Capítulo 3

Ele me segue até a porta e quando eu me viro, ele diz ainda sério:

__Até amanhã.

Eu sorriria e diria o mesmo, mas não acho que ele se importe com isso. Então apenas saio e ouço ele fechar a porta com um pouco  mais de força do que deveria, atrás de mim, até fecho os olhos por uns segundos.

Eu não entendo, eu não fui grossa em momento algum ou disse algo para deixá-lo irritado. E eu não me vesti vulgarmente para que ele me olhasse com tanta desaprovação. 

Estou com a mente cansada demais para tentar traçar um mapa de probabilidades das possíveis variações de personalidade e humor dele.

Amanhã eu chego na hora certa e ele não vai estar tão mal humorado assim.

Bem, eu espero que não.

...

Abro a porta do meu apartamento.

__George! 

Meu gato de estimação acaba de vir ao meu encontro, gosto de pensar que ele não veio até mim apenas porque está com fome. Mas mesmo assim, sigo até o armário da cozinha e pego uma lata de atum e começo a abrir para ele, que me espera ansioso em cima da pia da cozinha:

Coloco a comida em um recipiente e ele começa a comer enquanto, eu faço carinho na sua cabeça e ele fecha o olhos como se me agradecesse. Eu digo:

__Pelo menos você gosta de mim, George.

Eu nem acredito que estou pensando naquele professor outra vez e lembrar dessa tarde me deixa de cara amarrada.

Escolho ingredientes para preparar uma macarronada para mim, talvez isso me deixe mais concentrada e não me faça pensar em como foi uma tarde difícil.

...

Meu trabalho como recepcionista não é tão emocionante como minha amigas pensam, lido com muita gente esnobe e tenho que ter sempre um sorriso no rosto.  Talvez seja por isso que eu tenha me segurado diante das atitudes do professor Sebastian.

 O problema foram as coisas que ele disse a respeito do que eu sei. Eu sei que não sou a estudante perfeita, mas sempre tive notas boas e eu sou muito esforçada. Juro que as coisas que ele disse, realmente me deixaram ofendida em relação a isso.

E eu não acredito que estou pensando nele outra vez.

Um cliente chega me fazendo voltar para a realidade. Uma mulher que pelas poucas palavras, descubro que é uma daquelas senhoras metidas, que ótimo, pelo menos posso treinar meu sorriso falso que vou usar hoje na aula a tarde.

...

Não ter aulas da faculdade a tarde, me deixa com tempo livre e decido dar uma faxina em casa para manter meus pensamentos ocupados e não ficar ansiosa para descobrir de uma vez como estará o humor dele hoje.

...

As quatro em ponto eu chego de frente a casa dele.

Ele abre a porta.

Ele me olha, usa o mesmo sorriso que eu costumo usar com os clientes do restaurante e diz:

__Pelo menos hoje, você está limpa.

Será que era para eu achar graça do que ele disse? Nos olhamos por um tempo. Escolho usar o mesmo sorriso que ele usou antes e ele me diz para entrar.

Onde eu estava com a cabeça para achar que hoje ele estaria melhor?

Deve ser algo contra mim mesmo e eu escolho não provocar, então ele me pede para sentar, abre os livros e começa a me explicar sobre o que trabalharemos hoje.

...

__Definitivamente fica difícil quando você não colabora!

Eu me levanto e digo:

__Já chega! Eu não suporto mais isso!

Ele apenas continua de pé me olhando, enquanto estou furiosa e nem se dá ao trabalho de ter uma reação. É como se ele já esperasse por isso.

Eu pego minhas coisas, coloco na minha mochila, olho para ele mais uma vez com raiva e vou em direção a porta. 

Eu juro que nunca mais volto aqui.

...

Eu não deveria estar dirigindo enquanto estou tão furiosa, mas eu quero chegar em casa o mais rápido possível e esquecer que alguma vez na vida já tive aulas com aquele merda de professor.

Eu estou com tanto ódio dele que ao pensar no rosto dele, eu quero gritar.

...

Jogo minha mochila sobre a mesa de centro da sala e me sento no sofá. Eu quero chorar de raiva, mas eu não vou fazer isso. Não choro por pouca coisa e não vai ser ele que vai mudar isso.

Cruzo os braços e fico um tempo encarando o nada. George vem e se senta em meu colo, ele parece adivinhar que algo não está certo. Fico um tempo assim e me dou conta de que não vou me deixar abater por causa disso, resolvo tomar um banho para me acalmar um pouco mais.

Afinal, eu nem vou voltar a vê-lo nunca mais, não é mesmo?

...

Resolvo pedir uma pizza, porque não estou com vontade de cozinhar.

Ligo para Dayna.

__Você devia ter me falado como ele é uma merda de pessoa!

__O quê? De quem você está falando?

__Como de quem? Do professor Sebastian!

__Como assim? 

__Ele é definitivamente insuportável. Eu não volto mais lá!

__Mas todo mundo adora ele, Harper.

__Bem, eu não.

__Mas ele te ajudou? Tipo, você aprendeu alguma coisa?

__Bem, sim, mas...

__Tá vendo? Eu disse que ele é bom. Ele só tem um jeito meio desagradável as vezes e você tem que compreender, ele passou por maus momentos.

Eu sei disso, elas me disseram sobre a morte da namorada dele, mas não justifica a forma como ele vem me tratando nas aulas.

Será que eu exagerei?

__E então?

Dayna me traz de volta pra realidade. Eu respondo:

__Bem, eu vou ver o que faço.

Nos despedimos e minutos depois minha pizza chega. 

Eu só sei que até posso compreender ele um pouco, mas não quero mais voltar ali, nunca mais.

...

Tive um ótimo dia de trabalho ,sem pessoas estressantes e melhor ainda foi me lembrar que eu não tinha compromisso de voltar a ter aulas com aquele professor nervosinho.

Eu deixei bem claro para ele que não voltaria. 

Eu não posso dizer que não aprendi nada com ele ,porque foram ótimas dicas sim, pelo menos as que eu consegui ter com ele e vou continuar meus estudos a partir do que aprendi com ele.

...

Chego em meu apartamento depois de recolher a correspondência.

Me sento no sofá e George se aproxima, subindo em meu colo. Abro algumas correspondências e me dou conta de que as dívidas desse mês vão ficar apertadas para mim.

Faço algumas contas e realmente não vai ser fácil.

Só então me lembro de uma coisa, eu paguei adiantado por aulas que nem vou ter. 

...

__Quero meu dinheiro de volta.

Ele ainda está me olhando da mesma forma perplexa de quando abriu a porta segundos antes.

Ele cruza os braços e diz:

__Sem devolução. Esse foi o combinado e você aceitou.

__Eu sei que aceitei, mas eu achava que teria minhas aulas e isso não aconteceu!

__Eu sinto muito.

É isso? Ele sente muito? Ele é louco?

Eu respiro fundo e coloco meu sorriso de trabalho no rosto. Penso um pouco enquanto ele me olha dentro dos olhos me deixando desconfortável com essa atitude desafiadora e digo:

__Então eu quero continuar com as aulas.

Ele apenas diz:

__Ótimo.

Mas antes de entrar, eu aponto meu dedo e digo:

__Mas vamos ter uma relação estritamente profissional entre professor e aluna. Não quero você fazendo comentários sarcásticos sobre meu modo de aprender. 

Ele apenas ergue um pouco a sobrancelha e me ouve. Em seguida diz:

__Okay.

Ele vai se virar para entrar, mas eu digo:

__Espera!

Ele se vira novamente para mim, revira os olhos e diz:

__Ah, que ótimo, tem mais.

Ele quase me desestrutura com esse descaso, mas eu continuo:

__E nem pense em se dirigir a minha pessoa se não for algo exclusivo sobre o conteudo que estamos estudando.

Ele me olha por um tempo, se aproxima ficando bem perto e diz em um tom arrogante:

__Eu nem pensei em fazer isso.

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