Insanamente encarcerados
Insanamente encarcerados
Por: Kerley Carvalho
Prólogo

Desde pequena que eu sempre sonhei em explodir um prédio inteiro e, agora, com meio século de vida, continuo pensando da mesma forma. Ver todos os preparativos com explosivos altamente perigosos e, por vezes, até proibidos pelo governo, enche o meu coração de esperanças. Sorrisos insistentes povoam meus lábios. Já assisti a todos os documentários que encontrei sobre explosões e, ver corpos carbonizados e destruição, exaltava o meu ego. Seria tão fácil acabar com vários bandidos de uma só vez, será que a polícia não pensa? Bastaria colocar todos no mesmo lugar e explodir. Bummmmm! O mundo estaria livre do crime para sempre.

— Senhora, tem certeza de que vai querer instalar explosivos por todo o presídio? — o rapaz novo e bonito me indaga.

— Isso eu já lhe respondi um milhão de vezes! — brado. — Sim, quero explosivos por todo o Klark Jackman.

— Hum, tudo bem! — ele tem uma cara de nerd, sempre gostei de trabalhar com pessoas assim. — Precisarei de mais dois ajudantes, senhora — ele diz por fim.

— São de confiança como você?

— Sim, não trabalharia com eles se não fossem.

— Ok!

No dia seguinte, emocionei-me e as lágrimas teimosas jorravam enquanto eu assistia a cada explosivo sendo colocado em seu devido lugar. Aquilo seria muito mais do que eu desejei, e pelo menos uma parcela dos bandidos da Austrália seria mortos. O frenesi tomou conta do meu corpo, nem mesmo uma transa me proporcionaria tanto prazer e bem estar quanto esses explosivos estavam fazendo naquele instante. Minha mente profana já começava a criar cenas do dia em que, enfim, eu apertaria o botãozinho que explodiria até mesmo os miolos das baratas existentes aqui dentro. Seria delicioso ouvir os gritos seguidos do “bum” final e, em seguida, o silêncio absoluto...  Até que raciocinei direito e tive que perguntar:

— Ei, este controle funciona há quantos metros de distância? — senão eu iria junto, pensei.

— Até a uma distância de cem metros, senhora! — o nerdizinho me animou.

— Ótimo!

Já se passava das quatro horas da madrugada quando os três rapazes terminaram o serviço. Paguei-lhes e, assim que saíram do Klark Jackman, fiz uma ligação para o meu capanga de confiança:

— Jayck! Está me ouvindo?

— Sim, senhora!

— Os três acabaram de sair daqui. Você já está esperando no lugar em que combinamos?

— Estou aqui a duas quadras depois do presídio.

— Então, eles estão num Ford Edge azul cobalto, placa AS/ MVKJ 22. Mate os três e não se esqueça de recuperar o dinheiro, é com ele que eu te te pagarei — ordeno.

— Ok, senhora, eles estão vindo.

— Deixe o celular ligado, quero ouvir!

Powwww! Powwww! Powwww!

— Uau! Por isso mesmo que eu te contratei, você não brinca em serviço! — digo com imenso contentamento. Adoro quando as coisas saem como planejei.

— Pronto, senhora, os três estão mortos e eu já estou com a grana.

— Perfeito, Jayck, vá para casa e, amanhã após o expediente, nos encontramos no restaurante Firedoor em Surry Hills[1].

— Combinado, senhora!

Corro para casa, preciso de um banho e o dia está quase amanhecendo.

֍

Arranco a roupa enquanto a banheira enche. Afundo-me na água quente povoada de espuma e sorrio ao lembrar-me do quanto o meu dia fora produtivo. Agora, só falta escolher o dia certo para arrebentar tudo de vez. Meu corpo vibra de tesão por isso. Não vejo a hora de testar aquela infinidade de explosivos!

— Este dia ficará para a história! Hahahahahaha! — digo para o meu reflexo no espelho e ergo a garrafa de vinho, em seguida, viro todo o conteúdo goela abaixo de uma só vez.

— Ahhhh, se vai!

[1] Surry Hills é uma área próspera conhecida pelo cenário cultural e cafés elegantes. As casas geminadas nas ruas Crown e Cleveland abrigam cafés descolados, butiques modernas e restaurantes internacionais.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo