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Enquanto eu tomava banho, eu me perguntava sobre a vida de Jane aqui. Ela me disse que seu negócio de restauração estava indo de vento em popa nos últimos dois anos, e já que ela tinha vários funcionários em tempo integral, bem como uma assistente pessoal, eu assumi que ela estava dizendo a verdade. O que eu não conseguia entender era como ela conseguiu fazer dinheiro o suficiente para pagar um lugar como este. Eu tinha feito minha pesquisa. O custo de vida na Califórnia era maior do que em Ohio. Parecia que Jane tinha tido muito mais sucesso do que ninguém em nossa família imaginava.

Ou, pelo menos, era isso que eu estava esperando.

Jane passeava em seu apartamento em algum momento mais tarde naquela noite. Acordei com uma sala mal iluminada, ouvindo uma voz pouco familiar chamando meu nome. Levei um minuto para que meu cérebro se orientasse. Eu estava me sentando quando a porta se abriu.

— Aí está você.

Fiz uma careta quando olhei contra a luz brilhante que vinha do corredor. Corri a mão pelo meu cabelo, que com certeza parecia um ninho de ratos depois de dormir com ele molhado. Eu também tinha certeza que tinha babado em algum lugar do travesseiro, pois sentia a boca e a bochecha úmidas.

Jane, por outro lado, parecia exatamente como eu me lembrava. Completamente linda. Eu sabia na minha cabeça que parecíamos iguais, mas uma parte de mim sempre me imaginava como o patinho feio. Não importava o quanto eu tentasse, eu sempre acabava pensando dessa forma. Era loucura? Sim, era. Mas era assim.

— Que horas são? — Eu murmurei enquanto procurava pelo meu celular.

— Ahm, mais ou menos seis. Quer alguma coisa? — Jane virou-se e saiu pelo corredor.

Levantei-me e tropecei antes de chegar ao banheiro, ainda tentando limpar a minha cabeça. Joguei um pouco de água fria no meu rosto, e no momento em que encontrei Jane na cozinha, eu já estava me sentindo um pouco mais eu mesma. Ela estava remexendo na geladeira, cantarolando algo que eu não conhecia. Encostei-me ao balcão e esperei que ela me olhasse.

— O que você acha? — Jane perguntou quando se endireitou. — Comida chinesa, tailandesa ou outra coisa?

Eu balancei a cabeça e ri. — Você está me dizendo que a dona de um restaurante de sucesso chega em casa e como esse lixo?

Jane sorriu, com os olhos brilhando. — Nem sempre. Mas é uma ocasião especial.

Eu ri novamente. — Ocasião especial? Olha, eu vou embora hein...

Ela estendeu um cardápio. — Lembro-me de como você implorou à mamãe e ao pai para deixá-la comer algo assim em um dos seus aniversários, mas...

— Mas mamãe insistiu em fazer macarrão e almôndegas com molho caseiro. — Eu continuei a memória.

— E ela disse que era o seu prato favorito.

Peguei o cardápio e olhei, com a testa franzida pela lembrança.

— Mas era o favorito do RJ.

Um momento de silêncio caiu entre nós, cheio de coisas que não dizíamos. Que nossos pais sempre pareciam se lembrar das coisas favoritas do RJ, e nunca das nossas. Nossos pais nos amavam, mas era claro quem era o filho favorito deles.

— Então... chinesa, tailandesa ou o quê? — Perguntou Jane, tirando-me das nossas lembranças.

— Qual é o melhor? — Perguntei, tentando parecer que eu estava lendo as opções em vez de evitar olhar para a minha irmã. Eu sabia que seria um pouco estranho no início, uma vez que não nos víamos havia muito tempo. Eu só esperava que o constrangimento não fosse durar.

E isso não aconteceu. Uma vez que a nossa comida chegou, fomos para a varanda para comer, e eu tive a chance de aproveitar a vista incrível. Nós conversamos sobre a refeição, o molho doce e azedo do frango e sobre o tipo de vinho que estávamos tomando, o que fez com que ficasse claro para mim que eu tinha tomado a decisão certa em vir para cá.

Nós não ficamos conversando até tarde, embora fosse sábado à noite. Jane teve um dia longo de negociação com um dos seus fornecedores de alimentos, e eu ainda estava me adaptando à diferença de tempo de três horas. Na manhã seguinte, no entanto, eu estava pronta para andar pela cidade e conhecer tudo o que pudesse.

Minha irmã me levou a todos os seus lugares favoritos, mostrando-me não só os clássicos locais de Hollywood, mas todos os pequenos lugares que eu nunca teria visto se tivesse ido sozinha. Eram os típicos lugares que pessoas que planejavam viver ali precisavam conhecer.

Passamos o dia todo fora e no momento em que voltamos para o apartamento, eu estava um pouco queimada do sol, muito cansada, e ansiosa para o amanhã. Animada para começar um novo capítulo na minha vida.

Acordei cedo, ainda afetada pelo fuso horário, sem dúvida, mas eu teria acordado cedo de qualquer maneira. Hoje era a minha introdução ao trabalho de gestão. Nós caminhamos até o restaurante, embora Jane me assegurasse que ambas estaríamos cansadas o suficiente para pegar um táxi de volta à noite. Kimberly, assistente de Jane, apareceu alguns minutos depois que chegamos lá, mas o restante da equipe não chegou até mais tarde.

Depois que Jane me mostrou o lugar, ela me deixou no escritório para analisar tudo o que o antigo gerente tinha deixado para trás. Tanto as coisas que ele tinha feito antes de sair, como as que se acumularam depois que ele se foi. Havia uma abundância de ambas.

Eu não pude verificar tudo no primeiro dia, ou no próximo. Na verdade, eu só fui terminar na metade do dia. Da quinta-feira. E mesmo assim, eu não terminei inteiramente, terminei apenas o suficiente para que eu fosse capaz de fazer uma pausa para ajudar Jane a se preparar para a grande festa que ela iria atender no Hollywood Hills na sexta-feira à noite.

Eu não tinha percebido o quanto realmente era complicado trabalhar na gestão de um restaurante. Eu tinha estudado administração e tinha crescido em uma família que tinha um negócio, então eu, é claro, tinha uma ideia teórica de como as coisas funcionavam. Mas eu também tinha escutado meus pais falando havia anos sobre como Jane estava desperdiçando sua vida, como ela nunca seria capaz de fazer uma vida real, porque esse não era o tipo de negócio que podia realmente prosperar.

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