Keller
Faz alguns dias que acordei numa ala hospitalar, faz muito tempo que não vejo tanta gente e a luz do dia, sinceramente, só quero fugir daqui para um lugar isolado, já não sei se posso conviver em sociedade, meu irmão faz plantão no quarto onde estou, fico feliz dele não ter desistido de mim, mas agora, sinto que preciso protegê-lo, me tornei um monstro e não quero machucar ele e meus pais.Tento me controlar como posso, mas a fera dentro de mim luta a cada segundo do dia para sair.Antes, eu era o braço direito do meu irmão Alfa Ricardo, ele me enviou para uma reunião diplomática numa matilha que tinha sérios problemas de controle e estava dando muito trabalho, mas acabei caindo em uma emboscada, me fizeram de cobaia por anos, não sei nem direito quem sou mais, e pela minha idade sem encontrar meu par, tem afetado muito meu lado selvagem.Respiro fundo enquanto minha mãe e meu pai me abraçam pela milésima vez, sei que eles estão felizes em me ver, mais meu temperamento só quer manter eles longe.Tento controlar minha fera, mas dessa vez ela foi mais forte, meus olhos mudam de cor, e só consigo gritar para que eles saiam, ou me apaguem, meu coração acelera e vejo o horror nos olhos da minha mãe e do meu irmão._O que eles fizeram com você Keller? Meu irmão tenta se aproximar, solto um rosnado alto alertando para ficar longe._Eu não sei, não se aproxime, não consigo controlar direito, falo entre dentes apertando os lençóis da cama com força tentando me manter no lugar._Vocês precisam sair AGORA! alerto eles que saem me deixando sozinho, após alguns momentos tentando me controlar finalmente retorno ao meu corpo humano, olho em volta e tudo está quebrado, pelo menos não consegui sair, me sinto tonto e vejo agulhas em minha pele, olho para a porta e vejo dois seguranças com arma de anestésico, caio no chão apagado.Dias depois, quando finalmente acordo, meu irmão está ao meu lado segurando minha mão._Ricardo.... falo me levantando mas ele me impede._Tudo bem irmão, fizemos exames em você e já tem uma equipe tentando preparar algum dispositivo ou algo que te ajude a se controlar de novo, você vai ficar bem eu prometo. Não sei o que fizeram com você, mas eu vou descobrir um jeito de te ajudar.Respiro aliviado, pensei que ele fosse me julgar ou me mandar embora, mas meu irmão é um cara muito protetor com a familia, e agora que me trouxe de volta para casa, não vai simplesmente me deixar ir embora._Ricardo, você precisa me ouvir, e decido contar tudo, como fui feito de cobaia em um experimento maluco e me deixou como hibrido, mas o meu outro lado eu não consigo controlar, ele simplesmente aparece e toma conta, eu apago e não faço a menor ideia do que acontece, fui criado para ser uma arma de matar, não sei se posso viver em sociedade de novo.Ricardo coloca a mão em meu ombro e diz._Você é meu irmão e farei tudo ao meu alcance para que você fique bem de novo, nós vamos dar um jeito._Ricardo eu não o controlo, é perigoso demais._Eu já disse Keller, nós vamos dar um jeito ok, eu acabei de ter você de volta, não vou te perder.Keller No dia seguinte, um dos seguranças do Alfa Gustavo pede permissão para entrar e diz. _Com as ordens do Alfa, nós conseguimos criar um protótipo que consegue marcar os seus sinais vitais e sinalizar quando você estiver prestes a se transformar e também adicionamos um anestésico que pode ser acionado apertando o botão ao lado, caso você ache que vai apagar, é como um relógio comum para os outros, só vocês saberão a verdadeira utilidade dele, e dá pra ser adaptado conforme as necessidades da pessoa. Coloco o relogio no braço e já vejo os sinais vitais na tela. _Ótimo. meu irmão diz _Isso pode funcionar. _Não acho que seja o suficiente Ricardo. Meu irmão novamente abre um sorriso de lado e diz. _Nós vamos nos adaptar você vai ver, assim que chegarmos em casa, você terá todo o acompanhamento de que precisa para voltar a ser o mesmo Keller de antes, eu garanto. Ricardo fala convicto. _Eu não tenho tanta certeza. falo baixo _Essa noite o Alfa Gustavo fará um jantar de despedi
Keller Ouço meu irmão falar sobre adicionar uma tradição a nossa matilha, mas não consigo tirar os olhos dela, seu sorriso é encantador, e seu olhos castanhos avermelhados são como faróis em meio a escuridão. Meu coração acelera, e sinto a fera tomando o controle, saio correndo e entro no elevador, meus caninos se expõem e minhas garras também, não conseguindo me controlar recorro ao ultimo recurso, aperto o botão e sinto uma pontada no pulso, começo a ficar tonto, ando pelo corredor me segurando nas paredes, e assim que finalmente chego ao meu quarto, abro a porta e a fecho, apagando no chão. Acordo já de dia com alguém batendo na porta, olho ao redor e vejo que estou sujo de lama. _Droga! sussurro, eu devo ter saido mesmo sedado, a fera tomou conta e saiu. _Merda! falo outra vez, me levanto do chão rapidamente e olho minha roupa rasgada e toda suja, tiro ela rapido e pego uma toalha, jogando a roupa no cesto. Corro e abro a porta, Ricardo entra e diz. _Ainda desse jeito Keller
Keller Finalmente vejo os portões de casa, respiro fundo abrindo a janela do carro e sentindo o cheiro de casa. Não querendo muita euforia, decido descer pelos fundos e subir direto para o meu quarto, sei que meu irmão fez uma recepção para mim, mas dado os ultimos dias, quanto mais distante de todos melhor. Assim que me acomodo no meu quarto, ouço batidas na porta, quando abro, vejo Ricardo com uma fatia de bolo na mão. _Fiz uma festa de boas vindas, mas o convidado de honra não apareceu. _Desculpa meu irmão, mas ainda não dá para estar no meio de muita gente. Não sei mais como fazer isso. Digo me afastando da porta e seguindo para o sofá. Ricardo fecha a porta atrás dele, e põe o bolo na mesinha de centro sentando no sofá da frente. _Eu entendo, e já pedi aos melhores médicos que venham te ver, você voltará ao seu normal em breve. _Sabe que isso não vai acontecer Ricardo, eles me fizeram um monstro, sem controle algum, eu estou colocando vocês em risco só em ter voltado para
Keller Respiro aliviado, por saber que não machuquei nenhum dos membros da matilha, mas ainda sim me preocupo. _Então só foram animais machucados? pergunto ainda em duvida. _Sim meu irmão. Ricardo me tranquiliza, Foram só animais, está tudo bem, nós podemos lidar com isso. _Não Ricardo, preciso do chefe da tecnologia aqui, preciso fazer desse apartamento uma fortaleza, que quando estiver prestes a me transformar, ele sele todo o lugar para que eu não saia, é o unico jeito meu irmão, hoje foram só animais, mas eu não posso, e não vou brincar com a sorte, da proxima vez pode ser um membro da matilha, ou até mesmo uma criança. _Tudo bem Keller, se acalme, nós vamos dar um jeito, vou conversar com o chefe da segurança e equipar o seu apartamento o mais rápido possivel, em conjunto com seu relogio para monitorar você, e mais tarde um terapeuta vai vir até aqui, ok? Respiro fundo aliviado e concordo com a cabeça, Ricardo sai para preparar tudo o que pedi e decido não sair do apartament
Keller Tento disfarçar o máximo que posso quando Ricardo toca no assunto de encontrar minha companheira agora, mal sabe ele que já a conheço, o ser mais lindo que já vi, jamais iria me perdoar se a machucasse, então, por mais que seja doloroso ficar longe dela, é o melhor a ser feito. Meu irmão continua a me olhar querendo falar algo. _Vai, desembucha logo Ricardo, o que você quer dizer? pergunto impaciente. _Não acredito nenhum pouco no que você acabou de dizer Keller, todo mundo quer encontrar seu par, e eu acredito mesmo que isso possa te ajudar. _Não pode Ricardo, ela não vai me ajudar, não vai conseguir me controlar, eu sou um monstro Ricardo, e o melhor pra ela é ficar bem longe de mim, falo sério para que ele entenda de uma vez por todas. _Eu entendo os seus motivos agora meu irmão, sua vida está uma bagunça, mas eu acredito mesmo que você um dia consiga ser feliz com seu par, mas você também precisa acreditar. _Essa opção foi tirada de mim quando me tornei uma cobaia de
Keller Já faz algumas semanas desde que voltei para casa, o apartamento funciona de acordo com meu humor e me monitora 24 horas por dia, minhas sessões de terapia tem ajudado também, e nas vezes em que perco o controle, o unico que se machuca sou eu mesmo, e para mim já tem valido a pena. Observo pela janela a correria dos funcionários e vários carros e onibus chegando com pessoas de todas as matilhas vizinhas para a cupula anual que meu irmão implantou na nossa matilha, esse será o primeiro ano, mas eu só quero que acabe logo, de qualquer forma, não pretendo sair do apartamento, todos estão mais seguros comigo aqui, na minha jaula particular. Um onibus em particular me chama a atenção e observo todos saindo, congelo no lugar quando a vejo, me aproximo da janela apoiando minhas mãos no vidro, ela consegue estar ainda mais bonita do que na primeira vez que a vi, ela sorri enquanto conversa com uma amiga presumo, ela olha em volta e para cima como que procurando por algo, me afasto da
Keller Mas a multidão já se dispersou e só tem drones lá fora caidos e vários guerreiros avaliando tudo, estávamos sendo vigiados, e se não fosse por ela, nunca saberiamos. Envio um link mental para meu irmão que me tranquiliza dizendo estar bem, ele diz que os drones são da matilha do pais vizinho que me mantinha como prisioneiro, e é muito provável que tenha algum espião aqui hoje, isso é fato, cortamos nossa ligação e fico preocupado dessa cupula dar errado hoje. Tento me manter o mais calmo possivel, olho em todas as direções tenho uma visão privilégiada daqui de cima e vou ficar a noite toda em alerta máximo se precisar. Meu irmão mantém a bendita da cúpula, mesmo sabendo das ameaças, ele me garantiu que tem tudo sob controle, eu preciso confiar nele, mas não tenho medo pela minha vida, eu só consigo pensar nela. Vejo vários adolescentes andando pelos jardins, bebendo e comendo, farrando como se não houvesse amanhã, me sento numa poltrona confortável perto da janela e observo
Cibele A viagem para a cúpula até que foi divertida, conhecemos pessoas novas, eu e Michele que está animadíssima para esse evento. Depois de beber muito e ver todos saindo com seus pares, fico frustrada em mais uma vez não o ter encontrado, tomo minha ultima dose de saquê e saio procurando por Michele, mas não a vejo em lugar nenhum. Saio do salão e procuro nos jardins, é bem capaz dela estar se pegando com alguém por ai, andando sem prestar muita atenção acabo sendo surpreendida por um puxão no meu cabelo. _Você achou os drones, mas será só isso sua vadiazinha. O cara fala e me dá um soco na cara, fico tonta, mas me recomponho e uso todo o meu treinamento, começamos um luta corporal e ele puxa uma arma, seguro com toda a força que posso, de repente ouvimos um grito como se fosse de um monstro, foi de dar arrepios, mas foi distração o suficiente para que eu conseguisse desarmar ele e eu não tive escolha a não ser atirar. Meu corpo todo doi, tento me levantar mas é em vão, olho par