- 03 | Eu não acredito nisso

☬ - 03 | Eu não acredito nisso

"A pior de todas as perdas é a perda do tempo." — Autor desconhecido

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Seattle - 10:00...

Despertando com um sorriso no rosto, Bronck percebe que ainda está acompanhado. Lembrando da noite maravilhosa e torturante que teve com a Ana. Resolve acordá-la.

— Ana! — Acorda no susto olhando tudo à sua volta. — Bom dia! — Responde todo animado. Ela o olha com aquela cara: onde estou?! O que eu fiz?! Segurando um sorriso a encara. Levanta-se procurando suas roupas.

— Que horas são Bronck? — Responde que são 10:04. Arregala os olhos. Sabendo bem o que vai acontecer, sai da frente.

— Merda! — Coloca o vestido com uma rapidez surpreendente, cata suas coisas e sai correndo.

— Tchau! — Diz sabendo que nem o ouviu. — Me senti usado, nem um tchau querido. É! Tenho que arrumar uma namorada que aceite me dividir com outras mulheres. — Impossível! — Ele mesmo responde sorridente.

— Vou me arrumar antes que me atrase, tenho uma reunião em uma hora. Tomando um banho se arruma, usando um dos seus ternos impecáveis vai para sua cozinha.

Tomando um café entra em seu carro, cumprimenta seu motorista e vai para o escritório. Como de costume admira sua empresa.

Entrando, segue para a cobertura. As portas do elevador se abrem dando de cara com sua secretaria.

Pensa: É linda e muito profissional, porém, não faz meu tipo. Preciso arrumar uma mulher de presença e que me satisfaça na cama. Que cuide de mim, pois estou ficando velho.

— Mais um ano que irei sozinho ao evento beneficente. — Pensou alto. — Vendo Carmem o encarando fica sem graça e muda o foco. Quando seu celular toca encara a tela, é seu filho. Entra em sua sala e atende com relutância, já conhece o discurso de seu filho rebelde, o Kamael sempre está aos berros na ligação.

Atende colocando o celular no viva-voz, apoiando em sua mesa se afasta. E como sempre, grita e xinga. Bronck que continua caminhando em direção às janelas escuta em silêncio, até que ele para.

— Já acabou? — Responde com frieza.

— Pare de mandar dinheiro para minha conta seu imprestável! Você acha que não sei que aquela empresa é sua? Eu não preciso de você, tenho um trabalho e sei me sustentar.

— Deixe de ser arrogante e abusado! Você é meu filho Kamael, quando eu morrer, tudo será seu. Volta para Seattle, venha ocupar seu lugar nessa empresa. — Bronck tenta conversar calmamente, mas ele o corta.

— Eu sou casado e muito feliz aqui em Londres. Já faz 12 anos que estou sem ver sua cara asquerosa Bronck. — Ouvi-lo chamar pelo nome corta seu coração. Tenta fazer uma piada.

— Fala papai menino. — Bronck escuta os xingamentos e as ofensas. Pensando em desligar e acabar com o estresse, caminha até sua mesa quando escuta um barulho alto como de uma batida, seu corpo todo formiga. — Kamael? — Grita para o celular. Escutando barulhos de vidro quebrando, Bronck fica nervoso. Um grito de dor do outro lado da ligação faz seu coração acelerar. — Filho, por favor não brinca assim comigo.

— Pai, eu ... — geme do outro lado. Bronck não está acreditando nessa situação.

Um barulho alto ecoa do telefone em seguida a ligação ficar muda. Se sentando em estado de choque, balbucia. — Meu filho, meu único filho. Primeiro minha amada esposa, agora ele. — Eu não acredito nisso. — Ainda tentando entender o que aconteceu, Carmem entra na sala o tirando dos seus pensamentos. — Preciso ir a Londres. — Sussurrou.

— Sr. sua reunião será em 3 minutos.

— Cancela. — Responde meio aéreo com tudo que aconteceu. Se levantando pega suas coisas. — Vou a Londres, preciso ver meu filho. — Informa.

— Mas e os chineses? — O questiona.

— Cancela! — Paro de frente para ela e dou a ordem.

— Está tudo bem Sr.? — Preocupada verifica se pode ajudar.

Passando por ela ainda confuso pensa: Não tenho certeza do que aconteceu prefiro não dizer. No caminho pede que entre em contato com seu piloto para deixar seu jatinho pronto.

— Quero meu jatinho pronto em 40 minutos, destino Londres. — Ela não me questiona mais.

— Sim senhor. — Concorda e se cala.

Correndo segue para casa, faz uma pequena mala e vai direto para o hangar.

Entrando em seu jatinho conversa consigo mesmo. Não sei se conseguirei passar por outro luto. — Pegando o voo se culpa. — Por que não fui mais insistente?! Poderia ter ido até lá, conversado e feito as pazes, fui irresponsável. Por que não fiz meu papel de pai corretamente?

O voo é longo e tenso. Chegando em Londres vai direto para a casa do Kamael.

Ele não encontra ninguém e vai direto à delegacia mais próxima, se identificando como pai do Kamael um policial simpático, dá a péssima notícia do falecimento do seu filho.

— Fui eu mesmo dar a notícia a sua esposa. — Pensou: então é verdade, realmente tem uma esposa.

— Você poderia me levar para o local que ela está?

— Claro, fiquei bem preocupado, teve um pico de pressão na hora do reconhecimento do corpo e está no hospital central. Posso te levar até lá. — Respondendo que sim, nós dois seguimos para o hospital.

O caminho é curto, o policial tenta o distrair com uns relatos da delegacia, meras fofocas. Ainda assim, seu pensamento não sai do foco. Agora tinha uma nora, pensou: será que tenho netos? Como será a vida deles já que a empresa faliu?

— Chegamos. — O policial o tira dos seus devaneios.

— Posso ver o corpo do meu filho? — Pergunta Bronck com uma voz trêmula entrando no hospital.

— Sim, você é o pai dele Sr. Mondova. — Resolve toda a burocracia de liberação já que sua nora ainda se encontrava dopada.

O legista o leva para a sala onde está o corpo do Kamael e o choque é grande. Em sua mente o desespero o dominava como uma nuvem negra e foi impossível não chorar, chorou por horas e se culpou por não ter procurado seu filho, mesmo com tudo que lhe disse há doze anos atrás. Bronck não queria ter perdido seu único filho dessa forma.

Se recompõe e o médico o leva até sua nora. Ele congela com a visão de uma linda mulher dormindo, fica admirando-a por uns minutos até o médico voltar e o chamar para uma conversa.

— Sr. Mondova, sei que é chato falar sobre o assunto, mas a conta desse quarto ainda não foi paga. — Bronck fica chocado com a insensibilidade do médico e o entrega seu cartão ouro.

— Se preferir Dr. passe também o valor do seu salário, já que não se sensibiliza com nossa perda.

— Me perdoa, eu não quis ser invasivo.

— Você não foi só invasivo, também não foi profissional, nem empático. Estarei retirando minha nora desse hospital imediatamente, darei uma nota no jornal de Londres dizendo que nesse hospital vocês presam o dinheiro e não os sentimentos dos seus pacientes. Agora sai daqui! — Já retirei o sedativo ela acordará a qualquer instante.

— Pode deixar que cuidarei bem dela.

O médico se vai, ao entrar no quarto percebe que já está acordada.

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