Como é que se vive o luto tantas vezes? Será que era errado eu estar cansada? Porra. Estávamos falando de três mortes que me arrasaram e arrancaram pedaços de mim e da minha vida. Primeiro foi minha mãe. Eu era pequena mas sabia o que estava acontecendo. Eu vi o corpo dela sendo retirado da água. Eu sofri com sua ausência e me senti deixada no mundo, sozinha e sem amor. Depois foi o meu pai, que "se matou" para mim antes de, de fato, ter sua vida arrancada na guerra. Eu sentia raiva e amor na mesma medida. O amava porque tinha sido ótimo na minha infância. O odiava porque me abandonou assim como deixou a mamãe quando ela estava grávida. Ele partiu em um ano tão complicado… Se foi, em um ano em que eu só precisava de um colo e um abraço. E então, a minha base sólida em meio ao caos também sumiu. Carter, o único que se importava de verdade comigo, morreu naquele bombardeio. Como viver tantas e tantas vezes essa mesma dor? Eu poderia jurar que era uma maldição, mas ainda
[8 anos antes] Culpa é a porra de um sentimento horrível. Você fica sempre em cima do muro. Contar ou não contar a verdade? Omitir e correr o risco de um dia ser desmascarado, ou falar logo de uma vez e levar um soco na cara além de perder uma amizade?A dúvida me corroía, mas parecia não afetar Kalid em nada. Ela não estava preocupada com a situação. Nem um pouco. Eu estava. — Que estranho…Fechei a porta do armário da cozinha, onde eu havia acabado de guardar os pratos, e voltei meu olhar para Maggie que tirava o lixo. — O que foi? Uma caixinha pequena foi balançada no ar para que eu visse, mas não entendi qual era o problema. — Pílula do dia seguinte. Mas… A Kali tem a regra do "nada de sexo sem preservativo". Será que o Carter se drogou a tal ponto? Logo ele, que leva tudo ao pé da letra? A incógnita estava estampada na testa da loira e eu começava a ficar pálido. Kalid, além de filha da puta, era uma irresponsável de patente maior. Como ela deixa a prova do crime bem
[8 anos antes]— Você prometeu, Kali! — choramingou se jogando no colchão da minha cama.Avaliei toda a situação e repensei um pouco mais.— Não. Sinto muito, mas não dá! Sua família não gosta de nós. Sua mãe me odeia. Suas irmãs dizem que eu sou uma puta por querer viver um relacionamento como o nosso, e o seu pai, nossa, ele me olha como se eu fosse um lixo! Carter me encarou decepcionado, e eu continuei fumando meu cigarro com tranquilidade. Não dava. Simplesmente não tinha como jantar com aquela família.Eles não aceitavam o tipo de relacionamento que tínhamos. As pessoas não entenderem era meio que normal, mas eles julgavam e diziam que "a garota órfã" era quebrada demais, e por isso, na minha "cabeça de merda" não existia nada sólido e decente.Palavras da mãe de Carter.E era daí para pior. Tinha também a questão de que, eu vivia sozinha, como uma verdadeira "puta abandonada", e por isso não era uma boa pessoa, porque não tinha educação alguma. Então não. Não ia me subme
[8 anos antes]O homem vestido com uma roupa parecida com a do exército, ficou olhando para as árvores amontoadas umas nas outras enquanto sua filha corria para o meio delas. Um suspiro sôfrego escapou e não passou despercebido por mim. Queria estar do lado dele, mas dessa vez, assim como qualquer outra, não tinha como. Ele estava errado. — Senhor Clarkson, boa tarde! — desejei, ao me aproximar devagar.— Logan? — Franziu o cenho me avaliando. — O que aconteceu? Como cresceu tanto assim em, o quê? Um ano? Quase dois, na verdade. Ele podia não se lembrar, mas eu e Kalid sabíamos bem as datas exatas.— Academia e… sei lá, a idade? — Dei de ombros e o homem me puxou para um abraço. — Você já virou um homem. Seu pai deve estar orgulhoso. — Talvez… — Me afastei, percebendo que ao invés de ir atrás de Kalid, meu melhor amigo observava seu sogro e eu. — O senhor sabe se ele também veio? Coçou a cabeça, balançando de um lado para o outro.— Acho que não, Logan. Eu só peguei uma caron
[8 anos antes]Ele não estava preparado.Como Logan achava que seriam as coisas após uma noite inteira de sexo? Claro que ele não ia esquecer, e esse era o meu propósito... Fazê-lo lembrar com frequência.Mas ele não estava preparado para ser uma ferramenta nas minhas mãos. Assim como eu também não estava completamente preparada para usá-lo.A porta rangeu ao ser aberta e deixei de olhar os jovens nadando no lago pela janela, para olhar um único jovem adentrando no meu quarto.— É tão fácil pra ele, não é? Voltar sem avisar. Agir como se nada tivesse acontecido. Querer ser pai só nos momentos que dá vontade… Suspirei cansada.Tanta coisa passava pela minha mente que agora já não queria mais outra discussão.Meu pai estava em casa. Isso bastava.— Está tudo bem. Ele não vai ficar por muito tempo. — E isso é estar tudo bem? — Jogou os braços para cima, demonstrando irritação.Abaixei o olhar e novamente suspirei.Nunca estava tudo bem. Não comigo. E isso era o meu normal, então… est
[8 anos antes]Que algo estava errado era óbvio, mas tinha uma coisa mais pesada no ar e eu não conseguia identificar o que era. Deixei meu corpo despencar na cama e fechei os olhos, respirando fundo e me recriminando por ter batido a terceira punheta no dia, mesmo depois de gozar quase quatro vezes na noite anterior. Ainda tinha um pouquinho de porra para sair, e pensei em dedicar as minhas masturbações a cada foda que demos. Eu e ela. Eu e Kalid. A porra da namorada do meu melhor amigo. Que maravilha! Umas dez batidas na porta do meu quarto fizeram minha cabeça doer e então abri os olhos. Jordan, meu irmão mais velho, não esperou por uma resposta depois de esmurrar a madeira, então entrou no cômodo que deveria ser o meu refúgio, e me olhou de um jeito estranho. — O que, caralho? Não posso nem tomar banho e descansar em paz? — Pare de ser um resmungão do cacete. Acho que você tem um problema pra resolver. Franzi o cenho tentando puxar na memória qual foi a tarefa que me e
[8 anos antes]Poderia soar como a coisa mais errada do mundo, mas sim, eu só queria foder com Logan até que perdesse toda a força das minhas pernas. O queria me fodendo gostoso. Se enfiando em mim de todas as formas possíveis, e queria gozar no seu pau, gemendo seu nome como uma gatinha manhosa. Eu o queria dentro de mim. Dei alguns passos pelo ambiente e parei de frente a um espelho de corpo inteiro. Logan continuou me olhando quieto e com um pé atrás, enquanto eu avaliava o reflexo. O maldito reflexo de uma garota burra. — Eu ainda não tinha usado essa jaqueta. — Passei os dedos pelo tecido do jeans claro que não foi tão barato. — Achei que o jantar com a família dele seria uma boa ocasião, mas acho que ela deu azar. Talvez se eu tivesse escolhido outra roupa…— Não sei do que está falando, mas isso é só tecido, não um objeto de sorte ou azar. — Verdade! O meu amuleto de sorte você jogou no lago, não é? — Girei o pescoço para lhe encarar. Logan engoliu em seco e vi seus mú
[8 anos antes]O Velocidade Fatal era uma pista "desativada" de corrida automobilística, onde um acidente bem feio tinha acontecido anos atrás, e por isso deveria estar tudo parado.Não estava.Há cerca de uns quatro anos resolveram começar a realizar festas clandestinas ali, e depois de poucos meses algum engraçadinho achou interessante evoluir para corridas. Voltaram a competir, só que de forma ilegal. Eu ia até a pista uma ou duas vezes na semana porque... Bom, gostava de correr, mas nem meus irmãos e nem mesmo Carter sabiam sobre isso. Dizer que gostava de colocar a minha vida em risco não era uma possibilidade. Então, preferia me manter como o piloto anônimo, sem que qualquer um ali soubesse quem eu era.Qualquer um além de Bob, claro, que me entregava o dinheiro quando eu vencia a corrida. — Acho que já faz uns dois anos que não venho aqui. Está mais agradável do que antes. Descendo da caminhonete, Kalid caminhou para a frente do veículo e observou a multidão próxima aos al