Ponto de Vista de MariaA implicação não dita nas palavras de Samuel ressoou na minha cabeça muito tempo depois que deixei a clareira, e, enquanto atravessava a floresta em direção à minha casa, uma sensação repentina de euforia tomou conta de mim. Fiz o possível para controlar isso, mas toda vez que me lembrava de Samuel dizendo que eu não era "fogosa" de ninguém, um arrepio engraçado percorria minha espinha novamente. Quando finalmente cheguei à porta de casa, estava sorrindo de orelha a orelha e entrei sem pensar duas vezes. Fui recebida pela visão do meu pai, sentado no pé da escada que levava ao sótão, e, quase que instantaneamente, meu bom humor desapareceu. Minha postura se endireitou enquanto me aproximava dele, e, ao som dos meus passos, ele se levantou à sua altura total. Pela primeira vez na vida, encontrei-me pensando no meu pai como alguém envelhecido, embora ele ainda não tivesse cinquenta anos. Segundo os padrões humanos, ele até poderia passar por alguém com tri
Eu estava subindo as escadas quando uma observação estranha me ocorreu: Rosa. Ela não era do tipo que deixaria passar uma troca de emoções entre meu pai e eu, mas desde que entrei em casa, não tinha visto nenhum sinal dela, o que me deixou apreensiva. Ela podia ainda estar lá fora com alguns amigos, mas eu me lembrava dos sons que havia ouvido do quarto dela enquanto falava com meu pai, e essa teoria logo foi por água abaixo. Decidi não pensar muito nisso, mas assim que abri a porta do meu quarto, parei no limiar e minha sensação de desconforto aumentou. Franzi a testa enquanto a estranheza me inundava, estreitando os olhos para ver se algo estava fora do lugar. Não havia nada. Meu jeans estava jogado no poste da cama, exatamente como eu havia deixado ontem. Meus tênis também estavam arrumados no canto do quarto. Nada parecia fora do lugar enquanto eu entrava, mas sirenes soavam na minha cabeça, então, para me acalmar, fiz uma busca rápida no quarto para ver se encontrava a
— É patético você achar que tem alguma chance com ele.— O quê?— Você está olhando para ele com esses olhos de cachorrinha. — Ela sibilou. — Praticamente implorando para ele te levar para a cama. Continue assim e vão achar que somos todas tão fáceis quanto você.Estávamos em uma sala cheia de lobisomens, e eu tinha quase certeza de que muitos deles, incluindo nossos pais, tinham ouvido o que ela disse. Meu rosto ardeu de vergonha ao perceber isso, mas antes que eu pudesse fazer algo, fomos conduzidas aos nossos lugares pelo Ômega. Olhei rapidamente para Samuel e fiquei surpresa ao perceber que ele já estava me observando. Seus dentes estavam cerrados, e havia uma tensão em seu rosto que geralmente mantinha sob controle, mas antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, uma série de travessas cobertas foi colocada delicadamente à minha frente. Meu estômago roncou ao sentir o delicioso aroma que emanava das iguarias cobertas. Eu teria tirado a tampa na mesma hora, mas notei que nin
Ponto de Vista de MariaO silêncio que se seguiu à declaração dela foi ensurdecedor, mas para mim foi diferente, pois tudo dentro de mim parou de repente. Eu tinha melhorado em perceber padrões nesses últimos meses e nas situações em que me encontrava, onde acabava sendo o bode expiatório. Mesmo que nada apontasse para mim agora, eu sabia que seria apenas uma questão de tempo até que isso acontecesse, porque essa era uma oportunidade boa demais para Vitória deixar passar. As lágrimas escorriam pelo rosto da Alta Sacerdotisa enquanto ela olhava suplicante para Samuel, e ao mesmo tempo, a sala se transformava em um pandemônio conforme o peso de sua declaração finalmente caía sobre todos. Eu podia ouvir os sussurros flutuando ao redor da sala: — Ela disse que era o tônico de Pura Obsessão?— Acho que sim.— Alguém o roubou?— Não. Isso é impossível.— Mas foi o que ela disse!!— Como conseguiram? Ele sempre fica bem guardado no Templo de Luna.Uma atmosfera de indignação e descr
Em vez disso, ele calmamente espetou um pedaço de bife com o garfo e levou-o à boca, e eu observei, incrédula, enquanto ele bebia de seu copo após mastigar a carne. — Eu… eu não gostaria de fazer acusações infundadas. — Vitória começou, silenciando os murmúrios. — A culpa é minha, e aceitarei a punição que considerar adequada.Ela abaixou a cabeça em sinal de submissão, mas Samuel apenas franziu o cenho com essa atitude. — Eu não pedi para você assumir a responsabilidade. — Havia um tremor em sua mandíbula, e ele parou de falar, fechando os olhos por um momento, como se tentasse controlar suas emoções. Ele parecia bem mais calmo quando os abriu novamente e continuou em um tom perigosamente sereno.— Como eu disse, não estou pedindo que assuma a responsabilidade. Estou perguntando quem você suspeita que tenha feito isso.A garganta de Vitória se mexeu, e percebi que ela gostaria de prolongar as coisas, mas Samuel estava começando a se irritar com suas artimanhas. Talvez ela tivesse
Ponto de Vista de MariaEra uma armadilha bem colocada, e eu havia caído direto nela.Meu coração afundou no momento em que percebi isso, e me virei para olhar para Rosa. O olhar dela, firme e decidido, dizia muito enquanto ela me encarava sem piscar. Sua mandíbula estava cerrada, talvez me desafiando a dizer algo, mas eu não consegui. Pela primeira vez em minha vida, ela conseguiu realmente me deixar sem palavras, e ao passar o olhar de Rosa para Vitória, percebi que eu as havia subestimado. Não era surpreendente que elas fossem tão longe, mas um plano como esse dependia de várias variáveis, e, para executá-lo, aquelas duas teriam que ter colaborado por sabe-se lá quanto tempo. Eu tinha concentrado toda minha energia em treinar justamente para enfrentar situações como essa, mas naquele momento percebi que nunca tive chance alguma. — Maria. — Chamou a Alta Sacerdotisa, tirando-me dos meus pensamentos.Ela me encarava com uma expressão de expectativa, e antes que eu pudesse me conter
Ofegos audíveis espalharam-se pela multidão reunida quando a temperatura caiu. O ar ficou denso com a hostilidade, toda dirigida a mim, mas, estranhamente, eu permaneci sentada na minha cadeira, observando a cena como se fosse um filme. — Essa é a poção? — Samuel perguntou a Vitória.A Alta Sacerdotisa não respondeu imediatamente. Em vez disso, ela pegou cuidadosamente o objeto embrulhado em sua mão, retirando-o da bolsa para revelar uma garrafa cheia até a borda com uma substância preta como breu. Parecia absorver toda a luz ao redor e emitia um leve brilho que me deixava inquieta quanto mais eu olhava para ela. Vitória virou-se para Samuel e fez um sinal de confirmação com a cabeça. — Sim. Sem dúvida, essa é a poção que foi roubada da nossa botica hoje.O Alfa fez um som de desdém na garganta, antes de olhar para Carlos, que ainda estava ajoelhado, com a cabeça abaixada. — Levante-se. — Ele ordenou. Quando o Delta obedeceu, Samuel perguntou onde a poção havia sido encontr
Por alguns momentos, parecia que ninguém sabia o que fazer, e eventualmente foi a Alta Sacerdotisa quem reagiu primeiro.— Basta confessar e aceitar sua punição.Abri a boca para uma resposta pronta, mas ela seguiu em frente.— … todos aqui presentes sabem da sua paixão de colegial pelo nosso Alfa. Assumimos que era inofensiva e deixamos que se desenrolasse, mas agora você está roubando relíquias perigosas para aprisioná-lo.A próxima declaração foi direcionada a toda a Alcateia.— Repetidamente, Maria Pereira provou que é um perigo para todos nós. Quanto tempo mais precisaremos até perceber que é de extrema importância nos livrarmos dela?!Meu rosto, pescoço e ouvidos estavam impossivelmente quentes enquanto sussurros de concordância surgiam ao redor. Então esse tinha sido o plano dela desde o início?Vitória estava se preparando para me transformar em uma narradora não confiável mais uma vez, e agora, ao mencionar meus sentimentos pelo Alfa que, com certeza, já haviam sido muito esp