Narrado por George Os dias no hospital pareciam se arrastar, cada minuto mais longo que o anterior. Sentado ao lado da cama de Alora, eu observava sua respiração lenta e ritmada. Era um som que deveria me trazer conforto, mas só fazia lembrar o quão perto ela esteve da morte. Meu coração doía ao ver minha neta tão vulnerável, mas ao mesmo tempo, era um lembrete de que ela ainda estava aqui, ainda lutando.Eu sabia que a luta dela não tinha acabado. Nem mesmo em um estado inconsciente Alora parecia descansar. Talvez fosse a marca do sangue que corria em suas veias, um legado de resiliência, de batalha, de sobrevivência. Ver as lágrimas escorrendo pelos seus olhos mesmo em coma me despedaçou de uma forma que anos de tortura física nunca conseguiram. Essas lágrimas silenciosas eram um grito que eu não podia decifrar, mas que me deixavam acordado durante a noite.A cada instante, eu me perguntava o que se passava na mente dela. O que ela estava enfrentando para que suas emoções transbord
Narrado por Alora Ainda perdida na escuridão dentro de mim mesma, eu tentava desesperadamente encontrar a luz que me levaria para casa. Era como caminhar em um labirinto sem fim, onde cada direção parecia errada e cada passo me afastava mais. Sentada no meio daquele vazio opressor, sentindo-me tão pequena, um toque repentino interrompeu minha solidão. Era um toque que eu conhecia muito bem, inconfundível. O calor de suas mãos aqueceu o frio ao meu redor, trazendo um conforto que parecia impossível naquele lugar. Meu coração disparou, e então sua voz, grave e cheia de emoção, ecoou ao longe, preenchendo a escuridão como um farol em uma tempestade. — Eu estou aqui, Elion! Eu estou aqui! — gritei desesperadamente, minha voz ecoando no vazio. — Eu quero voltar para casa, para você, para os seus braços! Minhas palavras se perdiam no silêncio sufocante, mas eu não conseguia parar. As lágrimas deslizavam por meu rosto, quentes e incessantes, um reflexo da batalha que eu travava dentr
Narrado por Alora Uma das enfermeiras se aproximou e começou a verificar os aparelhos, enquanto outra colocou a mão em meu ombro, falando com calma:— Alora, nós estamos aqui. Sei que é desconfortável, mas precisamos avaliar você antes de retirar os tubos. Respire fundo, por favor.Eu queria gritar que não conseguia, que o peso em meu peito era sufocante, mas ao olhar para Elion, que segurava minha mão como se aquilo fosse a única coisa que o mantivesse inteiro, tentei me acalmar.Os médicos entraram rapidamente no quarto, seguidos por uma enfermeira que parecia já saber exatamente o que fazer. Elion permaneceu ao meu lado, segurando minha mão com firmeza, como se tivesse medo de que eu fosse desaparecer novamente. Seus olhos estavam cheios de alívio, mas também de preocupação.— Alora, não se mova muito — disse o médico, com uma voz tranquila, mas firme. — Vamos remover os tubos com cuidado. Você esteve inconsciente por muito tempo, então seu corpo ainda está frágil.Assenti levemen
Narrado por ElionAs luzes do hospital piscavam fracamente enquanto eu caminhava pelo corredor estreito, minhas mãos cerradas em punhos ao meu lado. Cada passo ecoava como um martelar em minha cabeça. Ela estava viva. Viva. Era isso que eu repetia a mim mesmo, como se a confirmação pudesse acalmar a tempestade que rugia dentro de mim.Mas não conseguia. Não agora.Quando a vi naquela cama, tão frágil, com tubos e máquinas que pareciam ser as únicas coisas mantendo-a aqui, algo quebrou dentro de mim. Era como se a escuridão que sempre carreguei no peito finalmente tivesse encontrado algo maior para consumir: a minha esperança.Ela me agradeceu. Pediu desculpas. Mas como posso aceitar desculpas por algo que quase me destruiu?Entrei na pequena sala de espera ao lado do quarto dela e fechei a porta. Eu precisava de um momento. Só um.— Elion, você precisa se recompor — murmurei para mim mesmo, o rosto enterrado nas mãos.Mas como posso? Como posso me recompor quando quase a perdi?Eu a a
Narrado por Elion Enquanto eu observava Alora de olhos fechados, tentando descansar, percebi que havia me deixado consumir tanto pela emoção do momento que esqueci completamente de avisar Asael e Havenna que ela havia acordado. A notícia era grande demais para ser guardada apenas comigo, e sabia que eles precisavam saber.Peguei meu telefone e disquei o número de Asael. Ele certamente estaria com Havenna; os dois pareciam inseparáveis nos últimos dias. Após dois toques, sua voz grave e apressada ecoou na linha.— O que aconteceu? Algo errado com Alora? — Asael perguntou de imediato, claramente esperando o pior.— Não, Asael, calma. Ela acordou. — Minha voz estava carregada de um alívio que eu ainda não tinha tido tempo de processar completamente.Do outro lado da linha, houve um momento de silêncio, seguido por um suspiro que parecia carregar toda a tensão acumulada dos últimos dias.— Ela acordou? — repetiu, como se precisasse se certificar de que não estava imaginando coisas.— Sim
Narrado por Alora O som da porta me fez despertar de meus próprios pensamentos. Elion e eu nos separamos rapidamente, e não pude evitar um sorriso quando vi Asael e Havenna entrando no quarto. Eles estavam carregados de balões coloridos e ursos de pelúcia, gestos tão simples, mas que aqueceram meu coração de uma forma que eu não sabia ser possível.Havenna colocou os balões em um canto do quarto, enquanto Asael, sempre exagerado, enchia a sala com sua energia contagiante. Mas o que realmente chamou minha atenção foi o olhar de Havenna. Havia algo diferente, algo que não consegui decifrar naquele momento. Resolvi guardar essa observação para uma conversa mais tranquila depois.— Vocês vieram! — falei, tentando conter a animação, mas falhando miseravelmente. Meu sorriso se abriu, e por um momento esqueci toda a dor e escuridão dos últimos dias.O carinho deles era algo novo para mim, algo que eu nunca tive antes. Eu nunca estive cercada por pessoas que se importavam tanto comigo, nunca
Narrado por Elion Desde que Alora acordou, já se passou uma semana, e hoje, finalmente, ela teria alta. Era bom vê-la sorrindo, algo que antes parecia quase impossível. Alora tinha poucas pessoas ao seu redor, mas aquelas poucas eram as essenciais.Durante o tempo em que ela esteve internada, tudo foi preparado para receber George de volta à mansão Blackwood. Apesar das memórias sombrias que aquele lugar carregava, ele insistiu em morar lá por seu valor sentimental. A casa era uma lembrança dos tempos em que sua família ainda estava unida, e agora ele parecia determinado a reconstruir algo a partir disso.Todo o dinheiro de George foi transferido para ele. Foi uma decisão natural, afinal, ele era o dono legítimo. Além disso, ele deixou claro que voltaria à ativa na máfia. “Uma vez na máfia, sempre na máfia”, foi o que ele disse com um sorriso sarcástico. Eu respeitava a decisão, mas sabia que isso traria mais desafios no futuro.Alora, por outro lado, era um mistério para mim. Não sa
Narrado por Alora Senti o vento no rosto quando Elion abriu a porta do carro para mim. Entrar ali era mais do que simplesmente voltar para casa; era como atravessar uma ponte entre o passado e o futuro. Enquanto ele dava a volta para entrar no lado do motorista, observei a cidade se estender à nossa frente. Tantas memórias dolorosas, mas agora também carregadas de esperança.— Está pronta? — Ele perguntou com a voz tranquila, mas com um olhar que carregava mil perguntas não ditas.— Sim, estou. — Sorri, tentando dissipar qualquer tensão.O caminho de volta foi silencioso, mas confortável. Elion dirigia com uma mão no volante e a outra descansando no console, os dedos levemente próximos aos meus. Era engraçado como algo tão pequeno podia trazer tanto conforto.Eu estava em paz, mas também ansiosa. A decisão de ficar com meu avô por enquanto foi algo que tomei com cuidado. Não queria magoar Elion, mas sabia que precisava de um tempo para me reconectar com minhas raízes e me fortalecer.