MEU QUERIDO JUÍZ
MEU QUERIDO JUÍZ
Por: Ester
CAP 1

Angeline!

O dia ainda não clareou, toda a comunidade ainda está em silêncio e eu acho que nem os galos já estão acordados a essa hora, mas eu já estou de pé porque geralmente o meu dia já começa bem cedinho, antes mesmo do galo cantar.

Eu nasci e fui criada no morro do Cantagalo, a minha vida inteira eu vivi aqui e metade das coisas que eu sei eu aprendi aqui mesmo, entre os becos e as vielas.  Há Sempre quem diga que o Cantagalo é um lugar ruim para se viver, mas hoje em dia eu não tenho essa visão. O Cantagalo é um lugar lindo, cheio de pessoas boas e crianças talentosas, o que é ruim no morro é toda essa criminalidade que está cada dia mais ceifando vidas de pessoas que tinham um potencial do tamanho do mundo... Eu não vou ser hipócrita em dizer que eu não penso em sair da favela, porque eu penso sim em levar os meus pais para um lugar melhor, mas eu nunca serei capaz de esquecer da vida que eu vivi aqui e de todos os momentos de alegria que essa comunidade já me proporcionou!

Eu estava sentada na minha cama já trocada de roupa penteando meus cabelos quando um som de batidas na porta do meu quarto chamou a minha atenção me fazendo levantar a cabeça rapidamente.

 - Pode entrar!- eu respondi com a minha voz totalmente embargada, 

eu acordei há meia hora atrás e eu ainda estou praticamente dormindo em pé.

Eu estudo no turno da manhã e como a minha faculdade e bem longe daqui eu tenho que acordar cedinho pra não correr o risco de eu me atrasar para a primeira aula. Geralmente eu levanto da cama às cinco da manhã pra eu me arrumar e no fim da história eu ainda saio atrasada de casa todo santo dia. 

A porta do meu quarto foi aberta enquanto eu ainda pensava e minha madrasta, a Dona Elisa entrou no meu quarto com um sorriso fraco olhando para mim com aquela feição de sono estampada em seu rosto.

- Bom dia Angeline! Eu pensei que você não tinha conseguido acordar e fiquei com medo de você se atrasar.- ela me explicou enquanto me olhava com carinho em seus olhos.

A Dona Elisa se casou com o meu pai quando eu tinha apenas oito anos de idade, para mim ela iria ser como as madrastas maldosas que eu via nos filmes da Disney, mas felizmente ela veio melhor que encomenda. A Dona Elisa é como uma mãe pra mim e ela faz questão de me tratar como filha, foi ela que me criou, me educou e me deu todo amor do mundo e eu a amo como se eu realmente tivesse nascido da sua barriga, porque eu realmente sinto como se ela fosse a minha mãe.

 -Eu bem que queria ficar na cama, mas hoje eu não posso nem pensar em me atrasar porque eu tenho prova já no primeiro tempo.- eu falei com ela enquanto me levantava da cama.

- Ahh sim, é bom você chegar no horário certinho pra você não ter nenhum estresse! Eu já vou adiantar um cafezinho bem gostoso para você pra você ir bem nessa prova.- A Elisa falou e saiu da porta do meu quarto sem me dar chance de falar algo.

Ela é sempre assim, ansiosa e BEM apressada... O meu pai sempre diz que é mais fácil fazer um cachorro falar do que a minha madrasta parar por um segundo se quer!

Eu terminei de arrumar os meus cabelos, fiz uma maquiagem "leve" e me vesti com uma roupa um pouco social já que eu tenho uma entrevista de emprego após a faculdade.

Quando eu saí do meu quarto já eram mais de cinco e cinquenta da manhã e eu já estava começando a ficar atrasada... Quando eu digo que eu sou uma pessoa atrasada eu não estou brincando, não mesmo!

- Senta e come alguma coisa!- Elisa falou enquanto mexia em algo alí no fogão.

 - Não dá, eu já estou atrasada e eu também estou de dieta...- eu digo em um tom triste enquanto eu pego uma xícara de café.

O meu peso sempre foi um grande problema pra mim já que todas as minhas amigas, familiares e colegas vestem no máximo trinta e oito... Eu sempre fui a amiga gorda e feia que era sempre deixada de lado, ouvia as críticas e sofria bullying e isso já me trouxe tantos complexos para minha vida adulta, até hoje eu me sinto tão insegura em questão ao meu corpo

e as vezes me machuca muito olhar no espelho. Os meus pais me dizem que eu sou linda e blá blá blá, mas ao me olhar no espelho eu não vejo isso e por esse motivo eu estou sempre em busca de um nível de beleza que eu nunca consigo alcançar!

- Você já vai começar com essa besteira de novo, Angeline? Você é bonita do jeito que você é menina!- ela exclamou enquanto me encarava com as suas mãos na cintura.

- Eu seu Lili, eu sei...- eu falei me sentindo muito envergonhada.

- Você não precisa de dieta alguma para ser linda Angeline e se alguém diz que você precisa disso para ser bonita você precisa urgentemente tirar essa pessoa da sua vida! Você é a menina mais linda que eu já vi em toda a minha vida e eu estou falando de beleza exterior e interior.- ela diz com os seu olhar sobre o meu.

Um sorriso fraco se formou em meu rosto involuntariamente e eu balancei a cabeça sem acreditar na sorte que eu tenho de ter a Elisa em minha vida, essa mulher é um presente!

- Obrigada Elisa, eu me sinto mais aliviada em ouvir isso!- eu falei sendo totalmente sincera.

Dona Elisa sorriu para mim e ela me surpreendeu com um abraço me fazendo sorrir mais ainda.

 - Você é muito especial Angeline, quem tem essa pessoa como você ao lado tem que valorizar muito.- ela diz.

Eu fechei os olhos me aconchegando em seus braços e as suas palavras me afetaram, talvez eu realmente esteja fazendo tudo isso em vão porque eu tenho que fazer o que me faz feliz e não o que as pessoas querem e eu sou tão feliz comendo, mas tão feliz!

Eu saí dos braços da Elisa com um sorriso largo em meu rosto e eu logo a encarei me sentindo tão grata de ter cruzado com ela essa manhã.

- Obrigada pelas palavras Elisa, eu prometo que vou segui-las! Agora é melhor eu ir porque eu já estou um pouquinho atrasada.- eu falei rápido lhe dando um abraço, só que dessa vez bem mais rápido.

Eu me desviei dela pegando o misto quente que estava sobre a mesa, eu deixei um beijo rápido em seu rosto e eu já fui saindo de casa enquanto eu comia.

 - Deus te acompanhe, menina!- eu pude ouvi-la dizer.

- AMÉM!- eu gritei enquanto fechava o portão de casa.

Eu desci o morro correndo, com o meu misto nas mãos, enquanto eu comia e fazia um malabarismo com a minha bolsa que está abarrotada de tantos livros, dá pra imaginar? Essa é a vida de uma universitária!

Quando eu cheguei no ponto de ônibus a condução havia acabado de chegar e eu tive a sorte de não perde-la e ainda por cima ir sentadinha.

O trajeto até o meu ponto durou em volta de meia hora e quando eu desci no meu ponto eu tive que andar por mais quinze minutos... No minuto que eu entrei na faculdade eu não estava nem respirando de tão cansada!

Continua...

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