Capítulo 4

Até sinto uma pontada por dentro. Eu nunca me senti tão desprezada assim na vida. Mas ele ainda me olha com um sorriso que eu sei que ele tem escondido no canto dos lábios. Se ele acha que vai me fazer desistir, ele está muito enganado. Eu digo:

__Acho que já estamos atrasados, por que não começamos logo?

Eu gosto que ele tenha um olhar surpreso ao me ouvir dizer isso. Eu passo por ele que fica fechando a porta e sigo direto para a mesa onde costumamos ficar.

...

Ele não fez nenhum daqueles comentários que eu pedi que ele não fizesse, mas ao invés disso ele abusou das respirações pesadas a cada dúvida que eu tinha e revirou os olhos algumas vezes em que me olhava responder uma questão.

Eu respirei fundo cada vez que isso acontecia e me mostrei forte, mas por dentro ainda estou me sentindo mal em estar aqui.

...

__Bem, por hoje é só.

Respiro aliviada ele ainda continua:

__Você ainda vai voltar amanhã ou eu tenho que ficar aqui esperando para ver se você  vai aparecer ou não, de novo?

As palavras dele sempre fazem doer por dentro, mas apenas me mantenho firme outra vez e digo agora sem sorriso:

__Estarei aqui amanhã.

Ele fica parado de pé onde está e eu sigo em direção a porta.

Eu entro em meu carro. Eu fico ali um tempo sem muita reação. Eu olho na direção da casa dele, como isso pode estar acontecendo? Eu disse que não voltaria aqui e acabo de prometer que voltarei novamente. Eu respiro fundo outra vez, seguro o volante,  deito minha cabeça ali por um tempo entre minhas mãos.

Eu só queria me sair melhor nessa disciplina, agora estou me sentindo um lixo. É meu terceiro dia de férias e ainda não fiz nada além de trabalhar e estudar, e bem, me estressar com esse cara.

Olho mais uma vez na direção da casa dele, não posso esquecer que minha raiva também é motivo para eu me manter firme no propósito de concluir isso. Decido ligar meu carro e dar o fora daqui o quanto antes.

...

Mesma rotina de sempre, mas estou cansada demais para fazer alguma coisa hoje, então depois de alimentar George, escolho procurar um filme na tv. 

...

__Eu tenho uma dúvida quanto a questão 3.

__Sim, diga.

Mas quando eu ergo meus olhos em sua direção, ele   está de pé e começa também a se despir enquanto começa a  explicar.

Eu até diria alguma coisa, mas meus olhos estão fixos nele e seu abdômen que agora ficou à mostra depois que ele abriu o botões da camisa branca.

Então quando ergo meus olhos, ele me olha sorrindo, nunca o vi sorrindo assim e é maravilhoso. Mas eu tenho que questionar:

__Mas o que você...

Ele me interrompe, colocando suas mãos sobre a mesa e ficando bem perto do meu rosto, que eu sei que está muito vermelho e diz:

__Você disse que me queria assim.

Apenas consigo murmurar:

__Eu nunca disse isso.

Ele então sorri de lado, me fazendo morder a parte interior  dos meus lábios e diz:

__Eu posso ver isso em seus olhos.

Meu coração até acelera ao ouvir sua voz rouca assim tão perto, mas ele apenas sorri mais ainda, se ergue outra vez e começa a desabotoar a calça ficando apenas com sua boxer preta.

Eu o sigo com os olhos quando ele dá a volta e vem até onde estou. Eu o encaro quando ele me estende a mão e eu lhe entrego a minha. Ele me ajuda a ficar de pé e quando faço isso ele me puxa para perto dele.  Até fecho os olhos quando sinto seu corpo quente e sua ereção contra mim...

Eu acordo com meu celular vibrando.

Me sento no sofá assustada e atendo a ligação. 

__Não, esse número não é da Claire.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               Ouço um pedido de desculpas pelo engano, digo que tudo bem e a pessoa desliga.

Eu fico um tempo ainda pensando no que sonhei.

Mas que droga de sonho foi esse? E por que meu coração ainda está tão acelerado?

...

Ele abre a porta.

Pelo menos ele parece estar em um humor mais normal quando diz:

__Boa tarde.

Até acho estranho, mas não seria ruim que ele não fizesse da aula de hoje uma tortura emocional como sempre.

...

Repito mentalmente enquanto ele segura o livro nas mãos e explica a terceira parte da equação.

"Não pensa naquele sonho, pelo amor de Deus!"

Mas as cenas vem em minha mente, por mais que eu tente não pensar nisso.

Eu acompanho a leitura no livro que está comigo.

"Ele é um ser humano insuportável, você sabe disso".

"Bem, pelo menos no seu sonho ele não era".

Eu até sinto vontade de sorrir, mas ele me olha de cara amarrada. Fico séria outra vez.

...

Eu estou totalmente aérea hoje. Eu tive uma péssima noite, dormir no sofá até a metade da noite também não fez milagres para minha aparência. Sonhar com meu professor detestável também não.

Sei que tenho olheiras enormes e acho que ele percebeu, mas eu não me importo com o que ele pensa sobre isso e não é da sua conta, mesmo que talvez tenha sido culpa dele, ainda que ele não saiba.

Disfarcei com maquiagem para trabalhar, mas realmente não gosto de ter que usar isso, prefiro apenas no trabalho e sei que agora elas devem estar ainda mais escuras abaixo dos meus olhos cansados.

...

__Se você não quer prestar atenção, não deveria fazer eu perder o meu tempo.

Ergo meus olhos imediatamente. Acho que quase cochilei. Ele ainda me encara, eu não digo nada e ele continua a explicar novamente segundos depois.

Eu estou mesmo com muito sono e a voz dele não está colaborando muito para eu ficar acordada, ele parece ler assim devagar de propósito.

Eu passo a mão nos olhos.

__Eu não tenho culpa que você seja uma péssima aluna na faculdade e precise de aulas em plenas férias.

__O quê?

Ele ainda me olha irritado.

__Quem te disse que eu sou uma péssima aluna?

__Eu não preciso que alguém me diga. Você está me mostrando isso.

Eu me levanto, olho fixamente em seus olhos e digo:

__Escuta aqui professor Sebastian, eu tenho feito de tudo, o possível  e o impossível para continuar frequentando essa merda de aula. E eu juro que não vou mais suportar ser humilhada por você. 

Ele parece realmente surpreso com a minha reação e eu aproveito para continuar:

__Não é minha culpa que aconteceram coisas ruins com você e que tenha uma vida horrível.

Ele me olha com ódio agora. Eu sei que peguei pesado, mas eu não vou voltar atrás. Ele me aponta o dedo e diz:

__Você não tem o direito de me falar uma coisa dessas dentro da minha casa.

Eu aponto o dedo de volta e digo:

__Você nunca teve o direito de falar nenhuma dessas coisas que você já me disse, mas mesmo assim você fez.

Eu pego minhas coisas e sigo em direção a porta. Mas eu sinto ele segurar minha mão  e me fazer olhar para ele mais uma vez. Estamos ofegando de raiva. Ele diz:

__Você não pode dizer nada, porque não sabe o que aconteceu e a minha vida não era tão horrível assim, até você bater naquela porta.

Estou estática agora. Ele quer me culpar por sua vida estar horrível? 

 Eu só consigo dizer:

__Você é uma pessoa desprezível e eu não ligo que você vá me processar ou não.

 E lhe dou um tapa na cara. Ele está realmente surpreso agora, ele passa a mão em seu rosto e me olha com fúria.

Então vem em minha direção, fica bem perto e me empurra com seu corpo contra a parede enquanto me olha dentro dos olhos parecendo estar muito furioso, seus lábios encontram os meus quando ele começa a me beijar. 

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