NICHOLASA beleza da minha Sarah era incomparável. Sua pele morena e seus cachos naturais a tornavam uma visão única, como se tivesse sido esculpida pelos deuses. Para mim, ela era a definição de perfeição, e meu amor por ela era avassalador.No orfanato, minha conexão com ela sempre foi mais forte do que com qualquer outra pessoa. Os outros internos apenas se dedicavam a zombar de mim, discutir e me chamar de feio e magrelo. E eu era magrelo mesmo. Pálido e esquálido, tão magro que minhas costelas eram visíveis sob a pele fina. Mas Sarah nunca se importou com isso.O que eu não entendia era o prazer que algumas pessoas sentiam ao encontrar falhas nos outros. Desde pequeno, aprendi que o mundo era cruel, que o rótulo de "fraco" era imposto por aqueles que queriam se sentir superiores. Mas Sarah… ela era diferente. Ela via além.Fui levado ao orfanato aos seis anos de idade. Ainda me lembro da última vez que vi minha mãe. A cena está gravada em minha memória como uma ferida aberta que
NICHOLASEla era a minha maior tentação. Meu desejo proibido.Queria tê-la para sempre ao meu lado, envolta nos meus braços, entrelaçada ao meu destino. Meu pedido de namoro foi aceito, e com ele veio a promessa de uma noite em que nos pertenceríamos de corpo e alma. Eu ansiava por esse momento, e saber que ela compartilhava do mesmo desejo apenas intensificava minha expectativa.No entanto, algo dentro de mim alertava que estávamos nos movendo rápido demais. Mas como conter essa urgência, esse fogo que me consumia por dentro? Meu corpo clamava pelo dela, e eu não podia mais adiar.No dia seguinte, meus olhos a encontraram em meio às suas tarefas rotineiras. Seus gestos delicados, a suavidade com que movia as mãos… tudo nela me encantava. Ao perceber meu olhar, ela ergueu os olhos escuros para mim, e eu lhe pisquei com cumplicidade. Apesar da minha timidez natural, ao lado dela eu me sentia livre para ser quem sou.A espera parecia eterna, mas finalmente chegou o momento de nos encont
NICHOLAS Dois meses antes, minha vida tomou um rumo inesperado. Um homem me contatou, alegando ser meu pai biológico. Ele dizia ter conhecimento da minha existência há muito tempo, mas que minha mãe desaparecera comigo sem deixar rastros. Ao buscá-la, soube de sua morte.— De que forma ela se foi? — perguntei, sentindo um aperto sufocante no peito.— Ela estava doente e usou todo o dinheiro que eu enviava para se tratar.Minhas mãos se fecharam em punhos. Como acreditar em um homem que surgia do nada, anos depois, contando uma história que me soava conveniente demais? Eu não confiava nele. E, acima de tudo, não deixaria Recife.Havia alguém ali que precisava de mim: Sarah.Eu jamais a abandonaria. Nunca.Quando ele insistiu para que eu fosse com ele para outro país, fui categórico: — Só embarco se Sarah for comigo. Caso contrário, esqueça.Meu amor por ela era inquestionável. Era nosso sonho construir uma vida juntos, uma família. Conversamos tantas vezes sobre isso… E eu acreditava
NICHOLAS Estou na sede do restaurante mais renomado da Espanha, um lugar onde a sofisticação e a exclusividade se misturam ao aroma irresistível dos pratos meticulosamente preparados. O lounge anexo exibe um bar completo, oferecendo desde os drinks mais clássicos até criações inovadoras que atendem aos desejos refinados da clientela.Enquanto observo a movimentação elegante ao meu redor, sinto um misto de satisfação e inquietação. Minha trajetória nos negócios sempre foi marcada por estratégias certeiras e investimentos bem-sucedidos. Hoje, lidero uma rede de estabelecimentos gastronômicos que se destacam pelo luxo e excelência. Mas, ironicamente, estou prestes a embarcar para o Brasil, um país que carrega lembranças que preferia deixar para trás.Talvez seja uma maldição do universo, um ciclo vicioso do qual não consigo escapar. Ainda me lembro de Sarah. A mulher que sonhava em ser uma chef renomada, que falava sobre gastronomia com um brilho nos olhos que, na época, achei encantado
NICHOLAS Não sei se a palavra certa é ódio, mas é isso que sinto desde o momento em que a vi com outro. Pensando bem, talvez ela também me despreze. Afinal, eu fui embora sem me despedir, sem dar uma explicação, depois de pedir que ela me esperasse no nosso lugar secreto.Prometemos que estaríamos juntos. Mas a traição dela... essa eu não consegui perdoar.E, ainda assim, me pego pensando…O que ela queria me dizer naquele dia?Será que havia uma explicação plausível para o que vi? Ou pior… será que me precipitei?Por que diabos estou tendo esses pensamentos?Sempre acreditei que a conhecia por completo. Ela costumava seguir minhas orientações, trocávamos confidências o tempo todo. Eu sempre tive o controle. Como não percebi que Sarah já não era a mesma?Deveria ter notado os sinais. O desinteresse. A distância. A falta de desejo por mim. Mas… a maneira como se entregava, os sons que escapavam dos seus lábios… era tudo real? Ou apenas uma ilusão que escolhi acreditar?Desde que chegu
NICHOLASEmma sempre foi minha fortaleza. Desde que entrei nesta casa, quando ainda era um garoto ferido pelos abusos constantes do meu pai, foi ela quem me acolheu. Agora, a mansão é minha. Tomei posse do que me pertence e enviei aquele homem para bem longe. Mas, apesar da distância, o ressentimento que carrego dentro de mim não desaparece tão facilmente.Emma insiste que preciso deixá-lo para trás, mas como se esquece uma cicatriz que ainda queima? Ela pode não ter o mesmo sangue que ele, mas, de certa forma, teve uma sorte que eu nunca tive. Meu pai sempre a tratou com carinho ironia cruel da vida. Ela chegou aqui já adolescente, rejeitada pelo próprio pai biológico, e mesmo assim encontrou nele algo que eu jamais conheci: afeto.Enquanto eu me atirei nos negócios para superar a raiva, ela construiu sua própria vida, longe da sombra do nosso pai. Nunca quis nada que viesse dele. Hoje, é uma mulher independente, dona de um empreendimento bem-sucedido, uma guerreira.Meu celular vib
NICHOLASNão faço ideia do motivo que me levou a concordar com essa viagem ao Brasil. Fechar esse acordo é importante para os negócios, mas a simples ideia de voltar àquele lugar me dá nos nervos.Talvez seja loucura. Algum tipo de distúrbio. Foi o que as crianças do orfanato costumavam dizer. Elas achavam que eu era estranho, principalmente por estar sempre ao lado de Sarah.Mas o que elas sabiam sobre a vida?Sarah era a única coisa boa naquele inferno. Passar meu tempo com ela fazia tudo parecer menos cruel. Ela era minha paz em meio ao caos.Agora, anos depois, estou prestes a pisar naquele país de novo. E tudo já está preparado. O hotel foi reservado, os compromissos estão alinhados, e minha mala está pronta para essa maldita viagem.Mas como se isso não bastasse, Manu decidiu que quer ir junto.Isso complica tudo.Tenho quase certeza de que ela não sabe que David também vai. E se soubesse, talvez pensasse duas vezes antes de insistir.Minha irmã sente algo por ele. Isso está óbv
SARAHA cozinha está fervilhando de atividade. O calor intenso dos fogões, o tilintar dos utensílios e o aroma marcante das especiarias preenchem o ar, criando um ambiente caótico, mas deliciosamente familiar para mim. Este é o meu reino, onde dou vida a pratos que encantam paladares exigentes.Hoje, o restaurante está lotado. Visitantes de fora vieram experimentar as iguarias mais refinadas do cardápio, e a responsabilidade de preparar esses pratos está inteiramente sobre mim. Cada detalhe precisa ser impecável, pois qualquer deslize pode comprometer a reputação deste lugar.— Sarah, hoje parece que vai ser animado, hein? Olha o tamanho dessa mesa! Deve ter lugar para umas vinte pessoas! Vamos trabalhar bastante hoje — diz Sabrina, minha colega de trabalho, cheia de energia.— Sim, e os pratos que estou preparando são os mais caros do cardápio. Hoje o restaurante vai faturar mais do que em qualquer outro dia… Melhor para nós, que ganhamos uma boa comissão — respondo, concentrada em f