Eles realizaram um exame completo e voltaram com um atestado de saúde limpo. Portanto, sua condição era, no máximo, curiosa, e todos acreditavam que ela recobraria a consciência em alguns dias.A Alcateia da Lua Azul ainda não tinha partido. Estavam fazendo planos para ir embora, mas tudo estava se arrastando, e eu suspeitava que isso tinha muito a ver com Xavier, tentando ganhar tempo para ver Maria.Esse pensamento, em vez de me enfurecer, me encheu de um cansaço profundo, que parecia ser tudo o que eu conseguia sentir ultimamente.Além das minhas visitas ao quarto de hospital de Maria, minha rotina era a mesma: ia de casa para o escritório, onde, de alguma forma, conseguia fazer muito pouco.Recusava todas as ligações relacionadas a negócios, optando por ficar olhando fixamente para a estante de livros ainda danificada por horas a fio até chegar a hora de ir embora. Mal comia e tomava banho, recusando-me a treinar enquanto sentia minha vida descarrilhar e, para piorar as coisas, Fe
— E eu entendo sua relutância em mandá-la embora como professor dela. — Continuou Carlos Fernandes. — Mas, Alpha, talvez você tenha que deixá-la ir se ela concordar. Pelo bem da Alcateia.Alguns segundos se passaram, e senti uma tempestade de emoções começar a se agitar dentro de mim. Era o costumeiro coquetel de vergonha, raiva, preocupação e ansiedade; e conforme fervia, me vi ecoando a última parte da frase de Carlos.— Pelo bem da Alcateia. — Repeti sem emoção. — Eu deveria deixar Maria ir, por bem desta Alcateia.Percebendo que algo estava errado no meu tom, Carlos não respondeu imediatamente. Mas eventualmente ele assentiu.— Sim, Alpha. Isso nos beneficiaria muito. A Alcateia da Lua Azul é forte, e se nos uníssemos, seríamos...Interrompi-o antes que pudesse terminar a frase.— Não posso fazer isso, Carlos. Maria tem que ficar aqui.As sobrancelhas dele se franziram levemente enquanto ele me encarava por um longo momento, a pergunta em seus olhos crescendo ainda mais. Mas eu não
Ponto de Vista de MariaFiquei paralisada do lado de fora do escritório de Samuel, incapaz de me mover ao ouvi-lo tropeçar em uma confissão para alguém do outro lado da porta.Não conseguia piscar, nem respirar, como se meus pulmões estivessem presos em um torno. Permaneci ali com a mão na maçaneta e a visão embaçada.— Eu estava com medo de todos os desconhecidos. — Ouvi Samuel dizer. — Todos os jeitos que minha conexão com ela poderia dar terrivelmente errado, mas agora que a possibilidade muito real de a perder finalmente havia chegado, agora que sei o que está em jogo, Carlos. Agora que sei que tem algo pior do que aquilo do qual venho fugindo todos esses anos, tudo ficou subitamente claro...Meus olhos ardiam, e pisquei rapidamente para afastar as lágrimas que ameaçavam surgir com suas palavras.Se algo de bom pudesse vir do que eu sentia agora, era o fato de que eu sabia, sem sombra de dúvida, que tinha um timing impecável.•Fui ao escritório de Samuel assim que abri os olhos, p
Mas isso não era tudo.Todos os calos que eu tinha adquirido durante meses de treinamento também haviam sumido, e até mesmo a cicatriz da queda de bicicleta quando eu estava aprendendo a andar aos dez anos tinha desaparecido.Pelo que eu podia perceber, minha pele estava melhor do que jamais estivera antes. Não havia uma única mancha ou marca de acne à vista.Isso me alarmou, mas como não havia nada que eu pudesse fazer sobre essa observação, guardei-a na minha caixa de perguntas cada vez maior sobre o estranho poder do qual eu ainda não sabia quase nada.A próxima coisa que considerei foram minhas roupas: eu não estava com meu equipamento de treino.O que isso me dizia era que eu devia ter ficado desacordada por algumas horas ou até alguns dias, e mais uma vez não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso, então deixei de lado.Isso me deixou com Samuel.Eu precisava confrontá-lo, e enquanto me levantava da cama, senti meu interior se contorcer de prazer ao pensar que logo estaria di
Ponto de Vista de Maria— Quero explicar.Suas palavras, pronunciadas suave e ternamente, se perderam depois disso. Quando ele percebeu que sua declaração não provocou nenhuma reação notável em mim, sua boca se abriu e fechou.Era quase como se ele não tivesse pensado no que diria em seguida e agora tivesse batido em um muro.Eu sabia que Samuel não era um homem de muitas palavras, e vê-lo lutar desajeitadamente por uma explicação fez algo dentro de mim doer.Eu queria ir para os braços dele ali mesmo, convencê-lo de que ficaria ao seu lado, não importava o resultado. Mas enquanto meu coração e corpo teriam me feito fazer isso, o peso das inações de Samuel, apesar de saber que éramos destinados, me gelou até os ossos.Isso não era uma coisinha que poderia ser varrida para debaixo do tapete.Não. Precisava ser abordado, porque se eu não o fizesse, que garantias eu teria de que Samuel sempre estaria ao meu lado? Que ele sempre me apoiaria, mesmo contra o mundo inteiro?— Ele estava chega
As sobrancelhas dele se ergueram em confusão.— Você está...?Balancei a cabeça, interrompendo-o.— Não. — Eu disse. — Não exatamente.As palavras ficaram presas em minha garganta e, por um momento, minha visão se encheu de lágrimas diante de tudo que estava acontecendo e de como eu quase tinha cedido a ele agora mesmo.Deusa, eu nunca tinha ficado tão desapontada comigo mesma antes.Pela primeira vez na minha vida, considerei meu amor por Samuel uma possível maldição. Eu estava condenada a sempre estar em desvantagem quando se tratava dele?Samuel começou a dizer algo, aproximando-se de mim novamente, mas desta vez recuei, estendendo as mãos à minha frente.— Samuel, por favor. — Eu implorei. — Não faça isso. Não tente controlar esta situação ou me manipular.Ele se encolheu com isso.— Eu nunca faria isso com você.— Talvez não intencionalmente. — Eu disse a ele, lutando para manter o contato visual enquanto engolia em seco. — Mas você está tão acostumado a liderar que acho que não p
Ponto de Vista de MariaSaí correndo do prédio, sem parar até chegar ao caminho que levava para o resto do território da Alcateia, onde ficavam as residências e a clínica.O caminho ficava a certa distância da imponente estrutura de onde eu acabara de sair. Com o peito ardendo e a respiração ofegante, virei-me para ter certeza de que o Alpha não estava me seguindo.Ao confirmar que não estava sendo perseguida, baixei a guarda. Lágrimas quentes de raiva e incredulidade escorriam pelo meu rosto. Tentei enxugá-las, mas elas continuavam a fluir.Minha cabeça girava com o fluxo de novas informações que eu havia recebido, enquanto soluços entrecortados escapavam de mim.Samuel sabia de tudo o tempo todo.A essa altura, eu devia parecer um disco arranhado, repetindo isso várias vezes. Mas, na verdade, esse conhecimento ainda me surpreendia.Na realidade, uma parte de mim ainda estava atônita com a novidade do nosso vínculo. Eu deveria ter percebido.Olhando para trás, tudo fazia muito sentido
Contive um suspiro ao ver seu rosto machucado e cheio de hematomas. Talvez o choque de tudo aquilo tenha sido meu ponto de virada, porque minhas lágrimas passaram de fungadas silenciosas para soluços feios e pesados que, sem dúvida, voltariam para me assombrar.Minha visão ficou embaçada e, no momento seguinte, senti uma presença à minha frente.Xavier McKenzie me puxou silenciosamente para seus braços, me guiando para o que eu supunha ser a direção geral dos meus aposentos. Enquanto os soluços me dilaceravam, deixei que ele me conduzisse.Chorei por mim mesma, chorei por Samuel e pelo fato de ele ter me feito sentir desequilibrada todo esse tempo, apesar de saber que fomos feitos para ficar juntos. Mas logo a lista de aflições cresceu além disso, e comecei a soluçar por tudo.Chorei de um jeito que nunca tinha conseguido desde a noite do ataque de Paulo e seus amigos. Chorei por não ter tido amigos até Anya, e chorei pelo fato de que meu equipamento de treinamento provavelmente estava