Lucas estava me esperando e Rosa estava sentada no banco do passageiro. Eu realmente queria dar meia volta e ir embora, mas a razão me fez ficar. — A chave do carro. — Estendi a mão para Lucas ao pedir.Lucas não falou nada, apenas colocou a chave na minha mão. Contornei o automóvel e fui diretamente para o assento do motorista, sorrindo sob o olhar confuso e surpreso de Rosa.— Não se preocupe, querida! Você é quase como uma irmã para o Lucas, então pegar carona é algo absolutamente comum. — Em seguida, olhei para Lucas, que ainda estava em pé do lado de fora. — Anda logo, o vovô já está nos esperando.O silêncio se perpetuou durante todo o percurso. Tudo estava quieto como se estivéssemos num caixão.Rosa queria conversar com Lucas, mas provavelmente por ter que ficar virando a cabeça, pareceria um pouco estranho.Percebendo que eu estava desconfortável, Lucas de repente abriu uma garrafa de bebida e me passou.— Você quer um pouco de Suco de manga? Esse é o seu favorito.Tomei um g
Eu me senti como se tivesse caído num poço de gelo. O sangue em minhas veias parecia ter se solidificado. Por um momento, cheguei a duvidar se havia ouvido errado. Às vezes, eu realmente suspeitava que havia algo errado entre eles, mas toda vez que essa ideia surgia, era imediatamente rejeitada. Apesar de não haver laços de sangue entre os dois, um era referido como o herdeiro do Grupo Franco e a outra, era a senhorita da Família Franco, efetivamente tratados como irmãos. Além disso, ambos estavam casados. Lucas era visto como um verdadeiro príncipe por todos e parecia improvável que ele agisse de forma tão absurda. No entanto, não muito longe dali, ele, com os olhos cheios de raiva, pressionava Rosa contra a parede, sua voz carregada de sarcasmo e frieza ressoava nitidamente.— Divorciar-me por tua causa? Foi você quem escolheu casar-se com outro, que direito você tem de exigir algo agora?— Eu… — As incessantes acusações deixaram Rosa sem palavras, lágrimas caindo como pérolas
Lucas ficou surpreso, mas não disse nada. Apertei os lábios e então, eu comecei a falar baixinho:— O que aconteceu entre vocês na noite do nosso casamento?Lembro-me vagamente de ter passado a noite inteira esperando na varanda. Na noite de núpcias, ele me deixou sozinha logo após a cerimônia e saiu sem mais nem menos. Pensei que fosse algo urgente e me preocupei com sua segurança, imaginando se tinha feito algo para desagradá-lo, ao mesmo tempo, em que esperava ansiosamente por seu retorno. Eu tinha apenas vinte e três anos e, por um capricho do destino, casei-me com o homem que secretamente amei por anos. Como não poderia ter esperanças em nosso casamento e nele?No entanto, só naquele dia do jantar, eu descobri que, enquanto eu esperava ansiosamente por ele em casa, ele estava com outra mulher. Tudo isso parece uma piada cruel. Lucas não estava mais disposto a esconder nada de mim.— Naquela noite, a Rosa se envolveu num acidente de carro enquanto corria pelas ruas da cidade co
Eu não queria entender de imediato, mas acabei compreendendo que Orfeu disse.— Só isso, nada demais. — Zoe riu com desdém ao comentar.Eu a olhei surpresa, perguntando com o olhar:— Uma única noite, e foi horrível.Zoe não tinha papas na língua, e não se importou com a presença de Orfeu, que protestou:— Foi minha primeira vez, você sabe!— Para, para, para, eu não quero carregar essa culpa. Você, sendo um conquistador, não venha me falar da “primeira vez”. Mesmo que fosse, deveria ter sido com isso ou aquilo, — Zoe interrompeu, apontando para as mãos dele.Vi Orfeu sempre tão desapegado, mas quando ele ficou vermelho com os comentários de Zoe, entendi finalmente o relacionamento deles. Uma aventura de uma noite. Orfeu estava tentando conquistar a minha amiga.Zoe, ignorando Orfeu, me puxou em direção ao camarote:— É um veterano que voltou do exterior, Orfeu e o grupo dele organizaram esse encontro, me chamaram para animar.— Qual veterano? — perguntei baixinho.— Você deve conhece
Cada movimento era como um tapa no meu rosto. Até meus ossos doíam com isso. Imaginei essa cena inúmeras vezes. Olhando em volta, apesar de estar em casa, senti um frio percorrer todo o meu corpo.— Nora, você acordou? — Rosa virou-se ao me ver e me saudou com um sorriso. — Vem provar o que o Lucas preparou, garanto que está uma delícia.Assim que terminou de falar, ela levou o prato para a mesa, agindo como se fosse a dona da casa. Respirei fundo, ignorei-a e perguntei diretamente a Lucas:— Como ela veio parar aqui em casa?Lucas, serviu o último prato e tirou o avental. — Ela vai embora depois do jantar, — ele respondeu friamente:— Você não tem coração? — Rosa o encarou. — Vai mesmo me mandar embora?— Rosa, não me provoque! — Lucas falou num tom sério, parecendo perder a paciência. — Não quero mais problemas.— Mesquinho — Rosa murmurou e me puxou para comer. Como se a pessoa que implorou chorando pelo divórcio ontem não fosse ela. Como se não fosse ela quem tentou levar meu mar
Depois de uma consulta de revisão no hospital pela manhã, eu pretendia visitar meus pais no cemitério. Não ia demorar muito. Mas, por algum motivo, sempre me senti inquieta, incapaz de falar. Não consegui dizer diretamente a Lucas que estava grávida no dia anterior. E naquele dia, não podia dar certeza a Zoe de que levaria Lucas comigo. Receava que os planos não acompanhassem as mudanças. A relação entre Lucas e Rosa em minha mente era como uma bomba-relógio. Vendo meu desânimo, Zoe olhou em direção ao escritório de Rosa e perguntou:— E aquela história do Patek Philippe, Lucas resolveu?— Quase lá.Conversamos mais um pouco, e ela finalmente se sentiu aliviada para voltar ao departamento de marketing._____________Não sei se Rosa mudou ou simplesmente viu as coisas de outra maneira. Por vários dias, ficamos em paz. Estava preocupada que o design especial de Ano Novo fosse bloqueado por ela, mas entrou suavemente na fase de prototipagem.— O que vocês acham, qual é a relação daqu
Todas as expectativas foram extintas num instante, sentindo um frio percorrer do topo da cabeça até os pés. A desolação era, provavelmente, o que eu estava sentindo naquele momento. Com o telefone nas mãos, fiquei sem conseguir falar por um longo tempo. Queria perguntar algo, mas parecia que nada mais fazia sentido. Para onde ele foi, era óbvio. Deixei claro, não haveria uma próxima vez. Então, essa era a escolha que ele havia feito. Não é mesmo? Adultos sabem fazer escolhas, ponderar os prós e contras. Eu era aquela que, após muita reflexão, Lucas decidiu deixar para trás. Instintivamente, passei a mão pela minha barriga, começando a questionar se realmente deveria manter este filho. Se decidisse mantê-lo, seria muito difícil cortar completamente as ligações com ele. A questão da guarda do filho seria um grande problema. — Nora? — Do outro lado da linha, ele me chamou.— Sim.Não disse mais nada. Ou melhor, naquele momento, eu não queria dizer uma palavra a mais para ele. Depois d
Era a terceira vez. Por três vezes tentei lhe dizer, mas fui rejeitada todas às vezes. Provavelmente, não era para ser. De certa forma, fiquei aliviada por não contar. Assim, o divórcio seria mais simples. Cidade grande, Rio tão vasto, após nos separarmos, seria quase impossível nos encontrarmos novamente. Talvez ele nunca saiba que tivemos um filho. Zoe, que parecia ouvir meus pensamentos, concordou: — Nenhuma criança iria querer um pai assim. Você fez bem em não contar. Eram pouco mais das duas da tarde quando saí do hospital. Zoe, me apoiando, caminhou comigo em direção ao estacionamento.— Seu carro foi levado para a oficina, — mencionou Zoe. — O dano foi sério. Levará uma semana para consertar, mas eu te acompanho para buscá-lo quando estiver pronto. Enquanto isso, se precisar ir a algum lugar, é só me ligar que o motorista Marcos estará à sua disposição. Eu não sabia se ria ou chorava. — Você não vai trabalhar? Não se preocupe, eu ainda tenho um carro. Lucas