BOCA GRANDE
JULIA
— Din, din, din pode dar em cima de mim.
— Bom dia, Julia.
— Tá com ciúme, tá com ciúme, pega na mão e assume.
— Julia.
Ops! A poderosa chefona na minha frente e eu cantando com esses fones de ouvido. Está vendo o que você faz comigo, Ludmilla? Ainda vou perder meu emprego, uma secretária executiva, como eu, não pode ficar cantando funk na empresa.
— Bom dia, senhora Muniz, desculpe a distração.
— Você e suas músicas.
— Minha diva faz com que meu dia seja bem melhor, aturar o senhor Muniz não é nada fácil. Desculpa.
— Não precisa se desculpar, sei que meu marido é difícil de lidar, antes de você vir trabalhar aqui, todo mês era uma secretária diferente, a maioria não durava uma semana.
— Ih, chefinha, não ligo para cara feia do senhor Muniz, cara feia para mim é fome. — Ela acha graça, não sei como uma mulher linda e simpática como ela é casada com aquele ogro, vai saber.
— Sabe me dizer se o João está em reunião?
— Ele recebeu há meia hora a senhora Pereira, mas eu estava tão distraída, examinando esses documentos que, segundo seu marido, são para ontem, que não a vi sair.
— Se for ela, não tem problema que eu interrompa.
— Eu te acompanho, aproveito para ver se o ogro, quer dizer, se o senhor Muniz quer alguma coisa. — Eu e essa minha língua.
Guardo meu fone de ouvido e acompanho a chefinha mais legal do planeta até a sala do ogro, dou dois toques na porta e abro, não estava preparada para a cena à minha frente, muito menos, a senhora Muniz.
— Ferrou.
— O que significa isso, João?
Fala sério, que ela ainda está perguntando isso? O ogro está com seu pau enterrado dentro da senhora Pereira e ela faz essa pergunta. Simples, chefinha, ele está fodendo de quatro no sofá a chefe do departamento pessoal, não entendeu? Precisa que eu desenhe?
Ops! Meus pensamentos saíram pela minha boca, percebo pelo olhar do meu chefe para mim. Deu ruim.
— Andreia. Amor. Não é nada disso que você está pensando.
— Não cai nessa, não, chefinha, todos dizem a mesma coisa, daqui a pouco ele vai dizer que foi seduzido, que o pau escorregou sem querer dentro dela.
— CALA A BOCA, JULIA!
O que está acontecendo comigo? Meus pensamentos estão saindo pela minha boca, é a primeira vez que esse homem me chama pelo meu primeiro nome, isso não é bom sinal, sempre foi senhorita Duarte pra lá, senhorita Duarte pra cá.
— Não acredito, João, que você está me traindo com essa aí, em nossa empresa.
— Pode acreditar, chefinha, pela frequência que ela vem à essa sala, não deve ser a primeira vez. — Todos me olham. Fiz merda, pensei alto outra vez, é melhor eu sair daqui, antes que as coisas compliquem para o meu lado.
Volto para minha mesa e fico pensando que irei ouvir gritaria, que elas vão puxar o cabelo uma da outra, mas o silêncio é total, se fosse na comunidade onde eu morava, antes de conseguir esse emprego, o barraco estava feito, a vizinhança inteira estaria assistindo de camarote. Esses milionários são chiques até quando levam chifre, tenho muito que aprender. Se fosse comigo, dava uma coça no ogro, apesar de a mulher ser safada por estar transando com um homem casado, o errado é quem tem compromisso comigo. Por isso que não namoro ninguém, dou uns beijinhos por aí e pronto, não nasci para ser corna.
A senhorita Pereira sai da sala do chefe ogro como não tivesse acontecido nada, minutos depois sai a senhora Muniz, dá um leve aceno de cabeça para mim, coitada dela, tão linda e chifruda. Desde que Jay-Z traiu a diva, gostosa e maravilhosa Beyoncé, concluí que homem nunca está satisfeito com o que tem, sua mulher pode ser a mais linda, que eles vão trair. Tento acreditar que nem todos sejam assim.
Agora que a fiel e a amante saíram da sala do senhor Muniz, vou ver se ele está precisando de alguma coisa.
— Com licença, senhor. — O mais gentil dos homens nem esperou eu terminar de falar.
— O QUE VOCÊ AINDA ESTÁ FAZENDO NA MINHA EMPRESA?
— Calma, senhor, desse jeito levo paro o coração.
— FORA DAQUI, JULIA.
Julia de novo, me ferrei, se eu perder este emprego vou ter que voltar a morar na comunidade, lá vai eu dormir de novo debaixo da cama na hora do Bang.
— POR SUA CAUSA, MINHA MULHER ME DEIXOU.
— O senhor é engraçadinho, trai a sua esposa e eu que sou a culpada — eu falo, isso mesmo, ai minha boca.
Ele abaixa a cabeça e passa as mãos nos cabelos, apesar de ser um ogro, ele é um gato, tá bom, está mais para um cavalo.
— A senhora Pereira já deve estar com sua demissão em mãos, some da minha frente.
Ele não precisa falar duas vezes, saí de sua sala e arrumei minhas coisas. Por que eu tenho uma boca tão grande? Sempre desconfiei desses dois, mas estava distraída ouvindo minha diva Lud, que nem me liguei em associar uma coisa com a outra, mas também não tenho culpa, ele que fode e eu que me fodi, isso não é justo, estou ferrada. Três anos nesta empresa jogados fora, tudo por causa do chefe tarado, ninguém merece.
Moro em um condomínio classe média aqui no Espírito Santo, minha prima Nathalia mora comigo, assim que consegui melhorar de vida a tirei da comunidade que morávamos, sempre fomos muito amigas, companheiras de crime, no bom sentindo. A ajudei com os estudos, ela é formada em Administração e, eu, em Arquitetura e Urbanismo. Nath, assim que a chamo, trabalha em uma fábrica de chocolate bem conhecida que tem aqui em nosso estado, e eu trabalhava em uma construtora.
Nath e eu não fomos criadas por nossos pais, o meu nem sei quem é, minha mãe dava pra favela toda e nunca soube dizer quem era o meu pai, nem do meu irmão, que perdeu a vida em um tiroteio na favela. O policial o confundiu com bandido, ele tinha apenas dezesseis anos, estava todo feliz por ter conseguido um trabalho de jovem aprendiz em um banco, até hoje sinto falta daquele moleque. A mãe da Nath era irmã da minha mãe, outra sem juízo, ficou grávida de um marginal, que morreu antes da Nath nascer, ela morreu quando minha prima tinha dois anos, por dever ao tráfico.
Nós fomos criados por minha vó, minha coroa criou Nath, meu irmão e eu. Depois que meu irmão perdeu a vida, ela não foi mais a mesma. Aos poucos, minha vó foi definhando, este ano nos deixou, foi fazer companhia ao meu avô, que morreu quando eu tinha dezoito anos. Foram muitas perdas, primeiro meu avô, dois anos depois de perdê-lo, perdi meu irmão de uma maneira trágica e, quatro anos depois, minha vó. Minha mãe eu não conto, porque quando ela morreu, estava longe de mim, me abandonou quando eu tinha cinco anos e meu irmão, um.
Desgraça pouca é bobagem, ao longo dos anos venho perdendo muitas coisas, agora, para completar, perdi meu emprego que foi muito difícil de conseguir, concorri a vaga com dez mulheres experientes, mas a senhora Muniz gostou de mim e me contratou para ser a secretária executiva do ogro, se eu fosse a secretária dela, estaria feliz da vida, mas agora sou secretária do lar.
Não posso desanimar, ainda falta um ano para quitar o apartamento que moro com minha prima, não vou voltar para a comunidade, de jeito nenhum, meu apartamento não é luxuoso, mas tenho todo conforto como pobre. Preciso dar um jeito, vou ganhar uma boa grana de rescisão, quito as parcelas que faltam e o que sobrar, se sobrar alguma coisa, vejo o que posso fazer, agora tenho que me preparar para dar a notícia à Nath.
SOLIDÁRIAJULIAAssim que chego em casa, guardo minhas coisas, tomo um banho e almoço, meu ex chefe não teve a delicadeza de me demitir depois do almoço, estava cheia de fome. Depois de almoçar, resolvo dormir um pouco e passo o dia todo dormindo.Trabalhei muito nos últimos meses em uma construção de um edifício comercial, o meu ex chefe me explorava de todas as formas possíveis, muitas vezes não tinha hora para sair do escritório, algumas vezes o acompanhava em jantares de negócios, e em viagens. Era algo que gostava muito de fazer, ser uma secretária executiva de uma construtora como a Ativa me fez crescer muito profissionalmente, aprendi muito com o senhor Muniz, que apesar de ser um ogro, é perfeito no que faz, seus projetos e a forma profissional com que ele lhe dá com seu trabalho sempre foram exemplos para mim.Meu objetivo era crescer d
NOITE DE CRIMEJULIA— Parece que todo mundo resolveu vir para a balada hoje.— Fica sempre assim, Nath, na nossa cidade não temos muitas opções de lugares como esse, por isso, ficam sempre lotados, o dia que você puder ir em São Paulo ou no Rio de Janeiro, ficará louca com tantas opções.— Agora que caiu a ficha, de quanto tempo não venho a uma balada, prima, e quanto tempo não saio contigo. Desde que conheci Luigi, meus dias se resumem em nossa casa, a dele, cinema, shopping e restaurante.— Demorou, mas você acordou, esquece esse traste e vamos dançar.Nath e eu nos acabamos de dançar, encontramos alguns amigos e, eu, alguns caras que já dei uns beijinhos, mas hoje meu foco é alegrar minha prima, tenho certeza de que Luigi a trai e não é de hoje, ele a mantém distante de todos, inclusive, de m
PICA DAS GALÁXIASJULIAFiquei durante uma semana resolvendo minha demissão, na empresa todos lamentaram minha saída. A senhora Muniz quis interceder perante o ogro, mas achei melhor não mexer mais nesse vespeiro, não teria mais condições de trabalhar com ele. Resolvida a parte burocrática, tirei alguns dias para descansar, meu ritmo de trabalho era muito acelerado, aproveitei para ter o meu merecido descanso.Após um mês em casa, fui chamada para três entrevistas de emprego, duas em uma empresa de arquitetura e uma numa construtora, uma semana depois a empresa Arquitetura Cavalcante me contratou.Estou trabalhando nela há seis meses. Apesar de estar trabalhando diretamente na minha área, sinto falta da rotina de quando trabalhava na Ativa, trabalhar diretamente com o CEO me deu muita experiência. Com o senhor Muniz, eu aprendi como tudo come&ccedi
HUMILHADAJULIA— Você pode crescer muito nesta empresa, como vice-presidente e filho do CEO, posso te ajudar. — Será que essa cantada funciona com outras mulheres? Pior que sim, muitas acham que abrir as pernas é a forma mais fácil de crescer na vida. — O que você acha?— Até agora, você não foi claro, preciso saber realmente do que se trata, o que o senhor realmente quer de mim?— Pode me chamar de Rodrigo quando estivermos sozinhos.— Prefiro manter o lado profissional.— Você é inteligente, Julia, e muito bonita, eu posso te ajudar a ser a nova arquiteta da minha empresa. — Esse cara está de sacanagem comigo, acho que ele pensa que sou uma vislumbrada, ele deve ter se deparado com muitas por aí, mas comigo não.— Senhor Rodrigo, toda ajuda, sendo profissional, é bem-vinda.&mdas
MEDOJULIALigo para a empresa me passando por cliente, e sou avisada de que o monstro viajou pela manhã, seu pai o enviou para Recife. Aproveito sua ausência para pedir minha demissão, não tenho condições psicológicas de continuar trabalhando debaixo do comando daquele cretino. Se eu não me demitir, ele vai querer se aproveitar de mim outra vez, não vou conseguir fugir para sempre. Até o abuso, eu nunca tinha o visto, preferia que tivesse permanecido assim, do que ter passado pelo o que passei, uma mulher tem o direito de transar com quem e com quantos homens ela quiser, com o seu consentimento. Sou uma mulher livre e independente, já me deitei com alguns homens que me desejavam e eu os desejava também, nunca fiz nada que eu não quisesse fazer.Odeio me sentir acuada, odeio ter sido violada, odeio ter sido fraca, odeio saber que ele está levando vantagem sobre sua m
RECOMEÇOJULIAOntem, Jorge e Rafa convidaram a Nath e eu para um jantar de despedida, para eles estamos nos mudando por causa do Luigi. Rafa insinuou dar um jeito nele, mas não queremos violência e o Luigi é apenas um dos problemas. Depois que decidimos morar no Rio, troquei o chip do celular, não aguentava mais as mensagens nojentas do Rodrigo, salvei todas elas no meu notebook, caso um dia eu tome coragem de denunciá-lo, junto com a gravação daquele dia, por sorte, meu celular gravou toda a "conversa".Infelizmente menti para meus amigos, disse que recebi uma proposta irrecusável de emprego, eles deram a maior força. Como sempre, terminamos a noite em nosso apartamento, Jorge quis uma despedida mais íntima, fomos para meu quarto e ele teve a infeliz ideia de me prender atrás da porta. Ele já fez isso outras vezes, mas dessa vez foi diferente, quando ele começou a
SUSTOJULIANath ficou um pouco triste por eu ter aceitado trabalhar como copeira, e eu disse que estar dentro da empresa será mais fácil conseguir algo melhor, mesmo não acreditando muito nisso, eu falei para confortá-la, não acho justo não poder ajudar nas despesas, recebi quase nada do último emprego por ter pedido demissão.Chego à Galvão para meu primeiro dia de trabalho, peço ao Divino que dê tudo certo, e que Ele dê uma força para que eu consiga algo melhor. Como fico sozinha na cozinha e chego mais cedo que o chefão e sua secretária, coloco meu uniforme, até que é bonitinho, mas me sinto no colegial. Depois começo a abastecer a máquina de café. Com o meu fone de ouvido ouço minha diva, enquanto a máquina faz todo trabalho para mim, esse trabalho vai ser muito chato, gosto de adrenalin
ADORÁVEL COPEIRAJULIAJesus, Maria, José!O que foi isso? Que homem é esse?Vou dizer uma coisa para vocês, meu chefe está de parabéns, que homem lindo, feliz é sua assistente e todas outras mulheres que tiveram oportunidade de se fartar naquele corpinho, de terno ele é um escândalo, imaginem nu, não posso nem pensar nisso, senão vou pagar mico. Ultimamente meus pensamentos estão todos saindo pela minha boca e isso não é nada bom, se tratando de mim, é encrenca na certa.Vocês não estão entendendo o susto que tomei quando me deparei com aquele espetáculo de homem na porta da cozinha, o susto foi duplo, primeiro porque pensei que estava sozinha, segundo porque, puta que pariu, ser assustada por um homem como ele, foi demais para minha flor que está em abstinência.Ele nunca que irá se