Capítulo 2 – Novos horizontes
Cecília estava que não cabia em si de tanta felicidade, a carta de sua filha dessa vez, a trazia uma boa notícia! Aquela saudade finalmente teria fim.
O trabalho naquele dia se tornou mais leve, e até mesmo aguentar o rabugento de seu patrão tinha se tornado algo mais fácil. Sua menina estava vindo, a ela, o resto pouco interessava.
- Ceci! – Sorriu ao receber um beijo terno em sua bochecha – Qual o motivo de tamanha felicidade? – Questionou Mateus, se apoiando na bancada ao lado dela – O tirano do meu pai ainda não veio lhe importunar?
- Oh senhor Mateus, isso é tarefa diária daquele velho rabugento – Mateus riu, aceitando a xícara de café que ela lhe serviu – Mas hoje não tem nada que será capaz de me tirar o sorriso do rosto, nem mesmo as sandices de seu Lucca.
- Não deixe que ele lhe atormente o juízo, esse é o esporte preferido dele – Piscou divertido pra ela, tirando um pequeno bloco de seu bolso e começando a rascunhar – Como estão as coisas por aqui?
- Na mesma de sempre – Suspirou, erguendo os ombros – Seu pai não muda e essa doença aos poucos está acabando com ele, em todos os sentidos – Mateus assentiu, ciente do que Cecília o falava – Mas os dias vão melhorar – Sorriu empolgada – Minha filha, Alicia, ela está vindo passar uns dias comigo e claro, se seu Lucca não se importar, ela ficará por aqui.
- Não se preocupe com esse velho, eu mesmo me encarrego de tirar aquela carranca dele quando sua filha chegar – Disse sorridente, voltando a escrever em seu bloco – Ele não assustará sua pequena Alicia.
- Seu Mateus, de pequena minha filha não tem nada – Riu se inclinando sobre a pia e lavando a louça que estava suja – Mas obrigada pela gentileza, o senhor devolveu a alegria para essa casa.
- São apelas alguns dias, Ceci – A lembrou, guardando o bloco novamente em seu bolso – Nem mesmo eu aguento meu pai por muito tempo, e Mariana... bom, essa ainda vai me levar a loucura – Sorriu se levantando – Em breve voltarei para Angra – Anunciou – Minha vida é lá, com os pés na areia e na eterna busca pela minha sereia – Cecilia riu, ele não mudava nunca – O que posso fazer? Sou um homem do mar – Abriu os braços, com um sorriso radiante.
- Espero que exista uma sereia certa para o senhor – Disse recebendo um beijo na bochecha – Precisa criar juízo, seu Mateus.
- O que é isso? – Perguntou com o cenho franzido – É de beber? Nunca vi e nem ouvi! – Debochou, andando em direção a porta – Ceci! Você me viu crescer, me criou boa parte da vida, logo que perdi minha mãe – Sorriu carinhoso pra ela – Por favor, não me chame de senhor – Pediu cruzando a porta da cozinha – Mais tarde volto pra conhecer sua filha, se ela for tão encantadora quanto você, o meu coração já é dela.
Cecília riu, dispensando mentalmente aquela ideia. Sua filha nunca que se interessaria por um homem como Mateus. Era bom homem, com o coração nobre e a alma pura, mas também era um baita de um galinha, namorador. Ele não tipo pra ela. Por mais que soubesse que Mateus apenas falou por falar, Cecília pediu com a alma em oração, para que sua filha nunca tivesse olhos para seu patrão.
Organizou toda a cozinha, adiantou o jantar e checou as horas em seu relógio. Em alguns minutos Alicia desembarcaria na rodoviária, e ela teria que cruzar a cidade para ir ao encontro de sua filha.
Tinha a autorização de Lucca para que Rubem, o motorista dele, a levasse ao encontro de Alicia. Esse que não poupou o pé, acelerou para que o encontro acontecesse o tempo certo.
Há anos acompanhava de perto o sofrimento de Cecília na espera do reencontro com sua filha, e estava na hora de acontecer. Rubem se sentia privilegiado por poder fazer parte desse momento.
- Entre pela ala norte – Auxiliou com um sorriso, vendo a empolgação de Cecília – Vai ser mais fácil pra chegar no desembarque! – Gritou vendo-a correr em direção a entrada.
Era o coração saudoso de uma mãe, que batia agoniado na garganta, na espera do encontro com sua amada filha. Quem poderia julgá-la? Tudo o que ela queria era finalmente tê-la em seus braços de novo.
E isso estava ali, há alguns passos de distância.
Muitos anos tinham se passado, mas ela reconheceria sua filha até mesmo de olhos fechados. Os traços eram os mesmos, e apesar do rosto mais maduro e surrado, o sorriso de Alicia era o mesmo, e isso aquecia o coração de Cecília.
A viu encostada em um quiosque com um copo de café nas mãos, definitivamente era a sua garota, aquele gosto todo que ela tinha por café, era dela que tinha herdado. E por mais que fosse tarde da noite, e que aquilo provavelmente a tiraria o sono, ela não abria mão da bebida que a aquecia internamente.
O olhar delas se cruzaram, e Alicia, emocionada, apenas foi capaz de sorrir. As pernas bambearam, e fechou brevemente os olhos, era capaz de sentir há metros de distância o cheiro de sua mãe, o cheiro de casa. Quanta saudade!
Caminhou com Romeu em seu encalço, os olhos mareados e o coração batendo em sua garganta. Deus era bom demais, tinha cuidado de sua mãe por todos esses anos que ela não pôde. E tinha a conservado do jeitinho que ela se lembrava. Por mais que tivesse se passado anos, era como se não tivesse passado tempo nenhum.
- A sua benção, minha mãe – Pegou as mãos de Cecília, levando em seus lábios e deixando um carinhoso e saudoso beijo.
- Deus te abençoe, minha filha – Respondeu a senhora, sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto – Está ainda mais linda do que a última vez que a vi – Alicia sorriu, abraçando fortemente a mãe – Cristo, como senti sua falta, minha menina!
- Eu estou aqui, mãe – Disse em meio as lágrimas, escondendo o rosto no pescoço da mãe – Eu finalmente voltei para o meu lar.
- Me deixe ver seu sorriso – Afastou o rosto do de Alicia, sorrindo ao vê-la sorrir, mesmo que em meio as lágrimas – O reconheceria em qualquer lugar, mesmo que seu rosto não fosse mais o mesmo.
- A senhora me conhece até mesmo do avesso, distância nenhuma mudaria isso – Olhou para Romeu, que latiu ao lado dela – Me deixe te apresentar esse monstrinho – Pegou ele em seus braços – Esse é Romeu, meu mais fiel amigo.
- Ele é um tanto quanto estranho – Sorriu inclinando a cabeça – Mas deixe-o longe de mim. Eu não gosto de animais, e isso não mudou – Alicia revirou os olhos, divertida – Vamos, já está tarde e precisamos voltar pra casa – Anunciou se abaixando, pegando a mala de Alicia – O trânsito dessa cidade é um caos, e vamos levar um bom tempo para cruzarmos a cidade.
Alicia a seguiu, com um sorriso imenso no rosto e a coleira de Romeu bem firme em sua mão. Cecília a apresentou a Rubem com o maior dos sorrisos, não existiria nada na vida que tiraria a felicidade daquela mulher.
E conforme Cecília tinha anunciado: o trânsito estava uma loucura. Por mais que fosse tarde, as vias do Rio estavam todas movimentadas, as pessoas estavam a beira mar, gritando, bebendo e comemorando como se tivessem conquistado algo.
E mesmo sem entender, isso encantava Alicia.
- O que está rolando por aqui? – Perguntou, olhando Cecília que sorriu carinhosamente para a filha.
- Flamengo ganhou mais um título – Anunciou Rubem com certo orgulho – As pessoas estão eufóricas com mais essa conquista.
- Sou mais o meu tricolor – Rebateu, voltando a olhar pela janela – Esse time só me enche de orgulho.
- Apenas isso, pois o jejum de títulos só tá que cresce – Debochou, causando riso em Alicia.
- Temos uma prateleira cheia deles – Apoiou o queixo em sua mão – E isso não compra a nossa história.
- Chega desse assunto vocês dois – Disse Cecília, encerrando a discussão – Alicia é como o pai dela, não aceita perder nem no par ou impar e lhe garanto que pode passar o resto da noite rebatendo com você, até que te vença pelo cansaço – Rubem riu, olhando a mulher pelo retrovisor.
- Os tempos mudaram, minha mãe – Soltou um suspiro sôfrego – Eu não tenho mais garra pra lutar por nada em minha vida, me acostumei com a derrota.
- Nunca mais repita um absurdo desses, Alicia Oliveira – A repreendeu em um tom sério – Eu não te criei pra aceitar qualquer coisa nessa vida não, minha filha.
Alicia riu sem nenhum humor, ah se a mãe soubesse o que essa vida vinha lhe aprontando... se sentaria ao lado dela para lamentar-se e nunca mais cobraria dela tanto otimismo.
Alicia tinha que admitir: aquela era uma bela casa. Olhou encantada para a mansão onde morava Lucca, o famoso patrão rabugento de sua mãe. Sabia pouco dele, apenas que não tinha muito bom humor, e que odiava com todas as suas forças qualquer coisa que o tirasse de sua zona de conforto.Mas ele era milionário, velho e estava doente. Tinha todo o direito de aproveitar o resto de seus dias como bem entendesse, e não seria ela quem o contrariaria quanto a isso.Caminhou encantada pelo imenso jardim da mansão, era de longe, o mais lindo que já vira. Mas ela não era das pessoas mais conhecidas do mundo, então, sua opinião não valeria de muita coisa.- Mas o que... – Mateus parou, assim que desceu de seu carro e sorriu, ao ver uma bela mulher caminhando por seu jardim apenas de robe – Ora, de onde saiu essa mulher? – Bat
A manhã daquela quarta feira amanheceu mais iluminada do que nunca para Alicia, ela se sentia plena, e mais do que isso: realizada. Era como se as coisas finalmente começassem a ter sentido em sua vida. Já estava cansada de andar pra trás, e ao mínimo sinal de que as coisas andariam, já a encheu novamente de esperanças.Tomou café da manha com sua mãe, evitando tocar no nome de Mateus. Foi um choque para ela descobrir que o homem que a cercava era filho de seu patrão, e não Guilherme, um funcionário. Tudo seria muito mais fácil se fosse assim.Mais fácil pra que? Ela não tinha interesse em um, e provavelmente não teria em outro. Não estava ali pra isso, e precisava reorganizar suas ideias.- Pronta para o primeiro dia? – Mateus parou ao lado de Alicia, fazendo com que ela o encarasse de cenho franz
Já estava há quase uma semana trabalhando no marketing digital do novo editorial da revista e Alicia podia dizer que estava tendo os melhores dias de sua vida. As coisas realmente iam bem, a revista parecia deslanchar e seus sonhos estavam mais vivos do que nunca.Como era bom, como fazia bom estar em sua área, fazer o que amava. Ela estava cheia de vida, distribuindo sorrisos e simpatia a quem passasse por ela. Estava até começando a gostar do Rio!Ah, o Rio! A cidade que ainda a causava um grande misto de sentimentos. Ia do amor para o ódio em questão de minutos. Da brisa gostosa do mar, para o inferno que era o transporte público.Eram dois extremos, e se perguntava, como que sobreviviam àquilo sem surtos diários. Ela tinha os seus, por mais que o otimismo sempre predominasse.Mas tinha uma pessoa, uma única pessoa com qu
Nada do que aconteceu na noite de sexta passou despercebido aos olhos de Guilherme. Ele que tinha ido acompanhar Rubem que precisou atender tarde da noite o chamado de Mateus, precisando assim de alguém que pudesse trazer de volta o carro do patrão, já que esse tinha se enfiado em mais uma noite de bebedeira pela cidade, acompanhado de mais uma mulher.O que ele não esperava era que essa mulher fosse justamente Alicia. A única que em tempos o despertou um certo interesse. Não era um homem mal, na verdade estava muito longe disso. O problema é que não suportava os caprichos de menino mimado que Mateus ainda tinha, que sempre esfregava na cara dele e do resto do mundo o quanto era melhor.Melhor amante, o homem mais rico, poeta, homem livre, feito de praia, sol e farra. Não era homem para Alicia.E nunca se esqueceria de Manoela. Ah, como essa mulher lhe foi in
Os dias estão cada vez mais curtos, a correria do dia a dia, da rotina, as vezes nos impede até mesmo de sonharmos. Mas esse não era o caso de Alicia.Tinha dentro de si tantos sonhos e desejos, que era exatamente isso o que a fazia viver.Por mais difícil que parecesse realiza-los, sonhar ainda não custava nada.- Alicia! – Ela simplesmente suspirou, forçando um sorriso para seu chefe, que se aproximou com o mesmo sorriso malicioso de sempre – Seus textos são totalmente incoerentes – Alicia assentiu, pegando as folhas que ele tinha em mãos – Não podemos publicar algo assim, totalmente sem nexo – Apontou mal humorado – Refaça isso.E lá estava ela, recomeçando pela enésima vez, mesmo sabendo que seu artigo estava muito bem feito e estruturado, e que tudo isso não passada de implicância de s
Capítulo 1 – A mudança.O pedido de demissão de Alicia surpreendeu a todos no jornal, em especial Fábio, que apesar de negar o tempo todo, sabia que ela tinha potencial.Tentou indiretamente fazer com que ela mudasse de ideia, nunca que daria o seu braço a torcer, e isso, fez com que ele perdesse uma de suas melhores jornalistas.Agora, Alicia estava com sua pequena mala em uma mão, enquanto na outra segurava firmemente a coleira de Romeu, em pé ao lado de um ônibus no terminal rodoviário, esperando o próximo que a levaria direto para o Rio de Janeiro.- Ele não pode embarcar, senhora – Alicia encarou o motorista com o cenho franzido – Desculpe, são ordens superiores.- E o que espera que eu faça? – Apontou para o cachorro que cheirava a perna do motorista – Que