CAPÍTULO 5

JOSEPH

— Bom dia doutor Joseph, seu consultório está pronto, o senhor deseja mais alguma coisa? 

— Não dona Norma, está ótimo, muito obrigado.

Depois de uma semana entrevistando pessoas para o cargo de administrador, chego à conclusão de que  tenho alguém debaixo do meu nariz, alguém que confio. Converso com meu pai e ele concorda em colocarmos meu amigo e nosso contador Barin em meu lugar, com Barin na administração do hospital fico mais tranquilo.

 Essa semana, passei todas as tardes na pediatria para que pudesse voltar ao ritmo, e hoje será o primeiro dia que vou começar a tratar dos pequeninos, depois de tanto tempo. Algumas vezes, precisei ajudar na emergência, mas nada se compara a rotina diária do hospital. 

— Bom dia garotão tudo bem? — Entra um menino de seis anos na minha sala, está no colo da sua mãe, com a cabeça repousada em seu ombro. — Filho o doutor está falando com você.

— Qual é o problema, mãe? 

— Eu não sei doutor, ele não tem apresentado febre, não está resfriado e há dois dias está assim, não quer comer, não quer brincar, até pensei que era garganta. Queria ter vindo antes, doutor, mas não pude por causa do trabalho e a babá que cuida dele, também toma conta de outra criança e não pode trazer ele para mim. 

— Tudo bem, vou examiná-lo, deite-o, apontei a maca — O menino que está sonolento por estar um pouco fraco despertou, sua mãe o coloca na maca, quando me aproximo ele começa a gritar, vi pavor em seus olhos, na sua ficha diz que ele se chama Charles. 

— Charles está tudo bem amigão, sou o doutor Joseph, quero apenas examiná-lo para saber o que está acontecendo com você para que possamos cuidar da sua saúde, sua mãe está aqui ao seu lado, nada vai te acontecer. 

 — Doutor ele tem agido assim toda vez que alguém do sexo masculino se aproxima, ontem a diretora da escola me ligou dizendo que ele gritou na aula de educação física, não quis ficar com o professor. Oro a Deus que não seja o que estou pensando, Charles é apenas uma criança. Peço sua mãe que me aguarde um pouco, vou até o consultório da doutora Mariele, quando ela me vê abre um sorriso, mas pela minha expressão ele logo esmoreceu. 

— Doutora, bom dia. — Bom dia doutor, o que houve?

— Estou com um menino de seis anos no meu consultório, peço encarecidamente que a doutora o examine para mim, pois, ele não permite que me aproxime, estou suspeitando de abuso sexual, mas para que minha suspeita se confirme, preciso que ele seja examinado, se a doutora confirmar, vou encaminhá-lo ao psicólogo e acionar as autoridades. 

— Meu Deus! Doutor. Irei pedir para cancelar minha próxima consulta e vou atender seu paciente, espero do fundo do meu coração que o doutor esteja errado. 

— Eu também, doutora. Não precisa cancelar a consulta que eu atendo no seu lugar enquanto você examina o Charles. 

Meu coração está acelerado, me dói saber que alguém foi capaz de tocar em uma criança frágil como aquele menino, não quero acreditar que isso tenha acontecido. Atendo duas crianças da doutora Mariele, ambas estavam com um leve resfriado. Volto para meu consultório e o menino está dormindo no colo da sua mãe. A doutora Mariele pede a mãe para aguardar, e seguimos para seu consultório, ao entrar ela confirma minhas suspeitas. 

— Merda! 

Soco a mesa com raiva, minha vontade era socar o monstro que fez isso com o pobre menino. Solicitei uma psicóloga e acionei as autoridades, não sei como sua mãe não percebeu o óbvio, a não ser que ela seja conivente com essa situação. Descobrir quem fez essa monstruosidade e punir os culpados, caso haja mais de um, cabe as autoridades, agora o que me importa é sua recuperação, vou acompanhar pessoalmente seu tratamento, mesmo que no momento não possa me aproximar, irei monitorá-lo, a distância é claro, até que fique bem o suficiente para seguir, pois, um trauma como esse, não se apaga da memória. 

Meu primeiro dia no hospital de volta a pediatria não foi como esperava, o que aconteceu com o menino Charles me abalou, não entra na minha cabeça como um ser humano pode abusar sexualmente de outro, ainda mais de uma criança. Vou organizar uma palestra no auditório do hospital para pacientes e funcionários alertando sobre o abuso sexual infantil, é preciso que as pessoas estejam mais atentas aos sinais que as crianças emitem, Charlie mudou radicalmente o comportamento, há dois dias, segundo ao relato da sua mãe, era um menino normal como os outros, e do nada ele para de ser alimentar e passa a rejeitar  presença masculina, sua mãe nem cogitou a hipótese de que algo estava acontecendo, pensou que o menino estava doente. 

Este tipo de violência contra a criança e adolescente é mais comum do que se imagina, e muito difícil de ser detectada porque em sua maioria acontece dentro de casa. Minha cunhada Anelise é o exemplo disso, foi abusada por anos pelo irmão da mulher que a criou sem o conhecimento de ninguém da família, seus responsáveis iam dormir e deixavam o causador de tamanha crueldade com duas crianças a sua disposição. Fatos como esse ocorrem todos os dias, por mais que a imprensa divulgue todos os dias casos de abuso contra crianças e adolescentes, muitos pais não orientam seus filhos como agir caso isso aconteça, e também não estão atentos aos sinais que as crianças demostram, como a mudança de comportamento, infelizmente os maiores abusadores são aqueles em que eles mais confiam.

Graças a Deus o Bundestag (Parlamento) aprovou uma legislação mais rígida sobre crimes sexuais, baseada no princípio que "não significa não", mas esse princípio não se aplica as crianças porque elas não têm o direito de escolha, porém, o mais importante é que as leis se tornaram mais rígidas em nosso país. 

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Chego em casa meu coroa, percebi que não estou bem, contei-o sobre o que aconteceu com o menino Charles e compartilho sobre a minha ideia de fazer uma palestra sobre o assunto. Anton concorda e diz que vai pedir a assessoria de imprensa do hospital para organizar e divulgar o evento, ainda sugeriu que eu converse com a Anelise para ver se ela concorda em dar seu depoimento que poderá ser feito online, fico muito feliz por ele estar apoiando esse projeto.

— Filho não fazia ideia que hoje não seria um bom dia para você, convidei Kleber, MaylaBarin e sua esposa Amélie para jantarem conosco.

— Não tem problema, estar em família vai ser bom para relaxar um pouco.

Meu pai quer comemorar minha volta ao exercício de médico, fico feliz pela força que ele tem me dado, realmente me surpreendeu ele não ter encrencado de eu sair da administração do hospital.

Só de pensar que Mayla virá aqui em casa hoje me animou, apesar de ela não gostar muito de mim, gosto de sua presença, além de admirar seu corpo de deusa. Pena que ela faz jogo duro, Mayla é a única mulher que conheci que não se rendeu aos meus encantos, e é ríspida comigo, ela tirou conclusões precipitadas ao meu respeito, me julga apenas por minha aparência.

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ANTON 

Joseph é apaixonado por criança, quando foi para a faculdade e me disse que queria ser pediatra não me surpreendeu, meu filho sempre foi apegado as crianças, cuidava do Klaus como fosse seu filho, mesmo a diferença de idade entre os dois não sendo muito grande. Pensava que logo encheria essa mansão de netos, sempre dizia isso a Mia, que seríamos avos cedo, mas me enganei porque Joseph se tornou um devasso, nunca teve uma namorada. Meu filho nunca quis nada além de sexo, faz o maior sucesso com a mulherada e se aproveita disso.

Meu caçula era mais sensível, Klaus sempre foi aquele rapaz que é o sonho de toda sogra, vários amigos meus ofereciam suas filhas para meu filho, já recebi até proposta de negócios em troca de casamento, mas sempre soube que ele nunca aceitaria. Klaus nunca teve compromisso sério por causa dos seus projetos sociais, mas sempre teve a vida sexual ativa, a diferença dele para o Joseph, é que Klaus sempre gostou da conquista e o Joseph quanto mais fácil melhor, tenho certeza que ele e Mayla não se entendem por serem iguais, mas tanto eu como o Kleber prevemos que os dois ainda iram ficar juntos. 

Às oito horas os primeiros convidados surgem na mansão, Barin e Amélie, logo depois Mayla e em seguida Kleber. Joseph ainda não desceu, os levo para a sala de estar aguardamos meu filho descer para jantar.

Minha futura nora está linda, usa um vestido verde justo, tenho certeza de que meu filho irá gostar. Joseph surge na sala e cumprimenta a todos, ele aperta a mão da Mayla que diz apenas boa noite, enquanto todos o abraçaram parabenizando por seu retorno como médico. Seguimos para a sala de jantar e somos servidos, Joseph estava calado o que chamou a atenção de todos. 

— O que houve amigo, por que você está tão quieto? — Pergunta Barin. 

— Estou só um pouco cansado, minha rotina mudou e meu corpo está sentindo a diferença.

— Bem-vindo doutor, Barin disse debochando.

— Me parece que tem algo a mais compadre, o Joseph que conheço normalmente não tem essa expressão triste — Amélie diz o analisando, meu filho sorri fracamente. 

— Hoje Joseph passou por uma experiência ruim no hospital e isso o abalou muito.

— Foi óbito? Kleber pergunta alarmado.

— Não. Ele atendeu um menino e pelo relato da mãe e o desespero do menino ao se aproximar, Joseph intuiu que o menino com apenas seis anos havia sido abusado, e depois de pedir uma colega de trabalho que o examinasse, suas suspeitas foram confirmadas.

Conto a eles tudo o que aconteceu e sobre a ideia que meu filho teve de fazer uma palestra, todos ficam chocados com tamanha crueldade. 

— Se nós soubéssemos disso, marcaria o jantar para outro dia, sei o quanto o meu compadre é apaixonado por criança, essa crueldade é revoltante.

Joseph é padrinho de casamento do Barin, eles se conhecem desde a faculdade, quando Barin se formou, Joseph me convenceu a contratá-lo para trabalhar no hospital e foi a melhor coisa que fiz, Barin é um rapaz íntegro e competente. 

— Meu pai pensou em desmarcar assim que relatei o ocorrido, mas achei melhor que vocês viessem, nada melhor do que estar ao lado da família.

Mayla olha para o Joseph, como se tivesse o vendo pela primeira vez, creio que ela fazia uma ideia bem diferente do meu menino, apesar de ser um devasso, meu filho tem grande um coração.

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