Pietra Santini A igreja estava silenciosa, com o caos finalmente controlado. Meu pai havia sido levado sob a custódia de policiais, e tudo o que ele construiu — ou destruiu — estava em ruínas. Embora a confusão tivesse acabado, uma sensação pesada ainda pairava sobre mim. Eu estava exausta, mas havia uma leveza dentro de mim que não sentia há anos. Era como se, finalmente, pudesse respirar sem medo. Quando a noite chegou e todos se dispersaram, encontrei-me sozinha com Adônis em seu quarto. Apenas nós dois. Ele estava sentado na cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça baixa, como se estivesse tentando processar tudo. A luz suave do abajur iluminava seu rosto, e cada detalhe parecia mais nítido. Era como se eu o estivesse vendo de uma nova forma, ainda mais real, ainda mais meu. — Finalmente tudo acabou — ele disse, soltando um longo suspiro, como alguém que acabou de largar um peso insuportável. Eu me aproximei devagar, o coração batendo descompassado. Ele era o mo
Pietra Santini Algumas semanas depois Finalmente nos mudamos. A mansão estava vazia, o peso da decisão de vendê-la ainda pairava no ar, mas era a coisa certa a fazer. Com o dinheiro obtido, decidi guardar parte para o futuro e investir na nova vida que começávamos a construir. Agora, morávamos em apartamentos menores, mas bem mais tranquilos. Os apartamentos que eram da minha mãe se tornaram um lar acolhedor para nós, e ter vizinhos como Doni e Ma, quase como uma grande família, fazia tudo parecer certo.Malena continuava a trabalhar na minha casa, mas com menos frequência. Seu Alberto, por enquanto, ainda era meu motorista. Eu ainda não havia tirado uma carteira de motorista, e ele se ofereceu para ajudar nesse início. Doni, depois de decidir dar uma chance para a engenharia, estava trabalhando com Luke na empresa do pai dele. E eu estava finalmente vivendo o meu sonho: dando aulas de balé para crianças no período da tarde. A rotina estava se estabelece
Pietra Santini Os últimos meses tinham sido um redemoinho. Hoje, finalmente, era o julgamento do meu pai. Sentada no banco reservado para familiares, meu coração parecia prestes a explodir. Eu sabia que ele seria condenado — as provas eram contundentes e os depoimentos, esmagadores. Ainda assim, o peso de estar ali, enfrentando a pessoa que destruiu tantas vidas e quase arruinou a minha, era algo que me sufocava.— Calma, querida, ele não vai escapar dessa — Malena disse, segurando minha mão com firmeza.Eu assenti em silêncio. Malena e o senhor Alberto estavam ali para depor. Ambos haviam sido peças-chave na investigação contra meu pai. Eu e Adônis, por outro lado, estávamos como espectadores, alheios aos detalhes mais sórdidos dos esquemas que ele havia arquitetado. Nosso papel era apoiar e testemunhar a justiça sendo feita.As horas no tribunal arrastavam-se como séculos. Uma fila interminável de testemunhas descrevia, com riqueza de detalhes, os crimes do meu pai. Os desfalques,
Adônis Hart Hoje o céu estava tingido de tons de laranja e rosa enquanto eu me preparava. A brisa suave fazia as folhas das árvores se mexerem suavemente, e eu estava nervoso, mais nervoso do que já estive em muito tempo. Aquele jardim atrás do apartamento era o lugar perfeito para o meu pedido, cheio de memórias nossas e significados ocultos. Tudo tinha que ser perfeito. Olhei para as velas dispostas ao redor, iluminando o ambiente suavemente. A mesa estava impecável, com um lençol branco, velas perfumadas e um buquê de flores vermelhas e brancas no centro. Eu tinha planejado isso por semanas, desde o dia em que descobrimos que íamos ser pais. Não podia ser apenas mais um dia comum. Esse momento tinha que ser especial, tinha que mostrar a Pietra o quanto ela significa para mim. Ela apareceu na entrada do jardim, e um sorriso tímido apareceu nos meus lábios. Seus olhos estavam curiosos e animados. Sempre foi assim com ela, sempre cheia de vida e expectativa. Ela se aproximou, e
Pietra Santini Há quatro meses, Adônis se ajoelhou no mesmo portamento onde hoje estou, com lágrimas nos olhos e um anel simples, mas cheio de significado, para me pedir em casamento. Agora, enquanto acaricio minha barriga de cinco meses, cercada por amigos e pessoas queridas, penso em como minha vida mudou. Não tenho minha mãe aqui, nem meu pai, que está preso, mas hoje me sinto cercada de amor com Malena, Alberto, Alana e Luke ao nosso lado, celebrando esse momento especial: a revelação do sexo do nosso bebê.O dia amanheceu tranquilo, com o sol iluminando suavemente o portamento de Malena. O lugar sempre teve um ar acolhedor, com suas cortinas brancas e uma vista encantadora para o jardim. Desde cedo, Alana e Luke estavam aqui, cuidando de tudo com tanto entusiasmo que pareciam mais empolgados que eu e Adônis. Eles escolheram a decoração: simples, mas linda, com flores delicadas, bandeirinhas em tons pastéis e, no centro da mesa principal, o grande protagonista da tarde – o bolo q
Adônis Hart Nunca vou esquecer a madrugada em que Augusto decidiu que era hora de vir ao mundo. Estávamos há semanas esperando, ansiosos, mas nada poderia me preparar para o que senti quando Pietra me acordou com a voz tremendo e uma mistura de dor e excitação.— Adônis… Acho que está na hora.Abri os olhos num salto, meu coração já disparado. Ela estava sentada na cama, segurando a barriga com as duas mãos, respirando profundamente como a médica havia ensinado.— Tem certeza? — perguntei, me aproximando e segurando sua mão.Ela assentiu, os olhos brilhando com lágrimas.— As contrações começaram faz uns vinte minutos. Estão ficando mais intensas.Por mais que tivéssemos nos preparado para esse momento – as aulas de pré-natal, os conselhos da nossa obstetra, a bolsa pronta ao lado da porta – nada parecia suficiente agora que estava acontecendo de verdade. Respirei fundo, tentando manter a calma por nós dois.— Tudo bem, vamos para o hospital. Eu estou com você, Pietra.Ajudei-a a se
Pietra Santini Quando saímos do hospital naquela manhã, o céu estava limpo e o sol brilhava suave, como se o mundo inteiro soubesse que aquele era um dia especial. Augusto estava em sua cadeirinha, aconchegado e alheio ao quanto sua chegada transformava a minha vida. Adônis segurava a alça da cadeirinha com as duas mãos, com um cuidado exagerado e o olhar atento de um pai de primeira viagem.— Está tudo bem? — perguntei, segurando um riso nervoso.— Claro — ele respondeu, tenso. — Só quero ter certeza de que ele está seguro.Sorri e o segui até o carro, onde ele colocou Augusto no banco traseiro com uma concentração que eu nunca tinha visto antes. Eu me sentei ao lado da cadeirinha, observando meu bebê dormir tranquilamente, e uma pontada de ansiedade misturada com emoção subiu pela minha garganta.O caminho para casa foi tranquilo, mas para mim, parecia durar uma eternidade. Era como se cada minuto aumentasse o peso daquela nova responsabilidade. Eu agora era mãe. Não existia mais v
Pietra Santini Dois anos se passaram desde que Augusto nasceu, e agora, com a vida mais estável, Adônis e eu finalmente decidimos oficializar nosso amor. Adônis sempre disse que queria que o nosso casamento fosse uma celebração da nossa história: cheia de simplicidade, emoção e cercada apenas pelas pessoas que verdadeiramente importam. Foi assim que acabamos escolhendo um campo ao ar livre, na periferia da cidade, para ser o cenário do nosso grande dia.O local era perfeito. Um extenso gramado verde se estendia até o horizonte, cercado por árvores altas e flores silvestres. Bem ao fundo, havia uma grande figueira, cujos galhos imponentes criavam uma sombra natural, e foi ali que decidimos montar o altar. Optamos por uma decoração simples, com o charme rústico que amávamos: arcos de madeira adornados com flores frescas em tons pastel – lilás, branco e rosa. Pequenas luzes de corda estavam penduradas entre as árvores, prontas para iluminar a noite com um brilho mágico.— Você acha que