SARAHPor que ele está me punindo dessa forma? Depois de tantos anos em silêncio, surge agora, ameaçando me separar da minha filha? Minha Lunna, a razão da minha existência, o maior tesouro que a vida me deu. Como ele pode ser tão cruel ao ponto de querer tirá-la de mim?Dez anos. Dez anos de ausência. Dez anos em que fui tudo para minha filha. E agora, como se tivesse algum direito sobre isso, ele surge exigindo algo que nunca fez questão de ter: a paternidade.É inacreditável. Revoltante.Eu queria que ele desaparecesse, que nunca tivesse voltado. Mas sei que não será tão simples. Ele não vai desistir. Vai lutar por isso, como se minha dedicação não tivesse sido suficiente. Como se o amor que derramei sobre minha filha durante todo esse tempo pudesse ser simplesmente substituído por uma aparição tardia.E o pior de tudo? Minha filha está encantada.Ela entra na sala, os olhos brilhando de expectativa.— Mamãe, é verdade que vamos morar com o papai?Meu peito se aperta. A cada palavr
SARAHVou ligar para as minhas amigas. Se tenho que partir, quero passar esse tempo com elas, que foram como irmãs para mim. Assim que conto o que está acontecendo, peço que venham o mais rápido possível. Elas dizem que logo estarão aqui. Agora preciso conversar com minha filha e começar a arrumar as malas. Não vou deixá-la para trás.Aqui está a frase corrigida:As minhas amigas chegaram e começo a contar a elas tudo que aconteceu, o que ele falou e tudo que falaram para ele no orfanato.— Diga que não vai seguir por esse caminho, Sarah! — a voz de Michelle sai aflita, quase uma súplica. — Você não deve fazer isso, amiga. Deixe que ele recorra à justiça; ele não conseguirá a guarda da Lunna.— Durante dez anos, você cuidou, educou e sustentou sua filha, enquanto ele simplesmente desapareceu. Ele a abandonou. Você não vai perder a custódia dela. Não cometa o erro de seguir as ordens desse homem insensato! — Fernanda reforça, indignada.— Ele deve estar louco! — Michelle explode. — De
NICHOLASAo sair da casa de Sarah, uma enxurrada de pensamentos invade minha mente. O desejo de fazê-la sentir a mesma dor que me consumiu por dez anos me corrói por dentro. Mas logo percebo a verdade amarga: por mais que eu queira, não há como feri-la do jeito que fui ferido.Ela é a responsável pelo meu sofrimento. Cada escolha, cada mentira e cada omissão a trouxeram a esse momento. E eu pretendo cobrar cada lágrima que derramei, cada noite de tormento em que me perguntei por que não fui suficiente. Minha razão grita que seguir adiante seria mais fácil, mas o rancor fala mais alto. Estou disposto a ver Sarah pagar pelo que fez.Eu poderia simplesmente esquecê-la, mas como ignorar a traição que me destruiu? A imagem de Felipe, despido, tocando-a com intimidade, está cravada em minha mente. O gosto amargo da decepção ainda queima em minha garganta. Se ao menos eu pudesse apagar aquele dia... talvez minha história tivesse sido diferente. Talvez, Sarah e eu tivéssemos criado nossa filh
NICHOLAS Ela vai pagar por isso, de uma forma ou de outra.Talvez eu não consiga separá-la de nossa filha, mas preciso encontrar outro modo de acertar as contas. Algo que a faça entender o que causou em mim. Não quero uma vingança cruel, mas ela precisa, ao menos, sentir um vislumbre da dor que me fez suportar. Quero que saiba que também sou vulnerável, que tenho sentimentos, ao contrário de meu pai, que agora tenta se redimir justificando suas atitudes passadas como sendo “para o meu bem.”Hipócrita.Ferir alguém com a desculpa de protegê-lo nunca foi um consolo para mim. Na verdade, só torna a dor ainda mais cruel, como se me lembrasse a cada instante do que fui forçado a suportar.Meu pai costumava me punir de formas brutais, me privando de comida, me trancando no escuro por horas, apenas porque não dei a resposta correta para uma questão da escola. Foram tempos de lágrimas, sofrimento e fome. Mas, hoje, a única pessoa capaz de arrancar lágrimas de mim é minha filha. Só por ela ai
EMANUELLANicholas voltou.E, como se não bastasse seu retorno inesperado, ele veio exigindo o que nunca lhe pertenceu. Ele acredita que pode simplesmente levar nossa Lunna embora. Que audácia! Se dependesse de mim, ele já estaria em pedaços, pagando por cada ano de ausência como deveria.O silêncio na sala é sufocante. O ar pesa ao meu redor enquanto encaro Sarah, tentando encontrar um resquício de certeza em seu olhar. Mas tudo o que vejo é hesitação.— Como você pode aceitar isso tão facilmente, Sarah? — Minha voz sai mais cortante do que pretendia, carregada de incredulidade e raiva contida.Ela baixa a cabeça, evitando meu olhar. Seus dedos brincam nervosamente uns com os outros, um hábito que só aparece quando sua mente está um turbilhão.— Eu não aceitei, Manu… Eu só… — A voz dela falha, e minha paciência se esgota.— Você ainda ama esse homem.O silêncio que se segue é quase ensurdecedor.Fernanda, que estava ao meu lado, aperta minha mão de leve, num pedido mudo para que eu m
NICHOLASO maldito passado não me deixa em paz.Minha mente insiste em me arrastar de volta para aquele momento. O instante em que Sarah descobriu que estava grávida. Ela era tão jovem... apenas uma adolescente, enquanto eu já era um homem feito. Eu deveria ter sido mais responsável, mais cuidadoso, mas foi nossa primeira vez. E tudo o que importava era estar com ela.Nos braços dela, eu encontrava o meu lar. Seu toque, sua voz, seus sussurros apaixonados me envolviam como um feitiço, Sarah era minha perdição e minha salvação. Ela me amava de um jeito que eu nunca achei que fosse possível. E eu... eu a amava mais do que conseguia admitir, mais do que deveria.Sete meses. Sete meses ao lado dela, mergulhando na paixão, perdendo-me em seu corpo, em seus beijos, em seus olhos brilhantes que sempre pareciam enxergar além das minhas máscaras. Foram os meses mais intensos da minha vida.E agora? Agora eu me vejo aqui, sozinho, praguejando contra a minha própria mente.Inferno!Por que essa
LUNNAMeu nome é Lunna, tenho dez anos, e o meu maior desejo sempre foi conhecer o meu pai.Amo minha mãe profundamente. Ela é tudo para mim: minha amiga, minha protetora, minha heroína. Nunca me faltou amor, carinho ou dedicação, mas existe uma lacuna dentro de mim que nunca foi preenchida: o rosto desconhecido do homem que me deu metade de quem eu sou.Minha mãe é uma mulher belíssima, de pele negra como a noite, olhos profundos como um mistério e cabelos cacheados que dançam ao vento. Para mim, ela é perfeita. Já eu sou branca, tenho olhos azuis e cabelos loiros, tão diferentes dela que, desde pequena, precisei enfrentar as dúvidas e os olhares desconfiados.As pessoas nos olham como se fôssemos estranhas uma para a outra. Na escola, me perguntavam se minha mãe era minha babá. Eu não entendia o motivo disso até o dia em que minha mãe me explicou, com sua voz doce e paciente:— As pessoas se prendem muito à aparência, meu amor. Mas o amor que existe entre nós é muito maior do que qu
LUNNA — Ah, Julia... Estava pensando aqui. Você sabe que eu quero muito conhecer meu pai, né? — Eu sei — respondeu Julia, sorrindo com empolgação. — E se a gente pesquisasse sobre ele na internet? Dá para encontrar pessoas assim, sabia? Vi na TV que, se a gente souber o nome completo, dá certo. Meu coração bateu mais rápido. — Sério, Julia? Mas eu só sei que o nome dele é Nicholas... Não sei o sobrenome. Acho que vou perguntar para minha mãe. Quem sabe eu consiga encontrar ele, né? — Sim! Tenta perguntar. Vai que ela sabe. Minha mente não conseguia largar essa ideia, mas forcei um sorriso e tentei focar no presente. — Agora, vamos brincar antes que o intervalo termine. Brincamos até o recreio acabar, mas minha mente não estava ali. A cada risada, a cada passo correndo pelo pátio, um pensamento insistia em voltar: E se meu pai também estivesse me procurando? Talvez, um dia, ele e minha mãe ficassem juntos de novo. Eu teria uma família completa. Pai e mãe na mesma casa, igual a