e negava qualquer outro motivo. Mas eu sabia que ele estava procurando a Kaia. Os rastreadores dele já foram vistos vasculhando as fronteiras das matilhas da aliança. Se eu quisesse, bastava dar uma ordem e eles seriam atacados.A culpa dele estar
Ponto de Vista da KaiaSe eu estendesse minha audição o suficiente, conseguia ouvir as vozes dos humanos no iate branco ali perto. As risadas deles viajavam com a brisa do oceano.Eles estavam ancorados, se preparando para mergulhar nas águas cristalinas que naquele momento eu chamava de lar.Aquele era o meu lugar favorito: o topo das falésias. Me lembrava da Matilha Águas Claras, da matilha onde cresci.Nunca conheci minha mãe. Ela morreu quando eu nasci. Mas, crescendo na matilha dela, eu sempre senti que estava perto dela.Até o dia do ataque... E meu pai me mandou embora.Fiquei sozinha depois daquilo, tentando me manter escondida até conseguir encontrar meu pai de novo. Foi então que Than me encontrou. Achei que minha vida finalmente ia melhorar depois de encontrar meu companheiro... Mas como eu estava enganada.Na verdade, troquei uma vida solitária e segura por uma vida perigosa dentro de uma matilha. Nem toda matilha era como a da minha mãe... Naquele momento eu sabia daquilo.
Ponto de Vista da Kaia— Uma surpresa?— Você vai ver... — Ele riu da minha leve apreensão, enquanto eu semicerrei os olhos para ele, num jeito brincalhão, mas claramente desconfiado.Voltamos para o terreno principal da Matilha Reformada Noite Sombria. O caminho foi mais demorado do que se eu estivesse sozinha. A perna do meu pai o fazia andar mais devagar. Mas só o corpo era mais lento, a mente dele continuava afiada como sempre.Ele tinha feito tanta coisa nos últimos quatro anos. A bela casa do alfa, construída com pedras brancas, era prova daquilo.Ainda estávamos em processo de construção: casas para os membros da matilha, e um pequeno centro médico, até conseguirmos levantar mais fundos para expandir dentro das nossas fronteiras. Como as terras ainda eram contestadas, sofríamos ataques constantes de matilhas vizinhas que afirmavam que aquelas terras pertenciam a elas.Muitas já haviam assinado o tratado desde que cheguei, com a condição de enviarmos guerreiros caso suas terras f
Ponto de Vista da KaiaDepois do jantar, meu pai chamou o Samson para uma conversa particular no escritório. Era algo que, aparentemente, só dizia respeito aos dois.De qualquer forma, eu queria conferir a troca de turno dos guardas noturnos, então fui até lá. Estava tudo tranquilo na fronteira naquela noite, mas não podíamos nos dar ao luxo de relaxar. Os ataques podiam acontecer a qualquer momento e sempre eram planejados para nos pegar de surpresa. Até naquele momento, ninguém tinha conseguido romper nossas defesas.Eu estava em uma das colinas de onde dava para ver todo o território da matilha, mais para o interior do que perto das falésias costeira. Dali, conseguia observar tudo, até o momento em que vi o Samson saindo da casa do alfa e vindo na minha direção.— Aí está você. — Disse ele, subindo o último trecho da colina antes de parar para recuperar o fôlego. A inclinação era bem puxada, e demorava algumas subidas até o corpo se acostumar.— Queria conferir as fronteiras... E ol
Ponto de vista da KaiaA reunião da matilha para discutir as táticas de defesa tinha se estendido além do previsto, o que, se o Samson não estivesse presente, provavelmente me faria sentir culpada por atrasar nossos planos de jantar. Mas como ele também estava ali, estava começando a ter uma noção real do quão trabalhoso era proteger as fronteiras contra tantas ameaças.Estávamos discutindo quais matilhas eu tinha visitado pessoalmente recentemente, e entre aquelas, quais já tinham concordado ou tinham grandes chances de assinar um tratado de paz. As coisas tinham avançado mais rápido com a minha chegada. Eu sentia que a participação de uma loba era essencial quando se tratava de lidar com certas delicadezas, especialmente com as alcateias dominadas por machos.— E a Matilha Lua de Cristal? — Meu pai perguntou, olhando para os guerreiros e para mim.Preferi ficar em silêncio. Eu ainda não tinha visitado aquela matilha, e por um motivo bem claro. Eu sabia que ela fazia parte da aliança
Ponto de Vista da KaiaPassei minha vida sendo treinada por meu pai para proteger uma matilha que já não existia mais. Naquele momento, tinhamos aquela matilha e eu precisava protegê-la com todas as minhas forças. Eles não poderiam ultrapassar as fronteiras, não poderiam chegar às mulheres e crianças inocentes que se esconderam em suas casas.Eles já invadiram a fronteira, mas não iriam chegar mais longe, não se eu pudesse impedir.Não tivemos fundos para construir um abrigo para a matilha, algo que naquele momento era essencial para o nosso futuro, se conseguiríamos sobreviver a aquele ataque.As crianças e as grávidas estavam espalhadas demais. Precisaram ser guardadas juntas em um abrigo que fosse impossível de penetrar.Eles continuavam vindo. Mas não eram lobos solitários, eram lobos de matilha.Eram lobos que tinham recebido ordens de atacar com o único objetivo de nos lembrar de quem aquelas terras pertenciam, e aparentemente, não eram nossas.Eu fui atrás dos lobos mais jovens
Ponto de Vista da KaiaEu estava ajudando os feridos, era por isso que o hospital precisava ser maior. Com um ataque daquele, estávamos funcionando muito acima da capacidade.Havia até camas nos corredores, com garotos recém-saídos da adolescência gritando de dor. Faltavam médicos, faltavam enfermeiras... Tínhamos mal saído de uma batalha, só para cair direto em outra.Eu corria de um lado pro outro no hospital, tentando encontrar ataduras para estancar o sangue que escorria de tantos corpos.O ataque do Alfa tinha sido preciso, calculado. Se eles atacassem de novo naquele momento, a gente não teria a menor chance de proteger nosso território.Meu pai me encontrou no hospital, justo quando Samson me ajudava a recolocar os ossos deslocados de uma loba.A aura dele chegou pesada, escura, carregada de raiva, sufocava o ar do centro médico, que já lutava para manter um ambiente de paz e cura.A maioria ali ia ficar bem, era só parar o sangramento e ajeitar os ossos que o processo de cura n