CristianNão sei porquê me enchi de tanta raiva. Lá estavam Robert e Betina, duas pessoas que eu gostava, sentados na mesa sem fazer nada inapropriado, mas ver ela rindo com meu irmão me enfureceu.Betina tinha o chamado ali? Não queria me encarar sozinha? Ou estava colocando os dois homens com quem ela havia dormido, um do lado do outro, para nos comparar?Que brincadeira sádica era aquela? Realmente não estava preparado para isso. De repente me senti um idiota por ter me preocupado com a roupa que iria usar, como um garoto bobo de quatorze anos!Ignorei o hostess e entrei no restaurante pisando duro e me aproximei deles; no meu rosto a insatisfação estava estampada. — Pelo jeito vocês estão se divertindo. — Falei, em tom de deboche.Betina se virou para mim, surpresa; como se não fosse ela mesma quem me convidou. E Robert me recebeu com um sorriso alegre que só me irritou ainda mais.— Cris, você veio! — Robert me abraçou e apontou para a cadeira vazia.— O que você faz aqui, Rober
BetinaQuarenta dias haviam se passado. O almoço com Cristian e Robert foi um completo desastre. Eu deveria ficar aliviada por cortar relações com a família Servantes, inclusive com o Cristian, no entanto uma angústia me dominou nos dias seguintes. Minha ansiedade me fazia comer em dobro e eu só não estava devorando tudo o que via pela frente porque me sentia nauseada. Tudo isso me mostrou como minhas fraquezas emocionais influenciavam na minha saúde física. Quando eu estava começando a me animar para a vida novamente fui transar com o Cristian. Justamente com ele! Eu gritei que ele era horrível, mas a verdade é que tinha sido muito competente. Nos últimos dias eu era invadida por pensamentos inoportunos; desejando experimentá-lo outra vez...— Ah Betina, você precisa acordar para a vida!Me convenci de que eu havia negligenciado demais a oportunidade que meu pai me deu no passado, de trabalhar com ele no Banco Rupert. Eu gostei de lidar com os clientes especiais, pois apesar de não
CristianOs dias haviam se passado e a sensação de que eu era um bobo não tinha diminuído nenhum pouco. Qual foi a minha primeira providência quando percebi que Betina não estava verdadeiramente interessada em mim? Liguei para a Suellem, aquela mesma mulher que só estava atrás do meu dinheiro. Ao menos ela me queria de alguma forma, mesmo que por interesse. Quando foi que me tornei tão carente que precisava da atenção e do reconhecimento de alguma mulher? Por que não ser correspondido por Betina havia me irritado tanto? Ela nem era tão especial. Era bonita, e só; como se eu não tivesse saído com garotas ainda mais bonitas, mais sexys e bem mais dispostas. Meu orgulho estava ferido, com certeza. E a melhor forma de esquecer um fora era provar a si mesmo que quem estava perdendo era ela e não eu. Além disso, quando foi que eu achei que ficar com a ex-noiva do meu irmão seria uma boa ideia? Eu tinha pensado com a cabeça errada... — O que achou, gato? — Suellem surgiu do banheiro do
BetinaEntão era isso: eu estava grávida. Levantei a camisa e observei minha barriga no espelho por um longo período. Ainda não dava para perceber que havia um pequeno ser dentro de mim, mas eu sabia que agora éramos dois em um só. No dia em que descobri sobre o bebê estava no consultório da Dra. Takeda e a surpresa me dominou ao ponto de não conseguir suprimir as lágrimas. A médica me acalmou, me orientou a fazer o exame de sangue e também a ecografia para escutar o coração do feto. Eu fiz os exames sozinha, ainda descrente do meu azar, com uma pontada de esperança de que fosse um equívoco. Testes falham, não é mesmo? Mas quando escutei o coração do bebê batendo tão forte, a ficha caiu de vez. Vou ser mãe… Eu já tinha sonhado muitas vezes com isso. Sempre quis formar minha família, porém em outras circunstâncias. Lembrei de Cristian. Ele inegavelmente é o pai da criança que eu carregava no ventre e por um instante me deixei imaginar como seria uma criança com o melhor de nós doi
CristianTalvez eu tenha exagerado na minha reação quando vi Betina no meu escritório, mas eu estava carregando aquela frustração há dias e vê-la não me deixou feliz, pelo contrário, me deixou furioso. Ela tinha esse efeito em mim, conseguia extrair sentimentos confusos com os quais eu não sabia lidar direito e era justamente por isso que a presença dela na minha vida era danosa.Ainda assim, talvez eu tenha sido rígido demais...— Você está mesmo interessado?A voz de Tricia me puxou dos meus devaneios. A jovem me encarava com expectativa. Estávamos parados em frente a Mansão Toledo depois de um tour completo pela propriedade. O lugar era incrível, com ambientes bem planejados e de uma elegância inegável, mas quando Tricia me mostrou a biblioteca, eu me peguei pensando se eu não tinha algumas lembranças ali que talvez fossem me importunar...— Eu estou interessado sim, Tricia, mas preciso pensar um pouco mais. Não é uma aquisição simples e nem barata.— A família Servantes é riquíssi
Betina Eu estava na sala da casa da Pamela, tomando uma xícara de chá enquanto minha amiga repetia mais uma vez tudo o que eu havia contado a ela: — Então você está grávida do seu ex-cunhado. Cristian estava irritado com você e por isso você não teve coragem de contar para ele. — A moça de cabelos ruivos andava de um lado para o outro na cozinha — Aí você ficou com medo de encarar sua família e decidiu fugir para ficar aqui nesse fim de mundo comigo, sem nenhum aviso prévio? — Mais ou menos... — Você é louca? — Pamela arregalou os enormes olhos castanhos — Você vem de uma família rica com muito mais condições de te ajudar do que eu; financeiramente eu digo. Acho que você está exagerando e... — Eu conheço bem minha mãe. Ela ia pedir para eu tirar a criança... — Muito pelo contrário, ela faria o pai da criança assumir só pelo sobrenome daquela gente de sangue azul. — O Cris assumir não significa casar comigo e acho que ser uma mãe solteira iria destruir as chances de me casar com
CristianDois meses tinham se passado e nenhum sinal da Betina. Já havíamos acionado a polícia, mas como tudo indicava que ela tinha ido embora por livre e espontânea vontade, encontrá-la não era uma emergência policial. Era por isso que meu primo estava no meu escritório, analisando o dossiê que eu lhe entregava numa pasta azul marinho.Augusto era formado em direito, mas faturava muito mais fazendo investigações particulares e até onde eu sabia, era excelente.— Acho que tem quase tudo aqui. — Augusto examinava os documentos — Preciso descobrir o número dos cartões de banco dela. Se ela usar em alguma loja física poderemos rastrear.Eu não sabia como Augusto faria para ter acesso às informações bancárias dela, mas preferia confiar em sua competência em fazer as coisas acontecerem.— Então nessa altura do campeonato ela deve estar com uns três meses de gravidez?— Isso — eu confirmei. — Se eu for o pai...— E quem mais seria, Cristian? Ela estava saindo com mais alguém?— Me diz você
BetinaRecomeçar é difícil. Recomeçar grávida é ainda mais. No entanto, eu nunca tive uma motivação tão grande como agora. Era uma nova chance de vida, de certa forma era minha libertação.Então quando fui morar naquela casa minúscula cuja resistência do chuveiro insistia em queimar toda semana e com o som do carro do ovo chegando tão nítido no meu quarto, nada disso me abalou.Quem me visse agora, naquele vestido de viscose floral e rasteirinha de promoção nos pés jamais me identificaria como a filha de um banqueiro ricaço. E meu bebezinho ia crescendo tão lindo na minha barriga!Quatro meses e eu estava cada vez maior. Eu não tinha nenhum freio quando o assunto era comida e as garotas do ateliê viviam me trazendo coisas gostosas da casa delas. Talvez achassem que eu era muito pobre, o que não era mentira; tudo o que tive até então era dos meus pais e nada meu. Pamela havia me deixado de carro logo pela manhã no Mirante de Caconde. O lugar era lindo, com uma visão privilegiada da Re