Em poucas horas Pedro descobriu que Zoe não estava blefando. Ela entrou com um pedido de Habeas Corpus Liberatório, alegando que a prisão de Lucas foi arbitrária e abuso de poder. O juiz considerou a prisão sem justificativa e ilegal. Conclusão: Pedro não teve outra alternativa senão soltar Lucas.
Pedro queria dar um tiro em Zoe. Faltava apenas meia hora antes do fim do seu plantão, mas Pedro tinha que descontar toda a sua raiva em alguém.
- Rodrigo!
Rodrigo se preparou para o 3º round. Ele entrou na sala. Pedro estava em pé perto da janela. Já era noite.
- Sim, senhor.
- Feche a porta.
Rodrigo hesitou.
- O quê?
Pedro gritou:
- Eu mandei você fechar a porra da porta!
Rodrigo obedeceu. "Deus me ajuda".
Pedro se aproximou.
- Você andou aprontando pelas minhas costas. Que palhaçada é essa de transferência?
- É o melhor para nós dois, Pedro. Eu ia falar com você. Por favor, assine os papéis e nos tire desse sofrimento. Você não precisa de mim.
Pedro olhava para Rodrigo com evidente desgosto.
- Então é assim? Depois de todos esses anos, de todas as irregularidades que cometemos, você quer sair fora? Simples assim? Quer me deixar na mão?
- Eu só estou fazendo o que você faria. Nós fizemos prisões ilegais, desaparecemos com provas, alteramos cenas de crime, extraviamos drogas, falsificamos relatórios e inquéritos. Nós fomos longe demais, Pedro. Eu não quero mais fazer isso. - Rodrigo se manteve firme. - Você não tem nada a perder. Mas eu tenho família. Esposa e filhos.
Pedro escutou o desabafo de Rodrigo. Ao longo de sete anos, ele sempre esteve ao seu lado. Seguiu suas ordens cegamente, sem questionamentos, sem perguntas. E tudo ia muito bem, até Rodrigo começar a pensar por si mesmo.
Desde então, se tornaram inimigos declarados. É óbvio que Rodrigo não vai abrir a boca. Ele sabe que pode ser expulso da Polícia Civil e passar muitos anos preso como cúmplice. Ele quer apenas outra chance.
Pedro passou a mão pelos cabelos dourados. "Como será que é ter família? Ter esposa e filhos te esperando em casa? Ter comida fresca e uma cama quente?"
Pedro nunca tinha tido esses pensamentos ridículos. Por alguma razão, ele se lembrou de Zoe, e sua raiva retornou.
- O barco está afundando e você quer pular fora, é isso?
Rodrigo sustentou o olhar de Pedro.
- Você me disse mais cedo que é nas escolhas que os homens se separam dos meninos. Então, de homem pra homem, eu não suporto mais olhar na sua cara, Pedro. Você não é digno nem de dividir a cela com esses criminosos. Você não é um policial dando uma de bandido. Você é um bandido se passando por policial.
As palavras duras e verdadeiras, foram como um soco na cara de Pedro. A raiva deu lugar a frustração, e o delegado sentiu a cabeça rodar.
Rodrigo disse secamente:
- É fome. Se lembra da última vez que comeu alguma coisa?
Pedro se apoiou no ombro de Rodrigo. Ele não soube responder.
- Vamos. Eu te deixo em casa. A última coisa que nós precisamos é que você se envolva em um acidente de carro, e descubram cocaína no seu sangue.
Sem forças, Pedro se deixou levar por Rodrigo.
Zoe saiu do banho, e vestiu top e calcinha brancos da Calvin Klein. Ela tinha lavado os cabelos e estava com uma toalha branca enrolada na cabeça. O celular tocou. Era seu pai.
- Oi, pai.
- Oi, meu amor. Tudo bem?
- Tudo bem.
- Tudo certo com o Lucas?
- Sim. Ele já está em casa.
Álvaro riu.
- Essa é a minha garota. Eu estou tão orgulhoso de você, Zoe.
Zoe sorriu.
- Foi muito fácil. Quando vai me dar um caso de verdade, pai?
Álvaro riu divertido. Ama a filha mais do que tudo na vida. Zoe é a luz do seu caminho. Ele ficou profundamente aliviado quando ela voltou para casa.
Após a morte da mãe há dez anos, Zoe foi morar fora para estudar. Ela fez Faculdade de Direito, e trabalhou por cinco anos para Marc & Associados.
Zoe tinha medo de voltar para casa. Medo de voltar para as lembranças tristes e dolorosas do passado. Mas Álvaro, finalmente a convenceu.
- Em breve, eu vou cumprir o que prometi a você, Zoe. - Álvaro se virou na cama de casal do hotel onde estava hospedado. - A Conceitos está com muito trabalho. Você pode ajudar Dan e Lara na área criminal.
- Quando você volta?
- Se tudo der certo, em dois dias. Eu nem queria estar nessa Convenção. Todo ano é a mesma chatice. Eu gostaria de estar em casa com você, filha.
- Eu também gostaria que você estivesse aqui, pai.
Zoe foi sincera. Os anos que ficou afastada do pai não mudaram o que sente por ele. Na verdade, Zoe sente vergonha por ter abandonado o pai quando ele mais precisava dela.
- Como foi com o delegado? - Álvaro mudou o rumo da conversa antes que ficasse sentimental.
A pergunta repentina pegou Zoe de surpresa. Ela se fez de desentendida.
- Como assim?
- Pedro. O homem é osso duro de roer.
Zoe ficou com a boca seca ao lembrar do delegado de olhos azuis turquesa e cabelos dourados.
- Foi tudo... normal. - Normal estava longe de descrever o que tinha acontecido. Porém, Zoe não queria preocupar o pai. - Seguimos o procedimento padrão.
- Sei. - Álvaro não se deixou enganar. Ele suspirou. - Pedro foi grosso com você? Eu lamento ter te colocado nisso.
- Correu tudo bem, pai. Sério.
- Isso não vai acontecer de novo. Eu quero você longe de Pedro. Bem longe.
- Por quê?
Álvaro pensou antes de falar.
- Pedro é violento. Ele tem um temperamento explosivo. Há boatos de que ele está para ser afastado. Eu ouvi coisas estranhas sobre ele.
Zoe terminou de falar com o pai e jogou o celular em cima da cama. Ela foi até o espelho, levou a mão ao rosto negro no lugar onde Pedro a tocou e sorriu. Um sorriso enigmático.

Pedro acordou com o telefone tocando insistentemente. Sem abrir os olhos, ele tateou o criado mudo a procura do aparelho.- Alô.- Bom dia, Pedro.- Quem é?Matheus revirou os olhos. Está farto das bebedeiras de Pedro.- Matheus.- O que você quer imprestável?- Você deveria ter mais respeito por mim, Pedro. Eu também sou delegado.Ainda sem abrir os olhos, Pedro coçou a barba.- Fala logo, imprestável.Matheus suspirou.- Alex precisa ser transferido para o hospital. A perna dele está fedendo sangue podre. - Deixe apodrecer.- O cheiro já se espalhou pela delegacia, e ele está com febre. Você está levando esses homens ao limite, Pedro. - Matheus se gabou. - Controlei um início de tumulto está madrugada.Com dificuldade, Pedro abriu os olhos e olhou no relógio, 05:58h.- Bom, se você controlou um início de tumulto, pode cuidar de uma infecção. Transferência negada.
Matheus, Rodrigo, Rafael e outros policiais conversavam na recepção da delegacia quando Pedro chegou com uma hora de atraso. Como de costume, ele não cumprimentou ninguém, e foi direto para a sua sala.Matheus perguntou:- Viram o arranhão no rosto dele? - Eu vi. - Rafael respondeu.À essa altura, toda a delegacia já sabia que Pedro tinha apanhado da advogada. O que eles não sabiam, é que o delegado acabará de apanhar novamente.Matheus entrou na sala. Ele deixou passar o atraso de Pedro.- Eu desinfetei a ferida do Alex e fiz um curativo. Ele vai tomar antibiótico de doze em doze horas por sete dias. A segunda dose é às 19:00h.Apático, Pedro dispensou Matheus com um gesto de mão. Matheus não saiu do lugar.- Eles precisam comer, tomar banho de sol e receber visita dos familiares e advogados, Pedro. - Eu não sabia que você era engraçado, Matheus.- É isso ou a rebelião vai acontecer. A delegacia vai
Foi um beijo voraz, intenso, quente e molhado. A língua de Pedro fez coisas imperdoáveis dentro da boca de Zoe. Ele estava tão excitado que chegou a babar. Zoe precisava admitir, o delegado sabe beijar. Sua pegada firme chega a ser violenta. Zoe ficou com os lábios inchados e doloridos.Seu rosto sensível foi arranhado pela barba dourada e áspera do delegado. Na sua sala no escritório de advocacia, Zoe suspirou. O beijo quase selvagem terminou com ela empurrando Pedro, e novamente batendo nele.Pedro não reagiu, e Zoe praticamente correu para fora do mercado deixando as compras para trás. Ela só parou quando chegou no seu carro, entrou e trancou a porta. Não que uma porta de carro pudesse deter Pedro. Ele não foi atrás dela.Trêmula, Zoe voltou para casa, tomou um banho gelado, trocou de roupa e foi trabalhar. Precisa tirar Pedro da cabeça. Ele é problema, e dos grandes.Após o banho de sol, os presos devi
Zoe não estava afim de ficar sozinha em casa. Primeiro porque não tinha o que comer. E segundo, porque seu pai ainda não tinha voltado de viagem. Dan e Lara, seus amigos de infância e agora advogados da Conceitos, a convidaram para sair. Zoe aceitou. Ela escolheu um look sexy, porém comportado. Blusinha preta e shorts jeans claro. Fez escova e prancha no cabelo e caprichou na maquiagem. Optou por um perfume floral. A noite estava quente. Zoe não ficou desapontada.Por onde passava, atraía os olhares tanto de homens como de mulheres. O lugar estava lotado de pessoas de todas as idades. No palco, um grupo de samba se apresentava. Enquanto abriam caminho até a mesa, Dan disse eufórico:- Eu quero comer muito hoje. Lara me faz passar fome em casa, Zoe.- Deixa de ser mentiroso, Dan!Lara repreendeu o marido.Zoe riu. - Hoje você vai tirar o atraso, Dan.- V
Zoe estancou quando Pedro levantou. Ele estava visivelmente embriagado. Rodrigo e Rafael também tinham enchido a cara. - Eu quero falar com você, Zoe. E tem que ser agora.- Nós não temos nada para conversar, Delegado.Zoe se arrependeu do que disse no momento em que Pedro estreitou os olhos e cerrou os punhos. Lara se encolheu. Rafael tenso, levantou. Rodrigo não estava em condições de ficar de pé. Dan chegou.- O que está acontecendo?Rafael puxou Pedro pelo braço.- Não é nada. Senta Pedro.Pedro puxou o braço que Rafael segurava e apontou o dedo indicador para Dan.- Fica fora disso.- Não fico. Você está incomodando as meninas.As pessoas em volta começaram a prestar atenção na confusão que Pedro estava causando. Zoe percebeu que as coisas poderiam piorar. Ela soltou a mão de Lara e se aproximou de Pedro.- Está bem. Vamos conversar.- Você não vai com ele! - Dan puxou Zoe pelo braço.-
Pedro deu descarga no vaso sanitário pela terceira vez, abaixou a tampa e segurando na pia, levantou do chão onde estava ajoelhado e sentou na tampa do vaso.Zoe foi embora do restaurante com Dan e Lara. Pedro sentiu um vazio imenso se abrir dentro do seu peito quando Zoe o deixou. Como assim ela não estava pronta para ele? Se beijaram, se tocaram, se esfregaram um no outro e ela não estava pronta?Em casa, Pedro passou a madrugada cheirando cocaína e bebendo vodka. Agora, no banheiro da delegacia, ele estava vomitando até as tripas. Fraco, Pedro passou a mão na testa para secar o suor. Suava frio.Ele tinha prometido aos presos liberar as visitas e não podia voltar atrás. Não podia colocar a perder a frágil trégua com os detentos. Pedro encostou a cabeça na parede e fechou os olhos.Uma batida forte na porta.- Pedro!Rodrigo foi entrando. Ele não estava em melhor situação do que Pedro.- Quer me matar de susto, Rodrigo?- É para
O Secretário foi embora feliz da vida com uma generosa amostra de sangue de Pedro. Pedro não se recusou a fazer o exame. Ele poderia, mas não o fez. Rodrigo observava Pedro. O mundo dele estava desabando e de alguma forma ele parecia aliviado por isso finalmente estar acontecendo. Ele poderia ter suspendido as visitas já que estava tudo perdido. No entanto, Pedro cumpriu a sua promessa. Lutando contra uma ressaca desgraçada, ele se manteve firme durante a rigorosa revista nos familiares dos presos, não deu ordem para os policiais conterem a algazarra nos momentos de alegria e comoção e respeitou as duas horas de visita. Quando começaram a recolher os detentos para as celas, Pedro não os empurrou como de costume. Ele esperou que entrassem sozinhos. O seu comportamento "anormal", chamou a atenção dos policiais e até mesmo dos presos.- Ei chefe. - Peter entrou na cela. - Tu tá diferente. Tá afogando o ganso, não tá?Rodrigo podia jurar
A medida que matava a fome, Zoe foi se acalmando. Pedro tinha encostado a coxa dele na dela. Não satisfeito, colocou a mão entre as pernas de Zoe. Tudo por baixo da mesa. Seu pai fingiu não ver. Até o momento, Zoe não entendia como Álvaro mudou radicalmente de opinião sobre Pedro. Poxa, seu pai falou coisas duras para ela e agora estava lanchando com o "inimigo". Zoe não afastou Pedro. O corpo musculoso estava quente igual uma fornalha. Deveria afastar a mão que ele enfiou por baixo da sua saia e acariava a sua coxa. Bobagem, estava úmida com as carícias quentes do delegado. Bem ali, debaixo do nariz do seu pai. Os dois conversavam sobre um Inquérito Policial. Zoe não prestou atenção na conversa. Preferiu se concentrar na coxa e na mão de Pedro. Deu uma olhada para baixo. Ele estava armado.- Alguém quer mais pão de queijo?Álvaro perguntou se levantando.- Eu aceito. - disse Pedro.- Não pai. Eu já estou satisfeita.Álvaro se afastou. Zoe se virou para Pe