ISABELLA Viktor finaliza o homem com quem lutava com um soco brutal, jogando-o desacordado no chão. Mas ele não arrisca,aponta a arma e atira na cabeça do desgraçado,garantindo que o infeliz não levante mais. Sem perder tempo, parte para o próximo.Meus olhos não desgrudam dele nem por um segundo, mas algo na lateral do portão chama minha atenção. Uma movimentação estranha... Terceiro carro, preto, blindado. Merda! É ele.— Ronaldo está do lado de fora. Terceiro carro preto blindado. — aviso, a adrenalina me atravessando como uma descarga elétrica.A voz de Owen responde firme pelo rádio:— Eu, Marcello e Maurício vamos pegar ele.— James, protege os três. Eu cubro seu lado e o Viktor! — ordeno com a voz firme, como se minha vida dependesse disso. Porque depende.James mal se levanta para se posicionar em um ângulo melhor,quando vejo um sniper se preparando para atirar nele do outro lado do pátio. Não penso. Apenas ajo. Miro. Atiro. A bala é certeira no peito.— Menos um! — murmuro c
ISABELLA Lá dentro, os gritos do meu pai ecoam como lâminas cortando o ar. Minha mente entra em colapso. Meu corpo treme de pânico. Meu pai não pode me deixar. Rafael Mancini é meu herói e heróis nunca morrem. Não posso perde-lo. Meu corpo se move antes que eu consiga pensar no que fazer. Corro até ele.— Pai! — eu e Livia gritamos ao mesmo tempo, o desespero na voz nos unindo como uma só.— Um pano limpo! Preciso estancar esse sangue! — Yan grita, pressionando o ferimento com as mãos já encharcadas.— Cadê o Maurício?! — pergunto em pânico.— Eu vou busca-lo! — Viktor responde, olhando nos meus olhos com uma urgência que me congela. E então some porta afora, como um raio em meio ao caos.Eu e Livia tentamos ajudar Yan, mas é pouco, quase nada diante do estrago. Quando Maurício finalmente entra, está sozinho. Meus olhos já perguntam antes da minha boca:— Cadê o Viktor? Ele disse que ia te buscar!— Ele ficou pra ajudar os outros. — responde, ofegante.Dou um passo pra sair, mas ele
VIKTOR Vejo Maurício lutando para chegar até a casa, cambaleando entre os tiros. Vou até ele. Só ele pode salvar meu sogro. Só ele pode impedir que isso vire um inferno completo. Miro e atiro com precisão,qualquer inimigo que se exponha, eu acabo. Deixo os que estão lutando corpo a corpo com Maurício para ele finalizar. Não tenho mira limpa para estes.— Obrigado, Viktor! — ele me olha com gratidão. — Vai! Entra logo, eu te dou cobertura. Proteja minha mulher. E salve meu sogro. Vou voltar pra ajudar os outros! — digo sem hesitar.Assim que ele atravessa o porta, me reposiciono. O plano segue como desejado. A equipe do Otto tá fazendo uma defesa impecável,o babaca do Joshua tá indo até que bem e Owen quase encurrala o desgraçado do Ronaldo. Está tudo quase no fim. Ou pelo menos é o que eu quero acreditar.— Viktor! Eles estão recuando pra proteger o Ronaldo! — Lucas grita no rádio. — Impede essa fuga! Ele não pode sair vivo! — retruco, com raiva fervendo no sangue.O tempo passa deva
VIKTOR— O que aconteceu?! — Guilherme irrompe pela sala, a voz trêmula de desespero. — Cadê minhas meninas? Cadê Rafael? — Lucas parece que vai desabar. — Pai... — é tudo o que Joshua consegue dizer antes de se atirar nos braços de Guilherme.A cena deveria me comover. Mas não. Me irrita. O abraço dos dois parece uma cerimônia de luto. Como se minha mulher tivesse morrido. Porra, ela não morreu. Não morreu. Não pode ter morrido. Mas a merda é que nem força eu tenho pra discutir com aquele merda agora. Só fico ali, imóvel, com Melanie e Melissa grudadas em mim.Minha sogra não diz uma palavra. Tá branca. Pálida. O medo dela é o mesmo que corrói meu peito: Isabella. Meus filhos.Nikita e ela me arrastaram até a ala de queimados. Que se fodam minhas mãos, são queimaduras leves. A roupa nos salvou. Melanie tinha ido com Olivia, ver como o bebê Breno tá. Meu cunhado ainda nem nasceu e já passou por uma guerra.Guilherme se ajoelha na frente da esposa, a voz baixa, mas firme como aço: — Su
VIKTOR— Espero que você tenha sofrido muito. Porque por sua causa, eu ainda estou sofrendo. Espero que essa bala alivie um pouco da minha dor. — Livia diz fria, sem dar a ele a chance de responder.Sem hesitar, ela mira direto na cabeça e aperta o gatilho.— Descanse em paz, meu amor. O filho da puta já tá no inferno. — completa, num sussurro gelado, respirando fundo como quem finalmente se livra de um peso.— Acho que temos um avião pra pegar agora! — Livia diz, olhando pra gente com os olhos ainda marejados, mas cheios de determinação.Voltamos pra casa e começamos a arrumar as malas. Isabella ainda não fala comigo. A vergonha pesa demais, eu vejo nos olhos dela.— Vamos? — pergunto, tentando suavizar o clima.— Você não precisa ir, Vitto… — ela responde, sem coragem de me encarar.Pelo menos, me chamou de Vitto. É um começo.Me aproximo, seguro seu rosto com firmeza, forçando ela a me olhar.— Pra onde você for… eu vou, Isabella. — digo com toda certeza do mundo. Ela precisa enten
ISABELLAVoltar para Nova York salvou a minha irmã. E, de quebra, me salvou também. Pela primeira vez em muito tempo, posso respirar sem sentir culpa, medo ou dor. Três meses. Já fazem três meses que estamos morando na casa do meu pai e da minha madrasta. Mel agora tem 8 meses e anda pela casa feito uma patinha atrapalhada. Ayla e Viktor se divertem às custas dela,dois debochados natos. Livia voltou a trabalhar na empresa, mas ainda evita sair a campo. Eu sabia que ela era mais forte do que pensava. E agora tem uma parceira inseparável: Ally. A coitada até vai ao trabalho com ela. Meu pai está em êxtase com a casa cheia. Até as discussões dele com o Viktor na hora do jantar viraram comédia.Mamãe e Guilherme voltaram para a Itália há um mês, só porque Livia implorou. Mamãe estava no modo “protetora em tempo integral”. Mesmo longe, liga todo santo dia pra cada um de nós. E eu sei,que se puder, vai vir duas vezes por mês só pra ver com os próprios olhos como estamos. Ela e a Mel se torn
ISABELLATiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração bate tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.Acordo ofegante.O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último a
ISABELLA Entramos no avião. Minha irmã se senta ao meu lado, os olhos fixos em nosso pai, esperando,não exigindo,uma explicação. Quando percebe que ele não diz nada, ela explode: — E então? Vai explicar que merda está acontecendo ou temos que implorar? — Livi nunca teve paciência para rodeios. Nosso pai solta um suspiro pesado. Seu olhar carrega um peso sombrio, como se estivesse prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou. — Eu vou contar tudo. Vocês merecem saber a verdade. O silêncio que se segue é ensurdecedor. — Há vinte e dois anos, sua mãe fugiu do país onde morava, Rússia.Seu avô… — ele hesita, escolhendo as palavras com cuidado — é um homem cruel e detestável. Ele queria obrigá-la a se casar com um velho de setenta e cinco anos, ainda mais asqueroso que ele. Meu estômago revira. — A única alternativa dela foi fugir. Um soldado infiltrado do meu pai, que é o chefe da máfia nova iorquina, a ajudou a escapar. Trouxeram Melissa para a América, onde ela ficou s