Sofia Adams - Março, 2012Os olhos de Ethan faiscaram, seu rosto com sua máscara neutra eu tinha dificuldade em ler agora, mas seus olhos nunca mentiram para mim e aquele lampejo de raiva só me fez ficar mais apreensiva com a resposta.Ethan abriu minimamente seu casaco, alcançou um bolso interno sem tirar os olhos dos meus. De lá, tirou sua carteira e quando a abriu eu mal pude acreditar nos meus olhos quando o pequeno pedaço de papel familiar surgiu de um compartimento minúsculo e bem escondido. - Odeio o fato de ter feito você duvidar por um segundo sequer que aquela não foi a melhor noite da minha vida - Disse ele por fim me entregando meu próprio bilhete. Estava desgastado pelo tempo, com muitas dobras irregulares me fazendo acreditar que foi lido muitas vezes e alguns traços já começavam a desaparecer, mas era meu bilhete ali, minha letra, meu amor declarado e assinado. O mesmo bilhete que escrevi naquela manhã antes de sair para socorrer uma Anne histérica. Ele o guardou por
Sofia Adams - Outubro, 2010Eu olhei aliviada para os três testes de gravidez negativos na pia do banheiro. Eu definitivamente não estava pronta para ser mãe, Nick e eu acabamos de completar oito meses de casados, eu estava terminando minha faculdade agora... Era cedo demais para pensar em filhos, um bebê não estava nos meus planos pelos próximos cinco anos. Ainda bem que seja lá o que aconteceu com a minha menstruação ela só estava um pouco atrasada. Ouvi a porta de casa se abrir e o barulho familiar das botas de Nick batendo no chão para se livrar da pouca neve que se acumulara. O inverno chegou mais cedo este ano, a fina camada de gelo que se formara na entrada da minha casa e o hematoma na minha bunda quando escorreguei três dias atrás provava isso.Joguei os testes no lixo do banheiro e saí para encontrar com Nick. - Adams, venha cá dar um beijo no seu marido - chamou Nick sorrindo assim que me viu entrar. - Claro, querido – devolvi com uma voz afetada brincando me aproximando
Ethan Hernandez – Março, 2012Eu vi a mulher diante de mim se desmanchar.Sofia estava normal, ou então o mais normal que ela poderia estar considerando nossa situação... Mas foi só falar em Nick e naquela noite que em poucos segundos ela começou a chorar sem parar e a esfregar com força os braços e mãos compulsivamente, eu não estava entendendo nada. Eu tentei chegar perto e chamar sua atenção mas seus olhos estavam vazios e ela parecia muito distante dali para me ouvir. Ela estava perdida... Se afogando num mar de memórias que eu não sabia. Alguém poderia salvá-la? - Sofia, pare - pedi segurando suas mãos gentilmente tentando lhe passar calma.Puxei-a do seu assento e a levei dali antes que seu estado chamasse atenção indesejada. Levei ela escada acima, meu plano inicial era levá-la ao seu quarto, mas o surto parecia piorar a cada segundo e o meu quarto estava mais próximo então a puxei para ele assim que chegamos no primeiro andar. Sofia entrou e parecia buscar cegamente alguma
Ethan Hernandez - Março, 2012- Você sabe que não, foi um acidente - Eu disse tentando fazê-la entender. - Nós brigamos naquela noite, ele saiu por causa disso, escorregou no gelo e bateu a cabeça - disse Sofia com a voz robótica e sem emoção - Se eu tivesse ficado quieta... - - Pequeña, não. - Ethan, foi uma sucessão de erros, eu permiti que ele morresse, se eu tivesse dado um pouco mais de tempo... Talvez fosse só isso que ele precisava: tempo. - Sua voz inundada pelas lembranças carregava um tom que me intrigava. Foi quando as coisas começaram a parecerem estranhas para mim, Sofia relatou que o acidente de Nick foi há um ano e meio. Por quê só recebi a notícia da sua morte um ano atrás? - O que você quer dizer com isso? - perguntei da forma mais delicada que consegui. Sofia parecia poder quebrar ao mínimo movimento errado, mas eu podia sentir que vinha coisa grande quando Sofia levantou a cabeça do meu colo e se afastou sentando o mais distante de mim possível. - Por que você
Sofia Adams – Março, 2012Eu estava nos braços de Ethan novamente após sete anos. Sete longos anos sem sentir todo aquele alvoroço no estômago só de estar perto e sentir seu cheiro que continuava exatamente igual ao que era antes. Eu não sabia ao certo como me sentir, eu estava feliz por tê-lo por perto, mas algo ainda parecia errado. O cheiro... Apesar do seu cheiro continuar igual ele não era a mesma pessoa e bem... Nem eu. Ethan ainda usava o mesmo perfume amadeirado de sempre, mas eu me acostumei com o cheiro de limão de Nick, o frescor. Nick foi meu marido e meu melhor amigo, ele sempre esteve comigo, Ethan não. Me afastei um pouco do seu abraço tentando pensar com clareza. Ethan me soltou sem relutância, seu olhar questionador. Eu não sabia ao certo. Suspirei cansada, além da noite mal dormida era difícil decifrar o homem de agora. Eu não queria ter desabado da forma que desabei ontem, principalmente com ele vendo. Mas, já aconteceu e eu só podia seguir em frente agora. -
Sofia Adams – Março, 2012Eu estava me divertindo muito com Mick... Tanto que nem percebi a hora passar, só estávamos conversando e bebendo. Mick sabia detalhes da minha vida que eu nunca ousei falar para um estranho, mas ele tinha essa aura ao seu redor. Esse temperamento leve e fácil que te fazia confiar e dizer coisas. - Hm, Sofia? - Chamou Mick no meio da minha história sobre como eu me estatelei no chão em uma balada em Vegas na última vez em que estive aqui. - Sim? - questionei com a voz saindo muito mais arrastada do que eu pretendia. Quantas doses eu havia tomado mesmo? - Acho que você deveria ter se encontrado com sua amiga meia hora atrás - lembrou com um sorriso sem graça. Franzi a sobrancelha em confusão para suas palavras e chequei o relógio na parede do bar. Eram 10:30h. Droga, ele estava certo.- Certo espertinho, vou ligar para ela - Chequei meu celular e realmente, haviam várias ligações perdidas e algumas mensagens de Anne querendo saber onde eu estava. Realize
Sofia Adams - Março, 2012Guardei o celular no bolso e olhei para meu copo vazio no balcão pensando em tudo. Será que Anne estava certa e eu estava perdendo o controle? Eu não via desse jeito, eu não estava machucando ninguém, não saía dirigindo bêbada por aí causando acidentes... Era apenas uma distração, nada mais. Resolvi pensar nisso depois, o dano já estava feito, certo? Se eu vou pro inferno, que seja de tobogã. Pedi mais uma dose e em seguida fui atrás de Jones.O mesmo estava comemorando por que acertou uma bola no buraco, ele claramente estava perdendo, mas bêbado demais para perceber ou se importar. - Acho que vou voltar agora, eu já bebi demais - Comentei interrompendo sua comemoração por um momento. Talvez eu conseguisse conversar com Anne. - Você acha? - perguntou e em seguida levantou a mão com o dedo indicador no ar em frente ao meu rosto - Quantos dedos tem aqui? - - Um? - Arrisquei rindo. - Ótimo, não tá vendo dobrado, aguenta mais um drinque - e piscou jogando
Sofia Adams – Março, 2012O sol estava se pondo no horizonte da cidade do pecado, mas ainda me fazia suar, eu quase podia me sentir doente. Eu passei o dia com Mick e ouvir ele falar da sua irmã me fez pensar no meu marido... Passei o dia tentando esquecer mas bastou um momento de fraqueza pras memórias voltarem com força total. Eu queria dizer que eu só lembrava do sangue e dos incontáveis dias no hospital, mas era pior... Eu lembrava do seu cabelo ruivo perfeitinho. Lembrava quando ele fazia voz de palhaço pra me fazer rir e como sempre conversava com os bichos como se houvesse um diálogo real. As vezes quando eu estava quase acordando de manhã por um segundo antes de abrir os olhos eu podia jurar que ouvia sua respiração tranquila dormindo. Por um segundo tudo parecia normal. Mas eu abria meus olhos e a realidade me atingia. Eu sozinha dormindo no sofá da nossa casa incapaz de deitar na cama que dividimos. Era por isso que doía tanto. Se fosse só a morte e a dor eu conseguiria