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Ha-Jun olhava para Ketlin dormindo. Seu rosto era sereno, no entanto não conseguia esconder o predador que estava em seu coração. Aquilo que ele lutava para esconder em seu íntimo mais profundo. Deixou a mente divagar sobre como Ketlin podia ser frágil, doce, sincera... E sua vítima mais fácil. 

Vagando alguns meses atrás, ele sabia que a mídia estava pesando para o seu lado, que precisava limpar sua imagem. Afinal, em tempos modernos onde a mídia define sua imagem e o cancelamento, sua popularidade e sua forma facilitada em fazer negócios. Ele não podia perder tal posição, precisava formar o aspecto de homem de família, abafar a teoria de que era chefe de um grupo mafioso, além de seus relacionamentos frustrados. Então lá estava ela, a salvação de sua imagem, seu maior crescimento. 

De imediato queria apenas se aproveitar da mulher. Herdeira de um grande grupo tecnológico. Mais que isso, era a imagem perfeita. Então veio a morte do pai de Ketlin e ela assume o grupo, a oportunidade perfeita para ele se aproximar. E foi o que fez. Contanto, ao ver a mulher tão perto, a doçura e a ingenuidade, ele não teve opção a não ser se apaixonar perdidamente. Queria a proteger, no início, de si mesmo, mudou até mesmo a postura por ela. Claro que aquilo não durou muito, mas ainda tentava o seu melhor. Voltou a realidade quando ela soltou um suspiro dormindo, balançou a cabeça enquanto a olhava.

" O importante é que você a ama agora " pronunciou baixo para si mesmo, saindo da cama.

Entretanto, isso era realmente a única coisa que importava? O amor era suficiente? Saiu do quarto sem fazer barulho.

Ketlin, no que lhe concerne, já estava acordada a horas. Sua infância não foi das melhores. Para ser educada como deveria, sofreu as mais diversas categorias de tortura. Por esse motivo, mesmo quando acordava, ficava deitada como se estivesse dormindo, porque aquela era como sua salvação de realidade. Seu tempo seguro, a única coisa que a protegia do mundo e de si mesma, afinal, não havia nada melhor para ela do que criar o mundo perfeito em sua mente, o lugar em que ela era amada e importante. Havia encontrado o amor em Ha-Jun, porém ainda tinha medo de acordar e se deparar com mais um de seus sonhos. 

Abriu os olhos devagar quando escutou os passos do marido para fora do quarto. Respirou aliviada. Ficou um tempo olhando para o alto. Colocou a mão em cima da virilha, ela havia feito sexo, mal podia acreditar nisso. Divagou em sua mente por um longo tempo. Então escutou o telefone tocar na cozinha, sabia que era o de Ha-Jun apenas pelo toque. Fechou os olhos para se concentrar na voz do homem que atendia. A voz estava longe e Ketlin teve a impressão de que ele abaixou o tom. Levantou abrindo os olhos novamente, se aproximou da porta e a abriu e caminhou até a cozinha, e no mesmo momento ele desliga o celular, sorrindo para a mulher como quem não quer nada.

" Não queria tê-la acordado."

" Você não o fez." Ela deu uma boa olhada na cozinha. As coisas estavam fora do lugar, então presumiu que ele estava preparando algo. " Com quem estava falando? " Tentou não demonstrar tanta sensibilidade.

Sua mente a levou por um lustro atrás, ele fazia isso quase sempre. Ha-Jun sempre se afastava para atender o telefone, virava para responder mensagens, desligava antes da chegada dela... Aquilo sempre foi um comportamento suspeito, contudo ele nunca havia invadido a privacidade dela, logo ela não ousava fazer o mesmo. Observou a reação do homem, que deu de ombros e sorriu como sempre fazia. Se ele estivesse mentindo, a única certeza que ela tinha era que ele era ótimo nisso.

" Um imprevisto no trabalho." Aproximou-se dela e entrelaçou as mãos na cintura da dama com ternura e carinho.

" Entendo." Foi a única coisa que conseguiu pronunciar em meio ao seu próprio caos. 

Na maior parte do tempo sentia-se feliz ao lado dele, completa. Não podia pedir uma vida melhor. Entretanto, nesses pequenos momentos o vazio habitava seu coração, a sensação de solidão. Escolheu Ha-Jun por todas as qualidades e, principalmente, pelo olhar. A forma como ele a olhava sempre fazia ela se sentir como se tivesse alguém por ela; como se, por segundos, ela não precisasse lutar, bastava esperar que ele lutaria por ela.

"Eu não estou sozinha, não é? " Deixou o pensamento alto escapar.

"Eu estou aqui " ele respondeu de imediato. " Sempre estarei aqui por você, nunca a deixarei sozinha.

Ele já havia percebido aquilo na mulher. Não falava muito sobre, Ketlin sempre foi fechada, mas ela tinha o medo dominador de ficar sozinha, e talvez fosse aquilo que faz o coração do homem doer.

"Agora que tal me ajudar a cozinhar? " Ele falou soltando a mulher e indo até o balcão.

"Desde quando você sabe cozinhar?

"Desde que descobri que minha esposa não cozinha, então pensei… " Ele deu de ombros em tom brincalhão. " Alguém tem que garantir que não vamos morrer de fome.

"Você é terrível. " Bateu uma mão na outra, subsequente apoiando os braços no balcão.

"Nem pense em se acomodar. " Apontou para as panelas. " Você vai me ajudar.

A mulher juntou os lábios em um único bico e encolheu um pouco o corpo mostrando toda a sua preguiça.

"Eu realmente não sei. " E suspirou aliviada quando o celular tocou.

Foi para o quarto e pegou-o, conferindo de quem era a notificação. Havia recebido de alguns amigos algumas fotos do casamento, sorriu ao ver como estava radiante. Tudo estava radiante. Voltou para a cozinha pronta para mostrar as fotos para o marido, o mesmo que já estava se concentrando em algo no fogão.

"Eu recebi algumas fotos do casamento."

"Depois me deixe ver."

"Quem são aqueles?"

A atenção dela se voltou para os dois homens de terno que estavam no jardim, eles pareciam olhar para algo entre as árvores. Ketlin se aproximou um pouco mais do vidro da janela enorme até que sua mão direita tocasse no mesmo, deixando a pequena marca de suas digitais, levantou um pouco os pés para a melhor visão de toda a área. Ha-Jun, ao se distrair das panelas e se deparar com a mulher, soltou uma risada. Ela podia ser tão linda assim, parecia tão pura.

"São apenas seguranças. " Voltou sua atenção para o que estava fazendo.

"Mas estão armados. " Por vezes, Ketlin andava com seguranças, porém a mulher não era artista, não chamava tanta atenção sobre si, e a maioria das pessoas comuns nem mesmo a conheciam, claro que era a dona de uma das maiores empresas de tecnologia, toda e qualquer visibilidade que tinha eram ótimas. Ha-Jun por sua vez diferia, não tinha certeza dos trabalhos da família dele, apesar de conhecer algumas propriedades e posses, entretanto ele estava sempre na mídia, escândalo atrás de escândalo, de imediato até mesmo desconfiou da aproximação dele. Apesar de Ha-Jun ser facilmente reconhecido, ela não podia acreditar que ele seria perseguido, ou que fosse necessário reagir com armas, então por quê?

"Apenas segurança, logo eles vão embora.

Ela olhou para o marido, pensou em dizer algo, porém apenas deixou aquilo de lado. Não deveria prosseguir, evitaria qualquer conflito em sua lua de mel, e, principalmente, odiava brigas em dimensões enormes, sempre perdia em qualquer discussão em que fosse necessário levantar a voz. Ficava tonta, sua cabeça doía e apenas começava a chorar.

"Aliás, amanhã você vai conhecer minha avó. " O homem falou mudando de assunto.

"Sua avó? Achei…" Ela não terminou a frase.

"Sim, foi dela que herdei o título de chefe da família.

"Chefe da família?

O homem colocou a massa que estava fazendo no forno, agora voltando completamente a atenção para ela.

"Há muito tempo atrás, a família Kim não era tão conhecida assim, não éramos tão famosos. Após a morte do meu pai, minha mãe e avó assumiram a família, elas fizeram muito, porém você sabe como é, mulheres não podem controlar uma casa, não são boas em negócios.

"Como não? Eu não gerencio uma das maiores empresas?

"Sim, amor, isso não vem ao caso. Aliás tem homens a sua frente para te ajudar. " Falou como se não fosse nada.

"Não sei disso, nunca fiquei atrás de um homem. Além disso, tomo minhas próprias decisões de negócios.

"Desculpe." Pronunciou se aproximando, observando o quanto ela havia ficado chateada. " O que estou tentando te dizer é que na minha família sempre fomos geridos por homens, então quando alcancei a idade necessária, assumi as responsabilidades e deixei o nome Kim conhecido.

"Da pior forma possível. " Proclamou torcendo o nariz.

Estava chateada. Aquilo era recorrente na vida de uma mulher, ser comparada a falta de força, homens tentando lhe ordenar, pessoas dizendo o que ela deveria fazer ou não, escutar ser menos perto de um homem. Aquilo a irritava.

"Me desculpa, ok? Eu não queria.

"Mas fez.

"Certo." O homem se afastou dela e tirou o bolo do forno, o cheiro não era dos melhores.

Ele então colocou o bolo sobre a mesa, e quando partiu a massa afundou completamente.

"Suponho que vamos passar fome." Ela riu daquele desastre, porém o homem continuava sério. " Vamos fazer algo. " Se aproximou do homem. " Estamos em lua de mel.

Ele olhou-a de relance; suspirou profundamente e logo a seriedade gélida saiu de seu rosto. Suspirou novamente e abriu a boca como se fosse falar algo, porém a mulher logo interviu.

"Você disse que não ia me deixar sozinha." Articulou de forma doce e indefesa. 

Tocou no rosto da mulher. Observava aqueles olhos cristalinos, os lábios levemente rosados.

"Por que tem tanto medo de ficar sozinha?"

Ketlin olhou para o lado. Não era medo de ficar sozinha, era costume. Por muito tempo seu coração foi vazio; a sensação de solidão era a pior, ardia mais que colocar a mão no fogo; fazia seus olhos lacrimejarem. A solidão para ela era apenas dor. Não ter ninguém em um mundo que todos tem alguém.

"Porque eu te encontrei, e você ocupou um lugar que não sei como preencher se você resolver ir. "

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