SARAH
Já se passaram três semanas e meu namorado desapareceu completamente. Não fez contato, não deixou nenhum recado explicativo, e estou perplexa com essa atitude, já que nunca se comportou dessa maneira anteriormente. Tia Mara mencionou que alguém da família o levou. Contudo, de que forma. Ele omitiu o fato de possuir parentes e de informar sua partida. Por que razão ele agiu dessa maneira em relação a mim? Partiu dessa forma, enganando e insistindo que eu era sua prioridade, o que revela que seu amor não era verdadeiro. Não compreendo essa situação e continuo chorando desde aquele dia. Estou experimentando sensações desconfortáveis e nauseantes, tudo o que ingiro acaba sendo expelido e não tenho ideia do motivo. Acredito que estou enfrentando algum problema de saúde. É importante mencionar que estou me sentindo indisposto para às minhas tias, talvez esteja com uma enfermidade transmissível e não desejo que as crianças contraiam. Que horror, que doença será não posso chegar perto delas, pois tenho um carinho imenso por essas crianças. Se eu tivesse a oportunidade, faria de tudo para oferecer a elas um lar mais acolhedor, porém, é bastante desafiador ser adotado. Eu posso afirmar isso com toda convicção! Ainda aguardo a chegada de uma família disposta a me acolher. Sigo confiante de que um dia partirei daqui ao lado do Nicolas, afinal, prometemos nunca abandonar um ao outro. Qual é o assunto em questão? Ele partiu sem minha companhia! Qual o motivo da sua atitude em relação a mim? É impossível conter as lágrimas, se pudesse, permaneceria eternamente no meu quarto, tamanho é o peso da dor que sinto. Não desejo guardar rancor eterno por sua atitude em relação a mim. Deito na minha cama sentindo-me péssimo quando a tia cruel adentra o quarto. Meu Pai Celestial, ela tem aversão a mim! Desconheço os motivos que a levam a nutrir tanto ódio por mim, chegando a utilizar a violência física e palavras ofensivas como "mulata nojenta". Eu não tenho outro nome para ela a não ser "mulatinha". — Por que você continua deitada nessa cama de forma tão estranha? Está se sentindo mal? — questiona com um tom de superioridade desagradável. Oh, que calamidade! — Peço desculpas, madame, estou me sentindo um pouco enjoada, não consigo comer nada, entende. Estou me sentindo muito mal e nem consigo me levantar. Mas logo vou me recuperar para realizar minhas tarefas, fique tranquila! — Como é possível, jovem? Mal-estar? Desde quando isso começou e quando você menstruou? Você está ciente das normas da instituição, não está? Se estiver esperando um bebê, precisará sair imediatamente, pois não aceito comportamentos inadequados neste ambiente! É sabido que aqui não é permitido relacionamentos entre meninos e meninas, e aparentemente você desrespeitou essa norma, não é mesmo?! Como assim grávida? Ela só pode estar louca! Eu estou grávida? Tenho apenas dezesseis anos, é realmente possível que eu esteja grávida? Oh, céus, isso não pode estar acontecendo comigo, não posso acreditar que estou grávida! Ainda que não empregasse nenhum recurso para evitar. E como ia usar? Eu nunca tinha feito sexo e a ideia de engravidar nem me passava pela cabeça, apesar de eventualmente ouvir a professora mencionar o assunto, simplesmente não tinha fixado essa informação. O que devo fazer, qual será o meu destino? Desconheço qualquer pessoa, não possuo um lar para me abrigar, e nem mesmo possuo qualquer parente próximo. Por gentileza, que não esteja em estado de gestação. Não posso estar grávida, pois como irei cuidar do meu filho? Caramba! Isso definitivamente parece ser um sonho ruim. Está esperando um bebê? Qual será minha contribuição para essa criança? Não possuo absolutamente coisa alguma. Meu Senhor, que eu não esteja esperando um bebê, não possuo recursos para oferecer a essa criança. Estou chorando sem saber como agir caso esteja mesmo esperando um bebê. Mesmo que busque por uma saída, não encontro nenhuma solução. Não possuo nenhum sobrenome para compartilhar com essa criança, pois fui deixada neste local sem identificação. As tias que me acolheram me deram o nome de Sarah, e mesmo sem sobrenome, eu aprecio muito o meu nome. Quando alcançar a maioridade, pretendo alterar esse aspecto, buscando um sobrenome que possa utilizar em minha documentação. Será uma tarefa complicada realizar esse feito? Não estou interessado em pensar sobre isso neste momento. Apenas tenho familiaridade com esse abrigo, aqui em Campo Grande, tenho pouca familiaridade com outros locais neste bairro. Fico pensando no que farei se não conheço completamente o bairro onde vivi por tantos anos, pois, quando íamos explorar outro local, as cuidadoras nunca nos deixavam sozinhos com medo de nos perder. Certo dia, eu e Nicholas decidimos fazer algumas fotos juntos, sem que as tias soubessem. Elas tinham essa regra de não deixar meninos e meninas se misturarem, preferiam sempre separá-los. — Senhora, não estou esperando um bebê, sou virgem. Como posso estar grávida? Que Deus me perdoe, mas não posso ir para rua de jeito nenhum. — Descobri outra informação, jovem mentirosa. Você está esperando um bebê e terá que sair imediatamente, entendeu? "Eu vou buscar o exame de gravidez. Você precisa fazer, afinal, ficou com o rapaz, Nicholas, estou ciente de toda a situação.". “Eu alertei que o objetivo dele era apenas esse: tirar a sua virgindade e acabar te deixando grávida.” “A essa altura, o garoto está em ótima situação, distante de Recife e de sua presença.” “Ele desfrutará de uma existência muito mais próspera distante de sua presença.” “Foi uma atitude ingênua confiar em um garoto, apesar de eu sempre ter alertado para não confiar neles.” “Agora saia às ruas carregando um bebê em seu ventre e veremos como você irá lidar com essa responsabilidade!” "É preferível interromper a gravidez do que permitir que mais uma criança seja abandonada neste mundo, sua jovem mulata inocente!" Ela se expressa de forma irônica. Essa mulher está totalmente desequilibrada, pois não estou esperando um bebê e mesmo que estivesse, não abriria mão da minha criança, nem consideraria interromper a gravidez. Essa desequilibrada deve ser maluca. Ela nunca teve simpatia por mim. — Por que ele se encontra distante? Ele estava sem companhia e sem destino. Qual o lugar para onde vocês o enviaram? Diga-me onde ele está que irei procurá-lo, por gentileza, e não estou esperando um bebê. — Não direi nada, moça, precisa levantar logo e se ocupar com suas tarefas sem derramar lágrimas. Não te criei para ser uma pessoa preguiçosa, então vá logo para a cozinha e não me faça esperar, nem me exponha ao seu choro. Estou chorando e me levanto ainda mais abalada, pois estou em busca de uma tia que compreende, já que a outra me detesta e às vezes me parece que ela se diverte em ser cruel com as crianças, vai entender. Direciono-me em direção à cozinha, sentindo todos os olhares sobre mim.SARAHImagino que todos já saibam da minha relação com Nicholas. Assim como devem estar cientes de que ele simplesmente me abandonou sem uma única explicação.Eu te odeio!— O que foi, querida? — a voz carregada de ironia de Raíssa me atinge como um golpe. — Está sentindo falta do Nicholas? Acha que ele nunca mais vai voltar porque agora tem uma vida muito melhor do que a sua?A raiva fervilha dentro de mim. Apenas encaro aquela garota que sempre fez questão de me desprezar sem motivo algum.— Você sabe onde ele está, não sabe, Raíssa? — pergunto, tentando manter a calma. — Pode me dizer, por favor?Ela sorri, um sorriso frio e venenoso.— E se eu soubesse? — Ela dá de ombros, se divertindo com a minha angústia. — Não te contaria, sua patética.Por que essa garota me odeia tanto? O que foi que eu fiz para merecer essa hostilidade? Sempre foi assim. Desde o primeiro dia em que nos conhecemos.Ignoro a dor crescente no peito e me afasto, ocupando-me com as tarefas do dia. O tempo passa,
SARAAinda não sei qual será minha estratégia, mas sei que preciso ser forte."Tenha pensamentos positivos, Sarah. Isso só trará benefícios para você."Respiro fundo e tento manter essa ideia na mente.O abrigo onde estou agora não é bonito, mas ao menos tenho um teto sobre minha cabeça. Isso já é um alívio. Meu plano é conseguir um trabalho, economizar e, com o tempo, alugar um lugar para viver com meu bebê.Já faz uma semana que estou aqui. Tenho comida, um lugar para dormir, mas ainda não encontrei um emprego. Minha idade dificulta as coisas. Cada dia sem uma solução me deixa mais ansiosa.Preciso agir.Uma senhora do abrigo concordou em me levar até a escola para tentar fazer minha matrícula. Preciso concluir meus estudos. A educação sempre foi importante para mim, e se quero um futuro melhor para mim e meu filho, preciso lutar por isso.Quando chegamos à escola, a funcionária da administração me olha de cima a baixo, com uma expressão séria.— Documentação? — ela pergunta.— Eu…
SARAHO tempo passou, e meu ventre começou a crescer, tornando impossível esconder a evidência de uma nova vida se formando dentro de mim. Cada vez que olhava para minha silhueta no espelho, sentia uma mistura de medo e encantamento. Era real. Eu carregava um filho no ventre, um ser que não tinha pedido para vir ao mundo, mas que já era tudo para mim.A surpresa nos olhos das pessoas era inevitável, mas ninguém demonstrou tanto espanto quanto Michelle. Eu não tive coragem de contar sobre a gravidez antes, e quando ela finalmente descobriu, sua expressão foi um misto de choque e empolgação. Para minha surpresa, ao invés de me julgar, ela sorriu com sinceridade e disse, com entusiasmo, que adoraria ser madrinha do bebê.A senhora Adriana, no entanto, ficou boquiaberta. Ela não disfarçou a incredulidade ao saber que eu, tão jovem, estava prestes a ser mãe. Seu olhar era um misto de preocupação e compaixão, mas diferente do que eu esperava, ela não me condenou. Pelo contrário, logo se pro
SARAHNa sala de aula, os olhares curiosos me acompanhavam a cada movimento. Algumas colegas cochichavam, disfarçando sorrisos maldosos. Eu era a única jovem grávida da escola, e isso parecia dar a elas o direito de me julgar.Não era preciso ouvir as palavras para entender o que diziam. "Piranha", "irresponsável", "se meteu nessa sozinha". Eu já conhecia todos esses rótulos.Mas não me importava.Ergui a cabeça, segurei o lápis e me concentrei nos estudos. Eu não precisava da aceitação delas. Meu foco estava em garantir um futuro digno para mim e para meu bebê.Assim que a aula terminou, peguei meus materiais e saí sem olhar para ninguém. Nenhuma delas fazia questão de falar comigo, então por que eu deveria me importar?A verdade é que, por dentro, havia momentos em que queria gritar, confrontá-las, jogar suas palavras venenosas de volta. Mas não valia a pena. Eu não podia me permitir esse tipo de estresse. Meu bebê precisava de tranquilidade, precisava de uma mãe forte.Os meses se
SARAHDez anos depois...Aos vinte e seis anos, posso finalmente dizer que alcancei um dos meus maiores sonhos. Conquistei meu diploma em gastronomia e hoje sou chef em um dos restaurantes mais renomados da cidade. Cada prato que criei carrega o peso da minha jornada, das dificuldades que enfrentei, das noites sem dormir e das lágrimas que derramei pelo caminho.Mas a maior de todas as minhas conquistas não está na cozinha. Ela tem um nome, um sorriso iluminado e olhos azuis que brilham como o céu ao amanhecer. Lunna. Minha filha. Minha razão de existir.Ela é inteligente, esperta e amorosa. Tão jovem e já é capaz de cativar todos ao seu redor. Suas tias, Michelle e as outras meninas, são completamente apaixonadas por ela, e não é para menos. Lunna tem um jeito único de enxergar o mundo, e a cada dia me ensina mais sobre a vida do que qualquer diploma poderia.Mas, como sempre, a sociedade insiste em problematizar aquilo que não entende.— Nossa, que menina linda! Mas não parece nada
SARAHDesconheço a razão pela qual Lunna tem essa necessidade de ter um pai presente, de conhecê-lo. Esse desejo vem desde muito pequena. Ela nunca deixou de questionar sobre ele, e eu sempre respondi com a verdade: não sei onde ele está, se está bem ou se algo de ruim aconteceu com ele.E, apesar de tudo, desejo que ele esteja bem. Nunca o odiei. Nunca desejei mal algum a ele, mesmo que tenha escolhido se afastar.— Perdão, meu amor, esses dias o restaurante está uma loucura e acabo chegando tarde… Mas fique tranquila, vai melhorar, eu te prometo. Suas tias estão cuidando bem de você, te mimando e te buscando na escola — digo, tentando mudar o foco da conversa.Evito mencionar o pai. Não quero pensar nele.Lunna cruza os braços e suspira.— Mamãe, você sempre fala isso…Seus olhos azuis carregam um leve tom de frustração. Sei que ela sente minha ausência, mas o que posso fazer? Trabalho duro para garantir que ela tenha tudo do bom e do melhor.— Agora vou terminar de ver meu filme so
NICHOLASA beleza da minha Sarah era incomparável. Sua pele morena e seus cachos naturais a tornavam uma visão única, como se tivesse sido esculpida pelos deuses. Para mim, ela era a definição de perfeição, e meu amor por ela era avassalador.No orfanato, minha conexão com ela sempre foi mais forte do que com qualquer outra pessoa. Os outros internos apenas se dedicavam a zombar de mim, discutir e me chamar de feio e magrelo. E eu era magrelo mesmo. Pálido e esquálido, tão magro que minhas costelas eram visíveis sob a pele fina. Mas Sarah nunca se importou com isso.O que eu não entendia era o prazer que algumas pessoas sentiam ao encontrar falhas nos outros. Desde pequeno, aprendi que o mundo era cruel, que o rótulo de "fraco" era imposto por aqueles que queriam se sentir superiores. Mas Sarah… ela era diferente. Ela via além.Fui levado ao orfanato aos seis anos de idade. Ainda me lembro da última vez que vi minha mãe. A cena está gravada em minha memória como uma ferida aberta que
NICHOLASEla era a minha maior tentação. Meu desejo proibido.Queria tê-la para sempre ao meu lado, envolta nos meus braços, entrelaçada ao meu destino. Meu pedido de namoro foi aceito, e com ele veio a promessa de uma noite em que nos pertenceríamos de corpo e alma. Eu ansiava por esse momento, e saber que ela compartilhava do mesmo desejo apenas intensificava minha expectativa.No entanto, algo dentro de mim alertava que estávamos nos movendo rápido demais. Mas como conter essa urgência, esse fogo que me consumia por dentro? Meu corpo clamava pelo dela, e eu não podia mais adiar.No dia seguinte, meus olhos a encontraram em meio às suas tarefas rotineiras. Seus gestos delicados, a suavidade com que movia as mãos… tudo nela me encantava. Ao perceber meu olhar, ela ergueu os olhos escuros para mim, e eu lhe pisquei com cumplicidade. Apesar da minha timidez natural, ao lado dela eu me sentia livre para ser quem sou.A espera parecia eterna, mas finalmente chegou o momento de nos encont