Capítulo 3

"Um ano depois do Capítulo 1"

“Laura”

Acordei as seis em ponto cansada mas tenho  que me levantar, olho para as paredes cheias de mofo e sujeira, suspiro, pelo menos agora as coisas estão mais calmas em minha vida.

Faz um ano que sai daquele lugar que chamava de lar, agora estudo e trabalho para garantir meu sustento, quando fugi daquela casa não sabia para onde ir, nem o que fazer para arrumar minha vida. Então fui até a pensão e aluguei um quarto, conheci Olivia e a mãe dela, dividimos o quarto enquanto ajuntávamos dinheiro para comprar essa casa, faz menos de seis meses que moramos aqui.

Levanto e vou ao banheiro fazer minhas higienes, saio do banheiro e procuro meu uniforme do trabalho, um belo dia a uns meses atrás estava andando atrás de emprego pela quinta vez, resolvi passar pelas lojas do shopping quando vi um folheto numa vitrine de uma loja chique, onde dizia "Precisa-se de auxiliares de limpeza. Não é necessário experiência." entrei na loja e fui contratada, não gosto muito de lá mais é o que tem pra hoje, não posso ficar escolhendo.

Coloquei meu uniforme em minha bolsa peguei meus sapatos de trabalho e os coloquei na bolsa também. Vesti um vestidinho fácil de tirar e colocar, calcei meu sapatinho fechado e fui em direção a mini cozinha que tem aqui, na verdade a casa toda é mini.

Peguei metade de um sanduíche que tinha sobrado ontem e esquentei na panela, segui até o quarto e peguei minha bolsa, sai de casa ainda comendo para não perder tempo, tranquei a porta e sai na rua, senti o vento bater em meu rosto, é algo bom pela manhã, saber que estou vivendo.

Fui até o ponto de ônibus e fiquei esperando até avistar o ônibus se aproximando, entrei naquele ônibus lotado apesar de ser tão cedo, afinal muitas pessoas vão ao trabalho nesse horário.

São seis e quarenta como está tudo lotado fiquei em pé porque já não tem lugar pra sentar, quando deu sete e dez cheguei no meu ponto e desci, daqui é ir andando, sempre fiz esse percurso depois que consegui o emprego, às vezes tenho que acordar às quatro para ir andando porque não tem dinheiro para o ônibus, mas vida que segue.

Depois de uns dez minutos cheguei na loja, entrei pela porta de serviço e já fui pro quartinho da limpeza me trocar, aqui tem dois quartinhos, o da limpeza e o de lazer, mas eu nunca fui lá, as funcionárias da loja não gostam muito de mim, sabe-se lá Deus porque.

Vesti o uniforme horrendo e peguei meus apetrechos de limpeza, puxei o carrinho de vassouras e outras coisas e sai pra frente da loja fazer a limpeza do começo do dia.

Sempre chego as sete e vinte e limpo tudo sozinha, nesse último mês tenho ganhado um bônus por limpar as duas lojas dessa marca, quando da uma hora vou almoçar, minha única refeição digna no dia já que é  paga pela loja na praça de alimentação do shopping.

Já que eu trabalho em uma das lojas do shopping e minha casa é longe me impossibilitando de ir em casa comer algo.

Geralmente o almoço é delicioso pra mim que não tenho dinheiro nem pra comprar um pãozinho daquele lugar caro e cheio de frescuras.

Quando estou terminando de limpar as atendentes chegam, são todas nariz em pé e sempre que podem arranjam algo para que eu faça, ou melhor me fazem de escrava dentro da loja.

Passaram por mim sem nem dizer bom dia ou qualquer outra coisa é o normal delas. Mas não importa, continuei meu trabalho e logo que terminei juntei minhas coisas para guardar.

Elas já tinham aberto a loja e como sempre já tinha algumas nariz em pé por ali, não posso dar bobeira que elas querem pisar em alguém ou humilhar.

Puxei minhas coisas até o quartinho da limpeza e esperei a gerente vim me dar novas ordens, ela sempre me direcionava a outra loja pra ajudar Analluz que já tem uma certa idade e logo irá se aposentar, mas que por enquanto ainda tem que trabalhar, mesmo que sua saúde esteja debilitada.

Pouco tempo depois escuto a porta do quartinho se abrindo, me viro já ouvindo a voz enjoada da gerente dizer:

-Laura pode ir até a loja dois, a outra faxineira não veio hoje parece que está doente. Você já sabe o que fazer. -em seguida saiu, é sempre assim, ela fala e sai sem nem olhar na minha cara.

Peguei minhas coisas e atravessei o shopping até a outra loja, ali é mais tranquilo, da para limpar tranquilamente mesmo após abrir, é uma loja de roupa íntima e produtos de higiene para mulher.

Fui ao quartinho da limpeza, peguei todas as coisas, comecei a limpar, quando cheguei perto de limpar a frente vi dois homens entrando no local, o que é bem estranho, já que é uma loja de artigos femininos, eles não pareciam nada femininos, altos e fortes, vestidos de forma estranha jaquetas de couro em cor preta, fui saindo e então vi um deles sacar uma arma e mirar na garota loira que trabalhava no balcão.

Corri o mais rápido que pude para tentar salvar a estranha distraída, quando escuto o disparo me jogo por cima do balcão, derrubando ela no chão pouco antes da bala atingir a parede atrás de nós, meu coração parece que vai sair pela boca, então começa um alvoroço do lado de fora uma gritaria e tudo fica silencioso, olho para a garota que nem parece chocada com isso, engoli em seco respirando rápido.

Me levantai me sentando encostada no grande balcão de madeira e encarando ela, a garota me olhou e fez sinal para ficar em silêncio, vi quando ela puxou de baixo do balcão uma pistola pequena e arregalei os olhos, ela esperou, eu estou sem reação então escutamos passos se aproximando ela ficou meio de joelhos e fez sinal pra que eu ficasse em silêncio novamente, mas estou quase entrando em pânico olhando para a arma que a mesma segura.

Então ela se levantou rapidamente e deu dois tiros, em seguida abaixou e sorriu pra mim, enquanto eu estou paralisada no lugar que sentei sem reação.

Escutamos uma movimentação e ela fez menção de atirar novamente, mas antes que pudesse escutamos uma voz que fez seu rosto relaxar:

-Maila? Você tá aí? Maila?- a voz parece ser de um homem e vi o corpo da menina relaxar ainda mais e ela se levantou, batendo a arma forte no balcão.

-Achei que você não tinha recebido meu chamado. Eu poderia ter morrido Maick. -diz com tom irritado saindo de trás do balcão.

Levantei devagar e olhei para onde vinha a voz e vi de relance um moreno alto, deve ter uns vinte e cinco anos esta de jaqueta preta, calça rasgada e coturno, e é muito bonito, mesmo por cima da jaqueta dava para perceber seus braços musculosos, seus olhos são bem escuros e sua barba esta grande mas bem arrumada.

-Mas não morreu. Que pena. -diz tirando saro dela e quando a mesma chega perto dele bagunçando seus cabelos.

-Não graças a você, mas sim daquela garota ali atrás do balcão. - ele virou o rosto para mim e sorriu, fiquei constrangida mas sorri de volta, geralmente as pessoas se esqueciam fácil de mim.

-Então o que houve?- perguntou a garota para o grande homem, o mesmo passou a mão pelos cabelos que tinham uma mistura de cores.

-Dois caras entraram e vieram direto para cá. Eles sabiam onde você estava, eles já tinham em mente tudo, até por onde fugir. Eles sabiam quem você é, e não estavam pra brincadeira. -falou sério, mas dava para perceber o medo em sua voz, mas um medo por ela, não por ele.

-Mas como?- perguntou aflita enquanto balança forte a cabeça.

-Não sabemos ainda. -ele puxou ela para seus braços, parece querer tirar alguma dor de seus ombros, de seu coração.

-Vocês deveriam olhar as câmeras, talvez assim consigam algo. -digo saindo de trás do balcão para ir tirar minha roupa, estou cansada, cheia de adrenalina e medo, depois dessa adrenalina toda, estou pré morta.

Eles me olham e sorriem. Na hora senti meu rosto esquentar e sei que fiquei vermelha, mesmo com essa cor de pele sei que ainda da pra notar.

-Boa ideia....-ele parou e pensou em algo.

-Laura.- disse completando sua fala com um sorrisinho sem graça.

-É, obrigada Laura. Não saia daqui até a gente voltar pode ser. -eles saíram rapidamente não me dando chance de responder, me sento na cadeira do balcão e espero.

Olho em volta e vendo pedaços de vidro, sangue e outras coisas tudo no chão, o sangue não é nosso, talvez eles precisem desse sangue depois.

Fui ao carrinho e peguei uma vassoura e uma pazinha, comecei a varrer os cacos com sangue para a pazinha.

Estou cansada mas pelo visto ainda tenho muito o que fazer ali, separei os com sangue, depois comecei a varrer os outros. Comecei a limpar e quando estou acabando vejo os dois voltando sérios.

Eles conversam baixo enquanto caminham e se dirigi a loja, virei a cabeça e vi alguns homens chegando, vindo em direção à loja, por que de tanta gente?

Virei e ignorei continuando meu trabalho, afinal de contas não é da minha conta.

-Ei Laura eu preciso que você venha com a gente. -diz o tal de Maick.

Olho para ele como se o mesmo fosse um aliem, não dá para sair assim, com toda certeza me demitiram.

-Desculpa mas não posso, tenho serviço à fazer.- olhei para ele frisando as sobrancelhas. Se eu sair daqui com certeza perderei o emprego, não posso perder o emprego, não de novo.

-Não se preocupe com isso, você não vai perder o emprego.- disse parecendo ler meus pensamentos.

Derrotada fiz que sim com a cabeça. Ele foi em direção aos muitos homens que tinham chegado, observei um homem grande, dentro de um terno bem alinhado, cabelos pretos com uns fios brancos, olhos escuros como uma noite sem lua ou estrelas, é surpreendentemente bonito mesmo parece ser bem mais velho que todos os outros presentes.

Ele abraça a menina chamada Maila e parece quase chorar de alívio por vê-la bem e fazendo graça.

Vi quando o homem escutou o que Maila dizia e olhou pra mim, seus olhos parecem frios e sem sentimento, nem parece o mesmo homem que abraça Maila com tanto carinho e sentimentos.

Ele sai do meio dos homens e vem em minha direção, meu coração da uma guinada, respiro fundo para me acalmar. “Ai meu deus ele está vindo pra cá.” Minha consciência gritou me despertando dos devaneios.

-Olá. Como se chama? -sua voz é grossa e me causa um estremecimento, engoli seco antes de responder.

-Laura senhor. -não sei o que esperar, apenas aguardo minha sentença, ao que tudo indica eles tem poder para tudo ali, não posso dar mancada.

-Muito obrigada por ter salvado minha filha, Laura. Eu preciso que venha com a gente para responder algumas perguntas sobre o que houve aqui. -sua voz tem algo que não sei bem dizer o que é, mas não senti medo, é  mais como uma angústia.

-Tudo bem. O rapaz ali já havia me falado, mas posso lhe perguntar uma coisa que está me deixando aflita? -mesmo que não precise eu quero perguntar, para ter certeza.

-Sim. -disse tirando um celular do bolso do terno.

-Não vou perder meu emprego? -pergunto baixo, quase num sussurro, é um medo bobo, Maick já havia me garantido que não perderei o emprego, mas mesmo assim tenho que confirmar.

-Não. -diz sorrindo minimamente. -Então vamos?

Fiz que sim com a cabeça e os segui para sei lá deus onde. Ao chegar no estacionamento entramos em um carro rumo a algum lugar, mas estou nervosa demais para conseguir pensar em algo, somente me permito ficar quietinha, observando os carros que nos acompanham e a conversa entre as pessoas do carro.

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