Capítulo 45O grupo de metamorfos movia-se em silêncio pela floresta densa, os passos calculados, os sentidos aguçados. A tensão era sentida no ar, uma eletricidade invisível que mantinha todos em alerta. Erik liderava o avanço, os olhos âmbar faiscando sob a penumbra.Darian caminhava ao seu lado, a expressão dura, mas focada. Seraphine e Kael seguiam logo atrás, suas presenças trazendo uma leveza estratégica ao grupo.— Estamos perto. — Murmurou Kael, sua voz grave cortando o silêncio. — O cheiro deles é forte nesta área.Erik não respondeu. Seu lobo rosnava dentro dele, inquieto, sedento por sangue e vingança. Precisava manter o controle. Precisava focar no objetivo: resgatar Helena.“Se eles tocarem nela…” A voz do lobo sussurrou dentro de sua mente, um grunhido baixo carregado de fúria.“Eles não vão. Vamos tirá-la de lá.”Darian lançou-lhe um olhar discreto. Conhecia bem aquele olhar predatório de Erik, a maneira como seus músculos estavam tensionados, prontos para o ataque.—
Capítulo 46O cheiro de terra úmida misturava-se ao fedor metálico da morte iminente. Erik respirou fundo, sentindo a fúria pulsando sob sua pele como uma fera enjaulada. Ele precisava controlá-la. Não podia deixar que a maldição o consumisse.Seus olhos varreram o campo à sua frente. Os lobos de sua antiga matilha estavam espalhados em um semicírculo, prontos para atacar ao menor comando. No centro, parado com uma expressão de arrogância estampada no rosto, estava o Alfa que havia tomado seu lugar: Dravik.Um lobo gigantesco, de ombros largos e músculos esculpidos pela selvageria. Suas cicatrizes contavam histórias de batalhas cruéis, e seus olhos âmbar brilhavam com a promessa de violência.Helena estava mais atrás, entre os metamorfos que haviam vindo ajudá-los. Seu olhar encontrou o de Erik por um instante, e ele viu o medo ali – não por si mesma, mas por ele.Dravik abriu um sorriso torto, exibindo presas afiadas.— Erik. Você finalmente decidiu parar de correr.Erik manteve sua
Capítulo 47O acampamento estava silencioso quando Erik, Helena e os metamorfos rebeldes retornaram. O cheiro de terra úmida e madeira queimada pairava no ar, misturando-se ao odor de sangue seco que ainda manchava suas roupas. O céu, tingido pelos primeiros tons do amanhecer, parecia carregar o peso da noite violenta que haviam enfrentado.Helena caminhava um pouco atrás de Erik, seus olhos presos às costas largas dele. Cada passo que dava era como se seu peito se apertasse mais. Ela sentia o peso da decisão que precisava tomar, da verdade que precisava revelar. Mas como contar a Erik que a única forma de salvar Eryndor era sacrificando o que mais importava para ele?Ela sabia que não poderia manter isso escondido para sempre. Mas não sabia se teria coragem para dizer.Erik parou no centro do acampamento, observando os metamorfos. Seus olhos corriam por cada rosto exausto, cada ferida e cicatriz, e ele percebeu algo.A luta contra sua antiga matilha não havia sido apenas um combate f
Capítulo 48A lua crescente pairava sobre Eryndor como um presságio silencioso. A cada noite que passava, ela se tornava mais intensa, tingindo o céu de um vermelho profundo, um lembrete do destino que os aguardava.Helena sentia a mudança na energia do mundo ao seu redor. A terra parecia pulsar sob seus pés, como se estivesse viva, como se o próprio reino soubesse o que estava por vir. E, no fundo, ela sabia que não poderia mais fugir.Mas ainda assim, não conseguia dizer a verdade.Cinco dias antes do ritual…Helena se afastou do acampamento antes do amanhecer, os pés descalços afundando na relva úmida. A névoa dançava entre as árvores, e os primeiros raios de sol mal conseguiam penetrar a escuridão densa da floresta proibida. Seu coração batia rápido enquanto procurava as ervas que precisaria para o ritual.Ela se ajoelhou perto de um grupo de folhas prateadas, passando os dedos delicadamente sobre elas antes de colhê-las. Aquelas ervas eram raras, absorviam a energia da lua e a ar
Capítulo 49A névoa se espalhava entre as árvores altas da floresta, dançando como espectros silenciosos sob a luz pálida da manhã. O cheiro da terra úmida preenchia o ar, carregado pelo orvalho frio da madrugada. Erik correu entre as árvores, seu corpo se moldando facilmente à forma lupina. O vento cortava seu pelo escuro, e ele se entregava à liberdade que apenas a floresta lhe proporcionava.Sentia a energia vibrante do mundo ao seu redor, mas algo dentro dele permanecia inquieto. Uma curiosidade incômoda o puxava sempre na mesma direção, como se houvesse algo esperando por ele do outro lado da floresta. Contra todas as regras, ele seguiu o instinto, aproximando-se do vilarejo humano.Foi quando a viu.A jovem caminhava com passos cuidadosos, carregando uma pequena cesta de vime entre as mãos. Os cabelos castanhos e ondulados se moviam suavemente com a brisa, e sua pele clara parecia absorver a luz matinal. Ela se ajoelhou diante do altar de pedra coberto por musgo, disposto entr
Capítulo 50 O ar carregava o aroma fresco da terra úmida e das folhas, e Helena seguiu pelo caminho familiar até o altar da Deusa Aurinia, como fazia todas as manhãs.Mas naquela manhã, seu coração batia diferente. Ela sabia que ele estaria lá.Quando chegou ao pequeno santuário esculpido na pedra, deixou a oferenda como sempre fazia: algumas ervas e flores recém-colhidas, um gesto simples de gratidão. E então, esperou.Os instantes passaram, e logo, o farfalhar das folhas denunciou sua presença. O lobo emergiu da mata como uma sombra viva, seus olhos intensos cravados nela. Mesmo já tendo se acostumado à sua presença, Helena nunca deixava de se impressionar com sua imponência. Ele era magnífico.— Você sempre me espia desse jeito? — perguntou, cruzando os braços.O lobo parou a poucos metros dela, observando-a como se ponderasse algo. Então, para sua completa surpresa, começou a mudar.Helena ficou imóvel, sem fôlego, enquanto os ossos do animal pareciam se realinhar, a pelagem escu
Capítulo 51Helena mal havia dormido. Desde que voltara para casa na noite anterior, sua mente estava repleta de imagens de Erik. Sua transformação, seus olhos dourados fixos nos dela, o sorriso travesso que parecia desafiar todas as regras que ela conhecia.Ela não queria admitir, mas estava ansiosa.Com um suspiro, pegou a cesta de oferendas e seguiu pela trilha familiar até o altar da Deusa Aurinia. O caminho entre as árvores nunca pareceu tão longo. Seu coração batia mais rápido do que o normal, e uma parte dela se sentia ridícula por isso."Ele pode nem aparecer."Mas, no momento em que chegou ao pequeno santuário de pedra, soube que estava errada.Erik já estava lá.Dessa vez, não como lobo.Ele estava encostado em uma árvore, os braços cruzados sobre o peito e um sorriso desenhado nos lábios, como se estivesse esperando por ela o tempo todo.— Bom dia, mikró.Helena parou no mesmo instante.— O quê?O sorriso dele se alargou.— Você. Pequena. Mikró.— Não sou pequena. — Retruco
Capítulo 52Erik estava inquieto.Dois dias haviam se passado e Helena não aparecera no altar da Deusa. Ele tentou ignorar a preocupação crescente, tentou se convencer de que ela poderia apenas estar ocupada ou que talvez estivesse evitando-o, mas algo dentro dele, algo instintivo e feroz, dizia que algo estava errado."Ela não voltará."O lobo rosnou dentro dele, impaciente."Ela pode ter tido um motivo." Erik argumentou, mas sentia a tensão em seu próprio tom."Então descubra. Você não aguenta mais esperar."E ele não aguentava.Foi por isso que, naquela noite, enquanto a floresta era banhada pela luz pálida da lua, ele voltou ao altar.A princípio, tudo parecia silencioso, mas seu faro captou algo inesperado. Humanos. E não qualquer tipo de humanos. Caçadores.Erik se moveu rapidamente, afastando-se do som de passos pesados e vozes abafadas. Foi quando a viu.Helena estava ali, de pé, envolta pela escuridão das árvores. Mas algo estava errado. Mesmo no breu da noite, ele percebeu o