TAREFA

Graziella

A minha sanidade está longe de retornar, na verdade a mais de uma semana ela deixou minha mente e tudo por que ele não apareceu outra vez. Na noite seguinte, após receber seu bilhete, eu estava muito nervosa para vê-lo novamente ao saber que estaria sob seu olhar penetrante a noite inteira, não ocultei o meu desapontamento ao não o encontrar, a decepção só ia crescendo a cada dia que o procurava entre as pessoas que enchiam o grande salão do porto di piacere e constatava que ele não estava.

Uma semana inteira e a cada dia tento decifrar o que há de errado comigo, ele apenas me enviou um bilhete que poderia muito bem significa nada, me sinto uma idiota por ter caído nesse joguinho de conquista barato onde não fui mais que uma peça entre muitas outras.

- Ei Grazi! – Ouço meu nome ser chamado, olho para cima e vejo Barbara e as outras meninas me encarando. – Você não estava neste mundo isso eu posso dizer com certeza. – Ela fala enquanto engole uma colher de seu cereal.

Estamos na cozinha, na verdade não passa de nove horas da manhã de um sábado, mas todos os dias as oito horas estamos de pé, temos o trabalho de limpeza do clube para cumprir depois de tomarmos o nosso café da manhã.

-Ela com certeza não estava Barbi! - Dalila diz com um sorriso malicioso direcionado a Barbara, que a encara com uma carranca em seu rosto.

-Quantas vezes tenho que dizer que esse apelido é simplesmente horrível! - Barbara esbraveja irritada.

-Mas realmente combina com você! - Dalila explica.

Um riso involuntário escapa de meus lábios, não acredito que elas iam começar essa discussão outra vez, eu apenas as observava enquanto ria muito de suas confusões. Meu sorriso chama a atenção de Dalila que logo muda seu foco para mim.

-O que você acha desse apelido Grazi? – Pergunta apreensiva, eu olho de uma para outra sem saber o que dizer, Barbara tem seu olhar ansioso cravado em mim.

-Sinto muito. - murmuro para Barbara com falso arrependimento escorrendo de minha voz. – Mas unicamente combina com você Barbi! - Falo segurando o riso.

-Traidora! – Ela grita enquanto eu e Dalila caímos na gargalhada.

***

-Graziela. – Escuto meu nome ser chamado por uma voz masculina, me viro para encontrar o sr. K. encostado em um dos balcões do bar que eu estava limpando.

- Oi. - Digo com um sorriso tímido nos lábios. Sr. K. era um homem bastante intimidante com sua altura excessiva, eu diria uns dois metros de altura, e corpo robusto por baixo do terno negro aparentemente caro.

-Podemos falar em minha sala? - Ele diz simplesmente. Milhões de coisas passam por minha cabeça e nenhuma delas é de alguma forma positiva.

Ele parece perceber que estou entrando em parafuso pela forma que estou o olhando assustada e sorrir.

-Respire Graziela! Apenas tenho uma tarefa para você. – Me tranquiliza.

A tensão dá lugar a curiosidade e quando ele se afasta eu o sigo com minha cabeça formulando várias questões para a sua súbita tarefa para mim.

Vejo que Dalila e Barbara, que estavam limpando as mesas no outro lado do salão, me lançam um olhar com milhares de interrogações e dou de ombros fazendo um gesto com as mãos ilustrando que depois as direi tudo.

Quando entro no escritório do sr. K, ele já está sentado em sua poltrona atrás da grande mesa de mogno negro, ele acena com uma das mãos em direção a cadeira em frente mesa, sinalizando para me sentar e logo me acomodo. O lanço um olhar nervoso sem saber o que surgirá dessa conversa.

- Graziela, você será acompanhante em um evento de amanhã. – Ele vai direto ao ponto. Quando ver meus olhos arregalados de espanto continua. – Não queria te expor a isso tão cedo, mas esse frequentador é um dos mais respeitáveis, ele é quem nos fornece os muitos vinhos que estão na nossa carta de bebidas e ele apenas, insistiu que fosse você a acompanhá-lo. – Esclarece.

-Ele insistiu para eu o acompanhá-lo? – Pergunto com a voz embargada. Isso não pode estar acontecendo comigo, minha consciência lamenta.

-Sim, e não deixou margens para recusa, mesmo o explicando diversas vezes que você não estava pronta para o serviço de acompanhante. – Ele diz normalmente enquanto eu apenas engasgo com suas palavras.

-Mas.... Se ele.... Quero dizer.... Se ele... - Tento pronunciar as palavras mais elas apenas não saem, minhas cordas vocais não funcionam por conta do nervosismo extremo.

-Ele não vai tentar nada Graziela, ele sabe que você não é esse tipo de garota.- continua me tranquilizando.

-Ele sabe? – Pergunto duvidosa.

- Sim, deixei bem claro. - Conclui.

O medo está grudado em minhas entranhas, estava apavorada, assustada, horrorizada em sair com um estranho, meu corpo simplesmente se recusava a deixá-lo me tocar de qualquer forma, mas sabia que tinha que fazer essa tarefa, na verdade precisava para manter minha moradia e comida, ao mesmo tempo em que o medo aflorava em meu peito a curiosidade como sempre me invadia na mesma intensidade, minha mente ansiava para saber quem era esse estranho que praticamente exigiu que eu o acompanhasse em um avento importante.

- Quem é ele? – As palavras saem da minha boca antes que eu possa as controlar.

Sr. K. solta um riso alto, como eu nunca o vi fazer, pela rapidez com que minhas palavras saíram, seu divertimento me deixando ainda mais ansiosa para ouvir o nome desse estranho.

-Você logo saberá, logo saberá Graziela. – Ele diz com ar de mistério e eu apenas quero esganá-lo por me deixar intrigada.

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