DESCOBERTAS

Graziella

Ao pôr meus pés dentro do porto di piacere a riqueza de detalhes logo me atraem, sigo Dalila que mantêm uma mão envolta da minha por um longo corredor que ao contrário da fachada é de uma cor bege claro, o piso de madeira é coberto por um tapete vermelho, formando um perfeito contraste com as paredes neutras, o corredor nos leva a um amplo salão, olho ao redor embasbacada, o ambiente é iluminado por grandes lustres que mais parecem ser de cristais, vejo algumas mesas redondas disposta no canto direito do ambiente com bancos estofados pretos espalhados a seu redor, um bar com baquetas enfileiradas lado a lado toma todo o lado esquerdo, neste recinto as paredes voltam para a cor vinho intenso, diferentemente do piso do corredor, esse não possui nenhum tapete, mas mostra como é polido exageradamente pelo seu brilho, ao fundo escuto uma musica lenta e sensual, a musica Chandelier de sia enche meus ouvidos e uma série de arrepios de antecipação percorrem meu corpo.

No centro do lugar a uma espécie de palco rodeado com uma cortina vermelha, o salão esta vazio a não ser por alguns barmens que estão atrás do balcão do bar e me lançam um olhar curioso, rapidamente abaixo a cabeça envergonhada, devo estar com uma aparência horrível, me sinto mal por estar em um ambiente tão requintado como este e só quero me esconder para que não me vejam, Dalila me tira do transe e me guia para uma porta que está atrás do palco, mas não deixo de olhar para o lugar, minha curiosidade fica maior a cada paço que dou.

Ao entrar no outro corredor me sinto mais confortável, esse as paredes são brancas e simples, à várias portas de cada lado, uma de frente para a outra, ouço conversas, vozes femininas animadas que vem por detrás de algumas das portas.

Dalila para diante de uma e empurra a porta dando a visão de duas camas pequenas no centro do quarto, cada uma com uma mesa de cabeceira, um guarda-roupa de quatro portas do lado direito, vejo outra porta do lado esquerdo, deve ser o banheiro.

Ela se vira para mim e sorrir, acho que ela sempre estar sorrindo.

-Essa é sua cama. - Ela aponta para a cama próxima ao armário.

Olho surpresa, ela está me dando um lugar para dormir?

-Mas como você...O que você... - Começo, mas no momento não sei o que falar ao certo.

Dalila solta uma risadinha animada por minha expressão.

-Seremos colegas de quarto a partir de agora, o sr. K. permitiu.

-sr. K.?- pergunto curiosa.

Ela suspira e me empurra para dentro do quarto, fechando a porta atrás de nós.

- Depois conversamos sobre isso. Agora vou deixar você tomar um banho, vestir roupas limpas e descansar, tudo bem?

Assinto concordando, mas minha cabeça dói de tantas perguntas que surgem uma atrás da outra dentro dela.

-Pode pegar qualquer roupa do armário para vestir, fique a vontade, tem toalhas limpas no banheiro! - Ela diz e sai pela porta do quarto me deixando sozinha com minhas dúvidas.

Olho ao redor do quarto pequeno e aconchegante, uma sensação de alivio me invade, por não esta nas ruas e ter finalmente onde dormir, pelo menos por hoje, preciso saber muitas coisas a respeito desse lugar antes de tomar a decisão de acabar ficando.

Entro no pequeno banheiro, vejo os azulejos brancos e limpos ao redor, um armário branco com algumas divisórias está depositado ao lado da porta com um espelho redondo acima, como imaginei minha aparência esta horrível, existe olheiras abaixo dos meus olhos, meus lábios antes rosados agora estão pálidos , meus olhos verdes parecem cansados e sem vida, preciso realmente de uma boa noite de sono.

Pego uma das toalhas limpas no armário, tiro a roupa e rapidamente entro no box, deixo a água quente tirar toda a sujeira do meu corpo, além das lembranças da vida que costumava viver, acho que esse vai ser um novo recomeço, só espero que ele dure por um tempo.

Depois de terminar o banho e enxugar meu corpo, procuro no armário de roupas uma peça que me sirva, acabo encontrando um vestido branco de algodão, que me serve muito bem, me deito na cama que Dalila apontou como minha e rapidamente o sono me alcança e nos meus sonhos esse lugar me fará muito bem.

***

Acordo com um barulho vindo do quarto, rapidamente ergo meu corpo da cama assustada, me deparo com Dalila pulando pelo quarto, tentando vestir uma calça jeans muito apertada, ela ergue o olhar para mim assim que termina.

-Pronta para conhecer as outras meninas? - Pergunta animada.

-Outra meninas? - Pergunto enquanto levanto da cama. - Existem quantas nesse abrigo?

Dalila solta uma risada depois que termino de falar, olho para ela confusa.

-Você acha que aqui é um abrigo Grazi? Você realmente não desconfiou de nada quando eu te trouxe ontem?

A cada pergunta que ela dispara para mim fico ainda mais confusa, afinal, eu que era para estar fazendo as perguntas aqui.

Cruzo os braços no peito e a encaro com uma expressão séria.

-Que lugar é esse Dalila? - Pergunto firme.

Ela arregala os olhos por conta do meu tom de voz, mas logo sua expressão muda para uma cabisbaixa.

-Antes de tudo Grazi, quero que você não me julgue, todas nós estamos aqui por que fomos acolhidas pelo s.r. K. , com você não foi diferente, vou te levar até ele. - Ela fala e se dirige a porta do quarto a abrindo, eu apenas a acompanho até o final do corredor, ela abre outra porta que dar acesso a uma sala ampla com um sofá enorme em formato de L, uma TV tela plana está depositada a frente e uma janela de vidro que toma uma parede inteira dar uma visão para as ruas movimentadas de Verona, o espaço mais uma vez e bem aconchegante, ouço conversas e sigo Dalila para uma cozinha com uma mesa cercada por garotas, todas muitos bonitas, alguns rostos são conhecidos de ontem, enquanto eu observava elas saírem acompanhadas por homens bem vestidos, elas me lançam olhares curiosos igualmente aos barmens, uma suspeita do que seja esse lugar me atinge, mas continuo andando logo atrás de Dalila que segue por outro corredor curto parando diante de uma porta de madeira negra onde ela bate duas vezes com o punho.

-Entre. - uma voz grossa, masculina diz de dentro da sala.

Ao entrar me deparo com mais luxo, um sofá negro em um canto, uma mesa de mogno esta no centro da sala, um homem moreno aparentemente um pouco mais velho esta logo atrás dela, sentado em uma poltrona, ele me avalia dos pés a cabeça e me lança um pequeno sorriso.

-Sentem-se as duas. - ele diz suavemente.

Obedeço seu comando, algo me diz que precisarei esta sentada para ouvir o que vem a seguir.

-Graziela. - Ele diz meu nome como se já me conhecesse a muito tempo. - Dalila me falou muito de você ontem.- continua e lança um sorriso carinhoso a Dalila que devolve o gesto. - O que você achou do porto di piacere? Acho que o nome já diz tudo não é mesmo?

Fico em silêncio, as palavras simplesmente não saem, então permaneço calada enquanto ele prossegue.

-Abriguei todas essas garotas, com a liberdade de fazerem o que quiserem, sem regras, por isso o lugar é um sucesso! - Ele fala com orgulho.

-Todas elas são... essas garotas são...- Tento pronunciar a palavra, mas ela simplesmente não sai.

-Prostitutas? - ele diz com um sorriso debochado e se vira para encarar Dalila que até agora se manteve em silêncio. - Dalila você alguma vez já dormiu com algum frequentador desse clube?

-Não sr. - Dalila responde firme.

-Explique a sua amiga o que você faz. - sr. K. pede.

- Apenas sirvo mesas e desempenho papel de acompanhante em alguns eventos. - Reponde sem me olhar.

Sr. k. lança seu olhar penetrante para mim novamente e volta a falar.

- Esse é um clube de acompanhantes Graziella, transar ou não transar com um frequentador é uma escolha sua, algumas garotas usam deste artifício, mas o objetivo deste lugar é entreter nossos frequentadores com espetáculos de dança em alguns momentos e disponibilizar algumas garotas para acompanhá-los a lugares. - Ele diz convicto. - Espero que pense bastante antes de abandonar o conforto do seu quarto sra. e voltar para as ruas, Se me der licença tenho trabalho a fazer. - Ele finaliza a conversa e rapidamente saio da sala, Dalila não me segue, deve entender que preciso ficar sozinha para pensar nas minhas opções, que aliás não são muitas.

Entro no quarto, tranco a porta e me jogo na cama, sempre repudiei a opção de vender meu corpo para sobreviver, mas agora me encontro diante disso, mesmo o sr. K. dizendo que era algo opcional, me sinto suja, mas preciso de um lugar para ficar, servirei apenas as mesas nesse lugar, como Dalila, será por pouco tempo até conseguir um bom dinheiro para ir embora, não ofereço meu corpo para nenhum estranho, apenas servir mesas, será algo fácil de se fazer, não é mesmo?

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