Capítulo 2

SARAH

A ansiedade corrói meus pensamentos. Meu amigo está prestes a ser expulso do abrigo, e a incerteza sobre seu destino me assombra.

Ele já ultrapassou a idade limite, então por que ainda está aqui?

Nunca vi exceções serem feitas, e essa demora parece suspeita. Será que a diretora está tentando encontrar um lugar para ele? Ou há algo mais acontecendo nos bastidores?

A simples ideia de sua partida me apavora. Ele sempre esteve ao meu lado, e a perspectiva de perdê-lo me faz sentir um vazio esmagador. O que será de mim se ele for embora?

Enquanto estou perdida nesses pensamentos, ele surge de repente, sem aviso. Antes que eu possa reagir, seus lábios tomam os meus em um beijo inesperado. Não houve permissão, nem hesitação. Apenas o toque quente e arrebatador dele contra minha boca.

Por um breve instante, minha mente se esvazia. Meu primeiro beijo. Meu coração martela dentro do peito, e um calor diferente se espalha pelo meu corpo. Felizmente, estamos no nosso refúgio secreto, longe dos olhares vigilantes do abrigo. Aqui, somos apenas nós dois.

— Eu também te amo, minha Sarah. — A voz de Nicholas é suave, mas carregada de intensidade. Seus olhos brilham, refletindo um sentimento que eu nunca havia visto antes. — Meu amor por você é maior que qualquer outra coisa. Você é a pessoa mais especial da minha vida.

Uma pausa. Seu semblante se torna mais sério antes de continuar:

— Mesmo que eu tivesse meus pais, uma casa perfeita e toda a riqueza do mundo, ainda assim, você seria a pessoa mais importante para mim. Nunca se esqueça disso.

Minha respiração falha por um momento. A profundidade de suas palavras me atinge como uma onda avassaladora. Mas então, algo em sua expressão muda.

— Quando eu sair deste orfanato, quero que você continue ao meu lado. Quero cuidar de você. E quero que se afaste dos outros rapazes.

Minha mente vacila.

— O quê?

— Não vou aceitar que você fale com eles depois que eu me for. — Sua voz sai firme, quase autoritária. — Quero que sua atenção seja só minha. E, principalmente, mantenha distância de Felipe. Ele não gosta de você e só te traz dor. Não confio nele.

Uma tensão se instala entre nós. Meus lábios ainda formigam do beijo, mas suas palavras despertam um alerta dentro de mim. Eu conheço Nicollas o suficiente para saber que ele pode ser protetor, mas ultimamente, seu comportamento parece... mais intenso.

Ciumento.

Possessivo.

E, no entanto, eu nunca discuto. Nunca desobedeço. Evito falar com outros rapazes sempre que ele está por perto. Talvez porque, neste lugar, ninguém nunca me olhou da mesma forma que ele.

Mas até que ponto isso é amor? E até que ponto isso pode se tornar uma prisão?

Nicholas sempre foi meu porto seguro. Mas, pela primeira vez, uma semente de dúvida germina dentro de mim.

— Você sente o mesmo que eu, Nicholas? — minha voz sai quase como um sussurro, carregada de incerteza e expectativa. Meu coração b**e acelerado, como se esperasse desesperadamente por sua resposta.

Ele me encara com aqueles olhos que sempre me fizeram sentir segura. Então, sem hesitar, ele diz:

— Claro, meu amor. Você é a pessoa mais importante da minha vida, e nunca vou te deixar. Se eu tiver que sair daqui, prometo que voltarei para te buscar assim que conseguir um emprego.

Cada palavra dele é um alívio e um peso ao mesmo tempo. Quero acreditar, quero confiar, mas algo dentro de mim sussurra que a vida raramente é tão simples assim.

— Estou me tornando adulto, e, sinceramente, me surpreende ainda estar aqui. Mas, quando o dia chegar, vou te visitar todos os dias. Não consigo imaginar uma vida sem você. Preciso de você ao meu lado. Logo vou arranjar um trabalho e alugar um lugar para nós dois. Vamos viver juntos, com privacidade.

Privacidade.

A palavra ecoa em minha mente, despertando algo desconhecido dentro de mim. Meus dedos se apertam ao redor dos meus próprios braços, como se pudessem me proteger de um medo que ainda não compreendo completamente.

— Eu também nunca vou te deixar. — As palavras saem antes que eu possa controlá-las. Promete que, mesmo quando for embora, nunca vai me abandonar? Sua presença é essencial para mim. Só de pensar em te perder, sinto um vazio.

Nicholas segura meu rosto com delicadeza, seus olhos fixos nos meus. Há algo feroz ali, algo que me faz estremecer.

— Nunca vou me afastar de você. Vou estar ao seu lado a vida toda, meu amor. — Sua voz é firme, carregada de uma promessa inquebrável. — Acredite, você não vai se livrar de mim, porque você é a razão pela qual eu existo.

E então ele sela suas palavras com um beijo.

O toque quente de seus lábios nos meus me pega desprevenida, e um turbilhão de sensações me invade. O beijo é intenso, profundo, como se ele estivesse tentando me marcar de alguma forma. Como se quisesse que eu pertencesse a ele.

Mas logo ele se afasta, me observando com atenção.

— Você quer ser minha namorada para sempre?

Meu coração dispara, mas antes que eu possa formular uma resposta, ele continua:

— Acho que devemos desacelerar esses gestos antes que minha resistência se esgote... Você é irresistível.

Minha respiração falha por um instante. Há um tom sombrio em sua voz, uma confissão velada.

— Você merece algo especial, algo só seu, porque você é única. Se algum dia quiser ir além comigo, saiba que eu estou aqui. Nenhuma outra garota me faz sentir o que sinto por você. Às vezes, acho que deveria me sentir culpado por isso, já que sou mais velho e você ainda é tão jovem, mas não sinto vergonha. O que eu sinto é real e intenso.

Ele faz uma pausa, seu olhar se torna ainda mais sério.

— Não me arrependo de te amar, mas quero exclusividade. Sou ciumento, admito, e não me envergonho disso. Meu ciúme por você é enorme.

Minha mente grita um alerta.

— Nicholas...

Ele abaixa a cabeça, sua voz se torna um sussurro sombrio.

— Odeio o jeito como Felipe te olha, como se estivesse faminto. E o pior é que nem adianta eu sentir ciúmes, porque sei que você nem fala com ele, mas isso não muda o que eu sinto.

Meu estômago se revira. Não sei o que responder.

Se eu não fosse negra, certamente meu rosto estaria vermelho como um tomate agora.

Não faço ideia de onde poderíamos nos encontrar para algo mais íntimo. As monitoras do abrigo são rigorosas, e qualquer conversa sobre relacionamentos entre meninos e meninas é silenciada. Mas eu ouço... De longe, escuto as meninas mais experientes compartilhando suas histórias, seus encontros secretos.

Algumas, com dezesseis ou dezessete anos — e até mesmo mais novas do que eu — já tiveram experiências com os garotos do abrigo. Mas eu? Eu ainda estou tão confusa sobre tudo isso.

Mas uma coisa eu sei:

— Sim, aceito ser sua namorada, Nicholas. — Minha voz sai trêmula, mas honesta. — Quero que você seja meu único. Meu desejo é estar ao lado de um homem para sempre, e esse homem é você. Não tem por que ter ciúmes do Felipe, ele não me atrai. Você é o único que me importa.

Nicholas sorri. Mas há algo em seu olhar. Um brilho diferente. Um brilho de posse.

— A partir de agora, estamos juntos. E você é só minha, entendeu? Não quero que esteja com mais ninguém além de mim.

Meu coração vacila.

Oh, céus... Tenho um problema.

Nicholas sempre foi controlador e ciumento. Mas esse lado possessivo? Ele só demonstra comigo. Desde que éramos crianças, ele sempre queria saber onde eu estava, com quem, e por que demorava tanto para voltar.

Isso começou quando eu tinha apenas sete anos.

E nada mudou com o tempo.

Se me ausento por alguns minutos e ele não consegue me encontrar, já sei o que vem a seguir:

— Onde você estava? Com quem? Por que demorou tanto?

O ciclo se repete sempre.

Sem dúvida, Nicholas é possessivo. Mas, no abrigo, ele é visto como um líder nato. Todos respeitam suas orientações, e sua presença se destaca, seja ajudando as crianças mais novas com as tarefas escolares ou organizando o refeitório. Apesar de sua autoridade, ele é admirado por ser atencioso e protetor.

No entanto, no que diz respeito a mim, sua proteção se transforma em ciúme incontrolável.

Às vezes, me pego imaginando como seria se ele fosse mais maduro em nosso relacionamento. Ele tem um lado carinhoso, e mesmo com toda sua rigidez, há momentos em que reconhece seus exageros e pede desculpas. Mas basta me ver conversando com outro garoto para que seu temperamento mude drasticamente.

Ele sempre dá um jeito de afastar qualquer um que tente se aproximar de mim. Até algumas meninas evitam falar comigo por medo de sua possessividade.

As outras garotas do abrigo, por outro lado, parecem competir entre si, como se precisassem desesperadamente de atenção. Apesar de todas nós compartilharmos as mesmas dificuldades, algumas insistem em me ver como uma ameaça.

Mas a verdade é simples.

— Eu não quero mais ninguém. — Minha voz soa firme, meus olhos cravados nos dele. — Meu único desejo é estar ao seu lado.

O sorriso de Nicholas surge como um raio de sol após uma tempestade. Esse sorriso... sempre me fascinou desde a infância. Não é apenas sua beleza, mas a forma como ilumina tudo ao redor, fazendo meu coração acelerar.

Ele se inclina e me beija rapidamente, um toque proibido e cheio de urgência, antes de entrarmos no orfanato. Caminhamos em silêncio, aproveitando os últimos momentos antes de nos separarmos.

Mas minha mente não para.

A lembrança do beijo ainda arde em minha pele. Meu desejo por ele cresce a cada dia, uma fome que se intensifica toda vez que nossos corpos se aproximam.

Quero ser dele por completo, corpo e alma.

Não se trata apenas das palavras que ele diz, mas da intensidade desse sentimento que me consome por dentro.

Quando estou ao seu lado, algo inexplicável acontece. É uma emoção que surge antes mesmo de nossos lábios se tocarem, um fogo que arde no peito e percorre todo o meu corpo. Apesar da minha juventude, não posso negar essa chama.

Desde os meus quatorze anos, esse desejo cresceu dentro de mim, e agora sei que estou pronta para saciá-lo. Aos treze, percebi que nossa amizade de infância estava se transformando em algo muito maior.

Algo profundo.

Algo que não consigo controlar.

Embora eu ainda não compreenda completamente o significado do amor, sei que o que sinto por Nicholas é real.

E então, o medo me atinge como um golpe frio.

E se ele for embora?

A qualquer momento, ele pode ser dispensado do abrigo. E se eu nunca mais puder vê-lo?

Só de pensar nessa possibilidade, meu coração se aperta, sufocando meu peito com um peso insuportável.

Perdê-lo...

Não, eu não suportaria.

As atividades do abrigo seguem normalmente. Cada um tem sua tarefa, e a minha é cuidar da cozinha. Cozinhar sempre foi uma das minhas grandes paixões. Há algo de reconfortante no aroma dos temperos e na dança do fogo sob as panelas.

Mas, hoje, minha mente está longe. Meu pensamento está nele.

A noite se aproxima lentamente, e com ela, a promessa de estarmos sozinhos, sem interrupções.

Do outro lado do refeitório, Nicholas me observa.

Seus olhos escuros percorrem cada detalhe meu, sem disfarçar. Ele pisca, lança sorrisos sutis e me envia beijos discretos.

A resposta do meu corpo é imediata.

Meu Deus... Como eu amo esse garoto.

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