Quando Zara o viu, Leander também a percebeu. Ele abriu um sorriso despreocupado e disse: — Aqui estou! ... Condomínio Oásis. Orson estava no escritório, com os olhos fixos na tela do computador, mas os dedos distraidamente tocavam o celular ao lado. Notificações de mensagens apareciam ocasionalmente no aplicativo de redes sociais, mas ele apenas lançava um olhar rápido antes de ignorá-las. Pouco depois das onze da noite, o som da porta se fez ouvir. Os dedos de Orson pararam por um instante, mas ele não se levantou. Sem qualquer expressão no rosto, apagou a tela do celular. Os passos de Zara eram leves. Ela foi primeiro até o quarto dele, mas, ao não encontrá-lo lá, seguiu para o escritório. A porta do escritório estava fechada. Orson ouviu quando ela parou do lado de fora, mas nenhum outro som veio em seguida. Ele não se incomodou em verificar. Continuou com o olhar no computador, vendo os minutos passarem no canto inferior da tela. Dois minutos se passaram até qu
Orson não voltou a perguntar nada sobre o que Zara havia feito naquela noite, e ela, por sua vez, também não tocou mais no assunto. Dois dias depois, Leander a convidou novamente, dizendo que queria levá-la para experimentar uma comida incrível. Foi a primeira vez que Zara percebeu como marcar um encontro podia ser tão direto e sem rodeios. Leander, de fato, era uma pessoa divertida. Ele sabia como aproveitar a vida e fazia questão de incluir Zara nisso. Tendo crescido em Cidade N, ele conhecia todos no seu círculo, mas não demonstrava interesse pelas festas glamorosas ou pelas baladas extravagantes. Em vez disso, sempre levava Zara a lugares históricos e inusitados. Às vezes, era apenas para provar algo específico de algum restaurante ou comprar uma bugiganga única. Por outro lado, Orson, que também havia crescido em Cidade N, nunca a levara a esses lugares. As poucas vezes em que saíram para jantar sozinhos foram sempre em restaurantes requintados e elegantes. A única vez
Zara não respondeu. Apenas pegou o bichinho de pelúcia lentamente, com as mãos um pouco trêmulas. Leander percebeu o clima estranho imediatamente. — O que aconteceu? Zara abaixou o olhar e respondeu com a voz baixa: — Nada. Vamos embora. — Como assim, nada? — Leander insistiu, visivelmente preocupado, segurando o braço dela. — Fala logo! — Um homem me tocou agora há pouco. — Zara respirou fundo antes de dizer. Leander ficou estático por um segundo, mas logo entendeu. Seu rosto mudou drasticamente. — Quem foi? — O quê? — Zara perguntou, confusa. — Eu perguntei quem foi? — Ele repetiu, olhando ao redor. Nesse momento, o homem que havia tocado Zara passou novamente, agora agarrando outra garota, com o mesmo sorriso nojento e satisfeito no rosto. — Foi ele? — Leander perguntou, apontando para o sujeito. Antes que Zara pudesse responder, Leander já estava indo na direção do homem. Sem dizer nada, desferiu um soco direto no nariz dele. — Filho da p... ... — Sr
Zara estava sentada, com a cabeça baixa. Usava o casaco de Leander sobre os ombros e segurava a xícara de café que alguém havia trazido para ela. Mesmo assim, seu corpo continuava tremendo incontrolavelmente. Leander não tinha saído ileso. A briga foi feia. No começo, ele até levou vantagem, mas, assim que os outros homens se juntaram, a situação virou contra ele. Zara tentou se aproximar para ajudar, mas Leander a segurou firmemente atrás dele, impedindo que ela se envolvesse. Se não fosse pela intervenção rápida dos funcionários do fliperama, ninguém sabia como aquilo teria terminado. — Fica tranquila, estou bem. — Leander falou enquanto ainda dava seu depoimento para os policiais. Quando viu o estado de Zara, estendeu a mão para segurar a dela. Zara finalmente ergueu os olhos, como se quisesse dizer algo a ele. Mas, no instante em que levantou o rosto, parecia ter visto algo terrivelmente assustador. Sua pele, já pálida, ficou ainda mais branca, enquanto seus dedos fic
E, ao notar Zara ao lado dele... Michel teve a sensação de que acabara de descobrir um segredo grave. Algo que definitivamente não deveria saber. Mesmo com a mente fervilhando, ele não teve escolha a não ser se aproximar, com a coragem que conseguiu reunir. — Sr. Orson... — Arriscou ele. Orson apenas lançou um olhar para dentro da delegacia, e Michel captou a mensagem no mesmo instante. — Pode deixar, senhor. Vou cuidar disso. Sem dizer mais nada, Orson empurrou Zara para dentro do carro. Em seguida, ergueu a mão e jogou um boneco diretamente na lixeira mais próxima. Sentada no carro, Zara assistiu a tudo com clareza. Ela abriu os lábios, como se quisesse dizer algo, mas acabou desistindo. Não disse nada. Logo depois, Orson entrou no carro e arrancou em alta velocidade. O movimento brusco fez o coração de Zara acelerar no mesmo instante. Instintivamente, ela se virou e puxou o cinto de segurança, enquanto ele permanecia impassível, sem sequer lançar um olhar em sua dire
— Ele é meu amigo, eu só... Não quero que você o difame dessa forma. — Zara mordeu o lábio antes de continuar. — Além disso, hoje à noite ele se machucou por minha causa, eu...Orson, porém, soltou uma risada fria. O tipo de riso que mais parecia uma lâmina, cortando o rosto de Zara com brutalidade. — Zara, você esqueceu do que combinamos antes? — Perguntou ele, o tom quase casual, mas carregado de ameaça. — Eu já disse, eu e ele somos só amigos, eu... — Se são só amigos, por que mentiu? — A voz de Orson se tornou ainda mais calma, mas seus olhos fixaram-se nela como se quisessem despir sua alma. Zara abriu a boca para negar, mas antes que conseguisse dizer algo, ele a interrompeu bruscamente: — Na semana passada, naquela noite em que você se atrasou... Você estava com ele, não estava? Zara ficou em silêncio. Orson virou o rosto para encará-la diretamente. — Se não estou errado, você tomou um banho antes de ir ao Condomínio Oásis, certo? Ele fez uma pausa, como se as
— Mas você fez isso? Na última festa, parece que se divertiu bastante, não? Feira noturna? Fliperama? E o que mais? Que outro tipo de “social” você anda fazendo? — Orson falou, deixando escapar uma risada baixa e fria. — Zara, você realmente acredita que é insubstituível? Durante todo o tempo que o conhecia, Zara nunca o tinha ouvido falar tanto de uma só vez. Porém, cada palavra que saía de sua boca era como uma lâmina afiada, cortando direto o peito dela, rasgando sem piedade. Ela sempre soube que ele era orgulhoso e inalcançável, mas antes, ao menos, ele escondia isso sob uma camada de educação e frieza. Agora, nem mesmo essa máscara restava. O olhar de desprezo e superioridade que ele lançava nela era um lembrete cruel de que nunca foram iguais, nem no começo, nem agora. Ela não tinha o direito de fazer amigos, isso ficou claro para Zara. Ela não era nada além de um objeto que pertencia a ele. E agora, na visão dele, esse objeto estava “sujo”. E, como qualquer coisa que p
Era a primeira vez que Zara via Orson daquele jeito. Na verdade, o rosto dele, agora tomado por emoções intensas, parecia bem mais vivo do que a expressão controlada e impassível de sempre. Foi então que Zara percebeu algo curioso: ele era capaz de reagir por causa dela. Que raro. Mas, pensando bem, qualquer homem ficaria irritado ao ouvir o que ela dissera antes. O mais estranho, porém, era que Zara sentia uma calma surpreendente. Ela sustentou o olhar dele por alguns segundos e, então, perguntou: — O que eu disse antes não foi claro o suficiente? Eu disse que... Antes que ela pudesse terminar, a mão de Orson subiu de repente. Aquele movimento era familiar. Zara conhecia bem demais. Desde pequena, ela já havia passado por isso inúmeras vezes. Seus olhos fecharam-se automaticamente, antecipando o tapa que estava prestes a vir. Mas a dor nunca chegou. Devagar, ela abriu os olhos e viu que a mão de Orson ainda estava suspensa no ar, imóvel. As sobrancelhas dele estava