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Mãe por acaso
Mãe por acaso
Por: Natália Gonçalves
Capítulo 1 ( Mãe por acaso)

# Natalie

5 anos antes

Eu me encantei por um homem que nem sequer sei o nome. Fui contratada por uma mulher chamada Rebecca Randy para trabalhar como assistente pessoal em uma empresa e, por mais estranho que pareça, a entrevista foi realizada em uma casa gigantesca. Lembro que tomei um suco de laranja durante a conversa e depois, misteriosamente, acordei nua na cama do dono da casa. Minha memória estava confusa, mas sei que ele foi extremamente paciente e carinhoso, diferente do meu ex-namorado, que sempre queria me forçar. Eu sempre o negava e tinha repúdio por homens estúpidos, pois fui abusada na infância. No entanto, pela primeira vez na vida, senti desejo e fui desejada. Experimentei o tal orgasmo do qual minhas amigas tanto falavam e o resultado dessa noite foi uma gravidez inesperada. Carreguei minha bebê por nove meses em meu ventre e tive ela roubada dos meus braços com poucos dias de vida. Fiquei atordoada, desesperada, e a única pessoa que sempre me apoiou foi minha avó. Fui abandonada por meu pai e minha madrasta logo após a morte da minha mãe, e minha avó Margareth foi a única pessoa que me apoiou na vida. Ela começou a viajar comigo em busca da minha bebê, mas em uma noite chuvosa, um barulho estrondoso escureceu tudo à minha frente e marcou para sempre minha vida.

5 anos depois do acidente.

Não sei mais o que fazer da minha vida, não me lembro praticamente nada do período anterior ao acidente, que foi responsável por causar um traumatismo craniano em minha avó. Sinto-me perdida, sem perspectivas, desempregada, com minha avó internada em um hospital público e com uma dívida gigantesca em um hospital particular.

Sou interrompida em meus devaneios pela voz serena e empolgada de minha melhor amiga, Gabrielle, que conheci logo depois do acidente. Ela divide um apartamento comigo em uma cidade pequena no interior do Texas.

—Amiga, olha esse anúncio: a maior indústria de perfumes dos Estados Unidos vai abrir uma filial em Austin, é bem perto de San Antonio, dá pra você ir e voltar todos os dias de ônibus."

Pego o jornal de sua mão e dou uma rápida olhada.

-Gaby, eu não tenho nenhuma formação acadêmica e no anúncio diz que é necessário ser formada em farmácia ou cosmética. Será impossível conseguir essa vaga.

-Natalie, o não você já tem e não custa nada tentar! Olha para si mesma no espelho, amiga. Você é linda, atraente, tem um corpo desejável, os olhos mais lindos que já vi em toda minha vida. Apesar de não ser formada, você é praticamente uma especialista em perfumes.

-Gaby, eu amo perfumes, mas não me lembro de nada que antecedeu meu acidente - suspiro. - Mas você tem razão, vou tentar a vaga de assistente pessoal ou perfumista na indústria Chanely Williams. Se não conseguir, posso tentar outra disponível.

-Isso é assim que se fala, minha garota! É por isso que eu te amo, sua sorte é que não sou lésbica!

Gabrielle é engraçada e trabalha com artes plásticas. Doce e um pouco apimentada, ela está solteira e adora ser reconhecida como uma mulher sensual. Também é sonhadora e adora dançar em baladas.

Ela tem razão, não custa nada tentar, pois não posso contar com minha família. Fui pedir ajuda ao meu pai e a infeliz da minha madrasta me expulsou de lá aos berros.

Lembro vagamente de quando fui abandonada por meu próprio pai e minha madrasta. Ela é pior que as bruxas dos filmes da Disney e, se não fosse por minha avó, teria ido parar em um orfanato. Devo minha vida a ela e sinto uma mistura de amor e gratidão. Ela é tudo para mim.

Arrumo-me, olho para o espelho e gosto da imagem refletida nele. Visto uma saia lápis preta e uma blusa social branca, calço um scarpin de salto agulha bem alto e minha amiga faz uma leve maquiagem. Não gosto muito, mas ela me convence dizendo que é necessário, afinal, para trabalhar em uma empresa de cosméticos, é preciso ter uma boa aparência e estar impecável.

— Gaby obrigada pela força, mas eu acredito que não vou conseguir essa vaga.

— Naty deixa de ser pessimista criatura de Deus! Cadê a fé inabalável que você herdou da sua avó? — Perguntou — Acredita no seu potencial porque você está uma gata gostosa e vai arrasar corações!

Fui animada para a entrevista, cheguei meia hora antes do horário marcado e encontrei umas cinco candidatas à minha frente. A ansiedade me dominava no momento que a recepcionista me direcionou até a porta e assim que ela a abriu, eu tropecei no tapete com meu salto agulha fazendo aquele encontro ser no mínimo desastroso. Um homem cheiroso e com um ar de arrogância, me segurou em seus braços me impedindo de cair ao chão. Olhei em seus olhos, desci para a sua boca e senti minha respiração se tornar ofegante e minhas pernas bambas. O olhar dele de desdém foi repugnante e eu logo me afastei, o empurrando para longe de mim.

Ele pegou o currículo de minhas mãos e mal olhou para o papel.

— Senhorita Jones, na minha empresa você não serve nem pra faxineira…desastrada desse jeito e sem nenhuma formação acadêmica, vá embora agora e saia da minha frente! Sua presença insignificante me irrita!

Ele rasgou o meu currículo em mil pedaços.

Nesse momento, o meu sonho de ajudar a dar mais qualidade de vida para a minha avó e pagar as dívidas do hospital, foi pelo ralo. As minhas lágrimas começaram a escorrer livremente pelo meu rosto e eu abaixei minha cabeça. Ao sair da sala, eu me deparei com uma criança que veio correndo em minha direção e me abraçou:

— Papai, papai, é ela! A minha mamãe, a mamãe dos meus sonhos, mamãe não vai embora!

A criança estava grudada em mim, chorava silenciosamente e não me deixava sair dos seus bracinhos.

O homem arrogante e prepotente à minha frente, ficou paralizado e sem reação com a atitude da criança. Fiquei surpresa e a abracei, sentindo uma sensação estranha me invadir. Um aperto no peito me aflingiu e senti uma vontade louca de nunca mais me soltar daquele abraço.

Aquele abraço me trouxe uma sensação inexplicável de paz, fiquei inerte e por um momento pensei que aquela criança que estava ali me chamando de mãe, poderia ser realmente minha filha, mas eu sabia que isso era impossível. Eu não me lembro de ter me relacionado com ninguém além do cretino do meu ex namorado que quis me forçar a ter relações sexuais e graças a Deus não conseguiu. Em meios aos meus pensamentos, senti um puxão: o cretino do Senhor todo poderoso James Williams, puxou a menina dos meus braços, provocando em mim uma sensação de vazio.

Ela começou a chorar ainda mais e gritou com o pai:

— Papai é ela a minha mamãe! A mamãe que eu sempre quis, não deixa ela ir embora papai!

O choro estridente daquela criança me fez sentir piedade do desespero dela e eu lembrei de quando o meu pai me abandonou.

A menina se debatia cada vez mais em seus braços até que conseguiu se soltar e correu em minha direção abraçando as minhas pernas.

— Não vai embora mamãe, por favor! Eu te quero aqui!

Eu não sabia o que fazer, estava perplexa com toda aquela situação. O olhar do tal James Williams agora era de pura confusão, como se não conseguisse compreender o que estava acontecendo.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele, visivelmente abalado.

— Eu não sei... — respondi, ainda aturdida.

A criança continuava agarrada a mim, soluçando e pedindo para que eu não a deixasse. Naquele momento, meu coração se dividiu entre o desejo de acolher aquela criança e a confusão sobre como isso poderia ser real. Eu não tinha sequer lembranças de estar envolvida com alguém que pudesse ser o pai dessa criança.

James se aproximou lentamente, tentando entender o que estava acontecendo. Olhou para a criança, olhou para mim e finalmente para o currículo no chão que ele havia rasgado momentos antes, e me pediu uma cópia.

— Srta. Jones, me desculpe pelas palavras duras que disse antes — disse ele, com uma expressão de arrependimento. — Eu estava errado. Posso ver seu currículo novamente, você tem uma cópia?

Era difícil acreditar naquela mudança repentina, mas decidi entregar uma cópia do currículo que ele havia destruído. Ele o pegou e começou a ler atentamente, enquanto a criança ainda se agarra a mim.

— Se estiver disposta a provar seu valor eu tenho uma vaga para você, entretanto não é aqui na empresa e sim na minha casa preciso de uma mãe por contrato, podemos reconsiderar a sua contratação nesse caso se você aceitar vai ser muito bem reconpensada — disse ele, olhando para mim com um misto de seriedade e compaixão.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Uma série de emoções tumultuavam dentro de mim. Será que era um sinal? Será que aquele abraço daquela criança era um chamado para uma nova jornada?

Olhei para a criança, ainda abraçada às minhas pernas, e senti um amor imenso. Talvez ela não fosse minha filha biológica, mas ali, naquele momento, algo forte se formava entre nós. Era uma conexão que eu não conseguia explicar, mas que despertava em mim um instinto maternal que eu nunca havia sentido antes.

Pensei em aceitar a oferta do senhor James, determinada.

Eu precisava dar uma chance para aquela criança e para mim mesma. Juntos, enfrentaríamos o desconhecido e talvez, essa seria uma ótima oportunidade de mostrar para aquele senhor arrogante que além de babá eu posso ser uma excelente profissional no ramo de perfumes.

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