Na manhã seguinte, o sol mal tinha começado a iluminar a imponente mansão quando Cássia despertou com um propósito claro: resolver de uma vez por todas a situação que vinha assombrando sua vida. Ela não queria perder mais tempo. Ainda de camisola e com os cabelos um tanto desgrenhados da noite anterior, desceu as escadas em direção à sala de estar. Precisava entrar em contato com o advogado de confiança de sua família, o sempre perspicaz Dr. Alberto. Pegou o telefone e, sem hesitar, discou o número dele. A chamada não demorou a ser atendida. Do outro lado da linha, uma voz grave, serena e com aquele tom de quem já havia resolvido muitos problemas difíceis ao longo da vida respondeu: — Dr. Alberto falando. Cássia respirou fundo antes de dizer: — Dr. Alberto? Aqui é a Cássia. Desculpe ligar tão cedo, mas preciso falar com o senhor sobre assuntos urgentes relacionados ao patrimônio dos meus pais e algumas provas que tenho contra meu ex-marido. O advogado, sempre gentil, nem pestane
O dia parecia correr mais rápido do que o normal, como se o próprio tempo estivesse ansioso para testemunhar o que estava por vir. Cássia e Charles mal tiveram um segundo para respirar, imersos nos preparativos de uma noite que prometia ser inesquecível – não pelos brindes, pelas danças ou pelos vestidos luxuosos, mas pela queda espetacular de um homem que acreditava estar acima de tudo e de todos. Henrique seria exposto em meio à elite da cidade, diante de empresários influentes, políticos astutos, socialites de riso fácil e, claro, da imprensa. O palco perfeito para transformar um vilão em espetáculo. O plano era ousado, mas eficiente: com a ajuda da equipe de Charles, eles fariam a exibição pública de provas irrefutáveis contra Henrique, incluindo uma gravação bombástica que acabara de chegar às mãos deles naquela tarde. Cássia e Charles se trancaram na biblioteca da mansão assim que o arquivo foi entregue. O ambiente carregava uma tensão densa, cortada apenas pelo som do vídeo
Cássia estava diante do espelho, ajustando os brincos enquanto respirava fundo. O nervosismo dançava em seu peito, como borboletas inquietas. Molie, sempre atenta, ajeitava os últimos fios de cabelo da amiga com precisão. A porta do quarto se abriu suavemente, e Charles entrou. Seu olhar percorreu a silhueta de Cássia no vestido elegante, e um sorriso terno se desenhou em seus lábios. — Estou indo — avisou ele, caminhando em sua direção. Antes que ela pudesse responder, ele segurou seu rosto com delicadeza e depositou um beijo suave em seus lábios, um toque breve, mas cheio de significado. Molie, que observava a cena do canto do quarto, sorriu com diversão, levantando uma sobrancelha. Charles se afastou lentamente, olhando nos olhos de Cássia. — Nos vemos lá. Confie em você. E então, sem esperar resposta, ele se virou e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. O silêncio ficou suspenso no ar por um segundo. Cássia ainda sentia o calor do toque dele, quando Molie se aproximo
Do lado de fora, oculto pelas sombras da noite, Charles permanecia atento. Seu olhar percorria o entorno da mansão, analisando cada detalhe com precisão cirúrgica. Tudo parecia sob controle, exceto por um detalhe inquietante: ele havia perdido o contato com uma de suas agentes. Gabriela. A mulher de cabelos negros e olhar afiado, sempre pontual, sempre impecável. Charles a conhecia bem. Encontrou-a dias atrás em uma cafeteria, onde trocaram informações sobre a operação, e ela, como de costume, manteve aquela postura confiante. Nunca se atrasava. Nunca falhava. Mas agora, seu rádio estava mudo. Nenhuma resposta. Nenhum sinal. Isso era um problema. Charles franziu o cenho, apertando o pequeno comunicador em seu ouvido. — Gabriela, responda. Qual a sua posição? Silêncio. A tensão em seu peito aumentou. Ele conhecia bem sua equipe, e Gabriela não era do tipo que simplesmente desaparecia. Algo estava errado. Muito errado. Ele tentou mais uma vez. — Gabriela, se está me ouvindo, re
Foi questão de segundos. Os olhares começaram a se virar um a um. Primeiro, alguns convidados distraídos perceberam e arregalaram os olhos. Em seguida, os fotógrafos, que imediatamente começaram a disparar flashes em sua direção. O burburinho aumentava a cada passo que ela dava. — Ela não estava morta? — Pensei que tivesse morrido. — Isso não pode ser real… É a Senhora Belmont? As vozes sussurradas se espalharam como fogo em pólvora. A incredulidade se misturava com espanto e admiração. Afinal, o nome de Cássia Belmont havia estampado manchetes quando foi dada como morta, e agora ela estava ali, viva, radiante, como uma aparição vinda do além — mas com um propósito bem real. Henrique foi um dos últimos a perceber o que estava acontecendo. Ele ainda ria de algo que acabara de dizer quando notou o silêncio ao seu redor. Franziu o cenho, sentindo a atmosfera mudar. Algo estava errado. Quando se virou, encontrou Cássia parada à sua frente. Linda. Impecável. Sorrindo suavemente. P
O som das portas se fechando ressoou pelo salão como um golpe de martelo. Um estalo seco. Definitivo. Os olhares se voltaram para os imensos portões duplos agora selados. Nenhuma entrada. Nenhuma saída. A festa de gala, antes repleta de risadas e brindes, mergulhou em um silêncio pesado, sufocante. O brilho das joias, dos vestidos luxuosos e dos ternos impecáveis nada significava diante do que estava por vir. Então, passos firmes ecoaram pelo ambiente. Um homem de terno escuro atravessou a multidão, seu olhar afiado fixo em um único alvo. Henrique. — Henrique Belmont — a voz de um agente soou alta e clara, rompendo a tensão no ar —, você está preso. O tempo pareceu desacelerar. O ar do salão, antes perfumado por champanhe e arrogância, agora exalava medo. Henrique mal teve tempo de reagir. Sentiu o aperto firme no braço quando foi imobilizado, mas sua mente ainda lutava para processar o que estava acontecendo. — Você está sendo indiciado por tentativa de homicídio, corrupção
O calor da mão de Molie apertando a sua fez Cássia sair do torpor momentâneo. Ela piscou algumas vezes, tentando organizar seus pensamentos, enquanto seu coração batia mais rápido do que gostaria. — Cássia… — Molie disse, a voz baixa, mas firme. — O Charles me disse que precisava encontrar o Dimitri. Aquelas palavras caíram como um peso sobre os ombros de Cássia. Dimitri. O nome ecoou em sua mente, carregado de mistério e preocupação. Antes que pudesse perguntar mais alguma coisa, dois homens se aproximaram. Seus passos eram calculados, seus olhos atentos ao redor. Marco e Bruce, membros de confiança da equipe de Charles. — Senhora Belmont — Marco começou, com a postura rígida e profissional. — Charles nos pediu para acompanhá-la até em casa e garantir sua segurança. Cássia franziu a testa. — Segurança? Mas por quê? Bruce, um homem alto e de olhar sério, trocou um rápido olhar com Marco antes de responder: — O Charles disse que a noite ainda não acabou. Aquela frase fez um ar
Assim que Cássia, Molie e James entraram na casa, foram recebidos por um silêncio quase assustador. O eco de seus passos ressoava pelo enorme hall de entrada, tornando o ambiente ainda mais sombrio. Molie franziu a testa e olhou ao redor como se esperasse que, a qualquer momento, a governanta aparecesse de trás de um dos enormes móveis polidos. — Tá... Isso tá esquisito — comentou, cruzando os braços. — Onde estão os empregados? Esse silêncio está me dando arrepios. Cássia suspirou e passou a mão pelos cabelos, sentindo o peso da noite finalmente desabar sobre seus ombros. — O Marco estava vigiando a casa desde cedo e disse que Henrique dispensou todo mundo. Molie arregalou os olhos. — Como assim todo mundo? Nem uma alma viva? — Nem um gato para miar — confirmou Cássia, caminhando até a sala de estar. James, por sua vez, parecia bem mais tranquilo. Ele olhou para o imenso sofá de couro, analisou por um breve instante e, sem cerimônia, se jogou nele como se fosse dono da casa.