EduardoAs luzes suaves do abajur refletiam um brilho discreta o no quarto. Stella estava ao meu lado, encolhida no sofá, abraçando os joelhos como se quisesse se esconder do mundo. O choro dela, baixo e contido, parecia perfurar o ar com uma dor que eu sentia como minha.Eu não sabia mais o que dizer, mas minha mão estava firme na dela, entrelaçando os dedos, como se esse gesto simples pudesse segurar toda a angústia que desmoronava ao nosso redor. O coração de Stella era forte, mais forte do que qualquer um jamais imaginaria, mas agora ela parecia tão frágil. Seus olhos, ainda inchados de todas as lágrimas derramadas, olhavam para o nada, cheios de uma dor silenciosa.— Eu não quero… eu não posso perdê-la, Edu, — a voz dela quebrou finalmente o silêncio. — Se alguma coisa acontecer com a Bella… eu não… eu não sei se vou aguentar.Fechei os olhos por um segundo, sentindo o peso daquela mesma possibilidade. Bella havia acordado durante a noite, febril, e nosso medo era palpável. A cen
StellaO entardecer pintava o céu em tons delicados de laranja, mas dentro de mim, um turbilhão de sentimentos tomava conta. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto o carro que trazia Bella para casa se aproximava.Ela e Eduardo haviam me convencido a ir para casa, e, ao chegar, percebi o quanto sentia saudades dos meus pequenos. Bentinho, Bia, Bene, Bella e Eduardo, são a minha vida.Após matar a saudade dos meus amores, decidi relaxar em um banho de banheira. Dona Abigail, sempre atenciosa, preparou meu prato preferido, e me esbaldei de tanto comer, no período que fiquei no hospital com Bella, eu quase não comi, não sentia fome, a preocupação era maior que tudo. No entanto, por mais que tentasse me desligar, meus pensamentos continuavam voltando para Bella, ainda no hospital.Meu coração estava inquieto, batendo forte, como se tentasse se preparar para o momento em que, finalmente, minha família estaria completa novamente. Minhas mãos tremiam, e as lágrimas ameaçavam cair a qua
Seis meses depois…EduardoA sala estava tomada por sorrisos e olhares atentos, mas meus olhos estavam fixos nela. Stella, vestida com a beca, os cabelos soltos dançando a cada passo. Eu já a havia visto brilhar muitas vezes, mas hoje, havia algo diferente. Era como se ela estivesse em seu auge, carregando consigo toda a força e resiliência que só quem atravessa tempestades consegue ter. E agora, ali estava ela, no palco, o nome sendo chamado e o diploma nas mãos. Eu nunca senti tanto orgulho.Enquanto as palmas ecoavam pela sala, não era só um diploma. Era a prova de que Stella não era apenas a mulher forte e dedicada que todos admiravam, mas também uma pessoa que nunca deixou de lutar por seus sonhos, mesmo em meio ao caos que a vida jogou em seu caminho. Ela venceu. Nós vencemos. Mas, mais do que isso, ela estava ali, triunfante, com um sorriso que podia iluminar qualquer escuridão.Ela procurou por mim na multidão, e quando nossos olhares se encontraram, eu vi o brilho de lágrimas
Stella— Surpresa — disse Eduardo, com a voz tremendo um pouco. — Este é o seu restaurante, Stella. Eu o comprei para você. Matteo equipou a cozinha e cuidou de cada detalhe.Fiquei completamente paralisada. Meu coração batia forte no peito, e as palavras simplesmente não saíam. Olhei para Eduardo, para Matteo, e depois para o restaurante que agora estava diante de mim. A entrada do "Le Soleil" era imponente, com uma porta de madeira escura polida, ladeada por vasos com plantas verdes vibrantes. Tudo era tão perfeito. Dentro, luzes suaves iluminavam um espaço acolhedor e sofisticado. As paredes estavam adornadas com obras de arte modernas, e o ambiente transmitia o equilíbrio perfeito entre elegância e conforto.Eduardo abriu a porta, e eu entrei, com uma onda de emoção tomando conta de mim. Era como se cada detalhe daquele lugar tivesse sido pensado para refletir a minha paixão pela culinária. O ar estava impregnado com o cheiro de ervas frescas e especiarias, os utensílios brilhavam
Dois anos depois…StellaO sol estava nascendo, iluminando suavemente o céu com tons de rosa e dourado. Eu observava a luz filtrada pela janela, sentindo o coração bater acelerado no peito. Dois anos haviam se passado desde aquele dia no hospital, e agora, depois de tudo, o grande momento havia chegado. Era o meu casamento. “Nosso” casamento. Eduardo e eu iríamos finalmente oficializar o que nossos corações já sabiam há muito tempo.Sonhei com esse momento desde menina. Sonhava em entrar na igreja com um vestido rodado, igual das princesas dos contos de fada, bem branquinho, com caimento do ombro, e com lindas pedras pequenas e brilhantes, claro e com véu e grinalda… A vida, claro, me ensinou que o amor não era sempre um conto de fadas, mas com Eduardo, aprendi que o amor verdadeiro, aquele que resiste a tudo, era possível. E agora, enquanto ajeitava o véu no espelho, um sorriso tímido escapou dos meus lábios. Estava realizando o meu sonho! Eu estava nervosa, sim, mas não pelo medo de
Stella— Eu não entendi o que você estava buscando, e meu orgulho... e meu medo foi maior que o meu amor. Não aceitei sua nova vida, sua felicidade. Não aceitei quem você realmente era. E... tem uma coisa que me consome há anos, Stella: eu menti. Menti sobre quem eu era. Sempre quis passar uma imagem de força, de perfeição... mas, por dentro, eu era tão frágil e covarde.As palavras dele me atingiram como um soco. Já havia sentido o peso das mentiras e do julgamento antes, mas ouvir aquilo... vê-lo tão despido de suas máscaras... era algo que eu jamais imaginei.— Eu... eu só queria que você soubesse que sinto muito. Por cada palavra dura, por cada porta que bati na sua cara… Por tudo que fiz de mal a você. Eu não fui o pai que você merecia, e por isso... peço perdão. Sei que talvez seja tarde, mas... será que podemos recomeçar?O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Minhas mãos tremiam, e, quando finalmente olhei para ele, as lágrimas que segurei por tanto tempo começaram a
EduardoO jardim estava repleto de rostos familiares, pessoas que, de uma forma ou de outra, fizeram parte da nossa jornada. Amigos, familiares, aqueles que nos apoiaram em cada etapa. Mas, naquele momento, eu só conseguia ver uma pessoa. Meu coração parecia bater fora do peito quando Stella começou a caminhar pelo corredor, e tudo ao meu redor se dissolveu. A visão dela tomou conta de mim de tal forma que eu quase podia ouvir meu próprio coração ressoar com o compasso dos seus passos.Ela parecia irreal, como se tivesse saído de um sonho que eu jamais ousaria sonhar. O vestido branco envolvia seu corpo com uma delicadeza que parecia quase mágica, abraçando cada curva como se tivesse sido desenhado para ela e apenas para ela. Cada passo que ela dava, era como se o chão desaparecesse sob meus pés, e eu flutuasse naquele momento, suspenso pela pureza do que sentia. Ela era tudo para mim — o ar que eu respirava, as batidas do meu coração, a minha vida. E o sorriso tímido, banhado por lág
EduardoQuando ele mencionou meus votos, minha boca secou, e por um segundo, eu quase esqueci tudo o que tinha ensaiado. Mas então, eu olhei para ela, para aqueles olhos que sempre me deram força, e tudo fluiu.— Stella... — minha voz falhou no início, mas, ao respirar fundo, senti uma onda de coragem crescer dentro de mim. — Quando eu te conheci, eu estava perdido. Parecia que o peso do mundo estava nas minhas costas, e eu não sabia como aliviar essa carga. Então você apareceu, com sua luz e alegria, contagiando a todos à sua volta... inclusive a mim. Confesso que me apaixonei à primeira vista, mas, imerso em um mar de luto e dor, relutei. Quase te perdi, várias e várias vezes. Graças a Deus que você é teimosa! — soltei, arrancando algumas risadas, inclusive a dela. Eu sorri, sentindo o momento, e continuei:— Você, essa garota incrível que mudou minha vida, é tudo o que eu precisava, mesmo sem perceber. Aos poucos, fui dividindo meu fardo com você... E com seu jeito doce e alegre,