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Maldição Sanguínea
Maldição Sanguínea
Por: Yara Petrichor
Prólogo: Estive em um sonho

“São três horas da manhã e eu sonhei com ele novamente. Perigosamente lindo usando sua máscara de morcego e o terno tão escuro quanto uma noite sem Lua. O rapaz olhava para mim no sonho, sorria com seus dentes perfeitamente brancos e afiados e estendia a mão para mim, me convidando para uma dança. Eu sentia as borboletas em meu estômago voarem em círculos e o desejo em seus olhos era tão poderoso que puxava-me para perto dele.

Os morcegos voavam sobre nós, cantando a mais bela melodia. Não havia luzes e muito menos medo, estava tudo tão mórbido e perfeito que de forma alguma eu deveria negar a dança com ele, se o fizesse sentia que poderia morrer. Definhar lentamente no poço de saudade que seu toque me traria, perder a luz mortífera e amorosa, não poderia me deixar cometer esse erro. Jamais perdoar-me-ia por erro tão grotesco.

As mãos frias dele em contato com meu corpo tão quente que parecia febril, dava-me a impressão de que a morte iria me dar o mais delicioso dos beijos. Iria tomar o pobre e quente corpo humano para si. A valsa começou e o gélido toque do rapaz fazia toda minha pele arrepiar, de uma forma tão prazerosa que os suspiros satisfeitos enchiam o espaço entre nós.

Ele me dizia muitas coisas, muitas palavras lindíssimas. Fazendo-me cair ainda mais na atmosfera lúgubre, enchendo os pulmões de escuridão e parando lentamente o coração, deixando seu maravilhoso rastro que somente ele poderia fazer. A forma em que girávamos pelo salão me fazia rir, chorar e gemer, as mãos gélidas prendiam nossos corpos e seus pés ensinavam a mais impura e soturna dança.

Levando minha mente para todos os lugares, vendo milhares de mortes e sorrindo para cada uma delas. O prazer enchia meus ossos como a medula, a música abraçava a nós dois e o frio apenas acendia ainda mais o calor que havia no salão.

Quando nos olhamos, eu sabia que não deveria me assustar com os olhos vazios e negros. Meu interior não sentia nada além de paixão, uma tão forte e perigosa que parecia que a qualquer momento escaparia das grades da mente e vazaria por meus olhos. O rapaz me apertou ainda mais, e naquele momento eu percebi que sempre soube seu nome, apenas não tinha, e ainda não tenho, nenhum poder ou direito de falar. Eu implorei para minhas memórias, para que fizessem minha boca falar o nome do homem que me abraçava tão amorosamente que quase me levava ao êxtase. Podia sentir as lágrimas frias rolando, me lembro de ele perguntar o que havia acontecido e de lamber as gotas salgadas que estavam perto dos meus lábios. Não conseguia responder às suas perguntas, então apenas sorri e encostei a cabeça no terno macio.

Depois se girarmos por todo o salão, ele me contou histórias de amantes que se encontravam sob a luz da Lua e se escondiam entre as bocas silenciosas dos mortos e da floresta; disse que um dia esses amantes seriam nós, que iríamos amar a escuridão e nos amar nela. Contava sobre um castelo que abrigou seu coração e que agora o daria para mim. Tantas palavras que me enchiam ainda mais de amor, chegava a perguntar a mim mesma se meu coração iria aguentar tamanha perfeição e paixão.

O rapaz me levou para longe de lá, para um jardim cheio de Damas-Da-Noite que perfumavam até minha jovem e rola alma. Elas pareciam ter vida e voz própria, louvando ele a cada passo, gritando seu nome, ainda impronunciável para mim, de tal forma que me fez remoer em ciúmes. Por que as flores tinham mais poder que eu? Havia pensado enquanto andamos, mas em um sonho os pensamentos são barulhos muito bem audíveis.

‘Elas nunca irão passar de seus pés, minha noiva’, o homem disse-me enquanto segurava minha mão e guiava nós dois pelo imenso jardim. Eu esqueci de tudo naquele momento pois ele havia me chamado de ‘minha noiva’, aquilo fez com que o sorriso prazeroso voltasse para meus lábios. As Damas-Da-Noite murmuravam com ódio palavras sobre mim e sobre ele, contavam uma história diferente da que o rapaz havia contado me contado. Não pude não ouvir.

As flores contavam que havia um monstro que vivia no corpo de homem, mas o monstro era tão lindo e charmoso que ninguém se importava de tentar investigar por que a noite para ele era tão bela e apresentável. O homem-monstro vivia em um castelo feito de mármore e obsidiana, cada um de seus cômodos abrigavam as mais belas, e sentimentais, pinturas. As escadas eram cobertas por um tapete vermelho sangue e ainda se podia ouvir a melodia dos morcegos vinda do teto, enchendo o castelo ainda mais de beleza.

Elas diziam que tal encanto hipnotizava as pessoas, deixando-as sob o lindo e prazeroso vez do homem. Não demorou muito tempo para que ele ganhasse o título de lorde, promovendo festas que duravam até sete noites, bailes regrados a sexo e bebidas. Se achavam estranho o Lorde ainda ter a aparência tão juvenil e forte depois das festas cansativas, não perguntavam, afinal, ele era belo demais e a beleza era um presente que ninguém questionava.

O vilarejo vivia feliz por conta do homem, não precisavam se preocupar com comida mais, as festas extravagantes e a beleza do Lorde trazia cada vez mais visitantes, e as vezes até moradores. As flores contaram que foram anos maravilhosos, até as lendas sobre o monstro começarem. Em toda Lua Cheia uma pessoa desaparecia, eram dias de procura e preocupação, até acharem um rastro mórbido de vísceras e sangue, ao fim de tal caminho mórbido sempre haviam um bilhete que simplesmente dizia «pensiez-vous que ce serait gratuit?». Ninguém daquele lugar falava francês, então os primeiros bilhetes eram queimados juntos dos restos mortais. Logo as pessoas esqueciam das mortes e voltavam a dançar e transar nos bailes do Lorde, que, conforme parecia envelhecer, resolvera adotar o uso de uma máscara para esconder a idade do mundo.

Depois de alguns poucos anos, as pessoas começaram a associar as mortes aos ursos e os bilhetes a algum pássaro desastrado, entretanto, não durou muito tempo tal mentira. Então as Damas-Da-Noite se calaram, eu não entendia porque, queria saber o resto da história. Me ajoelhei e as segurei nas mãos implorando por mais, porém, não já não falavam mais nada.

Vendo meu desespero, o rapaz pegou minhas mãos e as beijou, dizendo que contaria me o resto da história. Por trás da máscara havia um certo prazer sádico em seus olhos vazios, mas pouco importava para mim, ele iria contar o resto da história. O sorriso branco e afiado surgiu em seus lábios quando não havia resposta negativa vinda de mim.

O homem se levantou e voltamos para o castelo.

Subimos escadas e mais escadas até chegarmos em um quarto, vermelho e preto das portas às janelas. Os braços dele rodearam meu corpo e parte de meu vestido se tornou nada mais que pedaços abstratos de pano. O hálito gélido fez cócegas em minha orelha quando ele perguntou se eu realmente queria saber o final da história, rapidamente respondi que sim e com uma risada levemente maliciosa e sádica suas mãos começaram a percorrer meu corpo.

A história continuou de uma forma diferente.

Uma garota havia chegado no vilarejo, e era tão bela quanto a lembrança deles da beleza do Lorde os ajudavam a lembrar, mas, os camponeses não gostavam do fato de ela ser a estrela do amanhecer que um dia o homem, que lhes dera felicidade e conforto, era antes de colocar a máscara.

Meu vestido, a aquelas altura, já era uma lembrança distante.

As mortes ainda aconteciam a cada Lua Cheia. Doze mortes por ano e doze bilhetes queimados. Entretanto, algumas costureiras aprenderam francês e começaram as fofocas sobre a nova Dama. Ela era a única no vilarejo que sabia francês antes das camponesas aprenderem. Com esses fatos absurdos, as pessoas só vilarejo começaram a hostilizar a pobre jovem, que não entendia nada que estava acontecendo.

Se passaram trinta e seis Luas até tudo piorar. A garota havia recebido um convite para a festa do Lorde após três anos de sua chegada. As solteiras que sempre viveram no vilarejo se correram, pois não era apenas uma carta, era uma proposta de casamento. O vilarejo foi a loucura e as fofocas aumentaram de uma forma estrondosa.

Eu me lembro de perguntar ao rapaz por que a garota era tão suspeita, porém, o frio de seu toque já havia elevado o calor de meu corpo e já não haviam tantos pensamentos coerentes.

Quando minha consciência voltou para a história, ele estava contando uma parte tão perturbadora que o fez apertar meu corpo até sangrar. Lágrimas caiam, mas não eram de dor, a voz dele estava grave e raivosa, acendendo as velas e abrindo as janelas.

As memórias não existiam mais e eu não me importava com isso. Ao final da história, meu corpo, quente e um pouco ensanguentado, foi deitado em uma macia cama. O homem estaca sobre mim e olhava-me com fome e desejo.

‘Temes a mim?’, ele perguntou passando a mão gélida em minha bochecha. Balancei a cabeça dizendo não e então seu sorriso voltou.

‘Você deveria temer’, foi a resposta que ganhei, antes de ver sua máscara cair na cama e meus olhos se abrirem para o teto escuro e solitário.

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