Hanna Cooper.Hesito antes de segui-la escada acima até seu quarto, o maior da casa, com closet e banheiro embutidos.Mamãe tira os sapatos e deita na cama, me chamando para deitar ao seu lado enquanto pega o controle da TV em cima do criado mudo. Deito ao seu lado e olho ao redor, as paredes são de um tom creme e o forro do teto de madeira antiga. A cama tem quatro colunas, com dossel. O chão é de u tom claro de porcelanato, mas um espesso tapete felpudo cobre o espaço ao redor da cama. No lado esquerdo fica a poltrona de papai e atrás duas portas. A do banheiro, que tem uma enorme banheira, no maior estilo perua, e a porta ao lado leva ao closet, que é quase do tamanho da minha sala, cozinha e lavanderia juntos. Lá dentro tem inúmeros sapatos de grifes e casacos de pele que nunca seriam usados no clima brasileiro.Na maior parte da minha infância brinquei em seu closet, imaginando que ali era minha casa e eu era uma estilista de bonecas de cabelos coloridos. Na adolescência, eu entr
Hanna Cooper.Tenho problemas com as segundas-feiras, mas acho que a de hoje, especificamente, está sendo pior. Antes eu tinha um motivo, algo que me empenhava a levantar da cama e vestir uma roupa descente, hoje nem tive vontade de fazer isso. O máximo que fiz foi tirar o pijama e vestir um conjunto de saia lápis, preta, com uma blusa branca com mangas até os cotovelos. Escovo dentes e nem me dou o trabalho de comer, apenas de pentear os cabelos. Para evitar que a população se assuste com minha cara, pego meus óculos escuros dentro da gaveta do criado mudo.Saio de casa um pouco atrasada e pego um táxi, assim que entro no hospital, começo a suar, meu estômago dar cambalhotas e eu penso que fingir que estou com virose e voltar para casa era uma boa ideia. Sabia que me sentir assim era ridículo, mas só a possibilidade de encontrar Murilo no elevador, ou em qualquer lugar, me apavora a ponto de eu querer usar as escadas e olha que sempre tive medo de altura.Entro no elevador da mesma m
Hanna Cooper.O resto do dia passa corrido, esses dias atolada de contratos para revisar, de atividades para fazer tem me mantido ocupada a ponto de não pensar em bobagens.Quando termino tudo e começo a arrumar as coisas para ir embora, percebo o quanto é bom ter amigos e algo que nos distraia para seguir em frente. Eu já não sinto mais tanta pena de mim mesma, já consigo encarar o que aconteceu como um erro e que realizar o meu maior sonho, de ter o meu amor de uma vida nos braços se tornou um pesadeloSaio apressada da minha sala, paro apenas para colocar meus fones de ouvido e acenar para Émile, que sorri e deseja um boa noite.Entro no elevador privado e procuro por minha Playlist e coloco a música Banga Bang de Jassie j, Ariana Grande e Nicki Minaj, encosto o ombro contra o aço gelado e tento me controlar para não começar a dançar. Abaixo um pouco o volume, a música deixam qualquer ser vivo animado.Quando a música chega no refrão o elevador para e abaixo o volume mais uma vez,
Hanna Cooper.Assim que a adrenalina do momento que passei com Murilo abaixa, no momento que estou chegando em meu apartamento, começo a tremer. Minhas mãos soam e meu estômago dá cambalhotas.Quando entro, estou tão cansada que só me jogo no sofá e encaro o teto, relembrando a conversa que tive com ele e sua tentativa inútil de falar comigo. Acho que de certa maneira eu estava conseguindo cumprir meu objetivo, eu não chegaria mais perto dele. E isso é para o nosso próprio bem.Depois de um tempo, levanto do sofá e vou tomar banho, seguindo a mesma rotina do dia anterior, que consistia em tomar banho, comer qualquer coisa e ir dormir.Antes de deitar para dormir, conto para Angel pelo aplicativo de mensagens que almocei com o Vitor, dando alguns detalhes, também contei do meu reencontro com o Murilo, mas nesta parte ela fica estranhamente quieta e disse que conversaríamos sobre isso outro dia, já que ela estava indo almoçar com o meu irmão.Acordo sentindo muito frio, antes que eu pos
Hanna Cooper.Tento não pensar no que Angel falou, mas o fato dele não ter conseguido dormir com outra não sai da minha cabeça, assim como sua tentativa de tentar consertar as coisas. Eu sei que tenho que ficar longe dele, mas é reconfortante saber que ainda existe uma parte do Murilo que eu conheço. Acho que quem desperta o lado ruim dele sou eu e era por isso que tenho que me manter longe. Nós sempre acabaríamos nos magoando e sempre por minha culpa.Nós não nos magoávamos quando eu era mais nova, na verdade, ele sempre tinha sido uma espécie de porto seguro. Foi ele que me reconfortou quando Bibiu, meu gato, morreu. Lembro que eu nem conseguia comer. Bibiu havia morrido quando eu estava na escola. Ele era meu meu melhor amigo. Foi Murilo que levou comida no meu quarto e explicou que os gatos viviam menos do que a gente e pela simples razão de saberem amar mais do que o ser humano, eu não acreditei muito nisso e me recusei a comer.Mas ele foi paciente e disse que se eu comesse me e
Hanna Cooper.Vitor tem sido um bom amigo, ele é cavalheiro, atencioso tem me ajudado a não pensar tanto no Murilo. Ele me contou várias histórias de sua infância no decorrer dos nossos almoços. Sim, saímos para almoçar várias vezes durante a semana.Ele nunca demonstrou segundas intenções, ele é aquele tipo de pessoa que ajudava os outros sem intenção, só por ajudar mesmo, e está sendo tão legal ter alguém gentil para conversar. Não é que minha cunhada seja gentil, mas ela anda tão ocupada com o Vince e os gêmeos e todas as coisas que envolvia a viagem deles e nesse momento eu estou me distanciando de coisas que envolvam romance ou familia.Para falar a verdade, faz muito tempo que eu não fantasio coisas românticas, prefiro evitar subir em um precipício de expectativas para não ter de mergulhar em um mar de desilusão depois. Para uma garota de vinte e três anos, eu já tinha tido minha cota para uma vida, quer dizer, eu tinha ficado bastante tempo apaixonada por alguém e já tinha perd
Hanna Cooper.- Hanna - Vitor estrala os dedos, me trazendo de volta a realidade - Você ouviu o que eu perguntei?- Ouvi e não tem nada me incomodando - termino meu almoço e me levanto.- Você está sendo um bom amigo e eu sinto muito por deixar você almoçando sozinho, mas eu realmente preciso ir.- Está tudo bem - ele sorri.Sorri e coloco a cadeira de volta no lugar. Saio do refeitório e volto para a minha sala.Na última semana do mês, minha mãe, meu irmão, minha cunhada estavam meio doidos. Todos estavam se preparando para viajar. Miguel já estava longe, mas todos dos dias me ligava para perguntar como eu estou. Me aproximei muito dos meus irmãos, falo com eles todos os dias também.Eu até tentei achar algo para fazer, mas na quinta-feira já estava conformada de passar o feriado em meu apartamento, com chocolate quente, livros de romance e muitas cobertas quentinhas. A meteorologista local previu chuva e ventos fortes para o dia seguinte e eu não queria estar em nenhum outro local
Hanna Cooper.Consigo sentir o desespero crescer cada vez mais, fazendo minha respiração ficar presa na garganta. Não que eu tenha medo de chuva, mas estar no meio de uma chuva de vento forte e sem a possibilidade de se esconder é assustador. Em um ato de total desespero, balanço a bolsa de cabeça para baixo mais uma vez, mas tudo o que cai dela foi uma cartela de dipirona vazia.Meus lábios começam a tremer. Está fazendo muito frio e o fato de eu estar cada vez mais molhada só piora a situação. Comecei a jogar minhas coisas novamente na bolsa com raiva.- O que você está fazendo no meio dessa chuva? - ergo a cabeça ao ouvir a voz familiar e tomo um susto.- Mu...rilo - gaguejo sem saber se é foi devido ao frio ou porque ele está parado a minha frente, me vendo ajoelhada como uma maluca no meio do aguaceiro.- Eu mesmo – ele se ajoelha em minha frente e eu desvio o rosto - Por que está parada nessa chuva?- Perdi a chave - conto começando a tossir.- Vem comigo - ele se levanta e me p