Capítulo 6

Valeska Suhai

Meu último dia de folga aproveito não só para descansar meu corpo, também para colocar meus pensamentos em ordem. Me expliquem como é possível, uma quase assexuada como eu, estar desejando dois homens ao mesmo tempo? Dylan e o Misterioso não saem dos meus pensamentos? O meu lado sensato diz que tenho que esquecer o Misterioso, ele não passa de uma fantasia, é um tipo de homem que não serve para mim, suspeito que em sua profissão de stripper provavelmente vende seu corpo por dinheiro. Já o meu lado irresponsável diz para eu ir lá no clube, subir no palco e beijá-lo, que só assim saberei qual dos dois realmente gosto, se por acaso for o Mascarado, talvez ele abandone tudo por mim. Idiota.

O meu lado pervertido diz que tenho que parar de ser boba, ir logo para cama com o gostoso do Dylan, se surgir oportunidade, fazer o mesmo com o Misterioso. Esse meu lado pervertido é a cópia exata da Catarine.

Assim que termino de almoçar ligo a tv, um filme inédito está sendo exibido, De Volta à Lagoa Azul. Estou rindo de mim mesma quando ouço meu celular tocar, atendo sem olhar de quem se trata.

— Alô! — Boa tarde Valeska é o Dylan. Meu coração para, antes dele dizer, reconheci sua voz. Respiro fundo e respondo.

— Oi!  Dylan tudo bem? — Melhor agora falando com você, ficamos em silêncio.

— Valeska te liguei para saber como você está e para perguntar se sonhou comigo? Sua voz é sexy como inferno. — Dylan é sempre tão direto, não respondo sua pergunta, mal sabe ele que não preciso dormir para isso. — Mudo de assunto.

— Como está sendo o seu domingo?

— De muito trabalho? — Trabalho? Sim, estou trabalhando no escritório de casa, resolvendo algumas pendências, entre um contrato e outro, penso em você. — Ai, ai, lá vem ele de novo, assim meu pobre coração encalhado não resiste.

 — Me diga como está sendo seu dia.

— Ótimo, dormi até às onze, por ter acordado tarde preparei o almoço e almocei, pulei o desjejum. Antes de falar com você estava assistindo tv.

— E o que está assistindo? — Você quer mesmo saber? — Quero, me fala.

— Um filme inédito, nunca passou na tv, De Volta à

Lagoa Azul, Dylan gargalha, acabo rindo, que risada gostosa, ele é todo gostoso.

— Quais são os seus planos para mais tarde?

— Não tenho nenhum. Priscila até me chamou para ir em sua casa, mas estou de modo a ficar sossegada, algo impossível quando se trata das minhas amigas.

— Julgo ser melhor que você não vá. Fico sem entender e decido perguntar. — Por qual motivo, Dylan? — Por causa do Arthur.

— Não leva a sério o Arthur as investidas dele, é só brincadeira.

— Sei, o conheço muito bem Valeska — Que tal você jantar comigo?

— Não sei se é uma boa ideia.

— É só um jantar, para nos conhecermos melhor.

— Tudo bem — Então te busco às 20:00 — Combinado.

Desligo o celular, me deitada em minha cama pensando se eu irei resistir ao desejo que sinto de ser tomada por ele. Sinceramente, estou cansada de fazer tudo certinho, tudo planejado, desde que fiquei órfão, não me permiti apenas viver, eram tantas responsabilidades, somada a dor da perca que eu tinha a missão de dar certo, de dar orgulho aos meus pais, que lá do céu eles tivessem a certeza que fizeram um trabalho em minha criação.

Ansiosa contava as horas para nosso encontro. Liguei para Raquel, precisava falar com alguém, compartilhar minha ansiedade. Ela era a única das meninas que está a par da minha atração pelo empresário gostoso.

— Raquel — Amiga, boa tarde!

— Miga preciso de você, está ocupada? — Não Val, me diga o que precisa, estava lendo.

— Desculpe atrapalhar sua leitura, mas é que — diz logo, para que tanto suspense? Se tiver ao meu alcance é lógico que te ajudarei. — Digo, desta vez sem rodeios.

— O Dylan me convidou para jantar, como ele é um empresário, imagino que vai me levar em um restaurante chique, não quero fazer feio.

— Para com isso Val, você é super educada e linda. Convite para jantar, hein, safadinha. Tinha certeza que o bonitão estava na sua, quero detalhes. Não se preocupa, aja naturalmente, você vai tirar de letra.

— O problema é que não sei o que vestir, se prendo o cabelo, se o deixo solto. Estou tão nervosa, não quero fazer feio.

— Calma. Estou saindo de casa, me aguarde, te ajudarei a ficar ainda mais linda. Dylan vai ficar de queixo caído. — Sua boba — Já, já chego aí. — Ok te espero.

Meu Deus! A hora voou, fiquei tão aliviada depois que conversei com a Raquel, relaxei, já são quase seis horas. Tomarei um banho bem caprichado, lavar meus cabelos enquanto Raquel não chega. Assim que saio do banheiro minha amiga chega acompanhada do Lipe.

— Boa noite, amores, os cumprimentei com beijos.

— Lipe chegou quando estava trancando a porta, o arrastei comigo para nos ajudar.

—  Estou mega ansiosa.

— Te entendo, gata, mas antes de qualquer coisa, quero saber o que aconteceu ontem, me conta enquanto escovo seus cabelos.

— Lipe, por favor, só a Raquel sabe sobre o Dylan.

— Que Dylan? — O empresário delicioso, amigo do Arthur?

Raquel colocou dois dedos na boca, um pedido silêncio para que ele se cale. Em seguida pede para que ele faça seu trabalho, tadinho, não tem obrigação nenhuma de fazer meu cabelo, porém, entendo que minha amiga não quer me deixar nervosa, se dermos corda para ele, ele não para mais.

— Cruzes não posso perguntar nada. — Quero saber de todos os detalhes, ambas olhamos para ele, Lipe se cala.

— Soube que o Ricardo apareceu.

— Infelizmente Raquel. Ele havia bebido, se comportou como um canalha, suas mãos tocavam meu corpo sem minha permissão. Deixei bem claro que não aconteceria nada entre nós dois. Saí da pista e ele foi atrás de mim, me disse que desde que terminamos não namorei mais ninguém, um monte de baboseiras.

 — O que ele tem a ver com isso? — Nada.

— Expliquei que o fato de eu estar sozinha não significava que voltaria para ele, foi quando ele segurou meus braços com firmeza, sua intenção era me obrigar a entender algo que não fazia nenhum sentido. Do nada o Dylan surgiu ao meu lado, quando dei por mim, Ricardo estava no chão com a mão no rosto, logo se levantou. O jeito que o Dylan agiu em minha defesa foi inesperado e, não sei ao certo dizer, mas para mim, ele parecia enciumado, chegou a dizer para o cretino do Ricardo que eu era dele.

— Miga, estou bege, Lipe começa dizendo balançando a escova em suas mãos, não contente vai para nossa frente e continua seu discurso fazendo caras e bocas. — Um homão gostoso daquele, com um metro e noventa, olhos azuis, corpo sarado, moreno, musculoso, cabelos negros, lindo de morrer, com ciúmes de você? Mona você arrasou, tanto tempo sem dá uma, escolheu bem pra caralho, nem eu que sou linda de bonita tive um boy desse me defendendo do lobo mau. Aí que tudo! Arrasou! Raquel e eu caímos na gargalhada.

— Vamos Val, conta o restante, Raquel diz rindo.

— Tem mais mona? Conta, conta.

— Depois ele segurou em minha mão e me conduziu até aquele canto próximo ao banheiro.

— Espertinho te levou para o escurinho, esse Dylan, é bom.

— Para Lipe, senão não conto mais.

— Tudo bem, pode falar, desculpe, é que sua vida amorosa sempre foi tão sem graça e agora essa intensidade toda, estou amando.

— Quieto, esbraveja Raquel.

— Ele me encostou na parede e colou sua boca na minha em um beijo possessivo, que eu sem hesitar, retribui. Quando dei por mim, estava completamente em suas mãos, refém dos seus toques, do seu beijo. O meu lado responsável me fez ver que eu estava em um local público, me esfregando com um homem que só havia visto uma vez, e isso me fez sentir vergonha. Minha reação foi sair em disparada da boate, um tanto infantil, mas na hora foi o que fiz. Em poucos minutos ele estava ao meu lado, quis me trazer em casa, recusei, até que Priscila apareceu e me convenceu ir com ele, a viagem foi silenciosa, nem conseguia olhar para ele.

— Não entendo o porquê você ficou com vergonha, vocês são adultos, qual o problema Val?

— Desculpe, mas me senti como uma mulher fácil, nunca fiquei com ninguém assim.

— Assim como, vocês transaram?

— Não, mas ele me tocou no meu sexo e eu — Fala de uma vez — Gozei, é isso.

—Valeska me escuta. Desde a casa da Pri que percebi uma atração entre vocês. A forma como vocês se olhava, era palpável a tensão sexual, tanto que você pensou ser melhor ir embora. Fugir em vez de se abrir para algo novo que estava acontecendo, depois de tantos meses sem se interessar por alguém, você se viu ali, desejando aquele homem.

— Raquel quando me deixou em casa, Dylan expôs seus sentimentos, mas não acho que um homem como ele está interessado de fato em mim, como não fui uma presa fácil, ele pensa que gosta de mim, a verdade é que ele nunca recebeu um não.

— Mona deixa eu te falar, de homem entendo. Quando vi na casa da Pri aqueles três monumentos, fiquei boquiaberta, logo percebi que o moreno gostosão mirava em algo ou alguém, segui seu olhar e observei que você era o seu alvo. Ele não tirava os olhos de você, e você também o olhava com a mesma intensidade. Enquanto conversávamos era nítida a troca que existia entre vocês dois, que só foi cortada com as investidas do Arthur. — O que quero dizer é que ele já te desejava antes de você pensar em ir embora. Pare de inventar desculpas, aproveite aquele fenômeno da natureza, se der certo, deu, se não der, não deu, relações estão aí para serem vividas.

— E outra coisa Lipe depois que a Val foi embora nós conversamos, ele me fez perguntas sobre ela, se tinha namorado, como vivia, demonstrou muito interesse.

— O que está faltando para você cair nos braços daquele Adônis, Val?

— Estou confusa porque senti a mesma atração por outro homem.

— Menina e eu pensando que você era bobinha.

— Fala sério Val, que você vai ficar presa nesta fantasia com uma realidade deliciosa te esperando.

— De que vocês estão falando?

— Deixa para lá, vocês têm razão, não vou mais me acovardar, seja o que Deus quiser.

— Agora fica quietinha que vou te maquiar. Que horas ele ficou de te buscar? — Às oito.

— Então vamos nos apressar que já são sete e quinze, rapidinho faço sua maquiagem e você se arruma. Alguns minutos depois.

— Linda, maravilhosa, diz Lipe todo empolgado — Miga você está um arraso

— Obrigada Lipe, obrigada Raquel, vocês são os melhores.

Coloquei um vestido longo branco que modela meu corpo, ele tem uma fenda do lado esquerdo que vai até a minha coxa. Estou tão nervosa que olho a todo tempo o relógio. Ainda faltam 10 minutos para às oito horas, meu coração está acelerado. Meu celular toca, no visor vejo que é ele, depois que ele me ligou a tarde salvei seu número.

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