— Ele está agindo assim porque não aceita a derrota. — Disse Zara, interrompendo Melissa. — Ele já experimentou frustração e decepção por minha causa, e agora só quer que eu sinta o mesmo. — Mas eu acho que… — Começou Melissa, antes de ser cortada novamente. — Se ele realmente ainda gostasse de mim, ele saberia que, de qualquer forma, não deveria usar a nossa filha como uma arma para me ameaçar. — O tom de Zara era firme. — Eu estou fazendo o que ele quer agora porque quero que a Nati tenha a chance de passar pela cirurgia. Mas, com uma relação baseada nisso, o que isso significa? Nada. Melissa, entre mim e ele, nunca mais vai existir qualquer possibilidade. ... A noite chegou rapidamente, e Zara percebeu que tinha começado a temer esse horário. Seus olhos não saíam do celular. Ela tinha medo de que Orson enviasse alguma mensagem. Mas, ao mesmo tempo, temia ainda mais que ele não enviasse nada. Afinal, ele ainda não tinha assinado o consentimento para a cirurgia. Mas aque
A mão de Orson ficou suspensa no ar por um momento. Quando ele percebeu que Zara não tinha a menor intenção de pegar o cartão, sua expressão imediatamente se fechou. Zara, no entanto, fingiu não notar. Em vez disso, tirou os documentos que havia preparado e os colocou sobre a mesa. — Em vez do cartão, que tal falarmos primeiro sobre as condições deste acordo? — Disse ela, com a voz firme. Orson não respondeu. Ele apenas baixou os olhos para os papéis nas mãos dela. — Este é o termo de consentimento para a cirurgia. Por favor, assine primeiro. — Zara continuou, sem se abalar. Na última vez, ele havia dito que não tinha prometido nada, e Zara não tinha como refutá-lo. Mas, desta vez, ela veio preparada. Orson era um homem de negócios. E, como todo bom empresário, ele sabia que palavras não tinham tanto peso quanto um contrato assinado. Além do termo de consentimento, Zara também havia preparado outro documento. Era uma espécie de contrato que estipulava os limites da relaçã
No momento seguinte, Orson, no entanto, virou-se para ir embora. Zara, ao perceber, não pensou duas vezes antes de segurar a mão dele. O gesto foi leve e hesitante. Zara já estava preparada para que ele a afastasse com desprezo, mas, para sua surpresa, ele não o fez. Orson apenas virou a cabeça e baixou os olhos para a mão dela, observando-a em silêncio. — Me desculpe. Eu não deveria ter pensado daquela forma sobre você da última vez. Foi meu erro. Mas a Nati é inocente. Você poderia… Por favor, ajudá-la? — Disse Zara, escolhendo cuidadosamente as palavras. Sua voz estava rouca e seca, como se cada frase fosse dolorosa de dizer. Se ela tivesse qualquer outra alternativa, jamais estaria ali, mendigando o tempo de Orson. Mas a verdade era que ela não tinha escolha. Zara sabia exatamente o que Orson queria. Ele desejava vê-la assim, humilhada, implorando. Quando ela terminou de falar, Orson finalmente a encarou. Ele segurou o queixo dela com delicadeza, mas firme o suficiente pa
Orson sempre tentou se controlar para nunca fazer essa pergunta. Afinal, ele era o homem que tinha sido abandonado por Zara. Ser deixado já era humilhante por si só, mas ser o homem que implora para saber o porquê… Isso seria ainda pior. Por isso, desde o dia em que se reencontraram, Orson nunca mencionou o assunto. Mas, naquele momento, ele não conseguiu segurar. Ele precisava saber. O comportamento de Zara na época sempre lhe pareceu contraditório. Ela disse que não queria passar dificuldades ao lado dele, mas também não levou nada que ele havia dado. Naquele tempo, ele a presenteou com itens valiosos, coisas que, se ela tivesse levado, garantiriam uma vida confortável por muitos anos. Mas ela escolheu ir embora de mãos vazias. Para Orson, era claro que o motivo que ela deu era apenas uma desculpa esfarrapada, algo que ela inventou para enganar a si mesma. Então, por que ela realmente foi embora? Orson a encarou, buscando desesperadamente uma resposta. Zara ficou em sil
— Você odeia sua própria filha, a ponto de querer vê-la morrer diante dos seus olhos? — Zara gritou, com a voz carregada de raiva. — Sim, eu disse antes que assinaria, mas está claro que não consigo. — Respondeu Orson, com uma tranquilidade quase cruel. A atitude de Orson era direta, sem rodeios. Ele estava assumindo, sem qualquer hesitação, que havia voltado atrás em sua palavra. Ele não faria. Mas… E daí? As regras do hospital eram claras: o consentimento para a cirurgia precisava ser assinado pessoalmente. A decisão estava inteiramente nas mãos de Orson. Enquanto ele não quisesse, ninguém poderia forçá-lo a pegar a caneta e colocar seu nome no papel. Zara nunca havia imaginado que isso pudesse acontecer. Por mais frio que ele fosse, ela acreditava que, no fundo, Orson ainda tinha um mínimo de humanidade. Afinal, como um pai poderia simplesmente assistir à própria filha definhar sem fazer nada? Mas a realidade provava que ela o superestimara. Ele realmente era capaz de tama
Quando Zara terminou de falar, Melissa ficou visivelmente atônita. Era como se, por um breve momento, sua mente simplesmente não conseguisse processar o que acabara de ouvir. Depois de alguns segundos em silêncio, ela finalmente perguntou de novo: — O que você disse? — Ele disse que não quer fazer… A cirurgia. — Repetiu Zara, com a voz rouca e quase inaudível. Melissa imediatamente tirou os fones de ouvido, jogando-os de lado. — O Orson está maluco! Sua voz saiu tão alta e aguda que até Natália, que dormia na cama do hospital, acordou assustada. Ainda meio sonolenta, a menina olhou para as duas mulheres, piscando os olhos devagar. — Mamãe… — Chamou Natália, com a voz suave. Zara correu até a filha e segurou sua pequena mão com delicadeza. — Acordei você? Me desculpe, meu amor. — Disse Zara, com uma expressão de culpa. Natália olhou primeiro para Zara e, depois, para Melissa, que ainda estava com o rosto vermelho de raiva. — Mamãe, você brigou com a Titia? — Pergun
Zara permaneceu em silêncio. Melissa sabia o que estava acontecendo, mas Zara sabia ainda mais. Ela entendia aquilo com uma clareza que a esmagava. Naquele momento, sua mente estava completamente vazia. Zara sabia que Orson a odiava. Ele poderia fazer o que quisesse com ela, e ela aceitaria. Mas, justamente porque ele não fazia nada, ele a mantinha presa. Era como se ele segurasse a respiração dela em suas mãos. Orson sabia exatamente como manipular as pessoas e jogar com suas emoções. Ele sempre foi assim. Ele sabia o que fazer para causar o máximo de dor, e, com Zara, ele havia acertado em cheio. Melissa continuava falando ao lado dela, mas Zara não conseguia escutá-la. Seu olhar estava fixo na pequena Natália, deitada na cama. Natália era tão pequena. Ela ainda estava ali, quente, viva. Mas Zara sentia como se estivesse vendo sua filha escorregar lentamente para longe, sem poder fazer nada para impedir. — Zara! Zara! — A voz de Melissa chegou até ela, acompanhada de um t
Zara, no final, foi primeiro visitar Natália. Marta tinha decidido acompanhá-la, mas, talvez por perceber a resistência de Zara à sua presença, ou porque era a primeira vez que via a criança, acabou hesitando. Ela havia chegado às pressas e, sem ter trazido nenhum presente, parou antes de entrar no quarto. Do lado de fora, através da porta, Marta podia ouvir a voz de Natália lá dentro, ainda infantil, com aquele tom doce e inocente. Ela não resistiu e espiou pela pequena janela da porta. Conseguiu ver apenas o pequeno corpo de Natália de costas, o cabelo redondinho e os braços finos. Apenas aquele vislumbre foi suficiente para deixar o olhar de Marta mais suave. Foi nesse momento que Zara saiu do quarto. Zara parecia cansada, e a agulha do cateter ainda estava em sua mão. Ela havia tentado tirar a agulha antes, mas Melissa não permitira. — O que você quer falar comigo? — Zara perguntou, indo direto ao ponto assim que voltou para o quarto. — Aqui está. É um documento que