Orson sabia exatamente de quem eles estavam falando quando usavam aquela palavra ofensiva. Foi a primeira vez que ele ordenou diretamente à segurança do hospital que expulsasse os dois idosos. Os dois, que aparentavam ser frágeis, foram arrastados para fora enquanto gritavam com uma força surpreendente, prometendo chamar a imprensa e contar ao mundo que o filho deles havia sido destruído pela família Harris. Naquele momento, Orson respondeu com frieza: — Podem procurar quem quiserem. A atitude dele, tão calma e arrogante, era de gelar qualquer um. Mas Orson sequer olhou para eles novamente. Pouco tempo depois, Michel chegou ao hospital e informou que os pertences do apartamento Zara tinham sido transportados para o Condomínio Oásis. Orson respondeu apenas com um breve: — Hum. Michel hesitou, mas continuou: — Hoje vi a Sra. Harris… Ah, desculpe, quero dizer, a Sra. Zara. Ela parecia indisposta, talvez esteja doente. Orson permaneceu em silêncio. Michel respirou fundo e
Zara, naquele momento, não conseguiu dizer nada. Ela queria explicar que simplesmente não sabia como começar a falar. Mas, quando as palavras chegaram à boca, ela as engoliu silenciosamente. Orson provavelmente já havia esquecido de tudo aquilo. Caso contrário, ele nunca teria sugerido viajar para o País D. Zara sabia que aquele sentimento "intenso" entre eles era uma mentira. Porque, se ele realmente gostasse dela, ele não esqueceria algo assim. Era como ela, que, quando estava apaixonada por ele, desejava gravar cada momento e detalhe dos dois em sua memória. Mas ele não fazia isso. Ele não a amava. Para ele, escolher Zara tinha mais a ver com a compatibilidade física entre eles do que com qualquer sentimento verdadeiro. Desta vez, Zara foi sozinha ao País D, mas foi bem preparada. Ela pesquisou tudo com antecedência e até contratou uma guia local profissional, uma estudante universitária com uma personalidade vibrante e cabelo curto e moderno. — Você é a Zara? — Perguntou
— Aquela pessoa era seu ex-namorado? — Assim que entraram no reservado, Melissa perguntou diretamente para Zara. Zara ficou surpresa por um momento, mas depois balançou a cabeça. — Não era? Mas eu achei que vocês... — Ele é meu ex-marido. — Respondeu Zara. A voz de Melissa ficou presa na garganta. Depois de um instante, ela bateu as mãos juntas, como se algo finalmente fizesse sentido. — Já sei! Ele é o presidente do Grupo Harris, lá de Cidade N? — Você conhece ele? — Perguntou Zara. — Hum... Dá pra dizer que sim. Já vi notícias sobre ele, sabe? Comparado com aqueles outros presidentes carecas e barrigudos das grandes empresas, ele realmente se destaca. Zara deu um leve sorriso. — E aquela mulher que estava com ele? Quem era? Por que ela te chamou de irmã? — Ela é a filha adotiva dos meus pais. A resposta de Zara carregava tanta informação que a boca de Melissa foi se abrindo devagar, até atingir um tamanho que parecia capaz de engolir um ovo inteiro. Zara não c
Zara tinha o rosto levemente corado por causa do álcool. Seus olhos estavam úmidos e enevoados, como se ela não tivesse certeza do que estava vendo. Ela balançou a cabeça, incrédula, e, ao confirmar que não estava enganada, chamou por ele: — Orson. Ele não respondeu. O olhar que ele lançou sobre ela não carregava nenhuma emoção, exatamente como o que ele tinha enquanto a observava no restaurante. — Está nevando. — Disse Zara, parecendo não se importar com a indiferença dele. Ela apontou para o céu, com um pequeno sorriso. — Olha só, quanta neve! Você tinha razão, a neve daqui é mesmo mais bonita do que a de Cidade N. Mas eu ainda prefiro a de Cidade N. Zara continuou falando sozinha, com o corpo vacilante. Se Orson não estivesse segurando firme o braço dela, ela já teria caído no chão. — Mas Cidade N é fria demais. — Ela riu baixinho, olhando para o chão. — Claro, aqui também é frio. Esse inverno... Parece que nunca vai acabar. Sua voz foi diminuindo aos poucos, até desapar
Zara ainda não gostava do País D. Mesmo que o lugar recebesse uma quantidade interminável de turistas todos os anos, e mesmo que as paisagens fossem realmente bonitas, Zara simplesmente não conseguia gostar dali. Naquele momento, tudo o que ela queria era voltar para Cidade N e para o pequeno apartamento alugado onde vivia sozinha. No entanto, assim que o avião pousou, os membros da família Garcia apareceram em sua porta. Vera estava em estado crítico. Apesar de Carlos ter se esforçado para encontrar um rim compatível para o transplante, até aquele momento ele não havia conseguido. Além disso, Zara era filha biológica de Vera e, do ponto de vista médico, era a melhor opção para a cirurgia. Zara foi praticamente forçada a entrar no carro. Quando viu Carlos, ela soltou uma risada fria: — O que foi? Vocês estão pensando em me amarrar na mesa de cirurgia? Carlos olhou para ela por um instante antes de acenar para que os outros saíssem da sala. Depois de ficarem sozinhos, ele
Quando Fiona terminou de falar, o rosto de Carlos mudou imediatamente. Seus olhos se voltaram para ela com incredulidade, como se não pudesse acreditar que uma ideia tão cruel pudesse sair da boca da própria filha. Fiona percebeu a gravidade do que havia dito e rapidamente tentou se explicar: — Eu... Eu só quero salvar a mamãe, papai. Você viu como a doença a destruiu. Eu simplesmente... Não consigo suportar vê-la assim. Carlos permaneceu em silêncio. Embora ele estivesse profundamente ressentido com Zara por se recusar a ajudar e, em vários momentos, tivesse desejado sua morte em pensamento, ouvir Fiona dizer aquilo o abalou profundamente. Do outro lado, Fiona também não disse mais nada. Ela apenas levantou os olhos, inquieta, esperando pela reação dele. Foi então que a voz apressada de uma enfermeira soou pelo corredor: — Por que vocês estão todos aqui? Venham rápido, a paciente está em estado crítico! Ao ouvir essas palavras, o rosto de Carlos ficou pálido. Ele correu
Zara sentia como se estivesse sendo seguida. Ela trabalhava de casa como ilustradora e, por isso, raramente precisava sair. Contudo, uma ou duas vezes por semana, ela costumava ir ao mercado para comprar o que precisava para o dia a dia. Teoricamente, o horário de suas saídas era imprevisível, o que tornava difícil alguém conseguir monitorá-la. Era justamente por isso que ela não deu muita atenção à sensação de estar sendo observada, especialmente porque toda vez que olhava para trás, não via nada suspeito. Mas tudo mudou no dia em que Zara estava a caminho do supermercado e, de repente, uma moto surgiu em alta velocidade na direção dela. O motociclista não parecia ter outra intenção além de atingi-la diretamente. Com o susto, Zara deu vários passos para trás, tentando se afastar. Nesse momento, outras pessoas estavam passando pela calçada, o que fez a moto desviar dela no último segundo e seguir em frente, desaparecendo na rua. O vento cortante deixado pela moto ainda pare
O calor dentro do quarto só terminou de vez duas horas depois. O som da água vindo do chuveiro preenchia o ambiente, enquanto Zara Garcia, após alguns minutos de descanso, finalmente se levantava da cama. Suas pernas ainda tremiam, e ela se abaixou para pegar as roupas espalhadas pelo chão. As ações dele naquela noite tinham sido um pouco mais intensas do que o habitual, a ponto de sua mente ainda parecer vazia. Tentou abotoar o pijama várias vezes, mas seus dedos trêmulos falhavam repetidamente. Logo, o homem saiu do banheiro. Sua figura era alta e imponente, os traços do rosto fortes sem perder a beleza. Envolto apenas por uma toalha amarrada na cintura, gotículas de água deslizavam lentamente por seus músculos definidos, escorrendo pelo abdômen até desaparecerem. Ao notar que Zara ainda estava ali, ele franziu levemente as sobrancelhas. Zara, por sua vez, evitou olhá-lo diretamente. Mantendo o olhar fixo no botão do pijama, continuou travando sua pequena batalha silenciosa