CAPÍTULO 4

O barulho de buzina em frente à casa de minha mãe fez com que eu corresse e pegasse minha mochila. Despedi-me de minha mãe rapidamente antes de sair.

Enquanto olhava eu me aproximar do carro, ela gritou me pedindo:

— Prometa que voltará!

— Eu voltarei — prometi. A única promessa que não fazia questão de cumprir.

Após Erick dar a partida no carro, a música presente dominou o ambiente. Por fim, questionei quebrando o silêncio:

— Então também está estudando o caso antigo dessa cidade — ele apenas assentiu encarando a estrada. — Conseguiu algo interessante? — perguntei interessada.

— Não sei, diga você. Como sabe desse caso?

— É um caso que marcou a infância das crianças da cidade. Foi algo tão assustador e ninguém teve resposta do que houve.

— Percebeu algo diferente vendo o arquivo?

Erick não era fácil de lidar, ele de fato era um investigador. Não respondia facilmente as perguntas que lhe eram direcionadas.

— Na verdade... — suspirei — não sei o que você sabe da história, mas houve o testemunho de duas crianças na época, porém não o encontrei anexado no arquivo — falei.

— Sim, além disso, não foi feito o exame de DNA da vítima e não foi encontrado nada que pudesse acusar o motivo de não o fazerem.

— Você sabia que o detetive do caso era o senhor Alberto Queiroz?

— Sim, estou curioso para saber quais serão as explicações dele sobre esses fatos.

Quando passamos pela rua onde estava localizado o galpão, aumentei o volume do som para preencher o ambiente e apertei minhas mãos em punho. Toda essa estrada me fazia estremecer.

— Algum problema? — Erick perguntou.

— Não, apenas gosto dessa música — falei me recostando no banco. Erick franziu a testa e, então percebi que não era música que tocava alto dentro do carro, mas sim o noticiário da cidade. – Antes... — coloquei novamente o volume baixo e continuei. — Estava tocando uma música que eu gosto — tentei disfarçar.

— Está certo — ele sorriu ainda focado na estrada em sua frente. Nesse momento pude notar melhor sua aparência. Seus cabelos escuros estavam arrumados com a ajuda de um gel que fixava seu penteado, a camisa social branca fazia um verdadeiro contraste em sua pele bronzeada que era quase escondida pela gola. Erick me encarou por alguns segundos, talvez percebendo que eu o fitava.

— Conheceu há muito tempo o noivo? — perguntei.

— Na verdade, desde minha infância. Meu avô era vizinho de Marcos, acabei convivendo com ele quando vinha visitar meu avô.

— Sério? Eu, Juliana e Marcos sempre brincávamos juntos, acredito que por isso que os sentimentos dos dois devem ter aflorado. Será que já nos encontramos alguma vez? — perguntei. Erick olhou novamente para mim e, balançando a cabeça em negativo, falou:

— Não conversava com qualquer criança.

— Ei! – gritei. — Eu não era qualquer criança.

— Tenho certeza que não — quando finalmente chegamos à cidade, Erick me questionou onde eu morava e quando passei o endereço do prédio, ele arregalou os olhos.

— O que foi?

— Você realmente mora nesse condomínio?

— Sim — até confirmei com a cabeça para frisar.

— Bloco E — comentou.

— Não, Bloco B — falei.

Erick sorriu.

— Digo, eu moro no bloco E.

— Está me dizendo que mora no mesmo condomínio?

— Parece que a coincidência não para em apenas querermos estudar o mesmo caso.

— Para fechar, poderíamos sair no mesmo horário para trabalhar e você me oferecer carona todos os dias — falei entusiasmada enquanto Erick parava em frente ao bloco B.

— As coincidências terminam aqui — falou.

— Está bem, está bem — ergui minhas mãos como se me rendesse e saí do carro. Acenei para me despedir, mas Erick nem sequer buzinou, apenas acelerou o carro. — No mínimo esse homem é bipolar — falei alto.

No dia seguinte nem esperei pela bondade de Erick e fui direto para a delegacia. Cheguei, cumprimentei apenas com um aceno de cabeça os rapazes e, próximo à mesa de Queiroz, pedi:

— Senhor Queiroz, podemos conversar em particular?

Queiroz olhou por cima de seus óculos e concordou levantando-se. Entramos em uma pequena salinha onde eram feitas as entrevistas com os suspeitos.

— O senhor gostaria de explicar sobre o que aconteceu com os depoimentos das crianças? – questionei.

— Você era uma das crianças — falou me observando. — Como deve saber aqueles depoimentos não serviram para muita coisa, então acabamos os descartando.

— Descartaram os depoimentos? Isso é possível? Você tem permissão para descartar depoimentos? — Queiroz ficou em silêncio. — Vocês fecharam o caso sem investigar?

— Investigamos, mas não encontramos nada.

— Não tem como os assassinos terem simplesmente desaparecido.

— Não encontramos nada que possa acusar alguém.

— Então está me dizendo que aquela mulher se matou? Queimou o próprio corpo?

— Havia gasolina no chão e fósforo, pode ter sido algum acidente.

— Quem era ela? Fizeram teste de DNA?

— Está cheia de perguntas, senhorita Catarina — Queiroz falou se levantando.

— Com uma equipe incompetente daquela, difícil não ter perguntas — Erick quem disse entrando na sala.

— Quem você pensa que é para entrar na nossa sala enquanto há uma reunião, e ainda, querer me desrespeitar?

— Não estou te desrespeitando e já não nos conhecemos? Sou o detetive Garcia. — Erick estendeu suas mãos para cumprimentar Queiroz que apenas passou por ele para sair da sala, mas antes que fechasse a porta em suas costas, Erick falou: — Se não fosse incompetência, não teriam desaparecido os depoimentos. Teriam feito o teste de DNA e, ainda mais, não teriam simplesmente fechado o caso sem uma resolução, ou sem ao menos uma boa explicação.

Levantando-me também falei:

— Acredito que Queiroz não tenha ficado muito feliz.

— Vou reabrir o caso. Catarina, você gostaria de participar da investigação?

Por um momento fiquei parada o encarando. Tudo que eu estava fazendo até hoje era para um dia conseguir investigar este caso, e detetive Erick estava me dando essa oportunidade.

— Sim, é o que eu mais desejo — respondi empolgada.

Erick sorriu e sem dizer mais nada saiu, deixando-me só.

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