(Ella)Fiquei em silêncio por alguns instantes, observando a porta pela qual Ethan acabou de sair. Meu peito ainda estava apertado pela despedida, e meu coração insistia em bater acelerado, como se tentasse me convencer de que eu deveria correr atrás dele. Mas eu não podia. Esse era o costume da alcateia, e eu precisava respeitá-lo.O ancião pigarreou, chamando minha atenção de volta para ele. Seus olhos sábios me estudavam com paciência, como se esperasse que eu me acalmasse antes de continuar. Respirei fundo e o encarei, tentando parecer forte.— Sei que esse momento é difícil para você, criança — ele disse com a voz grave, mas gentil. — Mas essa separação tem um propósito. Ela fortalece o vínculo entre vocês e os prepara para a união definitiva. Você entende isso, não entende?Assenti, mesmo que uma parte de mim ainda se recusasse a aceitar a ideia de ficar longe de Ethan por três dias.— Eu entendo — murmurei. — Só não achei que fosse sentir tanta falta dele tão rápido.O ancião s
(Ella)Eu estava sentada ao lado de Liora, observando a chama bruxuleante das velas que iluminavam suavemente a cabana. O ar dentro do pequeno espaço era acolhedor, carregado com o cheiro de ervas e incenso. Eu ainda me lembrava da imagem do meu Ethan. No banho purificador na cachoeira, do toque frio da água e do calor das mãos e lábios quentes em mim.Liora olhou para mim com um pequeno sorriso e começou a falar me tirando daquele devaneio.— Você vai gostar do chalé onde morará com o alfa — disse ela com gentileza. — Ele foi o primeiro chalé erguido com os fundos conseguidos por nosso alfa, e será o primeiro de muitos que virão.Meu coração se aqueceu com aquela informação. Ethan estava realmente se dedicando a criar um lar para nós. Um lugar seguro, onde poderíamos começar nossa nova vida juntos. A ideia me confortava, mas ao mesmo tempo, fazia meu peito apertar de ansiedade. Tudo estava mudando tão rápido.— E o que Ethan fará nesses dias? — perguntei, a necessidade de saber mais
(Ethan)Caçar sempre foi algo instintivo para mim. A sensação da terra sob meus pés, o cheiro fresco da floresta e a adrenalina da perseguição eram partes essenciais de quem eu era. Mas hoje, enquanto espreitava minha presa, minha mente estava longe dali. Pensava em Ella, na forma como ela ficou olhando para mim quando nos separamos na cabana. O brilho nos olhos dela carregava uma súplica silenciosa, uma promessa de que aquilo era apenas temporário.Meus músculos se retesaram quando avistei um grande cervo entre as árvores. Silencioso como uma sombra, avancei na direção dele. Em um movimento ágil e preciso, desfiro o golpe fatal. O animal cai e eu abaixo a cabeça, honrando sua vida, um costume que me ensinaram desde pequeno. Esse cervo faria parte da cerimônia, um presente para a alcateia e uma oferenda aos ancestrais.Carreguei a caça de volta para os anciões, deixando-a no local de preparação para a festa que aconteceria na noite da cerimônia. Os anciões me observavam com olhares sá
A noite estava pesada, carregada de um silêncio incomum para a floresta. Ethan sentia o ar denso ao seu redor, o cheiro de folhas úmidas e terra misturando-se com algo que ele não identificava, mas que lhe causava um incômodo profundo. Ele avançava devagar, seus sentidos alertas, cada passo ressoando no vazio do bosque como uma ameaça latente.Por mais que tivesse tentado se afastar dos corredores e rituais do conselho, a convocação daquela noite foi estranha e urgente. E Lucian, seu irmão, nunca se mostrou tão interessado nos costumes da alcatéia antes... Até agora. Mesmo assim, Ethan não poderia ignorar o chamado. Ele era o filho do alfa, o próximo líder, e sua ausência seria notada.Ao atravessar a clareira, ele encontrou o círculo reunido em silêncio absoluto. Lucian estava à frente, a expressão sombria e os olhos fixos em algo que os demais tentavam evitar olhar diretamente: o corpo de um dos anciões, caído e imóvel no centro do círculo, como uma sentença pronunciada antes mesmo
(Ethan)Aquelas palavras ressoavam em minha cabeça mais do que poderia imaginar. Eu me sentia tão confuso com tudo a minha volta, sentindo-me tão vulnerável, é como se meu animal interior tivesse medo, algo no qual jamais idealizei imaginar. Papai morreu a tanto pouco tempo, o ritual era na próxima lua vermelha. Como primogénito eu andei ao seu lado, preparando-me para me transformar no próximo alfa.Alcancei uma bagagem de mão e soquei violentamente um montante de dólares dentro dela. Eu não tinha muito tempo, o conselho já havia se decidido sobre meu exílio e até aquele momento eu não entendia como tudo aconteceu tão rápido.Passos se faziam presentes junto há um aroma inconfundível de frescor. Eu já sabia que se tratava de Dália. Ela entrou rapidamente e fechou a porta atrás de si. O olhar dela é de espanto e eu pude ouvir seus batimentos acelerados.— Amor eu não consegui chegar na reunião a tempo. O que seu irmão disse é verdade? — Ela choramingou e abraçou-me apertado.— Sim, Dá
(Ella)Eu sentia um frio horrendo e acordo assustada. Ainda está escuro lá fora e me lembrei que ainda estava no trailer do Jared. Ele tinha puxado a coberta toda para ele e estava deitado de costas para mim e o seu ronco não me deixava nem ao menos pensar direito.Rolei na cama e tentei puxar um pedaço da coberta para me aquecer, mas foi em vão, ele puxa novamente para si e resmunga algo aleatório. Me levanto e apanho uma blusa de frio, visto-a e me deito para tentar descansar um pouco.Não são nem seis horas e meu alarme desperta me fazendo dar um sobressalto da cama. Jared se levanta enraivecido e me fuzila com olhos ameaçadores.— Desliga essa merda, Ella. Toda vez que vem pra cá, essa porra me acorda antes da hora. — Ele se deita novamente e me encara.— Se quiser eu não venho mais. Foi você que me pediu para passar a noite com você. — Tiro a sua blusa de frio e começo a trocar minhas roupas.— Não foi isso que eu quis dizer. — Ele se aproxima e olha fixamente para meu corpo some
(Ella)Ao entrar para o hospital, o médico que está cuidado do quadro do meu pai, já está a minha espera no consultório. O Dr. Carter é um ótimo médico, mesmo eu atrasando alguns pagamentos, ele sempre soube compreender a minha situação.Entro no consultório, com o peso da ansiedade em cada passo. O cheiro de desinfetante me deixa levemente tonta e mesmo com a blusa de frio de Jared, ainda sinto o ar gelado do ar condicionado. A frieza do ambiente só aumenta a sensação de desesperança. O Dr. me recebe com um olhar grave e gesticula para eu me sentar. O que virá com certeza não será nada bom.— Então, Ella, fizemos os todos os exames necessários. O diagnóstico não é bom... — O doutor começa, tirando os óculos e olhando para mim olhar sério. Ele não precisa falar muito, eu já sei que são péssimas notícias.— O que ele tem doutor? — A ansiedade da minha voz é evidente. O médico hesita por um momento, antes de soltar as palavras que eu tanto temia.— Ele tem câncer nos pâncreas, Ella. Est
(Ethan)A noite estava fria, mas o ar estava limpo. Eu não costumava andar por aquele lado da cidade. Sempre havia evitado os bares do centro, o cheiro de álcool misturado ao perfume barato das mulheres e à fumaça de cigarro. Mas algo me fez parar naquela noite. O instinto, talvez. Ou a sensação de que algo estava prestes a acontecer, como se o universo estivesse preparando uma tempestade.Eu estava caminhando por uma rua vazia, os passos pesados, quando passei em frente ao bar. A porta estava entreaberta, e o som abafado de conversas e risadas escapava de dentro. Algo me puxou para lá. Não sabia o que exatamente, mas parecia certo, como se estivesse sendo guiado por algo além de mim mesmo.Eu posso ouvir tudo — até os passos ecoando contra o chão de madeira do bar, sua respiração irregular, o som suave da sua pulseira batendo contra o braço. Cada detalhe parece mais nítido, mais real. Sua voz, a maneira como ela responde ao patrão… é como se eu estivesse no centro de seu mundo, ouvind