Rafael prendeu a respiração quando Pedro levou a xícara de café a boca. Ele bebeu um gole e sorriu satisfeito.
- Finalmente um café decente, Rafael.Rafael respirou aliviado. Dessa vez não precisaria recolher a xícara quebrada do chão e limpar o café que se espalha pelo piso branco.
- Que bom que gostou, chefe.Pedro bebeu mais um gole, pegou o box de Carlton, o isqueiro branco e acendeu um cigarro. Ele deu uma longa tragada, soltou a fumaça devagar e se recostou na cadeira.
- Eu estou preocupado com Rodrigo. Você está sabendo de alguma coisa?Rafael pensou rápido. Entre trair a confiança de Rodrigo, e mentir para Pedro, ele prefere continuar vivo.
- Rodrigo pediu transferência. Ele não suporta mais ficar aqui.- Eu nunca vou assinar a baixa dele. Para se livrar de mim, Rodrigo precisa da minha permissão e ele nunca vai ter.
Irritado, Pedro bebeu mais um gole de café e fumou o cigarro. Rafael limpou a garganta.
- Talvez seja melhor ele ir. Quando essa rebelião começar, nós não sabemos de que lado Rodrigo vai estar. E isso não é reconfortante.Pedro considerou Rafael. Ele tinha razão. No entanto, perder Rodrigo de vista não era uma opção. Ele sabia demais.
Rafael ficou aliviado em falar o que pensa. É um fato que Pedro e Rodrigo não podem mais trabalhar juntos.
Uma batida na porta.
- Entra.Rodrigo abriu a porta e não gostou de ver Rafael e Pedro conversando. Porque com certeza ele era o assunto. Rafael desviou o olhar. Em um ataque de fúria, Rodrigo foi para cima de Rafael que teve tempo apenas de proteger o bonito rosto negro.
- Você me traiu! Você contou para ele!Enfurecido, Rodrigo desferiu vários socos no estômago de Rafael. Ele não revidou. Apenas tentou se proteger.
Rodrigo só parou quando foi violentamente puxado para trás, atirado sobre a mesa e Pedro tirou a arma da cintura e colocou na sua cabeça.
A primeira reação de Zoe foi de incredulidade. Três homens grandes e fortes brigavam entre si. Pareciam animais selvagens. Um policial negro estava abaixado com as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego depois de uma sessão de socos violentos no estômago, o policial que o agrediu foi jogado contra a mesa com tamanha brutalidade que certamente teve algum osso quebrado, e agora tinha uma arma apontada para a sua cabeça.
O maior deles, o delegado que estava com o distintivo, tinha sangue nos olhos. Ele era assustador. Devia ter no mínimo um metro e oitenta, com certeza mais de cem quilos de músculos, a camiseta preta e justa realçava os ombros largos, braços longos, fortes e cobertos por tatuagens sombrias. Ele era loiro e barbudo.
A calça jeans preta mostrava pernas grossas e musculosas. Um perfeito selvagem, pensou Zoe. Sua mão enorme não tremia ao segurar a arma.
Zoe achou melhor acabar logo com aquilo. Ela deu um passo a frente e entrou na sala.
- Eu não quero atrapalhar mas...Zoe não terminou a frase. Os três olharam para ela.
Pedro olhou em direção a porta e não acreditou no que viu. Uma bela negra, cerca de um metro e setenta, aproximadamente sessenta e cinco quilos, cabelos castanhos escuros cacheados e compridos, expressivos olhos negros, nariz fino e delicado, lábios rosados e carnudos, dentes brancos e perfeitos.
O rosto angelical terminava em um delicado queixo oval que lhe dava um ar de arrogância e teimosia. A pele negra, lisa e uniforme, sem nenhuma imperfeição, fez Pedro sentir uma leve pressão dentro da calça. Nada de alarmante ainda.
Pedro desceu os olhos azuis para os seios fartos e firmes, barriga lisa, bumbum avantajado, coxas grossas e afastadas, e ele se perguntou se a mulher estava usando alguma coisa por baixo daquele vestido preto, justo e curto.
Em um único movimento, Pedro saiu de cima de Rodrigo, guardou a arma na cintura e foi até a mulher. Zoe não se mexeu. O delegado passeava os olhos azuis turquesa por todo o seu corpo. Sem nenhuma cerimônia, ele fixou os olhos nos lábios de Zoe.
Pedro sentiu o perfume feminino, a fragrância floral dos cabelos sedosos, o hálito fresco de menta, o calor que emanava daquele corpo escultural e não resistiu.
Ele ergueu a mão e tocou o rosto negro e angelical. Sua pele era macia, suave e absurdamente quente. Zoe, em estado de choque, não teve reação. Apenas sentiu o toque da mão fria e áspera queimar o seu rosto.
O delegado é dono de uma beleza selvagem, quase primitiva. Seu cabelo e barba na verdade não são loiros. Os fios possuem um tom incomum de dourado, e os olhos azuis turquesa não se comparam com nenhum tom de azul que Zoe já tenha visto na vida.
Rafael ergueu o corpo enquanto Rodrigo deslizava para fora da mesa e ficava em pé ao seu lado. Os dois policiais trocaram um olhar de preocupação.
Rodrigo passou a língua pelos lábios. Depois de ter tido uma arma apontada para sua cabeça, a boca estava mais seca que o deserto onde Jesus passou quarenta dias.
- Pedro, essa é Zoe. Ela é advogada do Lucas e filha do Álvaro.Pedro não escondeu a surpresa. Ele colocou a mão no queixo de Zoe e virou seu rosto como se estivesse avaliando o valor de uma jóia.
- Você não se parece com uma advogada. A propósito, está usando alguma coisa por baixo desse vestido?A bofetada firme e forte no rosto de Pedro, fez ele cambalear.
Atordoado, Pedro deu um passo para trás e levou a mão no rosto dolorido. Zoe foi pra cima dele, e furiosa, apontou o dedo indicador na sua cara.- Você é muito abusado, Delegado! Sabia que eu posso te processar por assédio?!- E eu posso te prender por desacato a autoridade e agressão física.Pedro e Zoe se fuzilaram com os olhos. Rafael, em sua mente, já enfeitava a história para contar aos outros policiais. O dia em que uma mulher enfrentou Pedro e o colocou no seu devido lugar.Porém, ao ver Pedro cerrar os punhos, Rafael se colocou entre ele e Zoe.- Estamos todos exaltados. Vamos nos acalmar.- Eu não quero me acalmar! - Zoe disse brava. - Ele me ofendeu!Rodrigo achou melhor intervir.- Foi um mal entendido, Doutora. Nós estamos sob muita pressão, e nem é seguro você estar aqui.Com a cara e a coragem, Rodrigo pegou
Em poucas horas Pedro descobriu que Zoe não estava blefando. Ela entrou com um pedido de Habeas Corpus Liberatório, alegando que a prisão de Lucas foi arbitrária e abuso de poder. O juiz considerou a prisão sem justificativa e ilegal. Conclusão: Pedro não teve outra alternativa senão soltar Lucas.Pedro queria dar um tiro em Zoe. Faltava apenas meia hora antes do fim do seu plantão, mas Pedro tinha que descontar toda a sua raiva em alguém.- Rodrigo!Rodrigo se preparou para o 3º round. Ele entrou na sala. Pedro estava em pé perto da janela. Já era noite.- Sim, senhor.- Feche a porta.Rodrigo hesitou.- O quê?Pedro gritou:- Eu mandei você fechar a porra da porta!Rodrigo obedeceu. "Deus me ajuda".Pedro se aproximou.- Você andou aprontando pelas minhas costas. Que pal
Pedro acordou com o telefone tocando insistentemente. Sem abrir os olhos, ele tateou o criado mudo a procura do aparelho.- Alô.- Bom dia, Pedro.- Quem é?Matheus revirou os olhos. Está farto das bebedeiras de Pedro.- Matheus.- O que você quer imprestável?- Você deveria ter mais respeito por mim, Pedro. Eu também sou delegado.Ainda sem abrir os olhos, Pedro coçou a barba.- Fala logo, imprestável.Matheus suspirou.- Alex precisa ser transferido para o hospital. A perna dele está fedendo sangue podre. - Deixe apodrecer.- O cheiro já se espalhou pela delegacia, e ele está com febre. Você está levando esses homens ao limite, Pedro. - Matheus se gabou. - Controlei um início de tumulto está madrugada.Com dificuldade, Pedro abriu os olhos e olhou no relógio, 05:58h.- Bom, se você controlou um início de tumulto, pode cuidar de uma infecção. Transferência negada.
Matheus, Rodrigo, Rafael e outros policiais conversavam na recepção da delegacia quando Pedro chegou com uma hora de atraso. Como de costume, ele não cumprimentou ninguém, e foi direto para a sua sala.Matheus perguntou:- Viram o arranhão no rosto dele? - Eu vi. - Rafael respondeu.À essa altura, toda a delegacia já sabia que Pedro tinha apanhado da advogada. O que eles não sabiam, é que o delegado acabará de apanhar novamente.Matheus entrou na sala. Ele deixou passar o atraso de Pedro.- Eu desinfetei a ferida do Alex e fiz um curativo. Ele vai tomar antibiótico de doze em doze horas por sete dias. A segunda dose é às 19:00h.Apático, Pedro dispensou Matheus com um gesto de mão. Matheus não saiu do lugar.- Eles precisam comer, tomar banho de sol e receber visita dos familiares e advogados, Pedro. - Eu não sabia que você era engraçado, Matheus.- É isso ou a rebelião vai acontecer. A delegacia vai
Foi um beijo voraz, intenso, quente e molhado. A língua de Pedro fez coisas imperdoáveis dentro da boca de Zoe. Ele estava tão excitado que chegou a babar. Zoe precisava admitir, o delegado sabe beijar. Sua pegada firme chega a ser violenta. Zoe ficou com os lábios inchados e doloridos.Seu rosto sensível foi arranhado pela barba dourada e áspera do delegado. Na sua sala no escritório de advocacia, Zoe suspirou. O beijo quase selvagem terminou com ela empurrando Pedro, e novamente batendo nele.Pedro não reagiu, e Zoe praticamente correu para fora do mercado deixando as compras para trás. Ela só parou quando chegou no seu carro, entrou e trancou a porta. Não que uma porta de carro pudesse deter Pedro. Ele não foi atrás dela.Trêmula, Zoe voltou para casa, tomou um banho gelado, trocou de roupa e foi trabalhar. Precisa tirar Pedro da cabeça. Ele é problema, e dos grandes.Após o banho de sol, os presos devi
Zoe não estava afim de ficar sozinha em casa. Primeiro porque não tinha o que comer. E segundo, porque seu pai ainda não tinha voltado de viagem. Dan e Lara, seus amigos de infância e agora advogados da Conceitos, a convidaram para sair. Zoe aceitou. Ela escolheu um look sexy, porém comportado. Blusinha preta e shorts jeans claro. Fez escova e prancha no cabelo e caprichou na maquiagem. Optou por um perfume floral. A noite estava quente. Zoe não ficou desapontada.Por onde passava, atraía os olhares tanto de homens como de mulheres. O lugar estava lotado de pessoas de todas as idades. No palco, um grupo de samba se apresentava. Enquanto abriam caminho até a mesa, Dan disse eufórico:- Eu quero comer muito hoje. Lara me faz passar fome em casa, Zoe.- Deixa de ser mentiroso, Dan!Lara repreendeu o marido.Zoe riu. - Hoje você vai tirar o atraso, Dan.- V
Zoe estancou quando Pedro levantou. Ele estava visivelmente embriagado. Rodrigo e Rafael também tinham enchido a cara. - Eu quero falar com você, Zoe. E tem que ser agora.- Nós não temos nada para conversar, Delegado.Zoe se arrependeu do que disse no momento em que Pedro estreitou os olhos e cerrou os punhos. Lara se encolheu. Rafael tenso, levantou. Rodrigo não estava em condições de ficar de pé. Dan chegou.- O que está acontecendo?Rafael puxou Pedro pelo braço.- Não é nada. Senta Pedro.Pedro puxou o braço que Rafael segurava e apontou o dedo indicador para Dan.- Fica fora disso.- Não fico. Você está incomodando as meninas.As pessoas em volta começaram a prestar atenção na confusão que Pedro estava causando. Zoe percebeu que as coisas poderiam piorar. Ela soltou a mão de Lara e se aproximou de Pedro.- Está bem. Vamos conversar.- Você não vai com ele! - Dan puxou Zoe pelo braço.-
Pedro deu descarga no vaso sanitário pela terceira vez, abaixou a tampa e segurando na pia, levantou do chão onde estava ajoelhado e sentou na tampa do vaso.Zoe foi embora do restaurante com Dan e Lara. Pedro sentiu um vazio imenso se abrir dentro do seu peito quando Zoe o deixou. Como assim ela não estava pronta para ele? Se beijaram, se tocaram, se esfregaram um no outro e ela não estava pronta?Em casa, Pedro passou a madrugada cheirando cocaína e bebendo vodka. Agora, no banheiro da delegacia, ele estava vomitando até as tripas. Fraco, Pedro passou a mão na testa para secar o suor. Suava frio.Ele tinha prometido aos presos liberar as visitas e não podia voltar atrás. Não podia colocar a perder a frágil trégua com os detentos. Pedro encostou a cabeça na parede e fechou os olhos.Uma batida forte na porta.- Pedro!Rodrigo foi entrando. Ele não estava em melhor situação do que Pedro.- Quer me matar de susto, Rodrigo?- É para