“Um homem pode lutar contra todos os inimigos,
menos os que vivem em sua própria casa.” Morris West
Rick Travor
Acordo mais cedo do que desejava, antes mesmo do despertador soar seu grito estridente. Há dias estou tendo problemas com a insônia e estou quase convencido de que devo procurar um médico. Minha amiga de trabalho, Megan, vive dizendo para eu procurar ajuda. Posso até ir ao médico, só me recuso a tomar remédios para dormir, sei bem o que esses antidepressivos fazem com o corpo da gente.
Entro debaixo do chuveiro e tomo um banho rápido. Seco-me e entro na farda azul marinho. Preparo café e ovos mexidos. Como vagarosamente enquanto checo meus e-mails. Billy, meu cão da raça blueheeler, choraminga do lado de fora, ele faz isso todas as manhãs ao ouvir o som da minha mastigação, é o cachorro mais safado que eu já tive na vida e ama comer comida de humano.
Andie e eu nos sentamos enquanto Angelic nos prepara um chá. Graças a Deus aqui no Klark Jackman temos algumas regalias como, por exemplo, cada preso tem uma cela com uma cama, uma mesa com cadeira e um pequeno armário de roupas embutido na parede, além de ter porta com tranca e uma janela. Só usa uniforme quem quer e algumas joias são liberadas quando o comportamento vai bem. Durante o dia, temos infinitas atividades para fazer e, ao terminar, podemos ficar todas juntas no pátio que fica no centro das celas. — E aí, Arlequina! — é Willy Foster, o famoso “Carne Seca”. Ele me apelidou desde que cheguei afirmando que a semelhança entre mim e a atriz que interpreta a Arlequina do filme “Esquadrão Suicida” é muito grande. Todos os dias batemos um papinho quando eles são liberados a descer para o banho de sol. Pelo menos nessa hora, temos um pequeno contato com os homens, mesmo que seja pela grade. — E aí, Will, como vai? — Ahhh! Tá pampa, Mate[1]! Poderi
“Para nos construirmos a nós próprios, é também necessário destruirmo-nos a nós próprios .” Patrick White Megan Shelby Acordo com meu filho Cristian pulando em cima da cama, logo, Ethan faz o mesmo. Ser mãe de dois filhos, sendo um com nove e outro com seis, é uma tarefa árdua. — Bom dia, pimpolhos! — Yan, meu marido diz. — Bom dia, meu amor! — ele me abraça e beija meus lábios com ternura. — Ecaaaa! — Cristian e Ethan dizem em uníssono nos fazendo cair na gargalhada. Eu amo a minha família! Enquanto tomo banho, Yan prepara o café, graças a Deus ele me ajuda muito, não sei o que seria da minha vida sem um marido tão maravilhoso. Coloco a farda, prendo meus cabelos num coque e coloco o quepe[1]. — Temos panquecas, vem logo, amor! — Yan grita anunciando que o café está na mesa. Cristian e Ethan já estão saboreando panquecas com mel e tomando chocolate quente. Sento-me, colo
Penélope Sanchez Megan nos conduz até o pátio, pensávamos que estávamos indo para o banho de sol de todas as manhãs, mas desta vez os homens também estavam descendo. — Uuuuullll! Estamos indo pra onde? Uma festa? — indago-a com um sorriso de canto a canto. — Não, o diretor quer falar com todos os prisioneiros de uma só vez — ela responde. — Estou adorando isso! — Angelic e Andie grudam cada uma num braço meu e caminhamos juntas, rindo muito, até que, enfim, Andie está mais calma, é muito bom vê-la feliz. Sentamo-nos cada uma em uma cadeira e tudo estaria perfeito se Jenniffer McDonald não tivesse se sentado justo do meu lado. — Mas que diabos você está fazendo aqui, hein? — Acabando com os seus dias de paz, Pennie! — odeio o sarcasmo dela. — Já vou avisando, não brinca comigo. — Calma, loira oxigenada, eu não vou fazer nada por agora. — Bom mesmo! As companheiras dela ol
“O ser humano é contraditório. Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água.” Markus Zusak Álex Francis Cartter 01:00 AM Até agora não consegui pregar os olhos, fico devaneando um amontoado de coisas que não me deixam descansar. Gregory Jones não sai da minha cabeça, meu sangue ferve nas veias, tenho ódio contido nelas. Eu preciso sair daqui, preciso matar novamente, isso faz parte da minha vida. Hoje, Willy Foster se aproximou de mim, foi o primeiro preso que ousou me dirigir a palavra. De início, permaneci calado, ouvi-o sem esboçar nenhum tipo de expressão, mas algo dentro de mim precisava gritar, então, falei. Ele conversa demais, ao contrário de mim que sempre fui mais calado, ou, completamente calado. Sempre tive comigo que boca calada não entra mosquito. Ele me contou um pouco da sua história, sobre o tráfico, as noites regadas a uísques caros e a
Andie Cooler 04:30 AM Não consegui adormecer por nada nesta noite. A preocupação com Brad está me matando. Direcionei boas vibrações a ele e pedi a Deus por meio de orações que o proteja onde estiver, e que não permita que nada de mal o aconteça. Lembro-me de mamãe e a peço que, de onde estiver, ajude-nos, cuide de nós. Peço-lhe também perdão por ter falhado como irmã quando não fiquei mais atenta e confiei cegamente que Brad seria um bom homem. Chorei tanto que sinto uma dor de cabeça insistente. Esta tem sido uma das piores noites desde que cheguei ao presídio. Sinto como se eu fosse imprestável, e de fato estou. Angelic me disse que pedirá ao seu advogado para arrumar um para mim. Agradeci, mas disse que não tenho condições de bancar um advogado. Ela me acalentou dizendo para que eu apenas aceite a ajuda e que, quando sair daqui, eu trabalho e pago. 05:00 AM Desisto de tentar dormir,
“Quem salva uma vida, salva um mundo inteiro.” Thomas Keneally Andie Cooler Aos poucos, a mulherada vai saindo das celas e se sentando à mesa. Uma querendo conversar mais alto que a outra, meu tímpanos vibram como se fossem um equalizador. Estou um trapo por não ter dormido e minhas olheiras estão mais profundas do que um terreno escavado. Pennie sai da cela com o rosto bem cansado e em seguida Angel. Elas se aproximam ao me ver. — Ei, bom dia, Andie, como foi sua noite? — Pennie pergunta primeiro e me abraça. — Não consegui pregar os olhos, e você? — Vixe, então a insônia pegou nós três — Angel responde depositando um beijo em meu rosto. — Eu quero ir embora daqui — digo, e em poucos instantes, lágrimas quentes rolam por minha face ressecada, há dias que não uso um hidratante, e não é por falta de ter um. — Se acalma garota, tente aproveitar o tempo para pensar
Jenniffer McDonald Sinto tanto ódio da loira sem sal e de todas as presas idiotas do Klark Jackman que meus pulsos latejam. Estou à beira da loucura. Leah e Eva nem se atrevem a mexer comigo, porque sabem bem que, quando estou com raiva, sou como uma cobra que está louca para expelir o seu veneno. Começo a dar murros e chutes nas paredes da minha cela. Jogo meu colchão com lençol e tudo no chão e pisoteio mentalizando a cabeça de Penélope. Atiro todos os meus pertences contra a porta da cela e as meninas ficam boquiabertas. — O que estão olhando, hein? — grito e elas não se atrevem a responder, morrem de medo de mim. — Saiammmmm! — grito até minhas cordas vocais vibrarem e elas quase caem quando se põem a correr. Debato-me como uma louca, parece que uma força do mal toma conta de mim todas as vezes em que sinto ódio. Sinto falta de Anny e essa saudade me maltrata ao extremo. Eu prometi a mim mesma que vai ter vingança. Quando eu sair
Penélope Sanchez Obrigadas, organizamos toda a cela da Jenniffer. Quando toquei o alarme, não imaginei que tudo sobraria para nós. Inclusive, por culpa da Salsicha, fomos proibidas de ir ao banho de sol hoje. Puta que pariu! — Terminem essa bagunça logo, a diretora quer conversar com vocês — Megan nos avisa. Lá vem bomba por aí de novo. — Será o que a diretora vai dizer, hein? — Angel me pergunta. — Ah, fica tranquila, miga, deve pagar um sapo por culpa da Salsicha Ambulante. — Ahhh, tomara que seja só isso mesmo. — Caladas! — Megan nos reprime. Eu sopro um beijo para ela e dou uma piscadela. Ela revira os olhos e mantém a expressão séria. Eu adoro essa policial, mas há momentos em que ela é tão chatinha quanto as outras. — Que merda, eu só queria continuar lendo meu livro — Andie reclama. — Vá se acostumando, novata, aqui as coisas não são como queremos — uma das detentas diz.