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PARTE 1 - Cap. 4 – Afogando as mágoas

Fred seguiu dirigindo sem rumo e acabou por levá-la para os lados do lago, onde parou o carro. Ela o olhou buscando entender o motivo de ele ter parado. Fred percebeu a indagação estampada em seu rosto e imediatamente, respondeu:

—Você pediu para ir para o inferno. Como não sei onde fica, achei melhor parar aqui. Quem sabe a gente encontra o caminho. – sorriu tentando fazer graça.

Gaby o olhou por alguns minutos processando a fala dele. Em seguida, olhou para a imensidão do lago, abriu a porta e disse descendo do carro:

—Aqui já tá bom!

Fred então, a conduziu até um banco que havia em frente a orla do lago e a fez sentar-se.

—Espere um minuto. – disse calmamente.

Fred atravessou a rua, entrou na distribuidora de bebidas em frente e comprou cerveja. Ao voltar para o banco em que ela estava sentada, ele abriu uma cerveja e lhe entregou. Ela olhou para a cerveja e em seguida o olhou confusa. Ainda havia lágrimas eu seu rosto.

—Você já completou 18 anos, já pode beber! – sorriu sem graça, deixando implícito que beber poderia ajuda-la naquele momento.

—Verdade! - concordou ela pegando a cerveja. —Já sou adulta. – e virou de uma vez, quase tomando todo o conteúdo da lata em um único gole.

—Ei! Vai devagar! – ordenou Fred. —Você não está acostumada a beber.

—Quero beber e afogar minhas mágoas!

Gaby falou abruptamente. Seu olhar parecia estar perdido no horizonte. De forma inesperada, virou mais uma vez a latinha, tomando o resto do conteúdo. —Dê-me outra! – ordenou ela.

—Ok. Mas já te disse para ir com calma. – ele a entregou outra lata e a viu virar mais uma vez.

—Já disse que quero afogar as mágoas. – frisou Gaby.

—Desse jeito aí você vai afogar bem mais que as mágoas. – disse Fred, dando uma pausa para beber um gole da sua própria lata. —Não quer me contar o que aconteceu?

—Peguei Beto transando com Jane no banheiro dele. – Gaby continuava com os olhos fixos no lago.

Ao ouvir aquela revelação, Fred pareceu ter levado uma pancada na cabeça. Em choque com a informação, virou a latinha também. Aquela fora uma informação que mexeu com ele. Seu melhor amigo, com a garota que ele era a fim. Pior que Beto sabia que ele tinha uma queda por Jane, mas parece que aquilo não fazia diferença para o amigo. Afinal ele não se importou em magoar a própria noiva, quem diria um amigo.

—Sinto muito. Agora entendi por que queria ir para o inferno. – disse em voz entrecortada.

Fred pensou consigo mesmo “eu devia ter procurado melhor o caminho do inferno”, mas não verbalizou.

Gaby prosseguiu contando o fato e olhos perdidos no lago.

—Eu destruí o quarto dele. – ela riu com um leve sentimento de prazer mórbido. — E joguei o sapato dela na testa dela.

—Boa de pontaria! Vou ter medo de você. – foi a vez de ele rir e encostou a latinha dele na dela, como se estivessem brindando ao feito.

—Não foi pontaria. Eu joguei nele, mas o desgraçado foi mais rápido e se abaixou. Ela vinha atrás e pegou nela. – riu novamente. —Até que foi bem-feito.

Os dois se entreolharam rapidamente e riram.

—É, mas depois vocês conversam e se acertam como naquele dia da serenata. – disse ele tentando apaziguar aquela situação complicada.

—Não! Não tem mais conversa e não tem mais serenata. Acabou! – disse firme e ferida.

—Entendo.

Ele a deixou falar no tempo dela e a deixou beber também. E ele bebeu junto. Talvez estivessem os dois afogando as mágoas. 

As horas passaram e Gaby foi ficando tonta. Como não tinha comido nada, vomitou. Ele cuidou dela. Foi até a distribuidora de bebidas, comprou água lavou o rosto dela e as mãos. Deu-lhe água para beber. Limpou-lhe o cabelo e parte do vestido. A noite avançou e ela adormeceu com a cabeça em seu ombro.

À beira do lago a temperatura começou a cair. Ela estava apenas de vestido de alcinhas e Fred, preocupado que ela pudesse sentir frio, tirou sua própria camisa e a cobriu.

Quando Gaby acordou, o sol estava nascendo e eles ficaram em silêncio contemplando aquele espetáculo da natureza. De repente ela deu por si de que ele estava sem camisa e ela deitada no peito dele. Constrangida, se levantou e falou:

—Você está sem camisa. – olhou para o tórax dele. Beto era mais forte. Tinha um tórax mais bem definido e sem pelos. Não deixou de comparar. Fred era magrinho. Alto, mas mirradinho.

—A temperatura caiu e eu achei mais certo mantê-la quentinha.

—Obrigada! – disse ela devolvendo a camisa a ele.

—Imagino que esteja com fome. Até porque você colocou para fora tudo que comeu ontem.

—Ah! Nem me lembre. Desculpe-me. – falou constrangida por ter vomitado.

—Imagina, não precisa pedir desculpas. Tô acostumado com bebum. – sorriu.

—Tá certo. Então tive meu dia de bebum. – riu ela.

—Todo mundo tem. – ele riu também. Deu uma pausa e disse: —Seus pais devem estar preocupados. Melhor eu te levar para casa.

—Devem sim, eu deixei o celular em casa.

—Se quiser ligar para eles – disse oferecendo-lhe o próprio celular.

—Não quero! Obrigada!

—E o que vai fazer agora?

—Vou embora! – disse ela categórica.

—Para onde?

—Vou pra Goiânia ou pra Brasília. Aqui não fico mais.

—Tem certeza? – ele queria convencê-la do contrário, porém ela estava decidida.

—Tenho! – falou firme.

—Entendo. Quando vai?

—Hoje. Aliás, melhor eu me apressar. Pretendo pegar minhas coisas antes que meus pais acordem, ou eles não me deixarão ir.

—Ok. Então, vamos! Te deixo na rodoviária. – levantou-se e estendeu a mão à ela.

—Obrigada! - Levantaram-se e foram.

—*—

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