O destino é inquieto.
Ele insiste em nos assustar.
Insiste em nos envolver.
Insiste em nos fazer amar.
No mês seguinte, eu já estava no meu carro a caminho da casa dos meus pais, no Paraná. Todos estavam à minha espera e ,infelizmente, não era daquela forma que eu havia planejado meu feriado de Carnaval, mas eu não tive alternativas.
Depois daquele dia no restaurante, Víctor foi me procurar no meu apartamento umas três ou quatro vezes, não sei ao certo. Eu nunca atendia a porta, e ele ficava lá, me chamando, mas como eu não respondia, ele ia logo embora e sempre deixava um buque de flores no chão.
O namoro havia chegado ao fim e eu chorei por isso. Mas imaginar as palavras horríveis que ele havia me dito naquele dia me fazia chorar ainda mais.
Durou apenas duas semanas a insistência dele em me procurar, depois disso cessaram as ligações e as mensagens, até mesmo os e-mails não estava
Não construa um muro alto de conceitos, costumes e opiniões imutáveis. Pois talvez um dia, você precise pulá-lo. Sentada em uma mureta entre um restaurante e a Baía de Guanabara, eu mexia incessantemente no canudo do meu chá gelado, ao mesmo tempo em que tentava não me sentir desconfortável com aquela situação. James, sobrinho de Víctor, que havia sido um antigo namorado meu, havia me convidado para jantar. Tudo bem, talvez eu estivesse somente imaginando coisas. James era um bom garoto, quer dizer, ele não parecia mais um garoto, estava mais velho e mais maduro do que na última vez que nos vimos, mas isso não escondia os quase dez anos de idade que tínhamos de diferença. Eu me perguntava se era realmente tudo isso que tínhamos de diferença. Mas eu não sabia e nem ousaria lhe perguntar. Apesar de não aceitar o jantar, não escapei de um pedido para uma rápida bebida. James conhecia
Nossos caminhos se cruzaram novamente.Você quis aproveitar os sonhos.Foi uma pena eu estar presa na realidade.Meu relógio despertou às sete em ponto. Troquei de roupa rapidamente, peguei minha mochila e saí antes de Karen acordar.Depois de duas aulas seguidas de balé clássico para os adolescentes no estúdio, fui almoçar junto com outros professores e voltei para me preparar para o turno da noite. Como ainda era cedo, aproveitei o tempo vago para organizar os CDs de música das aulas, que estiveram durante dias empilhados no canto da mesa de apoio. Um a um, fui colocando em ordem, enquanto ouvia tocar no CD Player o som suave de algumas melodias clássicas de Bach. O salão ainda estava vazio, quando num determinado momento em que eu est
Um passado mal resolvido sempre acabará encontrando seu caminho de volta.Eu não conseguia sentir o chão enquanto entrava no meu apartamento. Caí no sofá como se carregasse um elefante nas costas, com uma dor de cabeça que insistia em não sair. Foi assim que voltei do meu passeio com James. Depois daquele, vieram muitos outros . Às vezes, eu levava Karen comigo, conseguindo assim manter uma distância um pouco segura de James. Mas nem sempre isso era possível, em algumas ocasiões era difícil não aceitar um pedido dele para beber alguma coisa, ou um convite para passear pelo calçadão. Os assuntos rodavam basicamente entre nosso interesse mútuo sobre música, as quais ele com prazer ouvia e tocava, mas que jamais ousaria dançar, pois era inegavelmente reprovável nesse
Passaram-se verões.Perderam-se emoções.Restaram corações.Unidos em pedaços.Fazia exatamente uma semana desde que havia visto James ensaiando no Centro Cultural, quando Karen chegou eufórica em casa. Ela me procurava pelos cômodos do apartamento, gritando meu nome e, por fim, me encontrou no quarto, separando algumas roupas para a viagem.— Aí está você! Veja o que eu consegui. — Ela estendeu a mão, mostrando um ingresso.— Para que isso?— Para uma apresentação. — Ela sorria maliciosamente. — Eu consegui com um amigo muito legal!— Quem, Karen?— James.— James?— Sim, e você est&a
Consegui me achar escondida no seu passado.Presa em nuvens escuras e espessas.Agora luto para me conter e não morrer.Afogada em amor nos seus braços.— Vou adiar a viagem. Preciso ligar para Karen e avisar.— Você está com tudo programado e há tempo não vê seus pais. Não precisa ficar, se não quiser.— Farei isso depois do Ano Novo, por enquanto quero ficar aqui com você. Acho que já está na hora de acabar com velhos costumes. — Ele deu um pequeno sorriso, aquele de sempre, doce e encantador.Desde que terminei o namoro com Víctor, havia cinco anos, passava a maioria das festas de fim de ano em Antonina. Nunca tive grandes motivos para ficar no Rio, não como naquele momento. Daquela vez, era diferente.James e eu combinamos de não revelar, ao menos por aqueles
Me dê razões, mas não me dê escolhas.Porque eu cometeria os mesmos erros outra vez.Same Mistake – James BluntNo dia seguinte, deixei James no Centro Cultural para pegar o carro dele e fui para o meu apartamento terminar de fazer minhas malas. Karen já não estava mais lá.Eu não sabia para onde James me levaria, mas eu estava animada para conhecer o lugar preferido dele.Tomei um banho rápido e guardei o vestido novo no guarda roupas. Eu olhava para ele e sorria, pois de alguma forma, ele me trazia a lembrança da noite anterior.Tudo estava perfeito. Ao meio dia em ponto, James estava me esperando na porta do prédio para almoçarmos juntos. Desci com minha pequena bagagem e, ao abrir o portão, vi-o sentado no banco do motorista de um 308 preto, que naquele momento e
A confiança se desfez.Estilhaçando-se em cacos de mentiras.Quebrada por uma cruel verdade.Era o segundo dia do ano e eu estava na estrada, a caminho de Antonina para ver meus pais. James viajou para Madrid dois dias depois. Falávamos constantemente através de mensagens no celular e e-mails.Karen sabia que eu chegaria naquele dia e estava no sítio à minha espera. Tudo estava como das outras vezes, nada havia mudado, e comecei a sentir saudades de James. Mas ele precisava viajar e eu também.Duas semanas depois, quando voltei para o Rio, Karen foi comigo. Não contei nada a ela sobre meu Ano Novo com James, e eu não sabia qual seria a reação dela, então preferi prolongar mais esse segredo.Enquanto James cumpria suas aulas de intercâmbio em Madri, eu voltei a fazer também o meu trabalho no
Para Carla, O meu maior erro desde o início foi não ter enfrentado os meus problemas. Viver uma vida calma é mais seguro do que viver o inexplorado. Mais tranquilo do que se aventurar em águas profundas. Menos arriscado do que saltar de alturas gigantescas. Mas do que vale a bonança sem aquilo que realmente se deseja? Não posso dizer que me arrependo de tudo o que aconteceu, não posso dizer que voltaria atrás. Só o que posso dizer agora é que nada mais importa. A vida me presenteou no momento em que pensei ser impossível viver mais feliz do que eu era. Ao contrário do que se possa imaginar, não tenho a intenção de continuar buscando o destino mais favorável, o trajeto mais curto, a opção mais simples. Os últimos dez anos foram suficientes para me alertar de que não se pode traçar um ponto final em histórias que continuam vivas. Devemos fazer escolhas certas em nossas vidas. Esc