Capítulo 4

PICA DAS GALÁXIAS

JULIA

Fiquei durante uma semana resolvendo minha demissão, na empresa todos lamentaram minha saída. A senhora Muniz quis interceder perante o ogro, mas achei melhor não mexer mais nesse vespeiro, não teria mais condições de trabalhar com ele. Resolvida a parte burocrática, tirei alguns dias para descansar, meu ritmo de trabalho era muito acelerado, aproveitei para ter o meu merecido descanso.

Após um mês em casa, fui chamada para três entrevistas de emprego, duas em uma empresa de arquitetura e uma numa construtora, uma semana depois a empresa Arquitetura Cavalcante me contratou.

Estou trabalhando nela há seis meses. Apesar de estar trabalhando diretamente na minha área, sinto falta da rotina de quando trabalhava na Ativa, trabalhar diretamente com o CEO me deu muita experiência. Com o senhor Muniz, eu aprendi como tudo começa, é lindo de ver um terreno vazio se transformando em uma grande construção, seja um condomínio, um shopping ou um hotel, me dá o maior tesão a adrenalina de todo o processo de construção. Ficava ansiosa para ver tudo pronto, principalmente, quando chegava na parte que adoro, que é construir os espaços para os mais diversos usos, é gratificante, não vejo a hora de um dia ter um projeto com a minha assinatura.

Por enquanto, estou auxiliando o arquiteto principal da empresa, sou uma espécie de júnior, o cara é um porre, ele se acha o pica das galáxias, o próprio CEO, ainda por cima, é ladrão de ideias. Já dei várias ideias, ele finge não gostar, depois inclui no projeto e assina com fosse ele o idealizador. Infelizmente não posso fazer nada, preciso deste emprego, ainda mais depois que Nath foi mandada embora por causa do idiota do Luigi, que tem a perseguido, o babaca foi na empresa que ela trabalhava e fez o maior escândalo, estou com tanta raiva desse idiota. A obriguei ir comigo dar parte dele na delegacia, vemos todos os dias casos nos noticiários, achei melhor prevenir, foi determinado que ele não pode estar a menos de trezentos metros dela.

Essa situação da minha prima me fez refletir o quanto nós mulheres somos permissivas quando estamos apaixonadas. Sempre foi visível a forma abusiva com que Luigi tratava a Nath, iniciou pela roupa, depois os lugares que ela frequentava, e o golpe final, os amigos. Em nome do que ela sentia por ele, Nath permitiu que Luigi praticamente comandasse sua vida, mesmo morando juntas, nós quase não compartilhávamos mais a nossa vida, por conta do trabalho eu parava pouco em casa, e quando estava de folga, queria sair para me divertir, mas ela nunca podia porque o Luigi não gostava de balada, se fôssemos a um restaurante, ele não queria porque não gostava dos nossos amigos, tudo sempre foi em função dele. Ela foi permitindo com que ele agisse como fosse seu dono, por isso, não aceita a separação, mesmo estando errado.

Nunca tive um relacionamento sério, sei que temos que ceder, mas tem que ser dos dois lados, e nunca devemos deixar de ser quem somos por causa de ninguém, a primeira pessoa a ser amada tem que ser nós mesmos, ainda mais hoje em dia, que a mulherada não está fácil, não podem ver um cara bonito, tiro isso por mim, garotas, não posso ver um homem bonito, gostoso, educado e com pitadinha de safadeza.

Adoro.

Se for rico, então, meu número, cansei, , meninas, de ficar catando moeda para dividir cinema e cachorro quente.

Socorro!

Homem para sair comigo tem que me bancar. Cheirosa, gostosa e inteligente, não é para qualquer um, então tem que me valorizar. Outra coisa, só vou para cama se tiver afim e com muito tesão, não saio dando por aí, minha flor é muito preciosa para dar para qualquer um. Não transo sem camisinha, sou nem louca de pegar uma doença, gozar é muito bom, mas a minha saúde vem em primeiro lugar.

Depois de seis meses trabalhando com o chato do meu chefe, Carlos Silva, fui convidada a participar de uma reunião com o CEO da empresa, o senhor Cavalcante, estive com ele poucas vezes pelos corredores, ele é um senhor beirando sessenta anos, um homem educado, nunca ouvi nenhum funcionário falando mal dele, o que é um bom sinal, mas ouvi muitas reclamações do seu filho, o vice presidente da empresa, Rodrigo Cavalcante, dizem que ele é insuportável, ainda não tive o desprazer de encontrá-lo.

A reunião é para todos os funcionários, o senhor Cavalcante falou sobre o desenvolvimento da empresa, o quanto ela cresceu e o quanto ele estava agradecido pelo empenho de todos. Devido às proporções, ele vai dar uma bonificação mediante à participação de cada um. Adorei essa notícia, dinheiro é sempre bem-vindo, nesta empresa recebo menos que recebia na Ativa, lá eu sempre ganhava extra, por conta das horas a mais que eu ficava no escritório, e pelas viagens. Sinto muita falta disso, porque aqui sou muito limitada, vivo presa no escritório sob o comando de um cara que não merece o cargo que tem, sou bem mais competente que ele. Vocês podem até achar que é exagero, mas não é, o cara é muito limitado para a função que exerce, fiquei sabendo que a funcionária anterior pediu demissão por ter um projeto roubado por ele. Ela iria apresentar ao senhor Cavalcante e o safado descobriu e passou a perna nela, nunca ninguém iria acreditar na pobre coitada, por isso, ela pediu as contas, segundo meus colegas, ela está muito bem em outra empresa, também não pretendo ficar aqui por muito tempo.

Durante toda a reunião percebo os olhares do filho do poderoso chefão sobre mim, o cara é bonito, não é daqueles caras de parar o trânsito, mas dá para o gasto, porém, seu sobrenome é encrenca, conheço o tipo, é um cafajeste, no sentido ruim da palavra, ele é aquele tipo que usa sua posição para conseguir o que quer. Vai se ferrar comigo, nunca fiquei com ninguém por interesse e odeio esse tipo de homem, os três anos que trabalhei com o senhor Muniz, recebi várias propostas, nunca aceitei, não misturo negócios com prazer, a única vez que fiquei com um executivo que trabalhei foi com o Gustavo, porque me senti atraída por ele, foi algo a parte, ele me tratou como uma garota que ele tivesse conhecido em qualquer lugar, e tudo que aconteceu ficou entre nós dois. Gustavo me chamou algumas outras vezes para sair, mas por morar em estados diferentes e ter horário apertado, achei melhor guardar as lembranças da nossa noite em Sampa.

— Senhorita Duarte, preciso falar com você — diz o senhor Rodrigo, logo após todos serem dispensados, desisto de sair da sala e aguardo suas instruções, algo me diz que isso vai feder, ele fecha a porta.

— Pois não, senhor Rodrigo, em que eu posso te ajudar?

— Sente-se. — Sentei duas cadeiras depois da dele, vi que o safado esboçou um sorriso, fingiu estar examinando uns papéis. Sei muito bem quando a pessoa está fingindo, enquanto ele vai com a farinha, estou com o bolo pronto.

— Estou te observando durante há um bom tempo, você é muito competente, senhorita Duarte — ele fala, ainda com os olhos sobre os papéis que estão em sua mão. Esse cara é um mentiroso, nunca tinha me visto antes de hoje e, ainda por cima, não tem nenhum trabalho assinado por mim, vamos ver aonde isso vai dar.

Rodrigo larga os papéis sobre a mesa e coloca seus olhos sobre mim, de vez em quando eles caem sobre o meu decote. Esse cara é soberbo, metido e arrogante, se acha a última bolacha do pacote, até que ele é bonito, mas nada que salta aos olhos.

Calada estava, calada permaneço.

Discretamente mexo na minha bolsa e ligo o gravador de voz do meu celular, vai saber o que esse cara vai aprontar, aprendi com o senhor Muniz, ele usou várias vezes os áudios que ele gravava contra os tubarões que queriam engoli-lo, aprendi muito com aquele ogro.

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