SARAAinda não sei qual será minha estratégia, mas sei que preciso ser forte."Tenha pensamentos positivos, Sarah. Isso só trará benefícios para você."Respiro fundo e tento manter essa ideia na mente.O abrigo onde estou agora não é bonito, mas ao menos tenho um teto sobre minha cabeça. Isso já é um alívio. Meu plano é conseguir um trabalho, economizar e, com o tempo, alugar um lugar para viver com meu bebê.Já faz uma semana que estou aqui. Tenho comida, um lugar para dormir, mas ainda não encontrei um emprego. Minha idade dificulta as coisas. Cada dia sem uma solução me deixa mais ansiosa.Preciso agir.Uma senhora do abrigo concordou em me levar até a escola para tentar fazer minha matrícula. Preciso concluir meus estudos. A educação sempre foi importante para mim, e se quero um futuro melhor para mim e meu filho, preciso lutar por isso.Quando chegamos à escola, a funcionária da administração me olha de cima a baixo, com uma expressão séria.— Documentação? — ela pergunta.— Eu…
SARAHO tempo passou, e meu ventre começou a crescer, tornando impossível esconder a evidência de uma nova vida se formando dentro de mim. Cada vez que olhava para minha silhueta no espelho, sentia uma mistura de medo e encantamento. Era real. Eu carregava um filho no ventre, um ser que não tinha pedido para vir ao mundo, mas que já era tudo para mim.A surpresa nos olhos das pessoas era inevitável, mas ninguém demonstrou tanto espanto quanto Michelle. Eu não tive coragem de contar sobre a gravidez antes, e quando ela finalmente descobriu, sua expressão foi um misto de choque e empolgação. Para minha surpresa, ao invés de me julgar, ela sorriu com sinceridade e disse, com entusiasmo, que adoraria ser madrinha do bebê.A senhora Adriana, no entanto, ficou boquiaberta. Ela não disfarçou a incredulidade ao saber que eu, tão jovem, estava prestes a ser mãe. Seu olhar era um misto de preocupação e compaixão, mas diferente do que eu esperava, ela não me condenou. Pelo contrário, logo se pro
SARAHNa sala de aula, os olhares curiosos me acompanhavam a cada movimento. Algumas colegas cochichavam, disfarçando sorrisos maldosos. Eu era a única jovem grávida da escola, e isso parecia dar a elas o direito de me julgar.Não era preciso ouvir as palavras para entender o que diziam. "Piranha", "irresponsável", "se meteu nessa sozinha". Eu já conhecia todos esses rótulos.Mas não me importava.Ergui a cabeça, segurei o lápis e me concentrei nos estudos. Eu não precisava da aceitação delas. Meu foco estava em garantir um futuro digno para mim e para meu bebê.Assim que a aula terminou, peguei meus materiais e saí sem olhar para ninguém. Nenhuma delas fazia questão de falar comigo, então por que eu deveria me importar?A verdade é que, por dentro, havia momentos em que queria gritar, confrontá-las, jogar suas palavras venenosas de volta. Mas não valia a pena. Eu não podia me permitir esse tipo de estresse. Meu bebê precisava de tranquilidade, precisava de uma mãe forte.Os meses se
SARAHDez anos depois...Aos vinte e seis anos, posso finalmente dizer que alcancei um dos meus maiores sonhos. Conquistei meu diploma em gastronomia e hoje sou chef em um dos restaurantes mais renomados da cidade. Cada prato que criei carrega o peso da minha jornada, das dificuldades que enfrentei, das noites sem dormir e das lágrimas que derramei pelo caminho.Mas a maior de todas as minhas conquistas não está na cozinha. Ela tem um nome, um sorriso iluminado e olhos azuis que brilham como o céu ao amanhecer. Lunna. Minha filha. Minha razão de existir.Ela é inteligente, esperta e amorosa. Tão jovem e já é capaz de cativar todos ao seu redor. Suas tias, Michelle e as outras meninas, são completamente apaixonadas por ela, e não é para menos. Lunna tem um jeito único de enxergar o mundo, e a cada dia me ensina mais sobre a vida do que qualquer diploma poderia.Mas, como sempre, a sociedade insiste em problematizar aquilo que não entende.— Nossa, que menina linda! Mas não parece nada
SARAHDesconheço a razão pela qual Lunna tem essa necessidade de ter um pai presente, de conhecê-lo. Esse desejo vem desde muito pequena. Ela nunca deixou de questionar sobre ele, e eu sempre respondi com a verdade: não sei onde ele está, se está bem ou se algo de ruim aconteceu com ele.E, apesar de tudo, desejo que ele esteja bem. Nunca o odiei. Nunca desejei mal algum a ele, mesmo que tenha escolhido se afastar.— Perdão, meu amor, esses dias o restaurante está uma loucura e acabo chegando tarde… Mas fique tranquila, vai melhorar, eu te prometo. Suas tias estão cuidando bem de você, te mimando e te buscando na escola — digo, tentando mudar o foco da conversa.Evito mencionar o pai. Não quero pensar nele.Lunna cruza os braços e suspira.— Mamãe, você sempre fala isso…Seus olhos azuis carregam um leve tom de frustração. Sei que ela sente minha ausência, mas o que posso fazer? Trabalho duro para garantir que ela tenha tudo do bom e do melhor.— Agora vou terminar de ver meu filme so
NICHOLASA beleza da minha Sarah era incomparável. Sua pele morena e seus cachos naturais a tornavam uma visão única, como se tivesse sido esculpida pelos deuses. Para mim, ela era a definição de perfeição, e meu amor por ela era avassalador.No orfanato, minha conexão com ela sempre foi mais forte do que com qualquer outra pessoa. Os outros internos apenas se dedicavam a zombar de mim, discutir e me chamar de feio e magrelo. E eu era magrelo mesmo. Pálido e esquálido, tão magro que minhas costelas eram visíveis sob a pele fina. Mas Sarah nunca se importou com isso.O que eu não entendia era o prazer que algumas pessoas sentiam ao encontrar falhas nos outros. Desde pequeno, aprendi que o mundo era cruel, que o rótulo de "fraco" era imposto por aqueles que queriam se sentir superiores. Mas Sarah… ela era diferente. Ela via além.Fui levado ao orfanato aos seis anos de idade. Ainda me lembro da última vez que vi minha mãe. A cena está gravada em minha memória como uma ferida aberta que
NICHOLASEla era a minha maior tentação. Meu desejo proibido.Queria tê-la para sempre ao meu lado, envolta nos meus braços, entrelaçada ao meu destino. Meu pedido de namoro foi aceito, e com ele veio a promessa de uma noite em que nos pertenceríamos de corpo e alma. Eu ansiava por esse momento, e saber que ela compartilhava do mesmo desejo apenas intensificava minha expectativa.No entanto, algo dentro de mim alertava que estávamos nos movendo rápido demais. Mas como conter essa urgência, esse fogo que me consumia por dentro? Meu corpo clamava pelo dela, e eu não podia mais adiar.No dia seguinte, meus olhos a encontraram em meio às suas tarefas rotineiras. Seus gestos delicados, a suavidade com que movia as mãos… tudo nela me encantava. Ao perceber meu olhar, ela ergueu os olhos escuros para mim, e eu lhe pisquei com cumplicidade. Apesar da minha timidez natural, ao lado dela eu me sentia livre para ser quem sou.A espera parecia eterna, mas finalmente chegou o momento de nos encont
NICHOLAS Dois meses antes, minha vida tomou um rumo inesperado. Um homem me contatou, alegando ser meu pai biológico. Ele dizia ter conhecimento da minha existência há muito tempo, mas que minha mãe desaparecera comigo sem deixar rastros. Ao buscá-la, soube de sua morte.— De que forma ela se foi? — perguntei, sentindo um aperto sufocante no peito.— Ela estava doente e usou todo o dinheiro que eu enviava para se tratar.Minhas mãos se fecharam em punhos. Como acreditar em um homem que surgia do nada, anos depois, contando uma história que me soava conveniente demais? Eu não confiava nele. E, acima de tudo, não deixaria Recife.Havia alguém ali que precisava de mim: Sarah.Eu jamais a abandonaria. Nunca.Quando ele insistiu para que eu fosse com ele para outro país, fui categórico: — Só embarco se Sarah for comigo. Caso contrário, esqueça.Meu amor por ela era inquestionável. Era nosso sonho construir uma vida juntos, uma família. Conversamos tantas vezes sobre isso… E eu acreditava